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O treinamento físico-desportivo de tenistas de 

13 a 16 anos. Um estudo comparativo entre sexos

Entrenamiento físico-deportivo de tenistas de 13 a 16 años. Un estudio comparativo entre sexos

 

*Mestre em Ciências do Movimento Humano – UFRGS

**Pós Doutor em Psicologia pelo Universite de Montreal

Université du Québec à Trois-Rivières, Trois-Revières, Québec, Canadá

***Mestre em Ciências do Movimento Humano – UFRGS

Faculdade Cenecista de Osório (FACOS)/RS

****Doutor em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto

Núcleo de Estudos e Pesquisa em Pedagogia e Psicologia

do Esporte (NP3 Esporte) da UFRGS Porto Alegre, RS

(Brasil)

Ms. Daniel Pacheco Simões*

mano.pacheco@terra.com.br

Ph. D. Marcos Alencar Abaide Balbinotti**

mbalbinotti@hotmail.com

Ms. Ricardo Pedrozo Saldanha***

ricardo@ricardosaldanha.com.br

Ms. Marcus Levi Lopes Barbosa*

marcus_barbosa@yahoo.com

Dr. Carlos Adelar Abaide Balbinotti****

cbalbinotti@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O tema central do presente estudo trata das qualidades físicas – habilidades motoras, força, velocidade, resistência, e flexibilidade – no treinamento de tenistas juvenis de 13 a 16 anos de ambos os sexos, que participam regularmente de competições federadas. O objetivo principal é verificar se há diferenças estatisticamente significativas (p > 0,05) na freqüência de treinamento dessas qualidades físicas entre os sexos. Para tanto, foi aplicado o Inventário do Treino Físico-desportivo (ITFD-70) (SIMÕES, 2005), que avalia através de uma escala Likert a freqüência de treinamento físico-desportivo. A qualidade física mais treinada foi no sexo masculino é a Flexibilidade, seguida pelas dimensões Força (p < 0,01), Velocidade, Resistência e Habilidades Coordenativas. Entre as tenistas do sexo feminino, a qualidade física mais treinada é a Flexibilidade seguida por um grupo, indissociável estatisticamente, formado pelas dimensões Força e Velocidade (estatisticamente indissociáveis), depois pela Resistência e Habilidades Coordenativas. A partir desses resultados surgem novos questionamentos e reflexões para a prática. Para ambos os sexos e categorias, os resultados foram similares.

          Unitermos: Tenistas. Treinamento físico-desportivo. Estudo comparativo.

 

Abstract

          The focus of this study is about the physical qualities – motor skills, strength, speed, endurance, and flexibility – in the training of young tennis players from 13 to 16 years old of both sexes, who regulary participate of federated competitions. The main objective is to verify if there are statistically significant differences (p> 0.05) in the frequency of training of these physical qualities between the sexes. In this verification was apllied the Inventory of Sports Physical Qualities (ITFD-70) (SIMÕES, 2005), which evaluates through a Likert scale, the frequency of sports physical training. For both sexes, the Flexibility was the most trained physical quality. For the males, the Force appears in second place, while for the females, the Speed does. From these results become new questions and ideas for the tennis physical practices. For both sexes and categories, the results were similar.

          Keywords: Tennis players. Physical training. Comparative study.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O tema do presente estudo trata das qualidades físico-desportivas no contexto da formação de tenistas juvenis da faixa etária de 13 a 16 anos de ambos os sexos, que participam regularmente de competições federadas. Mais especificamente, pretende-se investigar se as qualidades físicas – habilidades coordenativas, força, velocidade, resistência, e flexibilidade – são trabalhadas regularmente (com uma freqüência significativa: p > 0,05) nos treinamentos desses jovens.

    Sabe-se que é preciso desenvolver as qualidades físicas específicas do esporte no processo formação para o alto rendimento de jovens atletas (MATVEIEV, 1986; ZAKHAROV; GOMES, 1992; VERKHOSHANSKI, 2001; GRANELL; CERVERA, 2003; GOMES, 2002; WEINECK, 1999); no entanto, não se quer reproduzir as cargas de trabalho (mesmo reduzidas) do modelo adulto, pois os jovens não são adultos em miniatura. A partir dessa concepção, pergunta-se: em que grau de especificidade recomenda-se o treinamento, considerando que não pode ser demasiadamente generalista e muito menos tão específico quanto o modelo adulto de alto rendimento? Obviamente que essa é uma questão difícil de responder, mas acredita-se que o caminho seria ir ao encontro da formação geral exigida pelo esporte em particular. Trata-se de uma proposta intermediária entre a formação geral das qualidades físico-desportivas para a maioria dos esportes e o desenvolvimento das qualidades físicas específicas de um esporte escolhido (MARQUES; OLIVEIRA, 2001).

    Nessa mesma linha de raciocínio, pode-se questionar a relevância do treinamento físico-desportivo de base geral, tendo em vista a necessidade da otimização das qualidades físicas exigidas no esporte em particular; entretanto, não se pode esquecer que esses atletas são jovens e, por conseguinte, precisam trabalhar com freqüência e regularidade a base físico-desportiva responsável pela formação do atleta em médio e longo prazo. Trata-se de uma preocupação responsável de quem responde pela formação de atletas de alto rendimento.

    No caso dos atletas de tênis de alto rendimento juvenil – para ambos os sexos – o treinamento técnico-tático, realizado diariamente, ocupa cerca de três horas diárias de atividades com constantes deslocamentos e inúmeras repetições de gestos motores específicos do esporte (APARICIO, 1998). E, ainda, salienta-se que para não causar nenhum grau de estresse no atleta antes do treino técnico-tático, normalmente, os treinadores recomendam que o treinamento físico seja realizado depois das atividades técnico-táticas. Com raras exceções, encontram-se equipes que conseguem realizar de forma mais equilibrada essa estruturação do treinamento de tenistas. Na realidade, essa deveria ser a regra, pois não se cogita outro caminho para a formação do tenista em médio e longo prazo (DENIAU, 1991; APARICIO, 1998).

    Nesse contexto, entende-se que é emergente saber se os tenistas juvenis (13 a 16 anos) de competição federada de ambos os sexos treinam com freqüência e regularidade exercícios que desenvolvem as principais qualidades físico-desportivas em geral – habilidades coordenativas, força, velocidade, resistência, e flexibilidade –, independentemente do volume e da intensidade desse trabalho. Isso porque a maior preocupação que atinge a natureza dessas discussões é o fato de que é possível que algumas dessas qualidades físicas simplesmente não sejam trabalhadas com a freqüência mínima desejada nas atividades cotidianas de treinamentos.

    Diante do exposto, o objetivo central desse estudo é verificar a existência de diferenças significativas (p > 0,05) na freqüência de treinamento físico-desportivo em tenistas de 13 a 16 anos, conforme a variável sexo.

Material e métodos

Caracterização do estudo

    Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, que pretende examinar comparações entre variáveis, bem como gerar predições (THOMAS; NELSON, 2002).

População e amostra

    Participaram desta pesquisa tenistas participantes de competições oficiais, regionais e nacionais, de ambos os sexos (masculino: 70,3%; feminino: 29,7%), com idades variando de 13 a 16 anos (“até 14 anos”: 59,8%; “até 16 anos”: 40,2%), escolhidos pelos critérios de disponibilidade e acessibilidade (MAGUIRE; ROGERS, 1989).

Instrumento

    Para a coleta de dados foi utilizado o “Inventário do Treinamento Físico-desportivo” (ITFD-70), proposto por Simões et al. (2005). O ITFD-70 foi elaborado para avaliar a freqüência de treinamento de 5 das possíveis dimensões associadas ao treinamento físico-desportivo, representadas pelas qualidades físicas, de acordo com a percepção dos atletas. Trata-se de um total de 70 itens agrupados 5 a 5, seguindo a seqüência das dimensões a serem estudadas, a saber: resistência (ex: corridas contínuas), flexibilidade (ex: alongar os músculos da parte da frente da coxa), força (ex: exercícios abdominais), velocidade (ex: piques com progressão de velocidade), habilidades coordenativas (ex: quicar ou conduzir duas bolas ao mesmo tempo). Estas são as cinco qualidades físicas mais comumente relacionadas ao treinamento físico-desportivo (BOMPA, 2002; DEUFF, 2003; WEINECK, 1999). O inventário avalia a freqüência de treinamento das atividades físico-desportivas utilizando-se uma escala de tipo Likert, bidirecional graduada em 5 pontos, indo de “realizo pouquíssimo” (1) a “realizo muitíssimo” (5). Propriedades métricas do inventário foram avaliadas e consideradas satisfatórias, sendo que os índices de consistência interna das dimensões variaram de α = 0,71 a α = 0,91 (SIMÕES, 2005; 2006).

Procedimentos

    Inicialmente, o projeto de pesquisa foi submetido à análise do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e aprovado sob o número 2007721. Após sua aprovação, procedeu-se a aplicação do ITFD-70 durante o intervalo das competições da FGT. As aplicações foram individuais e cada sujeito precisou de aproximadamente 10 minutos para responder ao inventário. Os dados colhidos foram digitados e analisado na planilha eletrônica SPSS (versão 15.0 para Windows).

Apresentação e discussão dos resultados

    No intuito de atender ao objetivo do estudo, realizou-se a exploração dos escores obtidos pelo ITFD-70, segundo princípios comumente aceitos na literatura especializada (Bisquera, 1987; Bryman; Cramer, 1999; Pestana; Gageiro, 2003; Reis, 2000; Sirkin, 1999). Segue-se à apresentação dos resultados das estatísticas descritivas (tendência central, dispersão e distribuição) e das comparações das médias de acordo com o Sexo (intra e entre sexos).

    Antes dos procedimentos relativos às estatísticas descritivas e das comparações entre as médias, foi verificado em que medida os valores extremos estariam afetando as médias nesta amostra. Para tanto, foram realizadas comparações (One Sample t Test) entre a média aritmética e a média aparada a 5%. Observou-se que os valores extremos não afetaram de forma significativa (p > 0,05) as médias aritméticas. Sendo assim, optou-se pela permanência dos casos com valores extremos na amostra avaliada.

Estatísticas descritivas

    Com o objetivo de descrever os resultados obtidos através do ITFD-70, serão apresentadas as estatísticas de tendência central (média, mediana, média aparada a 5% e a moda); de dispersão (desvio-padrão e amplitude total); e de distribuição da amostra (normalidade, assimetria e achatamento), conforme a variável sexo. No que diz respeito às analises de tendência central, ao observar a Tabela 1, percebe-se que os índices obtidos nas médias das dimensões variaram bastante nos dois sexos. Considerando os valores nominais, a dimensão que apresentou maior freqüência de treinamento, nos tenistas do sexo masculino, foi a Flexibilidade, seguida pela Força, Velocidade, Resistência e Habilidades Coordenativas, respectivamente. No sexo feminino foi relatada uma maior freqüência de treinamento da Flexibilidade, seguida pela Velocidade, Força, Resistência e Habilidades Coordenativas, respectivamente.

Tabela 1. Estatísticas de tendência central, de dispersão e distribuição da amostra

    Com relação às medianas, foi possível perceber uma variação bastante acentuada e, além disso, seus valores estiveram sempre próximos às respectivas médias em todas as dimensões avaliadas. A dimensão que apresentou a maior diferença nominal entre a mediana e a média foi a Força para o sexo feminino (4,40 pontos). Cabe ressaltar que os valores da média aparada a 5% de todas as dimensões estiveram bem próximos à média aritmética, tanto para o sexo masculino quanto para o feminino. Com relação às modas, de forma geral apresentaram-se unimodais e com valores relativamente próximos ao valor da média aritmética. Esta relativa proximidade ocorreu mesmo nos dois casos em que múltiplas modas estão presentes. Como se pode perceber, todas as dimensões apresentaram distribuição com apenas uma moda. Tais resultados indicam que os casos extremos não exerceram grande influência sobre as médias das dimensões.

    A respeito das estatísticas de dispersão, percebe-se que não há grande variação entre os desvios-padrão das diferentes dimensões. Destaca-se que em nenhuma dimensão este valor ultrapassou a metade do valor nominal das médias, indicando que a variabilidade dos dados é satisfatória. Quanto à amplitude, a maior amplitude total ocorreu na dimensão Flexibilidade no sexo feminino (56 pontos), indicando variabilidade nos escores observados, enquanto a menor amplitude total ocorreu na dimensão Habilidades Coordenativas no sexo feminino (37 pontos), indicando variabilidade restrita nas respostas das tenistas. No que diz respeito aos valores máximos variaram de 52 a 70 pontos, enquanto que, com relação aos valores mínimos, variaram de 14 a 23 pontos. Estes resultados indicam maior heterogeneidade nos casos extremos à direita da curva e certa homogeneidade nos casos extremos a esquerda da curva. Cabe também destacar que todas as dimensões apresentaram desvios-padrão que não ultrapassaram a metade dos valores das respectivas médias. A dimensão Habilidades Coordenativas apresentou a menor amplitude total. Esta amplitude total parece ser decorrente dos baixos valores máximos apresentados (54 no caso da amostra geral), o que pode indicar uma baixa freqüência de treinamento desta dimensão.

    Em relação à distribuição, foram testados os índices de normalidade das dimensões, através do cálculo Kolmogorov-Smirnov (p > 0,05), com correção Lilliefors. Seus resultados indicam que, de forma geral, as distribuições aderem à normalidade (p > 0,05). As exceções ou são explicadas por problemas de assimetria (-1,96 < Skewness/EPs < 1,96), caso das Habilidades Coordenativas sexo masculino e/ou achatamento (-1,96 < Kurtosis/EPk < 1,96), caso da Flexibilidade no sexo feminino. O caso restante (de não aderência à normalidade) caso da Velocidade no sexo feminino, é mais bem explicado pela presença de múltiplas modas na distribuição.

    Ao analisar as estatísticas de distribuição da amostra observou-se que, em relação à assimetria e ao achatamento, todas as dimensões apresentaram distribuições mesocúrticas e simétricas. As exceções foram as dimensões Resistência e Flexibilidade que apresentaram distribuição assimétrica positiva e negativa, respectivamente. Apesar destes resultados satisfatórios, apenas a dimensão Força apresentou distribuição que aderiu à normalidade.

Comparações de médias

    Apresentadas as estatísticas descritivas, cabe apresentar as comparações de médias. Inicialmente serão apresentadas as comparações intra-sexo. Com o objetivo de verificar a adequação do uso de testes paramétricos para a comparação das médias das dimensões, testou-se a homogeneidade das variâncias entre as dimensões em cada sexo, através do Teste de Mauchly. Os resultados indicaram que a homogeneidade da variância não foi assumida (p < 0,01). Com base neste resultado e sabendo tratar-se de distribuições em sua maior parte com distribuições normais e, ainda, amparado no fato de que em grandes amostras o pré-requisito da normalidade é dispensado (PESTANA; GAGEIRO, 2003), optou-se por utilizar o Teste t Pareado, a fim de testar as diferenças entre os escores. A Tabela 2 apresenta estes resultados.

Tabela 2. Comparações de médias entre dimensões em cada sexo

    Os resultados apresentados na Tabela 3 demonstram que a qualidade física mais treinada pelos tenistas do sexo masculino é a Flexibilidade (p < 0,01), seguida pelas dimensões Força (p < 0,01), Velocidade (p < 0,01), Resistência (p < 0,01) e Habilidades Coordenativas (p < 0,01). Entre as tenistas do sexo feminino, a qualidade física mais treinada é a Flexibilidade (p < 0,01) seguida por um grupo, indissociável estatisticamente (p > 0,05), formado pelas dimensões Força e Velocidade (estatisticamente indissociáveis), depois pela Resistência (p <0,01) e Habilidades Coordenativas (p <0,01).

    Realizadas as comparações intra-sexo, cabe agora proceder às comparações entre sexos. Assim, o objetivo de verificar a existência de diferenças estatisticamente significativas entre a freqüência de treinamento das qualidades físicas entre os sexos, um Teste t para amostras independentes foi conduzido. Também neste caso, verificou-se a homogeneidade da variância com auxílio do Teste F de Levène e seus resultados foram observados quando as comparações de médias foram conduzidas. A Tabela 3 apresenta o conjunto destes resultados.

Tabela 3. Comparações de médias entre sexos

    Os resultados indicam que as dimensões Resistência (p < 0,01), Flexibilidade (p < 0,05), Velocidade (p < 0,01) e Habilidades Coordenativas (p < 0,01) apresentaram diferenças significativas entre os sexos. De acordo com estes resultados podemos inferir que, segundo a percepção dos atletas, as tenistas do sexo feminino treinam com freqüência significativamente maior (p < 0,05) que os tenistas do sexo masculino as dimensões Resistência, Flexibilidade, Velocidade e Habilidades Coordenativas. De maneira diferente, a dimensão Força é igualmente treinada, de modo que não difere estatisticamente (p > 0,05) entre os sexos.

Discussões

    Os resultados indicam que a freqüência de treinamento das qualidades físicas, segundo a percepção dos tenistas, não caracteriza a freqüência regular de todas as qualidades físicas investigadas. As dimensões do ITFD-70 são compostas por itens que caracterizam atividades gerais associadas ao treinamento das qualidades físicas. Neste contexto, o equilíbrio na freqüência de treinamento das dimensões é um parâmetro para avaliar se o treinamento físico-desportivo está sendo contemplado.

    Os resultados apontaram a prevalência da dimensão Flexibilidade, que apresentou, significativamente, um valor nominal acima das demais dimensões. Porém, a peculiaridade da prevalência do treinamento da Flexibilidade já foi abordada por Gomes (comunicação oral), que a relacionou com a inclusão sistemática de exercícios de alongamento como parte do processo de aquecimento e de relaxamento no início e no final das sessões de treino, respectivamente. Uma elevada freqüência de treinamento da Flexibilidade, também, fora relatada por Reque (2003), que encontrou uma freqüência semanal superior a 3 sessões de Flexibilidade em 50% dos tenistas entrevistados. No tênis, um importante aspecto relacionado ao desenvolvimento da Flexibilidade é a manutenção da amplitude de movimento nos principais grupos musculares visando à prevenção de lesões (KNUDSON, 2003). Na formação, em virtude do caráter assimétrico da prática e dos efeitos produzidos pelo elevado volume de repetições de gestos técnicos no organismo em desenvolvimento, o papel complementar da Flexibilidade ganha destaque (RIEWALD; ELLENBECKER, 2005; SKORODUMOVA, 1998).

    Nas comparações de média “intra-sexos”, utilizou-se o Teste “t” Pareado, conforme anteriormente citado. Para os tenistas do sexo masculino as qualidades físicas são mais freqüentemente treinadas na seguinte ordem: Flexibilidade ( = 51,94), Força ( = 41,25), Velocidade ( = 37,35), Resistência ( = 33,27) e Habilidades Coordenativas ( = 31,30). As comparações destas médias apontaram diferenças estatisticamente significativas (p < 0,01) em todos os pares de dimensões. Tais resultados indicam que a freqüência de treinamento das qualidades físicas, segundo a percepção dos tenistas do sexo masculino, não caracteriza o treinamento regular das qualidades físicas investigadas.

    Em relação às tenistas do sexo feminino, os resultados das comparações de médias indicaram que a qualidade física mais freqüentemente treinada é a Flexibilidade ( = 55,40), seguida de um grupo estatisticamente indissociável (p > 0,05) formado pelas dimensões Velocidade ( = 43,03) e Força ( = 41,40), pela Resistência ( = 37,81) e Habilidade Coordenativas ( = 35,12). As comparações destas médias apontaram diferenças estatisticamente significativas (p < 0,01) em todos os pares de dimensões, exceto no par formado pelas dimensões Velocidade e Força (p > 0,05), indicando equilíbrio no treinamento apenas entre estas duas dimensões. De maneira geral, os resultados indicam que a freqüência de treinamento das qualidades físicas, segundo a percepção dos tenistas do sexo feminino, também não caracteriza a regularidade e freqüência necessária par a formação de tenistas em médio e longo praza.

    Em relação às análises “intra-grupos”, como se pode perceber, o ordenamento das freqüências de treinamento das dimensões para o sexo masculino é absolutamente igual ao ordenamento para a amostra geral. No sexo feminino, as freqüências de treinamento das dimensões apresentaram uma pequena distinção. Os valores das dimensões Velocidade e Força, não apresentaram diferenças estatisticamente significativas. Aparentemente, o ocorrido deve-se a uma maior freqüência de treinamento para o sexo feminino da dimensão Velocidade, que aparece em segundo lugar no ordenamento, enquanto a dimensão Força aparece em terceiro. Cabe referir que esta qualidade física é referida como muito relevante para a performance no tênis (MOREAU; PERROTTE; QUÉTIN, 2003; RIVAS; ROMERO, 2003; SKORODUMOVA, 1998; UNIZYERSKI, 2005a; 2005b). Isto pode ser um indicativo de que o treinamento das qualidades físicas, no sexo feminino, privilegia aspectos relacionados à performance imediata.

    Testando as possíveis diferenças estatísticas entre as médias das dimensões “entre-sexos”, percebe-se que as dimensões Flexibilidade, Velocidade, Resistência e Habilidades Coordenativas são significativamente (p < 0,05) mais treinadas pelas meninas do que pelos meninos. A prevalência na freqüência de treinamento destas dimensões parece confirmar uma tendência do esporte feminino, a precocidade da busca de elevados resultados (MORRIS, 2005). Mesmo com restrições, as meninas têm a possibilidade de envolvimento em competições profissionais antes dos meninos e, conseqüentemente, tendem a envolverem-se em rotinas de treinamento mais extenuantes antes destes (MARTIN; OTIS, 2005). Outro fator que pode influenciar para uma maior freqüência de treinamento das meninas é uma maior valorização da preparação para os torneios, além de uma maior dedicação, aparente, nos treinamentos (SCHONBÖRN, 1999). Tais fatores podem estar na origem da maior freqüência de treinamento nestas dimensões por parte das tenistas do sexo feminino e entende-se que tal quadro mereça atenção, pois pode estar a influenciar um menor envolvimento com a competição ou um abando precoce (MAES; MARTENS, 2005).

Considerações finais

    Espera-se que a realização deste estudo possa transcender o âmbito acadêmico, oferecendo subsídios que possam levar à discussão e qualificação das práticas vigentes. Dessa forma, estaríamos contribuindo com os envolvidos no processo de formação esportiva e com os jovens esportistas. Alguns resultados descritos permitem a formulação de novos questionamentos a respeito da forma como está sendo conduzida esta prática no tênis:

  1. Será que o trabalho de flexibilidade não está sendo totalmente substituído pelas sessões de alongamentos antes (aquecimento) e depois dos treinamentos técnico-táticos?

  2. Será que os exercícios de habilidades coordenativas não estão sendo totalmente substituídos pelos treinamentos das habilidades técnicas específicas do tênis?

  3. Como está sendo conciliado o trabalho de resistência geral com as atividades de longa duração realizadas nos treinamentos técnico-táticos?

  4. Não seria prudente e responsável da parte do preparador físico de tenistas ir de encontro ao equilíbrio necessário entre a preparação física e a técnico-tática?

    Enfim, discute-se, por um lado, a melhor forma de integrar o treinamento físico com o técnico-tático no tênis, fundamentalmente, a partir da participação do preparador físico durante o treino técnico-tático; por outro lado, comenta-se sobre a importância (ou não) do treinamento de base na pré-temporada ou até mesmo no período pré-competitivo; entretanto, a literatura não contempla com o aprofundamento necessário a temática da preparação física geral orientada para um esporte em particular (o que é bem diferente da preparação física geral para os esportes em geral).

    Recomenda-se que outros estudos sejam conduzidos com tenistas ou até mesmo com praticantes de outras modalidades esportivas, a fim de aprofundar os conhecimentos nessa área. Sugere-se, ainda, que outras análises referentes ao treinamento das qualidades físicas sejam conduzidas, como por exemplo, a partir de observação dos treinamentos, análise das planilhas de treino ou de entrevistas com os responsáveis pelo planejamento e execução do treinamento. Dessa forma, será possível produzir um conhecimento aprofundado sobre o tema.

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