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Análise do desempenho na tarefa motora de chutar com ambos os pés

Análisis del rendimiento en la tarea motora de patear con ambos pies

 

Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Educação Física e Desportos

(Brasil)

Dionata Ricardo Nuh

Sara Teresinha Corazza

Fernando Copetti

Juliana Izabel Katzer

Caroline Gonçalves Possobom

Marta Cristina Rodrigues da Silva

Tatiana Rodrigues da Silva

turcodrn@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Para que se tenha um bom desempenho no futebol é necessário o domínio de algumas técnicas específicas do desporto dentre elas o chutar com ambas as pernas. Neste sentido o objetivo deste estudo foi verificar o desempenho na tarefa motora de chutar com ambas as pernas, buscando identificar se há diferença entre os membros. O grupo de estudo foi formado por 19 meninos com idade entre 13 e 14 anos praticantes de futebol e a tarefa aplicada foi chutar a gol com ambas as pernas. Para análise dos dados foi utilizado a Teste t de Student para amostras independentes através do pacote estatístico SPSS, versão 14.0 com nível de significância de 5%. Os resultados apontaram que mesmo com treinamento para ambas as pernas a perna de dominância apresenta um desempenho significativamente superior à perna não dominante. Portanto conclui-se que as assimetrias estão presentes no chute, mesmo quando os sujeitos estimulam o uso de ambas às pernas.

          Unitermos: Desempenho do chute. Assimetria lateral. Futebol.

 

Abstract

          To have a good performance at soccer field is required some specific techniques among them, the kick with both legs. In this sense the aim of this study was to evaluate the performance in the motor task of kicking with both legs, seeking to identify whether there are differences between members. The study group consisted of 19 boys aged between 13 and 14 years football players and the task applied was the goal kick with both legs. For data analysis we used Student t test for independent samples using the statistical package SPSS, version 14.0 with significance level of 5%.The results showed that even with training for both legs, the dominant leg performance is significantly higher than the non-dominant leg. Therefore we conclude that the asymmetries are present in the kick, even when subjects support the use of both the legs.

          Keywords: Kick performance. Lateral asymmetry. Soccer.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Pode-se destacar a constante presença do futebol na vida do povo brasileiro, sendo considerado inclusive um traço em sua cultura (Fonseca e Silva, 2002). Este é um esporte de auto-rendimento, que vem apresentando níveis cada vez mais elevados na preparação físico-técnico-tática de seus atletas profissionais e ainda pensando em como evoluir mais nesta preparação é que diversos clubes de futebol profissionais acabam investindo nas categorias de base de suas entidades e agremiações. É então perfeitamente normal que um esporte desta magnitude e com níveis altos de aceitação pública, encaminhe as crianças, levando-as a procurar um clube onde possam buscar o seu sonho de um dia atingir o sucesso (Frisselli e Montovani, 1999, apud ALVARENGA, 1981).

    Observam-se diversos estudos relacionados ao desenvolvimento motor e também a aprendizagem motora das crianças em clubes de futebol, (TEIXEIRA & MOTA, 2007; BARBIERI & GOBBI, 2009; BRAZ & ARRUDA, 2008) sendo que estes são abordados levando-se em conta os elementos do futebol mais especificamente o trabalho técnico como, por exemplo, recepção, domínio e controle de bola, orientação e condução de bola, drible e finta, marcar e desmarcar, o cabeceio, o passe e o chute. Dentre estes elementos, destaca-se o chute, que conforme Fonseca e Silva (2002), é um componente técnico importante e complexo, pois de sua eficácia irá resultar o objeto fundamental do jogo, que é a realização do gol.

    Para Frisselli e Montovani (1999) e Leal (2001), o chute é o ato de tocar a bola utilizando a perna/pé golpeando esta de diversas maneiras e em várias trajetórias com objetivo principal de realizar gols na equipe adversária. Muitas são as formas de se chutar a bola, contudo não basta apenas chutá-la de qualquer forma é necessário treino e repetição para um melhor desempenho do chute. Frisselli e Montovani (1999), ressaltam que são muitos os fatores que contribuem para eficiência de um bom chute, tais como: a bola com trajetória baixa; pé que deve tocar a bola do centro para cima; bola com trajetória alta; pé que deve tocar a bola quase rente ao solo; posicionamento do tronco, o qual facilita a trajetória da bola; o equilíbrio do corpo, pois no momento do chute apenas uma das pernas está em contato com o solo: a força que depende da coordenação e da aceleração da perna de toque no movimento pendular e também do pé de apoio, elemento facilitador para a trajetória da bola.

    Desta forma, analisando a função motora ao se realizar o chute, um dos assuntos que tem se destacado nesta habilidade é o comportamento de ambas as pernas lançando análise para a perna que ataca a bola e para a perna que serve de apoio, sendo que os autores citados anteriormente, ressaltam que as posições dos pés de apoio e de toque contribuem para direção e precisão dos chutes. Durante o chute, deve-se então analisar as disparidades corporais, visto que o ser humano é assimétrico e muitas vezes o treinamento não condiz com esta condição. Teixeira (2006) reforça que estas preferências laterais estão associadas às assimetrias de desempenho estando relacionadas a uma performance superior do lado dominante para o lado não dominante. Segundo Teixeira (2006) A manifestação das assimetrias laterais de desempenho está associada à constituição dos dois hemisférios cerebrais, tornando um dos lados do corpo mais apto a desempenhar determinadas funções sensoriomotoras do que o lado contrário assim conduz o executante a vantagens no desempenho das tarefas motoras quando se procura a execução de ambos os lados, principalmente nas atividades de arremessar, escrever e também como citam Teixeira, Chaves, Silva & Carvalho (1998) nas ações motoras de chutar.

    Com base nestes argumentos tem-se como objetivo do estudo verificar se há diferença no desempenho da tarefa do chute, com ambos os pés.

2.     Metodologia

2.1.     Grupo de estudo

    Participaram deste estudo 19 (dezenove) adolescentes do sexo masculino com idade entre 13 e 14 anos que praticam futebol de campo em uma escolinha da cidade de Santa Maria, RS.

    Os alunos que têm 14 anos treinam na escolinha há 3 anos e os alunos que têm 13 anos treinam há 2 anos realizando diversas tarefas, todas com ambas as pernas. O treino semanal aconteceu nas terças e quintas-feiras, das 14 às 16 horas e está dividido em 2 etapas. Primeiramente os alunos trabalham aspectos fundamentais do esporte como passe, chute, domínio, condução de bola, cruzamentos, entre outros, todos na forma de jogos educativos. Na segunda parte do trabalho é realizado um coletivo reduzido, quando trabalham simultaneamente o físico, o técnico e o tático. É necessário salientar que os alunos que não apresentam o mesmo desempenho daqueles são separados e treinam num projeto chamado “projeto piloto” o qual tem por objetivo aprimorar os fundamentos do futebol combinados com a parte física como, por exemplo: passe, cruzamento, chute, domínio de bola etc. A forma como é feita essa avaliação é subjetiva, treinadores e coordenadores do projeto observam aspectos físicos, técnicos e táticos dos atletas fazendo comparações entre os esportistas. Aos sábados à tarde são realizados jogos coletivos com a participação de outras categorias.

2.2.     Critérios de inclusão

    Como critérios de inclusão foram selecionados apenas meninos destros de pés e que participam das atividades na escolinha a mais de 2 (dois) anos.

2.3.     Instrumento de avaliação

    A goleira utilizada foi de cano PVC 40 (quarenta) milímetros de diâmetro e media 110 (cento e dez) centímetros de largura de uma trave a outra e 90 (noventa) centímetros de altura. A bola para execução da tarefa foi uma Bola oficial de Futebol de Campo, com 32 gomos, confeccionada em PU.

    A tarefa de chute a gol (Bruiiniks e Ozeretsky, 1978) foi realizada com o sujeito a uma distância de 6 (seis) metros da goleira e a uma distância de 3 metros da bola, para corrida de aproximação para o chute. Cada participante realizou um total de 5 (cinco) chutes começando com a perna direita e, sem intervalo de tempo, passando para os chutes com a perna esquerda. Para a pontuação do chute a gol estabeleceu-se o seguinte:

  • Quando o sujeito acertasse o gol, computaria 3 (três) pontos;

  • Quando o sujeito acertasse a trave e marcasse o gol, computaria 2 (dois) pontos;

  • Quando o sujeito acertasse a trave e não marcasse o gol, computaria 1 (um) ponto;

  • Quando o sujeito chutasse a bola para fora da goleira, não computaria ponto (zero).

2.4.     Procedimentos gerais

    Para realização desta pesquisa foram utilizados os seguintes procedimentos:

    Primeiramente houve um contato com uma escolinha de futebol da cidade de Santa Maria, RS para saber se haveria possibilidade de realização de uma pesquisa envolvendo as características do estudo.

    Em um segundo momento, foram selecionados os meninos de acordo com os critérios de inclusão da pesquisa, foi explicado aos selecionados como seria a realização dos testes sendo necessário o aceite dos pais. Após foi enviado aos responsáveis o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

    Os testes foram aplicados individualmente em um campo de futebol, onde cada sujeito realizou 5 (cinco) chutes com a perna direita e posteriormente outros 5 (cinco) chutes com a perna esquerda. Estes dados foram apontados na “tabela de chutes”.

2.5.     Análise estatística

    Primeiramente verificou-se que os dados são paramétricos, conseqüentemente a análise estatística utilizada para determinar se existe diferença significativa no desempenho do chute entre a perna direita e perna esquerda foi o teste t de student para amostras independentes. Utilizou-se o pacote estatístico SPSS for Windows, versão 14.0, com nível de significância de 5%.

3.     Resultados e discussões

    O presente estudo analisou o desempenho motor na realização do chute em meninos que já praticavam futebol, treinando a mais de dois anos com atividades que estimulavam a assimetria lateral. Nos resultados (tabela 1) pode-se perceber a existência de diferenças entre os membros no desempenho da tarefa de chute a gol.

Tabela 1. Teste t de student para amostras independentes. (n=19)

    De acordo com o resultado obtido, encontrou-se em Santos et al (2006), argumentos semelhantes ao presente estudo, quando os autores fazem uma análise geral dos resultados e apontam a existência de assimetria de desempenho em todos os componentes que compõem os padrões fundamentais do ato chutar.

    Conforme os dados apresentados na Tabela 1, verificou-se que existe diferença significativa na realização da tarefa, para ambas as pernas, percebendo-se que a perna de domínio obteve uma média de acertos superior a média de acertos da perna esquerda. Estes achados vão ao encontro do estudo de Barbieri, Júnior & Gobbi (2006) que após realizarem uma análise cinemática verificando a largura e amplitude, encontraram diferenças significativas em ambas as pernas. Também no estudo de Barbieri (2005) com análise cinemática buscando identificar diferenças no padrão do movimento, encontraram estas no início e no contato com a bola. Ainda os resultados obtidos foram similares aos estudos realizados por McLean & Tumilty (1993), Barfield (1995) e Barbieri & Gobbi (2009) que encontraram melhor desempenho para a habilidade do chutar no membro inferior dominante do que no membro inferior não dominante quando buscaram a verificação da velocidade do chute com bola parada analisando somente a perna de ataque.

    Teixeira (2001), indo também ao encontro dos resultados deste estudo, analisou as assimetrias laterais estabelecidas durante a prática de longa duração e constatou que nos chutes de potência, nos chutes de precisão e na velocidade de condução da bola de jogadores entre 12 e 14 anos do sexo masculino foi percebida uma assimetria, favorecendo o membro preferido em ambas às tarefas motoras.

    Evidencia-se no entanto, ao observar a média do chute com a perna esquerda que o aproveitamento foi de 50% quando comparado com a perna direita, o que reflete que estes sujeitos estão sendo estimulados em suas práticas de treinamento de ambas as pernas.

Gráfico 1. Comparação da média dos chutes da perna direita e esquerda

    Observando o gráfico 1 nota-se que na média dos chutes com a perna direita o primeiro chute apresenta desempenho abaixo dos demais, o segundo, terceiro e quarto chutes mostram uma pequena variância e estão com o desempenho melhor que no primeiro e a média do quinto chute está acima do desempenho dos demais. A média de chutes com a perna esquerda apresenta uma maior variabilidade onde do primeiro para o segundo chute houve um decréscimo do desempenho seguido por uma melhora no terceiro e quarto chute e voltando a decair na última média de chute.

    Comparando a média entre os chutes da perna direita e esquerda podemos concluir um desempenho superior dos chutes da perna direita em relação à esquerda devido ao uso do feedback como exemplifica Teixeira (2006) um dos aspectos para o bom desempenho em habilidades motoras é a capacidade de usar o feedback (informação que indica ao executante a ocorrência de erros em seu próprio desempenho) durante a execução dos movimentos, como por exemplo: Rebater uma bola em deslocamento, arremessar ou chutar uma bola com potência.

    Analisando o resultado do presente estudo, relacionando-o às pesquisas encontradas, percebe-se que com estas diferenças fica eminente o prejuízo para o praticante, atleta e equipe, já que numa ação competitiva sempre é necessário a utilização de ambos os membros, de domínio e de não domínio para recepções, conduções de bola, dribles, fintas, marcações, passes e inclusive finalizações a gol.

4.     Conclusão

    Considerando o objetivo, o grupo de estudo e os resultados da presente pesquisa, conclui-se que mesmo com treinamento para ambas as pernas e com um trabalho específico para os alunos que apresentam maiores dificuldade, os alunos apresentam assimetria de chute na tarefa de chutar a gol, constatando que a perna dominante apresenta um desempenho significativamente superior à perna não dominante.

    Sabendo a importância da assimetria e do desempenho ao realizar o chute, sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas analisando ângulo, aceleração, velocidade e outros aspectos cinemáticos que influenciem sobre o chute com ambas as pernas.

Referências bibliográficas

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