A prática docente no ensino superior e o esporte de rendimento La práctica docente en educación superior y el deporte de rendimiento |
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*Mestranda do Curso de Pós Graduação Strictu Sensu em Educação da Universidade Regional de Blumenau – FURB. Membro do Grupo de Pesquisa e Estudo em Metodologias de Ensino em Educação Física - NEMEF/UNIDAVI **Professor Doutor do Curso de Educação Física da Universidade Regional de Blumenau - FURB. Professor do Curso de Educação Física e História do Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI Membro do Grupo de Pesquisa NEMEF/UNIDAVI |
Camila da Cunha Nunes* Eduardo Cartier** (Brasil) |
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Resumo A atualidade depara-se com a formação de docentes na área da Educação Física estagnada, numa realidade na qual o esporte de rendimento é produto de ensino, perdendo seu foco educacional, na perspectiva da transformação social. A partir deste contexto inicial, este estudo teve como objetivo analisar a influência que o esporte de rendimento possibilitou ao profissional de Educação Física do ensino superior no desenvolvimento da disciplina, tendo em vista a utilização das metodologias de ensino aprendizagem. Unitermos: Práxis pedagógica. Metodologias de ensino. Educação Física.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Educação Física (EF) como componente curricular é condicionada pela sociedade em que está inserida, a sociedade capitalista. Deste modo, a sua práxis permeia um processo de fragmentação do conhecimento em que a razão técnica do âmbito esportivo prevalece sobre os demais componentes dos modos de se fazer e compreender a Educação Física.
Desta forma, a EF caracteriza um processo de homogeneização que prima ao esporte, assumindo seus códigos, sentidos e valores do sistema esportivo, fragmentando a compreensão da EF em sua mais alta complexidade.
No decorrer do Curso de EF na Universidade Regional de Blumenau (FURB) percebemos a preponderância nas atividades desenvolvidas sustentadas na aquisição de destrezas motoras originadas dos esportes hegemônicos, por meio de uma práxis pedagógica docente desenvolvida na busca do condicionamento e gestos técnicos, aproximando-se muito ao treinamento desportivo do alto rendimento. Práxis compreendida indubitavelmente a partir da perspectiva histórica tecnicista esportiva dos fundadores do curso.
Daólio (1995) pressupõem que o corpo visto desta maneira, como matéria prima é condicionado como uma máquina que deve funcionar com perfeição seguindo padrões de um corpo eficiente de modo mecânico ou social cumprindo regras. É matéria de ensino apenas o redutível ao conhecimento observável e mensurável, dito como verdade absoluta não tendo qualquer pretensão dialética entre educador/educando, caracterizando assim a pedagogia tecnicista, na qual o educando deve aprender no mais curto espaço de tempo (LUCKESI, 1994).
Segundo Cartier (2008) este sistema caracteriza um processo de trabalho pedagógico da EF baseado no modelo taylorista e fordista de produção, fragmentado com isolamento em linhas de produção, este sustentado por um conjunto de práticas de controle de trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações de poder político e econômico, deixando explícita a existência de uma relação direta e funcional entre competição esportiva e o capitalismo.
Pretendemos neste estudo analisar a influência que o esporte de rendimento possibilitou ao profissional de EF do ensino superior no desenvolvimento de sua disciplina no curso de EF, considerando a utilização das metodologias de ensino aprendizagem como pano de fundo desta reflexão.
Partimos do pressuposto que existe uma enorme influência na práxis pedagógica dos professores do ensino superior o fato de terem sido atletas, e assim uma práxis fundamentada no treinamento desportivo de forma tecnicista, em que a repetição de movimentos estereotipados e aos processos pedagógicos do alto rendimento pesam para o processo ensino aprendizagem. Neste sentido é relevante ressaltar que a perspectiva tecnicista ao longo da história evidenciou um processo de fragmentação e exclusão social que perdura até os dias atuais.
Chegamos a esse pressuposto por o tecnicismo se manifestar de forma preponderantemente no ensino escolar desde os seus primórdios na busca do rendimento máximo. Se pautando na avaliação do educando pela forma de execução dos gestos técnicos não se preocupando com o desenvolvimento humano em sua totalidade dando ênfase somente ao desenvolvimento motor. O docente ex-atleta acaba por realizar uma transferência para sua prática psicomotora do treinamento desportivo de alto rendimento realizado enquanto atleta.
Algumas metodologias de ensino – sobretudo da EF – questionam este caráter formativo visando outros significados aos conteúdos da EF. Neste estudo, serão relacionadas apenas as metodologias: tecnicista, crítico emancipatório e crítico superadora pelo motivo que as mesmas são enfatizadas pelos docentes que ministram aulas no Curso de EF da FURB, embora considere as demais expostas na literatura específica de extrema relevância para compreensão da totalidade das práxis pedagógica.
A práxis pedagógica na docência do ensino superior
A práxis pedagógica docente nas aulas de EF concentra sua prática psicomotora no desenvolvimento de movimentos estereotipados originados dos esportes hegemônicos, movimentos estes apresentados de maneira autoritária sem possibilidades de reflexão a respeito do movimento não propiciando ao educando ter qualquer pretensão de ação.
Vásquez (1968) ressalta para ter uma práxis devidamente significativa ela deve possuir uma intenção, que Marx caracteriza como o trabalho, que tem por finalidade a transformação do mundo exterior satisfazendo as necessidades humanas, criando uma nova realidade para o homem como ser social destinado a mudar suas relações econômicas, políticas e sociais.
Se tratando do ensino do esporte, os métodos didáticos não podem ser confundidos com ordenações sistêmicas de procedimentos que terminam, assumindo a forma de um método geral de ensino, o qual, em último termo, nada mais é do que uma normatização que visa à mecanização das atividades intelectuais, que representa um meio de controle com um ponto de chegada pré-estabelecido, não tendo qualquer pretensão de ação e transformação. É necessário que o docente conheça os diversos métodos de ensino e compreenda seus princípios, utilizando ou criando um método compatível com as necessidades e objetivos do grupo, considerando a faixa etária e o nível de compreensão do jogo para que possa atender o indivíduo em sua totalidade (ESCOBAR, 2005).
O foco é atender ao desenvolvimento humano de forma integral, para isto necessita de uma pedagogia capaz de lidar com os aspectos biológico, cognitivo, psicológico, filosófico e social. Não perdendo de vista o conteúdo específico, que envolve a parte física, técnica e tática das modalidades esportivas. A utilização dos mesmos métodos de ensino na EF escolar e na iniciação esportiva tem submetido às crianças e adolescentes, a especialização precoce, stress e estímulos inadequados (FERREIRA, GALATTI e PAES, 2005).
Bracht (1992) salienta que a EF é desenvolvida como uma indústria que utiliza dos educandos, para quem sabe no futuro serem “bens de consumo”, futuros atletas não dando subsídios para desenvolvê-lo numa sociabilidade composta de valores que permitiriam um enfrentamento crítico com os valores dominantes. Isto faz com que, não seja dada relevância a uma análise crítica da relação entre a EF/esporte e o contexto sócio-econômico-político e cultural em que se objetivam, e sim, enquanto instituições autônomas e isoladas.
A EF imposta desta forma acaba por fragmentada, autoritária, excludente e alienante não dando possibilidades ao educando de refletir e pensar numa EF histórica e social, que tem por trás dela uma imagem da consciência corporal.
Metodologias em Educação Física
Metodologia com abordagem tecnicista
Para a pedagogia tecnicista o que importa é o aprender a fazer, assim, o processo que defini o que educadores e educandos devem fazer, quando e como farão, tendo como questão central a técnica (SAVIANI, 1991).
Sustentada sob o pressuposto que a função da escola é preparar os indivíduos para papéis da sociedade, de acordo com as normas e valores vigentes e suas aptidões individuais (LUCKESI, 1994).
A pedagogia tecnicista pretende a objetivação do trabalho pedagógico, partindo do pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, reformulando o processo educativo de maneira a torná-lo objetivo e operacional, mecanizando-o. Proliferando métodos pedagógicos com enfoque sistêmico (SAVIANI, 1991).
O ensino acima descrito trata-se de forma sistemática e objetiva, sem qualquer discussão. O conhecimento é restrito, não abrange os problemas em sua totalidade. É baseado suficientemente em técnicas em que o educador acaba sendo uma ponte, um meio de ligação entre o conhecimento e o educando, cabendo a este recebê-lo e fixá-lo.
Metodologias críticas de ensino da Educação Física
Estas abordagens denominadas críticas ou progressistas passaram a questionar o caráter alienante, autoritário e excludente da EF na escola, propondo um modelo de superação das contradições e injustiças sociais. Assim, uma EF crítica estaria atrelada as transformações sociais, econômicas e políticas tendo em vista a superação das desigualdades sociais presente na sociedade (DARIDO, 2001).
A metodologia crítico-emancipatória busca por meio das aulas de EF alcançar como objetivos primordiais do ensino e através das atividades com o movimento humano, o desenvolvimento de competências como a autonomia, a competência social e a competência objetiva, desenvolvendo outros sentidos/significados, tais como: Sentido Comparativo, Explorativo, Produtivo, Comunicativo e Expressivo (KUNZ, 1991).
Neste espaço pedagógico o educador deve propiciar pela historicidade do seu conteúdo específico, uma compreensão crítica das encenações esportivas, os seus interesses e os problemas vinculados ao contexto sociopolítico, por meio de uma Ação Comunicativa entre educador/educando durante o ato pedagógico tornando durante o ensino produção de conhecimento e não simples transmissão de informações, tendo por objetivo a formação de sujeitos críticos e autônomos para a transformação (ou não) da realidade em que estão inseridos (KUNZ, 1991).
Já o Coletivo de Autores (1993) aborda a metodologia crítico superadora, que implica um processo que acentue, na dinâmica da sala de aula, a intenção prática do educando para aprender a realidade. Entendendo a aula como um espaço intencionalmente organizado para possibilitar a direção da apreensão, pelo educando, do conhecimento específico da EF e dos diversos aspectos das suas práticas na realidade social.
Nesta perspectiva, a EF trata pedagogicamente do conhecimento denominado cultura corporal buscando desenvolver uma reflexão sobre as formas de representação do mundo que o ser humano tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES, 1993).
O conhecimento é tratado tendo como base a lógica da dialética materialista: totalidade, movimento, mudança qualitativa e contradição, sendo organizado de modo a ser compreendido como provisório, produzido historicamente e de forma espiralada (COLETIVO DE AUTORES, 1993).
Essas concepções críticas têm por objetivo uma práxis reflexiva e que a partir dela o indivíduo crie autonomia, ressignifique seus atos atribuindo significado e construindo seu próprio movimento.
Concepção metodológica do estudo
Neste estudo foi realizada pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico e exploratório. Para tal, utilizamos como instrumento a técnica de entrevista semi-estruturada.
Os sujeitos deste estudo são 2 docentes de instituições do ensino superior de Santa Catarina que ministram aulas na disciplina de basquetebol.
A entrevista inicialmente contém dados pessoais relativos ao docente, e posteriormente seis perguntas relacionadas à sua aula de prática psicomotora que possibilitaram sistematizar temas geradores acerca da relação entre o esporte de rendimento e as metodologias de ensino aprendizagem no desenvolvimento da práxis pedagógica na docência de ensino superior.
Para coleta dos dados inicialmente os docentes foram orientados a assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para assegurar os questionamentos efetivados na condução da entrevista semi-estrutura. Após, realizamos a filmagem da entrevista semi-estruturada, posteriormente efetuamos a transcrição dos dados para a constituição da análise.
Análise e discussão de resultados
Utilizando uma análise qualitativa e contextual podemos perceber algumas considerações que são de extrema relevância para o desenvolvimento das metodologias.
Através das entrevistas e suas respectivas análises percebemos que a maioria dos docentes tem uma compreensão distorcida acerca das metodologias de ensino em EF do ponto de vista da constituição das bases epistemológicas, tendo em seus discursos alguns elementos que caracterizam as metodologias de ensino, entretanto mostram-se confusos em sua definição.
As discussões sobre metodologias de ensino em EF sinalizam uma construção histórica no processo de ensino aprendizagem do ensino superior que possibilita uma práxis docente sustentada em um pressuposto teórico, na qual são fundamentadas suas bases epistemológicas no tecnicismo.
Primeiramente apresentaremos os docentes permitindo ao leitor se familiarizar com os sujeitos da pesquisa, apresentaremos os mesmo no decorrer desta análise como: docente 1; docente 2.
O docente 1 tem 43 anos, possui a titulação de mestre em Biociência do Desenvolvimento Humano, trabalha a 7 anos no ensino superior e foi atleta.
O docente 2 tem 34 anos, possui o ensino superior completo, trabalha a 4 anos no ensino superior e foi atleta.
A partir destas informações iniciais percebe-se que ambos foram atletas da respectiva modalidade de basquetebol, o que nos indica caminhar na direção do nosso pressuposto inicial.
Após a apresentação dos sujeitos iniciaremos a análise e discussão das perguntas, como primeira pergunta temos: ter sido atleta possibilitou alguma influência na sua práxis pedagógica?
Influenciou principalmente porque a gente acaba ganhando uma bagagem muito grande em termos de metodologia, utilização de exercícios toda essa pratica vem influenciando sim na maneira da gente atuar como professor (Docente 1).
Sim, com certeza (Docente 2).
Os sujeitos afirmam que o fato de ter sido atleta influencia em sua práxis pedagógica mesmo afirmando o distanciamento do trabalho com o treinamento, deste modo confirma-se o pressuposto inicial deste trabalho.
Daólio (1995) salienta que a forma como os docentes entendem e traduzem as noções de corpo influência no tipo de aulas que ministram, no delineamento dos seus objetivos, na sua postura perante os educandos e na forma como utilizam as técnicas corporais na sua rotina de aulas, sua experiência de mundo e, portanto, a concepção acerca de sua prática como profissionais.
A seguir apresentamos as considerações a respeito da pergunta: qual a relevância da sua disciplina para o curso de EF?
Trabalhando numa disciplina formativa “né” muito subjetiva eu acredito que todos os conteúdos e a forma como esses conteúdos são trabalhados eles vão contribuir no contexto da graduação dos acadêmicos então todo planejamento toda metodologia utilizada os aspectos avaliativos utilizados é acredito que contribuem na formação dos acadêmicos e na continuidade do curso (Docente 1).
Eu acho que a EF tem o esporte como base e o basquetebol ta inserido nisso (Docente 2).
Podemos perceber que os educadores ministram as aulas sem um conceito da importância da sua disciplina para o curso de EF e sim enquanto modalidade esportiva. As contribuições acerca da disciplina do basquetebol para formação acadêmica não é clara, e parece ser direcionado pela capacidade dos mesmos em reproduzir educativos para a aprendizagem dos fundamentos desta modalidade.
Para Bracht (2003) a disciplina tem um caráter pragmático atrelado aos interesses da instituição esportiva em função do fenômeno esportivo e não enquanto formação do indivíduo não possuindo assim uma identidade epistemológica própria. Compreendemos a partir disto, que a disciplina é importante por ter uma função para o sistema que a rege e não enquanto questão educacional que possibilite a transformação social.
A terceira pergunta parte do questionamento: qual (is) metodologia (as) de ensino você utiliza em sua aula de prática psicomotora no ensino superior? Dê características de cada uma? Vejamos as respostas a seguir:
Eu diria que na prática motora porque nos não vamos avaliar só a questão psicomotora eles vão ter várias das suas capacidades “né” é avaliá-las e eu acredito que teja estar usando “né” diversas e diferentes correntes pedagógicas vai favorecer eles na eleição deles por uma dessas práticas (Docente 1).
Bem a metodologia ela varia do ensinamento global ou então dos ensinamentos individualizados. Do global a gente utiliza o jogo em si “né” na sua essência e através da parte individual a gente vai trabalhando através de cada fundamento através de grupos um, dois, três e assim vai (Docente 2).
Nesta análise fica clara a discordância na descrição do uso das metodologias. Não a uma definição quanto às metodologias de ensino, assim os docentes descrevem características que julgam importantes em sua prática. Essa fragmentação do conhecimento e especialização leva a uma práxis visando o desenvolvimento motor, aos aspectos técnicos, táticos e físicos da modalidade desconsiderando o indivíduo em sua totalidade.
É evidente que esta modalidade parece se resumir em fundamentos e desenvolvimento motor, parecendo haver uma dicotonomia entre esporte/questões sociais, desenvolvimento motor/cognitivo/afetivo.
Os conteúdos nas aulas de EF segundo Coletivo de Autores (1993) restringem-se as modalidades esportivas, negligenciando outros conhecimentos da cultura corporal como linguagem não aproximando o educando da percepção de totalidade das suas atividades. As metodologias de críticas visam outros significados aos valores do esporte, para isto conteúdos como os problemas sócio-políticos atuais fazem parte do seu programa.
Dando seguimento, ao processo de análise, temos a quarta pergunta: como você desenvolve o planejamento de suas aulas?
É eu desenvolvo previamente ao semestre “né” normalmente eles tem ai uma carga de 60% prática e 40% teórica onde eu procuro envolver varias metodologias de trabalho “né” tanto na pratica como na teoria então a gente utiliza seminários, bastante seminários, resenhas de textos, discussão sobre textos, discussão sobre metodologias e praticas de ensino porque o basquetebol nessa disciplina ele não é um conteúdo por si só “né” a gente procura transversalisar o conteúdo pra que ele seja é possível de ser utilizado em outras formas outras maneiras em outros campos de atuação pelos acadêmicos (Docente 1).
Práticas? é geralmente é baseada no conteúdo teórico “né” baseada em alguns autores que eu tenho como parâmetro então e da experiência de vida também como atleta e acadêmico. Bem eu utilizo bastante o Dante “né” o Aluízio Ferreira também o Lula e alguns autores internacionais da Espanha alguns de língua espanhol que eu tenho algum material (Docente 2).
Percebemos nas respostas diferentes perspectivas no planejamento das aulas. O docente 1 divide suas aulas em práticas/teóricas visando que o conteúdo das aulas propicie aporte teórico para ser aplicável em outros campos de atuação, o docente 2 se baseia numa visão dualista colocando o teórico anteriormente a prática.
Numa visão dialética teoria e prática são partes da ação social humana, nesse sentido havendo uma inter-relação dinâmica e complexa de conflito na qual uma tenciona a outra permanentemente, dinâmica esta denominada de práxis (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007). Deste modo, a contradição constante possibilitada pela tensão permanente entre teoria e prática gera um movimento de superação ocasionando a ressignificação constante dos atos pedagógicos, assim, o planejamento é estabelecido por meio da relação entre educador/educando.
A quinta pergunta parte do questionamento: o que busca nas suas aulas de prática psicomotora?
Como eu te falei antes não só da prática só psicomotora “né” da prática motora, da prática cognitiva então de campos mais abrangentes da prática eu acredito que a disciplina de basquetebol ela tem muito mais a oferecer não só da questão psicomotora em função da questão psicomotora mais desenvolvimento das habilidades motoras desenvolvimento da é sobre aspectos atrativos dos próprios acadêmicos (Docente 1).
É o desenvolvimento do indivíduo através do esporte “né” do basquetebol viso à coordenação, lateralidade, as percepções que existem “né” da modalidade “né” claro tendo como foco o basquetebol (Docente 2).
Observamos nos relatos a preocupação no desenvolvimento do indivíduo e o foco principal no desenvolvimento motor, entretanto, os entrevistados relatam o desenvolvimento cognitivo e social também não se preocupando somente na parte motora.
Para Saviani (1991) o objetivo do trabalho educativo, é a identificação dos elementos culturais e de outro lado e juntamente, à descoberta das formas mais adequadas pra se conseguir esse objetivo, desse modo o educador deve utilizar de diversos métodos, procedimentos e técnicas para alcançar tal.
E por fim, a sexta pergunta consistiu em: como é o processo avaliativo?
Os alunos têm varias notas eles tem dez notas a cada bimestre então eles tem uma nota de resenhas de artigos científicos, do seminário de artigo cientifico, do trabalho individual de fundamentos do basquetebol que eu do pra cada um, da prova teórica e da pratica de ensino, os relatórios de aula que são feitos “né” da pratica das aulas praticas deles e efetivamente da alto avaliação que eles fazem também então são dez notas a cada bimestre (Docente 1).
Bem avaliação é um processo digamos assim complicado “né” da educação bem eu tento ser o mais sincero possível e bem preciso nas minhas avaliações. Eu tento avalia cada aluno como um indivíduo único também tento avalia cada aluno no seu trabalho coletivo observando sua participação seu interesse pela disciplina pelas aulas (Docente 2).
As avaliações se restringem as notas objetivando ao rendimento, como sinaliza Kunz (1991, p. 123) “os critérios indicados para a avaliação do rendimento do aluno são apenas dois: progresso de rendimento e participação ativa do aluno em aula”, as avaliações são limitadas a esses dois fatores. O que mostra a influencia do conhecimento adquirido a partir da perspectiva positivista baseada na experiência.
Na mesma esteira, Coletivo de Autores (1993) verifica que a avaliação tem sido entendida e tratada pelos docentes/educandos para: atender exigências burocráticas expressas em normas da escola; atender a legislação vigente; e selecionar educandos para competições e apresentações tanto dentro da escola, quanto com outras escolas.
Podemos perceber o que Kunz (1991) salienta estruturas, perspectivas de ação e representativos produtos de ensino objetivados, que evidenciam a concepção metodológica definida pela transmissão de destrezas motoras, modelo didático que articula o ensino à simples aprendizagem das técnicas, táticas e da melhoria da condição física.
Considerações finais
Consideramos a partir das análises dos dados obtidos nas entrevistas semi-estruturada, a comprovação do nosso pressuposto inicial que há influência na práxis pedagógica dos professores do ensino superior o fato de terem sido atletas, desta forma desenvolvendo uma práxis fundamentada no treinamento desportivo de forma tecnicista, levando a repetição dos movimentos, correção da técnica e os processos pedagógicos do alto rendimento.
Diante disso a práxis pedagógica dos docentes baseia-se na reprodução do conhecimento concentrado no saber fazer, despreocupada com o desenvolvimento humano em sua totalidade. Desenvolvida preponderantemente com base em uma relação de hierarquia entre educador e educando com traços de uma perspectiva tecnicista, alienadora, excludente e limitada, o que pode vir a interferir na práxis dos educando enquanto docentes posteriormente.
Para ressignificação da práxis pedagógica compreendendo além do desenvolvimento motor podem ser utilizadas as metodologias de ensino críticas que visam outros significados ao esporte e a EF além do desenvolvimento motor.
Referências
BRACHT, V. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992.
BRACHT, V. Educação Física & ciência: cenas de um casamento (in) feliz. Ijuí: UNIJUÍ, 2003.
CARTIER, E. Globalização: as conseqüências para a formação acadêmica e o processo ensino aprendizagem em Educação Física. In: Anais... III Episted - III Seminário de Epistemologia e Teorias da Educação e IV Colóquio de Epistemologia da Educação Física, 2008, Campinas: FE/ UNICAMP, 2008. v. 3. p. 44-44.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1993.
DAÓLIO, J. Da cultura do corpo. São Paulo: Papirus, 1995.
DARIDO, S. C. Os Conteúdos da Educação Física Escolar: influências, tendências, dificuldades e possibilidades. Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1, p. 5-25, 2001.
ESCOBAR, M. O. O jogo e o esporte como atividades integrantes da cultura corporal. In: Micheli Ortega Escobar et al. Manifestações dos jogos. Brasília: Universidade de Brasília, Centro de Educação a Distância, 2005.
KUNZ, E. Educação Física: ensino e mudanças. Ijuí: UNIJUÍ, 1991.
LUCKESI, C. Filosofia da educação. SP: Cortez, 1990.
VASQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. RJ: Paz e Terra, 1968.
SÁNCHEZ GAMBOA, S. Epistemologia da Educação Física: as inter-relações necessárias. Maceió: EDUFAL, 2007.
SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. SP: Cortez : Autores Associados, 1991.
PAES, R. R.; BALBINO, H. F. Pedagogia do esporte: contextos e perspectivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
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