Desempenho físico em futebolistas de diferentes estágios maturacionais da Região Nordeste do Brasil Rendimiento físico en futbolistas de diferentes etapas madurativas de la Región Nordeste de Brasil Physical performance in soccer players of different pubertal stages in Northeastern Brazil |
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*Professor de Educação Física Laboratório de Avaliação da Performance Humana, PE **Especialista - Laboratório de Avaliação da Performance Humana, PE ***Doutor. Professor Adjunto da Escola Superior de Educação Física Universidade de Pernambuco, PE ****Mestre. Professor Assistente da Escola Superior de Educação Física Universidade de Pernambuco, PE |
Adriano Domingos do Nascimento* Ana Carolina Carneiro Leão** Fernando José de Sá Guimarães*** Marcos Andre Moura dos Santos**** (Brasil) |
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Resumo O objetivo deste estudo foi analisar a relação entre as variáveis de desempenho físico velocidade e agilidade em crianças e adolescentes de diferentes estágios maturacionais. Foram avaliados 145 indivíduos (9 a 16 anos) eutróficos, que foram divididos segundo o estagio maturacional em pré-púbere, púbere e pós-púbere. Para avaliar a velocidade foi utilizado o “teste 20 m” e a agilidade foi determinada através do “teste do quadrado”. A comparação entre os estágios maturacionais foi utilizada ANOVA “one way”, seguido de Bonferroni para localização das diferenças entre os grupos (P<0,05). O coeficiente de correlação de Spearman foi adotado para analisar a relação entre as variáveis de desempenho físico e a maturação biológica. Foram identificadas diferenças significativas entre as variáveis estudadas, não ocorrendo apenas entre a fase púbere e pós-púbere em relação à agilidade. Houve correlação significativa entre velocidade, agilidade e maturação biológica (r = - 0,66 e r = - 0,61). Os resultados deste estudo indicaram a existência de variabilidade de desempenho entre os estágios de maturação, além de uma correlação com o nível maturacional, todavia estas diferenças são mais evidentes em estágios maturacionais mais avançados. Unitermos: Aptidão física. Crianças. Adolescentes. Maturação biológica.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O futebol em suas diferentes formas de expressão, campo, quadra ou praia, vem alcançando um alto índice de participação popular seja em sua forma competitiva ou mesmo como recreação no tempo livre. Este fenômeno pode ser explicado, em parte, por aspectos associados ao sucesso alcançado por alguns atletas do futebol que se reflete na possibilidade de ascensão social, em decorrência dos altos valores financeiros, atualmente, praticados (WONG & HONG, 2005). Estes aspectos parecem refletir positivamente em um maior número de adeptos a esta pratica esportiva, principalmente nas categorias iniciais formadas em sua maioria por crianças e adolescentes (WONG & HONG, 2005).
Assim, considerando a população em estudo, é possível observar que em um contexto biológico, a mudança é a principal característica do processo de crescimento e desenvolvimento, onde as várias etapas alcançadas ao longo da vida levam o indivíduo ao acúmulo de um bom acervo motor, tornando-o capaz de utilizá-la em ações diárias ou desportivas, podendo ser trabalhada e melhorada com a finalidade de obter um bom desempenho (VITOR, 2008). Especificamente, em relação ao futebol, este se caracteriza por ser um esporte com atividades intermitentes e a categorização através da idade cronológica pode favorecer o desempenho da aptidão física em indivíduos adiantados no processo de maturação biológica, e ao mesmo tempo desfavorece aos que apresentam uma maturação tardia (VENTURELLI, BISHOP et al., 2008). Deste modo, o entendimento das alterações relacionadas à maturação biológica deve ser considerado como determinante para classificação e categorização nas atividades esportivas (ULBRICH et al., 2007; MACHADO et al., 2009).
A expressiva adesão de crianças e adolescentes à prática exercícios sistematizados vem sendo alvo de constantes estudos que buscam entender o funcionamento do seu organismo frente à prática de exercícios físicos (SEABRA, 2001; RONQUE 2007; MALINA e BOUCHARD; 2002). Relativamente, as variáveis velocidade e agilidade, um estudo realizado em crianças (6 e 15 anos), praticantes de futebol, demonstrou a existência de um aumento linear entre essas variáveis, de acordo com o estágio maturacional, sendo que as modificações mais intensas ocorrem por volta dos 15 anos de idade (BRAZ, 2008). Portanto, um maior desempenho em velocidade e agilidade, parece está fundamentalmente associado ao avanço nos estágios da maturação, sendo as melhores respostas observadas com a evolução da puberdade (UGRINOWITSCH et al., 2000).
Outro estudo realizado em jovens futebolistas demonstrou diferenças significativas em relação aos aspectos somáticos, aptidão física geral e habilidades motoras, quando comparados com a população de escolares de mesma idade e sexo (SEABRA A, MAIA J, GARGANTA J, 2001). No entanto, as explicações sobre essas diferenças não são tão claras, podendo ser atribuídas ao treino, à variabilidade maturacional ou ao processo de seleção dos jovens aproveitados no futebol (SEABRA A, MAIA J, GARGANTA J, 2001).
Assim, embora o processo de maturação esteja envolvido tanto no aumento das dimensões corporais como na melhoria do sistema neuromuscular, o quanto esses fatores contribuem para um maior desempenho em velocidade e agilidade, ainda não está bem estabelecido. Esse é um aspecto relevante, pois permite identificar os fatores relacionados com o desempenho físico ao longo do processo maturacional. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi comparar e correlacionar o desempenho em velocidade e agilidade em crianças e adolescentes em diferentes estágios maturacionais.
Materiais e métodos
Amostra
Participaram do estudo 145 crianças e adolescentes do sexo masculino, na faixa etária entre 9 e 16 anos de idade. Todos os sujeitos eram eutróficos e pertencentes às categorias de base de um clube de futebol. Cada indivíduo compareceu ao laboratório de avaliação da performance humana (LAPH/UPE) acompanhado de um responsável para os seguintes procedimentos: 1) Anamnese e esclarecimentos; 2) avaliação antropométrica; 3) avaliação da aptidão física. Um consentimento por escrito foi assinado pelo responsável previamente ao início das coletas, bem como a própria aceitação das crianças e adolescentes, foram requisitos para participação nesta pesquisa. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da instituição de filiação dos autores e seguiu as normas estabelecidas pela Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (CONEP), Resolução No. 196/96, sobre pesquisa envolvendo seres humanos CEP/UPE: 048/09.
Instrumentos e procedimentos
Variáveis antropométricas
A estatura foi obtida por meio de um estadiômetro de marca (Sanny, São Paulo, Brasil) com precisão de 0,1cm com o indivíduo descalço. O peso corporal foi medido utilizando uma balança digital (Filizola, São Paulo, Brasil) com precisão de 100 gramas. Ambas as medidas foram realizadas seguindo os procedimentos descritos previamente (LUKASKI, 1987).
Maturação sexual
Para verificação do estágio maturacional em que cada criança ou adolescente se encontrava foi elaborada uma ficha de inquérito com figuras do desenvolvimento da distribuição dos pêlos púbicos, segundo os estágios maturacionais de Tanner (TANNER&WHITEHOUSE, 1962). Os sujeitos deveriam reconhecer a figura que mais se assemelhava ao seu corpo e assinalar em qual dos estágios se encontrava (P1, P2, P3, P4 e P5). Os meninos que assinalaram os estágios P1 e P2 foram considerados pré-púberes. Os que assinalaram o estágio P3 e P4 foram considerados púberes e os que assinalaram estágio P5 foram considerados pós-púberes. Em um estudo desenvolvido previamente por nosso grupo, foi observado um coeficiente de reprodutibilidade para a auto-avaliação da maturação sexual por pilosidade pubiana de r = 0,88; (SANTOS;LEANDRO&GUIMARÃES, 2007).
Agilidade e velocidade
Para avaliar a agilidade foi realizado o teste do quadrado PROESP-BR (GAYA, A; SILVA, G, 2007) que consiste em realizar uma tarefa motora no menor tempo possível em um quadrado com 4m de lado. O atleta parte da posição de pé, com um pé avançado a frente imediatamente atrás da linha de partida e deverá tocar com uma das mãos todos os cones que demarcam o percurso. Foram realizadas duas tentativas, sendo registrado o melhor tempo de execução em segundos e centésimos de segundo (figura 1).
Figura 1. Teste de Agilidade – PROESP-BR (GAYA, A; SILVA, G, 2007)
A velocidade foi avaliada através do teste de 20 m PROESP-BR (GAYA, A; SILVA, G, 2007) que consiste em realizar em um menor tempo possível a distância determinada. Foram realizadas duas tentativas, sendo registrado o melhor tempo de execução em segundos e centésimos de segundo (figura 2).
Figura 2. Teste de velocidade 20 m – PROESP-BR (GAYA, A; SILVA, G, 2007)
Analise estatística
Para a realização do estudo não foi realizado um cálculo amostral a priori. No entanto, a posteriori foi calculado o poder estatístico e todas as análises realizadas apresentaram poder satisfatório. Para a análise estatística utilizou-se o software SPSS for Windows versão 10.0. A normalidade e a homogeneidade de variância dos dados foram analisadas e os pressupostos da estatística paramétrica foram atendidos. Assim, empregou-se a estatística paramétrica para análise inferencial dos resultados. Os resultados são apresentados em media e desvio padrão. Para a comparação das variáveis antropométricas, velocidade e agilidade entre os estágios maturacionais, utilizou-se o teste de ANOVA one way seguido do teste Bonferroni para a localização das diferenças. O coeficiente de correlação de Spearman foi adotado para análise da correlação entre as variáveis de desempenho físico e a maturação biológica. Em todas as análises o nível de significância de 5% foi utilizado.
Resultados
Dos 145 indivíduos incluídos no estudo, 67 estavam no estágio pré-púbere, 63 no púbere e 15 no pós-púbere. A tabela 1 apresenta as características gerais dos sujeitos estratificados por estágio maturacional. Foi possível observar os efeitos específicos da maturação biológica a partir das diferenças encontradas entre os indicadores de crescimento físico, quando os grupos foram comparados em cada estagio.
Tabela 1. Valores médios (± dp) das variáveis: Idade (anos), Massa Corporal (kg) e Estatura (cm), em atletas de futebol, em cada estágio maturacional
A tabela 2 apresenta os valores médios das variáveis agilidade e velocidade. Em relação à agilidade observou-se diferença estatística significativa entre os grupos pré-púbere, pós-púbere (p<0,05), não sendo esta significância observada entre os grupos púbere e pós-púbere. Em relação à velocidade foram evidenciadas diferenças significativas entre os três grupos estudados.
Tabela 2. Valores médios (± dp) das variáveis: agilidade (s), velocidade(s), em atletas de futebol, em cada estagio maturacional
Após a identificação das diferenças entre os grupos, optou-se por fazer uma correlação entre os estágios de maturação e as variáveis agilidade e velocidade com toda a amostra. Na tabela 3 são apresentados os valores da correlação entre a maturação e o desempenho físico de crianças e adolescentes, sendo observada uma correlação negativa e significativa (P<0,01), demonstrando que à medida que ocorre o avanço do estagio de maturação, menor será o tempo necessário para executar atividades de velocidade e agilidade.
Tabela 3. Correlação entre a maturação biológica e as variáveis do desempenho físico
Discussão
Com relação às variáveis de crescimento físico (massa corporal e estatura), os resultados do presente estudo demonstraram que houve diferença significativa entre as fases maturacionais, evidenciando um crescimento dos indicadores somáticos em relação ao avanço na maturação biológica e idade cronológica. Os resultados encontrados em um estudo com jovens envolvidos em praticas esportivas demonstrou uma maior variabilidade do estatuto maturacional, contudo estas diferenças parecem se tornar, mas evidentes durante o período pubertário (BAILEY & MIRWALD, 1988). Este aspecto revela que nos rapazes, dos 9 aos 16 anos, as variações associadas com a maturação biológica são muito significativas (MALINA & BOUCHARD, 2002).
Neste estudo as variáveis de crescimento físico (peso e estatura) apresentaram maiores valores médios quando comparados os estágios maturacionais. Villar (2001) avaliou 54 atletas de futebol (9 a 15 anos de idade) do sexo masculino e demonstrou que os indicadores de crescimento físico apresentaram um aumento linear seguindo o avanço nos estágios de maturação. Outro estudo avaliou 39 futebolistas (11 a 13 anos de idade) e demonstrou a existência de uma relação entre o peso corporal, estatura e a maturação biológica (Mortatti, 2007). Outro estudo realizado com crianças e adolescentes praticantes de futebol demonstrou que as variáveis antropométricas tendem a um aumento constante dos 6 aos 15 anos de idade, com uma maior velocidade de crescimento em períodos próximos aos anos da puberdade (BRAZ, 2008).
Relativamente, ao teste de velocidade, no qual a potencia anaeróbia é exigida, verificou-se neste estudo um diminuição no tempo total em que a corrida foi executada, indicando a melhora na velocidade conforme o avanço da maturidade. É importante ressaltar que todos os estágios púberes (3 a 5) diferiram dos pré-púberes (1 e 2) confirmando os achados da literatura, visto que ganhos de potencia e capacidade anaeróbia estão associados com a entrada no período pubertário (MALINA, 1996; VAN PRAAGH, 2002; RÉ, et AL., 2005). O melhor desempenho em atividades de velocidade pode estar associado ao aumento na quantidade de massa muscular (VAN PRAAGH, 2002) e tamanho corporal, que auxiliam no aumento das passadas durante a corrida diminuindo o tempo por distancia percorrida (MALINA & BOUCHARD, 2002).
Especificamente, em relação à agilidade observou-se um melhor desempenho nos indivíduos em estágios maturacionais mais avançados. Um estudo, ao analisar iniciantes na pratica do futebol, observou que as diferenças existentes em relação à agilidade tornaram-se menores quando diferentes idades foram comparadas (BRÁZ, 2008). Outro estudo com 3.195 escolares do gênero masculino do estado de Santa Catarina observou que a agilidade sofreu modificações associadas à idade cronológica e a maturação (KREBS, 2005). Assim, a prática regular de atividade física e de forma sistematizada em jovens, parece exercer uma influencia favorável sobre as características de crescimento, como também na aptidão física (MALINA, 1994).
Portanto, os resultados encontrados neste estudo sugerem a existência de uma evolução dos componentes de desempenho (velocidade e agilidade) relacionada à idade e ao estágio maturacional. Em um estudo realizado com 218 jovens do sexo masculino (11 e 15 anos), observou-se uma evolução nas capacidades motoras de acordo com o avanço da idade cronológica e a maturação sexual (VITOR, 2008). Pelo fato do futebolista realizar um grande número de deslocamentos com intensidade e duração variadas, a variável velocidade torna-se um dos mais importantes e decisivos elementos para se alcançar um bom desempenho em um jogo de futebol (SOUZA, 2006). Um estudo, realizado com escolares (n=654) na faixa entre 7 a 10 anos de idade, demonstrou que os valores da velocidade aumentam linearmente em relação à idade e a fase de crescimento (ROMAM, 2004). Estas evidencias, foram observadas anteriormente em um estudo que demonstrou aumentos nos níveis de velocidade nas crianças e adolescentes com o passar dos anos (GUEDES & BARBANTI, 1995).
O desempenho em esportes é influenciado pelo treinamento regular e sistemático, desta forma contribui para a melhoria de diversos componentes da aptidão física (força, resistência muscular e cardiorrespiratória), como também na manutenção ou melhoria da capacidade funcional e neuromotora, facilitando o desempenho em diversas tarefas do cotidiano (SEABRA, 2001; RONQUE 2007). Portanto, é de extrema importância para a avaliação, acompanhamento do rendimento do atleta e também para a planificação das diferentes cargas de treino que os treinadores levem em consideração, dentre os fatores determinantes da performance esportiva, a maturação biológica.
Conclusões
Os resultados obtidos neste estudo sugerem a existência de uma correlação entre a maturação biológica e o desempenho físico de futebolistas. Todavia as diferentes alterações observadas com o avanço da maturidade parecem ser influenciadas tanto pelo treinamento físico como pela maturação biológica. Portanto, estudos com delineamentos prospectivos longitudinais devem ser desenvolvidos para promover o melhor entendimento quanto às alterações fisiológicas e a sua interação com o estado nutricional, nível de atividade física e fatores hormonais ao longo do desenvolvimento pubertário.
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