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Efeitos colaterais de substâncias e métodos de dopagem no esporte

Efectos colaterales de sustancias y métodos de doping en el deporte

 

*Licenciado em Educação Física

**Professor (a) Doutor (a) da Universidade Estadual de Maringá

(Brasil)

Juliana Jacques Pastório*

Marcelo Augusto Santini*

Solange Marta Franzói de Moraes**

Célia Regina de Godoy Gomes**

julianajacquesp@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo buscou apresentar os possíveis efeitos colaterais de substâncias e métodos de dopagem. Através de uma pesquisa de revisão, objetivou analisar na literatura já existente quais os efeitos colaterais causados pelo uso das substâncias de dopagem mais encontradas nos testes antidoping realizados no Brasil durante os anos de 2003 e 2004, bem como as possíveis vantagens adquiridas com o uso de substâncias proibidas. As substâncias que mais apareceram nas amostras dos atletas foram da classe dos esteróides anabólico androgênicos, seguidos pelos estimulantes, em ambas as temporadas de competição esportivas pesquisadas.

          Unitermos: Controle de dopagem. Atletas. Antidoping. Código de dopagem.

 

Abstract

          This study sought to present the possible side effects of substances and doping methods. Through a research review aims to evaluate existing literature in which the side effects caused by the use of doping substances most commonly found in anti-doping tests carried out in Brazil during the years 2003 and 2004 as well as the possible advantages gained by using prohibited substances. The substances in the samples that appeared most of the athletes were the class of anabolic androgenic steroids, followed by stimulants, in both competitive sports seasons surveyed.

          Keywords: Control of doping. Athletes. Anti-doping. Code of doping.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Vivemos em uma época caracterizada pela velocidade, tudo precisa ser feito o mais rápido possível, e nessa pressa desenfreada o esporte se encaixa perfeitamente, novos métodos, novas técnicas, novos procedimentos. De acordo com Neto (2001) o esporte na sociedade ocidental passou a fazer parte do tecido social, estando presente em todas as faixas etárias, camadas sociais e representando, em muitos casos, a chance de ascensão social e econômica para os menos favorecidos.

    Atletas de alto nível vivem em uma luta constante para se manter em posições destacadas e dependem do rendimento proporcionado por seus corpos. (RUBIO e NUNES, 2010). Na ânsia de conquistar um resultado expressivo, que possa lhe render visibilidade, os atletas procuram de todas as maneiras possíveis alcançarem seus objetivos, afinal uma boa classificação numa competição com visibilidade nacional poderá render um convite para treinar com a seleção principal de seu país, ou até mesmo uma vaga para competições internacionais.

    Muitas vezes incentivado por dirigentes, empresários, treinadores, médicos do esporte, “amigos” e familiares, atletas não medem esforços e muito menos pensam no risco grave que alguns meios ou métodos podem representar para sua própria saúde (NETO, 2001).

    No esporte o doping refere-se ao uso de drogas que melhoram a performance, particularmente aquelas que são proibidas pelas organizações que regulam as competições esportivas. Na verdade, doping e dopagem são duas palavras que têm significado diferente. O doping é a própria substância que pode ser usada com fins médicos e a dopagem é o uso em atletas com a finalidade de levar vantagem no desempenho esportivo. Com o passar do tempo, a palavra doping foi ganhando força pelo próprio uso e hoje, doping e dopagem são praticamente sinônimos (CAMPOS, 2005).

    Assim, o doping pode ser compreendido como a utilização de substância ou método que possa melhorar o desempenho esportivo e atente contra a ética esportiva em determinado tempo e lugar, com ou sem prejuízo à saúde do esportista (RAMIREZ; RIBEIRO, 2005).

    A história nos mostra que o doping está presente no esporte desde o inicio das competições esportivas, porém é somente depois da Segunda Guerra Mundial que o COI (Comitê Olímpico Internacional) cria o Controle de Dopagem no ano de 1967, pois durante a Segunda Grande Guerra houve um número muito grande de drogas sintetizadas para o uso militar. O esporte pegou carona e atletas passaram a abusar do uso de anfetaminas sintéticas e anabolizantes.

    Porém ainda não existiam métodos eficazes para fazer tal controle, e além dos estimulantes apenas alguns narcóticos podiam ser testados, fato que se estendeu durante a década de 70. Schänzer apud Neto (2001) diz que nos JJ.OO. de Los Angeles em 1984, foi feito um esforço para reunir técnica, tecnologia, instrumentação e pessoal especializado pela primeira vez para implementar o exame de anabolizantes como rotina.

    Durante os anos 90, a droga escolhida por atletas que precisavam de resistência foi a Eritropoetina (EPO), droga originalmente criada para pessoas que sofrem de anemia, ela trabalha forçando o corpo a produzir mais células vermelhas para o sangue. Com essas células a mais, o atleta pode correr uma distância maior, mais rápido e por mais tempo (EKBLOM, 1998; McGRATTY, 2003). A utilização da EPO, porém, se torna muito arriscada pois é facilmente detectada por exame de sangue ou de urina.

    Em Novembro de 1999 foi criada a WADA (World Anti-Doping Agency), em Português Agencia Mundial Anti-Doping, que já no ano de 2000, nas Olimpíadas de Sydney, na Austrália, era responsável pelos testes antidoping.

    A WADA cria o Código Mundial Antidopagem, que é levado a votação na Conferência Mundial Antidoping, realizada no ano de 2003. O código é aprovado em uma votação unânime, a totalidade das Federações Internacionais Olímpicas, dos Comitês Nacionais Olímpicos e Paraolímpicos, o Comitê Olímpico Internacional (COI), o Comitê Paraolímpico Internacional (CPI) e muitas outras organizações desportivas adotaram e implementaram o Código antes dos Jogos Olímpicos de Atenas/2004.

    O Código Mundial Antidoping, em vigor desde primeiro de janeiro de 2004, foi o primeiro marco legal de abrangência internacional que visa à harmonização das políticas de combate ao doping nos esportes em todos os países (DIÁRIO DO SENADO FEDERAL, 2007).

    O principal objetivo do Código é proteger o direito fundamental dos praticantes desportivos participarem de competições desportivas sem dopagem, promovendo assim a saúde, a justiça e a igualdade entre os praticantes desportivos em todo o mundo; e ainda apoiar a existência de programas harmonizados, coordenados e eficazes ao nível Nacional e Internacional no âmbito de detectar, punir e prevenir a dopagem (WADA, 2003, 2005).

    No Brasil três organizações antidoping se destacam: a Agência Nacional Antidoping (ANAD), filiada a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt); o Conselho Nacional Antidoping (CNAD), filiada ao Ministério do Esporte; e a Comissão Nacional Antidopagem, filiada ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

    O laboratório responsável pelos exames antidoping no Brasil é o Laboratório de Controle de Dopagem (LAB DOP), credenciado pela WADA, com sede no Rio de Janeiro, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (NETO, 2001).

    Porém o número de competições realizadas com exames antidoping no Brasil ainda é baixo, fato este que pode ser explicado pelo alto, a maioria dos exames realizados em nosso país é feito em partidas de futebol profissional. Segundo Rose et al. (2004), durante todo o ano de 2003 foram realizados 3266 exames em competições no País, dos quais 91,1% correspondem ao futebol profissional.

    Desde as chamadas categorias de base do esporte, a exigência de resultados já aparece como requisito mínimo para continuar treinando e competindo (CAFRUNI et al., 2003). Porém o lugar mais alto no podium parece não ser o limite, todos querem sempre mais, atletas, treinadores, dirigentes, torcedores, estão sempre na expectativa de mais um recorde que é batido, mais uma marca que é superada. Assim o presente estudo também se justifica pelo fato de que não há no Brasil muitos estudos sobre o doping, tanto no esporte quanto fora dele, bem como estudos recentes apontam para um aumento do uso de doping tanto em atletas como em não-atletas (SILVA et al., 2007).

    Ainda faz-se necessário alertar os atletas e profissionais da área esportiva para os riscos de saúde que a utilização de determinadas substâncias ou métodos podem causar em seu organismo, durante ou até mesmo depois de encerrada a carreira de atleta. (SILVA et al., 2002).

Substâncias mais encontradas em exames antidoping nas competições nacionais

    O COB, em conjunto com a AMA, realizam importante trabalho de conscientização, a intenção é alertar para os riscos que a utilização de substâncias ou métodos proibidos podem causar ao esportista, tanto no que diz respeito à saúde quanto as implicações penais previstas no Código Mundial Antidoping.

    Rose et al,. (2004), defende que a luta contra a dopagem não compreende somente a programação de controles antidoping durante e fora de competições, muito menos a punição severa aos que forem flagrados utilizando substâncias proibidas, mas sim investir na conscientização e orientação dos atletas acerca do tema.

    Desde 2001, o COB distribui um manual sobre a temática, nele constam históricos de doping, direitos e deveres dos atletas, bem como o nome das substâncias e métodos proibidos, além de uma lista atualizada com o nome comercial dos medicamentos que podem ser utilizados em diferentes situações clinicas.

    Porém todo esse esforço do COB não tem surtido efeito, de acordo com o relatório de controle de antidoping, publicado pela Comissão Nacional de Combate ao Doping, que é vinculada ao Ministério do Esporte, houve um aumento de 36% de 2003 para 2004 nos casos adversos em esportes olímpicos, foram 19 casos em 2003, aumentando para 23 em 2004, enquanto que os casos nos esportes não olímpicos subiram de 4 em 2003, para 9 em 2004, um aumento de 125%. Totalizando um aumento de 39% nos casos adversos de 2003 para 2004. Devemos também levar em consideração que o número de testes aumentou 9,1% nesse período, foram 3.810 testes realizados em 2003, e 4.160 em 2004.

Tabela 1. Casos de doping por esporte/por temporada

    As substâncias encontradas nos exames em competição no ano de 2003, foram em sua maioria esteróides anabólico-androgênicos (EAA), encontrado em 8 atletas, os estimulantes, com 6 casos adversos também tiveram um número significativo, diuréticos com 2, hormônios peptídicos, canabinóides e narcóticos todos com apenas um caso também foram encontrados nos testes (ROSE et al., 2004).

    A quantidade de resultados positivos para EAA aumentou para 15 no ano de 2004, seguido de 8 casos adversos para estimulantes, mantendo as duas classes de substâncias como as mais encontradas em exames antidoping no Brasil, Canabinóides foram positivos em 7 casos e em apenas um caso foi encontrado agentes máscara (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2005).

    Ainda de acordo com o relatório publicado pelo Ministério do Esporte em 2005 as substâncias mais encontradas na classe dos EAA foram o Estanozolol (7), a Nortestosterona (3), a Testosterona (3), a Metiltestosterona (1) e a Nandrolona (1). Já para a classe Estimulantes a Cocaína apareceu 6 vezes, Anfrepamona e Efedrina apenas um resultado positivo para cada uma.

    Chamou atenção o alto índice de Canábis encontradas nos exames antidoping, da classe das Canabinóides, é a droga ilegal mais popular, possui diferentes nomes no senso comum, sendo o mais conhecido deles a maconha, esta droga foi ao lado da substância Estanozolol as “preferidas” dos atletas, com 7 exames sendo positivo para cada uma delas.

Efeitos colaterais e melhoras no rendimento esportivo relacionados ao uso de esteróides anabólico-androgênicos (EAA)

    A dopagem intencional acontece com grande freqüência, e com apenas a preocupação com o resultado esportivo, as substâncias são proibidas pela AMA não apenas por dar certa vantagem ao atleta, mas também pelo risco de saúde que o atleta está sujeito.

    No entanto, dificilmente o atleta sofrerá todos os efeitos colaterais previstos pelo fabricante, além disso, os efeitos podem variar de pessoa para pessoa, mas faz-se necessário deixar bem claro todas as possíveis conseqüências do uso de medicamentos para aumentar o desempenho de um atleta.

    A partir de 1950, o uso abusivo de esteróides anabólico-androgênicos aumentou com a finalidade de aprimorar o desempenho. Inicialmente era usado apenas nas provas com pesos em provas de pista e de campo, mas atualmente sua utilização atingiu ampla variedade de desportos, tanto entre os homens quanto entre as mulheres (FOSS; KETEYAN, 2000).

    O uso dos chamados agentes ergogênicos no esporte de alto rendimento desencadeou um processo que representa atualmente uma das grandes preocupações na área das Ciências do Esporte, tanto no que diz respeito ao combate ao doping, como também no âmbito do uso indiscriminado de drogas e suplementos nutricionais com objetivos puramente estéticos (BARROS NETO, 2001).

    Os hormônios esteróides são produzidos pelo córtex da supra-renal e pelas gônadas (ovário e testículo). Os esteróides anabólico-androgênicos (EAA) referem-se aos hormônios esteróides da classe dos hormônios sexuais masculinos, promotores e mantenedores das características sexuais associadas à masculinidade (HANDELSMAN apud SILVA et al., 2002).

    Derivado da testosterona, hormônio sexual masculino, os esteróides anabólico-androgênicos promovem o aumento da massa muscular e o aumento da agressividade (NETO, 2001), uma vez alcançada essa melhora no rendimento esportivo, o atleta vislumbra por recordes, sucesso e reconhecimento, os efeitos adversos causados pelo uso dos EAAs não são levados em consideração pelo esportista.

    A substância anabolizante mais encontrada nos exames antidoping foi o estanozolol, pode ser facilmente encontrada em farmácias, o medicamento pode ser comprado em comprimido ou para ser injetado intra-muscular. A facilidade para encontrar a substância é igual tanto para atletas quanto para praticantes de atividade física, pesquisa realizada nas academias da cidade de São Paulo revelou que o estanozolol é o Anabolizante preferido de praticantes de academia para auxiliar na realização do exercício físico (SILVA; MOREAU, 2003).

    Os efeitos colaterais do estanozolol podem variar de um sexo para o outro, nos homens, provoca hipertrofia da próstata, em ambos os sexos pode causar arteriosclerose, disfunção hepática e redução da libido. O estanozolol causa efeitos colaterais leves, e é indicado na terapia de algumas doenças, não é muito forte e pode ser combinado com outras drogas, é usado para reter água e gordura no organismo (LAMB, 1996).

    A testosterona também teve aparições consideráveis nos exames antidoping, foi encontrada nos testes com concentração superior a permitida pelo código mundial antidoping, por ser uma substância endógena, produzida pelo organismo, a concentração de testosterona é considerada irregular, quando desvia dos valores normalmente encontrados em seres humanos (WADA, 2003).

    Porém não há comprovação de que a testosterona ou os seus derivados aumentem a força e a massa muscular em todos os indivíduos, sendo que algumas pessoas que administraram a testosterona tiveram um aumento no tamanho individual das fibras musculares, já outras que fizeram o mesmo procedimento não tiveram melhora alguma no desempenho (FORTUNATO et al., 2007).

    A preocupação acerca dos efeitos colaterais causados sobre o fígado, deixam os médicos em alerta; pessoas com histórico de doenças hepáticas jamais devem participar de experiências com esteróides. Mulheres que tomaram esteróides desenvolveram acne e apresentaram sintomas positivos nas provas de função hepática (FOSS; KETEYAN, 2000).

    Estudo realizado por Silva et al. (2007) com praticantes de academia usuários de esteróides anabólicos-androgênicos, apresenta os efeitos colaterais que foram percebidos pelos próprios usuários de EAA. Os efeitos que apareceram com maior freqüência foram: variação de humor, irritabilidade e agressividade, acne e aumento ou diminuição da libido. Além desses, outros efeitos apareçam com assiduidade menor: cefaléia, ansiedade, ginecomastia; euforia e dependência; edema e espasmo muscular, vertigem e náusea; diminuição dos cabelos temporais e alopecia ou priapismo; dor escrotal, hipertensão arterial ou irritação da pele.

    Ghaphery (1995) descreveu os efeitos dos esteróides anabolizantes divididos em efeitos androgênicos e anabólicos. Os efeitos anabólicos relacionados ao uso de anabolizantes são; o aumento da massa muscular esquelética, o aumento da concentração de hemoglobina, aumento da retenção de nitrogênio, aumento do hematócrito, aumento da disposição de cálcio nos ossos e queda da gordura corporal. Já os efeitos androgênicos são: desenvolvimento da genitália interna e externa, espessamento das cordas vocais, aumento da libido, aumento da secreção nas glândulas sebáceas, aumento de pêlos e o padrão masculino de pêlos pubianos.

    Percebe-se que os efeitos anabólicos promovidos pela administração de esteróides anabolizantes são atraentes para os atletas, o esportista pode estar mais interessado no aumento da massa muscular, ou no aumento da concentração de hemoglobina, dependendo do esporte. Porém devemos chamar atenção para os efeitos colaterais, pois dificilmente são levados em consideração antes da utilização dos esteróides. A estética ou o rendimento, não podem de maneira alguma estar acima da saúde e do bem estar de um atleta ou de um praticante de atividade física.

Rendimento esportivo e danos à saúde causados pelo consumo de estimulantes do sistema nervoso central

    Existem também substâncias aumentam a atividade cerebral, por estimularem o Sistema Nervoso Central, causando assim aumento no estado de alerta, diminuição da fadiga e aumento da competitividade e da hostilidade. (NETO, 2001).

    De acordo com De La Torre (1998), os efeitos adversos mais comuns decorrentes do uso de estimulantes são, o aumento da pressão arterial, dor de cabeça, arritmia cardíaca, ansiedade e tremores, porém as conseqüências podem ficar piores dependendo do atleta e também da dose manipulada.

    Destacamos duas substâncias desta classe, a cocaína e a efedrina, que foram detectadas em amostras de atletas durante competições no ano de 2004. A cocaína é proibida no Brasil, porém não é novidade dizer que o abuso da droga aumentou drasticamente nos últimos trinta anos, fato que pode ser explicado pela facilidade com que ela é encontrada e também pela queda no preço (FERREIRA, 2000).

    O consumo constante de cocaína pode estar associada a hipertermia, hipertensão arterial, taquicardia, midríase, estupor e depressão respiratória e cardíaca. No miócito cardíaco, ela diminui a velocidade de despolarização, a amplitude e a velocidade de condução do potencial de ação, podendo causar disritmias cardíacas e morte súbita (BOGHDADI; HENNING, 1997).

    O uso de cocaína leva à sensação de poder e infatigabilidade; em altas doses pode promover agitação, insônia, alucinações e convulsões. O uso crônico, durante um longo período de tempo, está associado ao desenvolvimento de psicose e paranóia (LUFT; MENDES, 2007).

    Embora o consumo de cocaína possa resultar em efeitos colaterais graves, outros estimulantes do SNC são menos nocivos ao organismo, caso da efedrina, substância que está presente em alguns suplementos alimentares, consumidos principalmente por pessoas que desejam emagrecer ou aumentar o desempenho esportivo. Porém o que contribui para o aumento da popularidade destes produtos é a crença de que este tipo de suplemento é natural e que, portanto, não causa prejuízos à saúde (GARCIA et al., 2005).

    No entanto Lieberman (2001) destaca que os efeitos adversos associados ao consumo de produtos contendo alcalóides da Ephedra, são em geral relacionados ao sistema nervoso central (SNC) e cardiovascular, incluindo hipertensão, arritmias, infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico, cefaléia, convulsão, resultando em lesões permanentes e alguns casos fatais. Estes efeitos podem ser intensificados durante exercícios físicos e quando associados a outros fármacos estimulantes do SNC, como a cafeína.

    A efedrina foi encontrada em apenas uma amostra nos testes antidoping durante o ano de 2004, por outro lado, suplementos dietéticos que contêm efedrina e outros alcalóides relacionados à efedrina são amplamente consumidos em vários países, com propósito de estímulo energético e perda de peso (FORTE et al., 2006).

Métodos de dopagem e seus efeitos colaterais

    Embora tenha sido identificado em apenas um exame antidoping realizado no Brasil nos anos de 2003 e 2004, os métodos de dopagem no esporte aumentaram muito nos últimos anos devido à evolução da farmacologia, o Comitê Olímpico Internacional proíbe a manipulação físico-química ou farmacológica e também a utilização de carreadores de oxigênio e expansores de plasma (ROSE; NÓBREGA, 1999).

    A manipulação físico-química ou farmacológica de diuréticos, probenecida (bloqueio de excreção) e a substituição da urina por cateterismo, são métodos utilizados não para obter uma vantagem fisiológica, mas sim uma maneira de evitar que outra substância seja identificada no exame antidoping (NETO, 2001). A Clortalidona foi o único diurético identificado, essa classe de substância é geralmente utilizada por atletas de esportes que separam as categorias por peso.

    Inibidores de excreção também são utilizados para reduzir a excreção de drogas e aumentar sua permanência e eficácia de ação no organismo. Os efeitos colaterais são desconhecidos, assim como os efeitos dos diuréticos, embora a perda de sais causada pelo consumo dessas substâncias possa ser correlacionada a possíveis problemas cardíacos (DE LA TORRE, 1998).

    A utilização de carreadores de oxigênio e expansores de plasma é outro método proibido no esporte, utilizado principalmente em esportes de resistência, em que prepondera o exercício muscular aeróbico, como ciclismo, esqui de fundo, corridas de longa distância, maratona e triátlon, entre outros.

    Entre os carreadores de oxigênio, são proibidos no esporte a eritropoetina (indutor de produção de glóbulos vermelhos), transfusão de sangue, transfusão de sangue autóloga, papa de hemácias, Hidroxietilamido (HES) e os Perfluoroidrocarbonetos como substitutos de sangue (FEDER et al., 2000).

    Embora nenhum desses métodos tenha sido identificado nos exames antidoping no Brasil, destacamos a transfusão de sangue e a transfusão de sangue autóloga, a primeira consiste em retirar sangue de um individuo e injetar no atleta minutos antes da competição começar, é mais viável do que a transfusão autóloga, pois não há necessidade de armazenamento. A transfusão de sangue autóloga precisa de mais tempo para ser feita com sucesso, já que esta consiste em retirar sangue do atleta e injetá-lo novamente dias depois, depois de alguns dias o organismo do atleta terá reposto o sangue retirado, e ao injetar o sangue retirado anteriormente, o atleta ficará com o volume de sangue maior do que o normal (McGRATH, 2003).

Discussão

    Comparando o percentual de positividade nos testes realizados no Brasil com os disponíveis na literatura internacional, verificamos um índice de positividade relativamente baixo, o percentual médio de positivos em competição foi apenas de 0,58%, contra 1,80% em média internacional (ROSE et al., 2004).

    Acerca das punições impostas aos atletas flagrados no exame antidoping, podemos considerar que ainda há certa divergência em alguns esportes, embora o Comitê Olímpico Internacional (COI) puna com rigor atletas que são flagrados utilizando qualquer substância proibida, quem julga e pune o atleta é a federação que organiza a competição na qual ele participou dopado. Portanto um atleta de futebol que for flagrado no exame antidoping será julgado primeiro pela federação de futebol do país em que joga, e se for necessário em ultimo caso, pela Federação Internacional de Futebol e Associados (FIFA).

    Em virtude desta diferença em relação ao tribunal que julga os casos de doping, temos casos de doping aqui no Brasil que foram punidos de forma leve e outras de forma severa. A nadadora Rebeca Gusmão, por exemplo, está banida do esporte por que competiu nos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, em 2007, dopada; em contra partida, Romário, jogador de futebol muito conhecido no Brasil, flagrado no exame antidoping durante uma partida do campeonato brasileiro de futebol do mesmo ano, foi absolvido no julgamento e pode voltar ao esporte normalmente (FILHO, 2007).

    Ainda assim atletas se utilizam da dopagem, além de não se preocuparem com as punições, esquecem que as substâncias podem causar efeitos adversos graves, incentivados por dirigentes, médicos, familiares e “amigos”, até mesmo a pressão social e econômica, levam o atleta ao consumo de doping (NETO, 2001).

    Ressaltamos que os possíveis efeitos colaterais causados ao organismo de um atleta em conseqüência do uso, ou ainda do abuso de dopagem, podem acarretar em algumas doenças irreversíveis. Os relatórios analisados na pesquisa retratam duas classes de substâncias flagradas nos testes com freqüência superior às demais, os anabólicos e os estimulantes são os preferidos dos atletas, a fim de melhorar o desempenho esportivo.

    Os esteróides anabólico-androgênicos podem afetar o comportamento dos usuários. O mau uso dessas drogas está relacionado com mudanças súbitas de temperamento e a síndromes comportamentais dentro e fora dos esportes, já em mulheres atletas resulta em alterações masculinizantes, semelhantes àquelas observadas na puberdade masculina (SILVA et al., 2002).

    Contudo a utilização dos chamados esteróides anabolizantes também pode ser observada com grande freqüência fora do esporte de alto nível, Silva et al. (2007) realizou estudo na cidade de Porto Alegre, verificando que 11% dos praticantes de academia utilizam ou já utilizaram esteróides anabolizantes, já Silva e Moreau (2003) pesquisaram a incidência do uso de anabolizantes em academias da cidade de São Paulo, e constataram que 19% dos praticantes consomem ou já consumiram algumas substâncias anabolizante com o objetivo de melhorar a estética corporal.

    Oposto ao motivo da utilização dos anabolizantes no esporte está o motivo que leva um atleta profissional ao consumo da cocaína, a substância foi responsável por seis das oito amostras positivas para estimulantes nos exames antidoping, o uso da cocaína no esporte nos parece muito mais reflexo de um problema social do que propriamente uma tentativa de melhora de rendimento esportivo.

    Administrar os estimulantes para melhorar o rendimento no esporte pode causar alguns efeitos, como o aumento da pressão arterial, dor de cabeça, arritmia cardíaca, ansiedade e tremores (DE LA TORRE, 1998).

Considerações finais

    Devemos destacar que a maioria dos esportes no Brasil não realiza muitos exames antidoping, o ideal seria que todos os esportes condições para dosagem.

    Seria necessário um aumento no recurso de todos os esportes, para que pudessem realizar uma quantidade de exames antidoping maior no Brasil, certamente seriam revelados casos de doping com mais freqüência, e isto faria com que as confederações esportivas abrissem o olho para este fato, pois além de levarem vantagem sobre os outros competidores, os atletas ainda colocam a própria saúde em risco.

    O número de testes antidoping no Brasil precisa aumentar, mas, ainda assim, o trabalho mais importante é o de prevenção, e conscientização dos atletas, médicos, dirigentes e demais profissionais envolvidos com o esporte de alto nível. As adversidades que podem acontecer ao atleta que utiliza qualquer substância ou método de dopagem, inclusos os riscos a saúde bem como as possíveis punições previstas em lei esportiva, devem ser muito bem conhecidas por todos, pois nenhum resultado compensará uma possível complicação de saúde e não apagará a imagem de um atleta que trapaceou para vencer a qualquer custo.

Referências

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