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Esporte e juventude: visão do jovem acerca do esporte

Deporte y juventud: la mirada del joven acerca del deporte

 

*Professora Adjunto III na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional

da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Ciência do Desporto

pela Universidade do Porto (UP)

**Bacharel em Educação Física pela Escola de Educação Física, Fisioterapia

e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais

Ana Cláudia Porfírio Couto*

Juliana de Abreu Pereira Santos**

anacouto@ufmg.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O Esporte é um fenômeno polissêmico e de realidade polimórfica e diversa. Presente na vida das pessoas em geral, este fenômeno apresenta-se como uma importante ferramenta no processo de formação da pessoa humana, principalmente dos Jovens. Desta forma, com o objetivo de conhecer o jovem com relação ao Esporte, este estudo foi realizado mediante a aplicação de questionário com 500 jovens voluntários, com idade entre 15 e 24 anos, de ambos os sexos, moradores de Minas Gerais, oriundos de escolas públicas e privadas, participantes da Mostra de Profissões UFMG 2009. Os resultados deste estudo apontaram que os jovens atualmente praticam esportes com uma frequência reduzida, inclusive nas aulas de Educação Física escolar, além de praticarem um reduzido número de modalidades esportivas e, em geral, optarem por atividades de menor gasto energético, como por exemplo, a internet.

          Unitermos: Jovem. Esporte. Relação. Educação Física.

 

Abstract

          Sport is a polysemy phenomenon from a varied and polymorphism reality. Attending people life in general, this phenomenon shows itself as an important tool in the process of human being formation, mainly youth. Therefore, knowing the youth related to sports as target, this study was realized through the application of a questionnaire to five hundred volunteers, with ages between 15 and 24 years old, both sex, living in Minas Gerais, from public and private schools, participants from “Mostra de Profissões UFMG 2009”. The results of this study pointed that the youth nowadays practice sports in a reduced number of times, including in Physical Education class, besides practicing a reduced number of sports and, in general, choose for activities with less energetic spent, for example, the internet.

          Keywords: Youth. Sport. Relation. Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    O Esporte é um fenômeno que se mostra presente no dia-a-dia de todas as pessoas, desde os sedentários até os atletas de alto nível de rendimento, seja através da transmissão de jogos de Futebol regularmente pela televisão, seja pela efetiva prática do mesmo.

    Embora seja um termo corriqueiro, é possível encontrar na literatura inúmeras conceituações para o termo Esporte. No entanto, de acordo com o Capítulo II – DO CAMPO E DA ATIVIDADE PROFISSIONAL, Art. 9º, §2º, do Estatuto do Conselho Federal de Educação Física – CONFEF, órgão regulamentador da Profissão de Educação Física em nível nacional, Esporte pode ser entendido como um:

    “sistema ordenado de práticas corporais que envolve atividade competitiva, institucionalizada, realizada conforme técnicas, habilidades e objetivos definidos pelas modalidades desportivas segundo regras pré-estabelecidas que lhe dá forma, significado e identidade, podendo também ser praticado com liberdade e finalidade lúdica estabelecida por seus praticantes, realizado em ambiente diferenciado, inclusive na natureza (jogos: da natureza, radicais, orientação, aventura e outros). A atividade esportiva aplica-se, ainda, na promoção da saúde e em âmbito educacional de acordo com diagnóstico e/ou conhecimento especializado, em complementação a interesses voluntários e/ou organização comunitária de indivíduos e grupos não especializados”.

    Não limitado a um grupo específico de pessoas ou a uma determinada faixa etária, o Esporte pode ser praticado em quadras, campos, piscinas, praças e na natureza, conforme a intenção do praticante (CONFEF, 2009). E, por este caráter heterogêneo, o Esporte é compreendido como um fenômeno que apresenta diversas formas de manifestação, dentre elas: Esporte Educacional, Esporte de Participação e Esporte de Rendimento, podendo ainda ser incluídas, as manifestações Esporte de Reabilitação e, de acordo com classificações do Ministério do Esporte, o Esporte Social (COUTO, 2006).

    Entende-se por Esporte Educacional, aquele praticado nas aulas de Educação Física escolar, evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade entre seus praticantes, com o objetivo de alcançar o desenvolvimento integral do aluno e a sua formação como cidadão.

    Complementar ao Esporte Educacional na vida dos indivíduos, apresenta-se o Esporte de Participação, de caráter voluntário, compreendendo as modalidades esportivas praticadas nos momentos de recreação e lazer, com o intuito de desenvolver a integração social, promover a saúde e a educação, além de contribuir para a preservação do meio ambiente.

    Integrando também o rol das manifestações esportivas e, muitas vezes, alvo de fortes críticas por inúmeros autores da área, tem-se o Esporte de Rendimento. Extremamente explorado pela mídia como um todo, esta forma de manifestação do Esporte é praticada de acordo com as normas gerais da Lei nº 9.615, de 1998, e com as regras específicas de cada modalidade, visando à obtenção de resultados, podendo ser organizado e praticado de modo profissional ou não profissional (COUTO, 2006).

    A quarta forma de manifestação do esporte é uma das mais discutidas ultimamente quando o assunto é a preocupação com a formação da Pessoa Humana. Trata-se do Esporte Social. Conforme abordado por Couto (2006), esta é uma manifestação esportiva que perpassa as demais citadas anteriormente, devendo estar presente nas escolas, nos momentos de lazer ou nas competições de alto nível de rendimento, dada a sua importância no contexto da atual sociedade.

    Complementando estas formas de manifestações acima citadas, Couto (2006) acrescenta às classificações, o Esporte de Reabilitação, como aquele que visa o desenvolvimento das potencialidades inerentes ao corpo do indivíduo.

    A partir do reconhecimento destas definições e formas de manifestação do Esporte, mas não limitando-se a nenhuma delas, Bento (2006) complementa e define o Esporte como um fenômeno polissêmico e de realidade polimórfica e diversa, agregando dimensões biológicas, cognitivas, físicas, culturais, táticas, técnicas, psicológicas, sociais, afetivas, corporais, mentais e espirituais. Sendo, portanto um fenômeno amplo que vai além dos termos comumente relacionados como Educação Física e movimento.

    É exatamente por este caráter amplo do Esporte, capaz de abranger todas as faixas etárias nas mais diversas situações do cotidiano, e por apresentar-se culturalmente como uma paixão dos brasileiros, principalmente o Futebol, que este fenômeno passou a ser visto como uma ótima ferramenta no processo de formação da pessoa humana, principalmente dos Jovens. Merecedor de estudos científicos e de oferta de políticas públicas.

    São considerados jovens, as pessoas com idade entre 15 e 24 anos, segundo classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no entanto, esta definição de Jovem é apenas para uma delimitação do grupo, fazendo-se necessário considerar as diversas características inerentes à juventude para que seja possível compreender a importância do Esporte para os Jovens.

    Para Costa (2000), conceituar juventude é uma tarefa muito mais complexa e difícil, devendo-se considerar para tanto, as diversas variáveis relacionadas ao interesse específico de quem emprega este termo, ao contexto econômico, social e histórico no qual o mesmo está inserido e, além disso, deve-se levar em conta a conceituação que os próprios jovens fazem de si. Dentro desse emaranhado de considerações, Costa (2000, p. 69) conclui que:

    ser jovem tem sido até hoje o usufruto de um status incompleto, caracterizado por um período de formação, compreendido entre a puberdade e o exercício dos papéis reservados aos adultos. (...) Na verdade, estamos diante de um fenômeno inteiramente aberto, em interação construtiva e destrutiva constante com o universo sócio-cultural em que está inserido, em permanente relação de amor e ódio, continuidade e ruptura e muitos outros paradoxos próprios dessa fase da existência que, para nós, adultos, segue e seguirá sempre como uma realidade ao mesmo tempo estranha e familiar.

    Desta forma, considerando-se as características inerentes aos jovens, principalmente a instabilidade e a constante formação e reformulação da identidade acima descrita por Costa (2000), que o Esporte, catalisador das emoções das pessoas em geral, apresenta-se como uma ferramenta de fácil aplicação no auxílio do delicado processo de formação destes jovens, reduzindo os momentos de inteiração destrutiva e favorecendo os momentos de inteiração construtiva.

    Formar significa Educar e, desta maneira, representa uma tarefa complexa em que estão envolvidos diversos fatores, com pesos diferentes ao longo do processo de cada indivíduo. Não é possível afirmar em números a contribuição do Esporte na formação dos Jovens, mas claramente pode-se afirmar que este se constitui em uma ferramenta disponível para o processo de Educação que, como abordado por Couto (2006), deve estar constantemente a serviço da formação do ser humano.

    No entanto, para que o Esporte possa ser utilizado de maneira correta, eficiente e específica no processo de formação dos jovens, é necessário mais do que somente estudos sobre Jovens e estudos sobre Esportes, de maneira desconectada. Devem ser realizados estudos que correlacionem estas vertentes e as analisem como “faces da mesma moeda”.

    A partir desta demanda e entendendo ser necessário começar de um patamar inicial, este estudo objetivou conhecer o jovem com relação ao Esporte, identificando características desta relação, seja na escola ou fora dela.

    Desta maneira, o presente estudo servirá como um subsídio teórico para a adequação das aulas dos profissionais de Educação Física, principalmente daqueles que desenvolvem trabalhos com jovens, permitindo-os conhecer aspectos como a preferência por determinada modalidade, a frequência e onde os jovens têm praticado esporte. Além da importância para a prática do profissional de Educação Física, o presente estudo apresentará informações relevantes para o estabelecimento de novas pesquisas que objetivem aprofundar ainda mais o conhecimento sobre a relação jovem e esportes, além de possibilitar a proposição ou o alinhamento de políticas publicas ou projetos direcionados a esta faixa etária.

    O presente estudo foi realizado mediante a aplicação de questionário com 500 jovens voluntários, com idade entre 15 e 24 anos, de ambos os sexos, moradores de Minas Gerais, oriundos de escolas públicas e privadas, participantes da Mostra de Profissões UFMG 2009.

    Todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido para participarem da pesquisa, tendo sido a mesma acompanhada pela Comissão de Ética em Pesquisa (COEP), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e seguido as normas da resolução 196/96 do Ministério da Saúde.

Interpretação dos resultados

    De acordo com os dados da pesquisa realizada, pode-se perceber que 67% dos jovens praticam algum esporte e que 32 % destes não se envolvem com nenhuma atividade esportiva (Gráfico 1).

Gráfico 1

    Curiosamente, embora 32% dos jovens entrevistados não se envolvam com esportes, apenas 9% não consideram o esporte importante para si (Gráfico 2) e 14% consideram não aprender coisas novas com o esporte (Gráfico 3).

Gráfico 2

 

Gráfico 3

    Portanto, podemos afirmar que os jovens entrevistados, em sua maioria, têm consciência da importância do esporte para suas vidas e de que o esporte é uma ferramenta de ensino. Essa consciência não é suficiente para fazer com que esta maioria adquira o hábito da prática esportiva, e, desta maneira, podemos afirmar que faltam aos mesmos desenvolver o desejo de aplicar tais conhecimentos e se motivarem para realizar atividades físicas de forma continuada, cabendo às escolas, escolinhas de esportes, clubes, academias, governos e entidades afins facilitarem as mudanças nas atitudes e ações dos jovens (NAHAS, 2003).

    Deve-se atentar, também, para as manifestações esportivas com as quais os jovens afirmaram se envolver mais, dentre elas: Futebol, Futsal, Vôlei, Ciclismo, Ginástica, Handebol e Basquetebol (Gráfico 4), permitindo desta forma uma intervenção mais pautada nas vontades e interesses deste público, bem como a criação de medidas de divulgação das demais manifestações esportivas, a fim de expandir o contato do jovem com o esporte, de criar esse vínculo para aqueles que não os tem, mediante o aumento da variedade de atividades possíveis de serem praticadas.

    Em relação ao destaque do Futebol, do Futsal, do Vôlei, do Handebol e do Basquetebol pode-se fazer um vínculo com a maior ênfase que estes esportes recebem nas aulas de Educação Física escolar, sendo comumente os conteúdos mais trabalhados na maioria das escolas, como identificado por Lemos (2006) ao entrevistar alunos de Escolas do Ensino Fundamental e Médio da Cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. E, nos casos específicos do Futebol e do Futsal, pode-se acrescentar ainda a grande influência da mídia e dos demais canais de informação que há muitos anos influenciam diretamente na paixão que os brasileiros apresentam pelo Futebol e por semelhança pelo Futsal.

    Importante também ressaltar, a manifestação do Ciclismo e da Ginástica entre os esportes mais praticados pelos jovens (Gráfico 4), pois embora os resultados apontem nesta direção, estas modalidades não têm grande expressividade na cultura mineira.

    Credita-se esta alta incidência de praticantes de Ciclismo não à prática da modalidade formal de Ciclismo, mas sim aos passeios e aos deslocamentos cotidianos realizados de bicicleta, mas o que não reduz sua importância para este estudo. Pelo contrário, aumenta. Pois se percebe aqui um gosto dos jovens por uma atividade esportiva pouco explorada nas aulas de Educação Física escolar, bem como em ambientes de escolinhas e ambientes públicos.

    E, com relação à relevância da Ginástica nessa pesquisa, acredita-se que esteja relacionada com a prática de Musculação e atividades oferecidas pelas academias. Sobre esta grande incidência deve-se ressaltar que as academias são constantemente frequentadas pelos jovens, por estarem relacionadas diretamente à questão do corpo atlético. Os jovens, por estarem numa fase de formação (COSTA, 2000), necessitam se auto-afirmar com mais frequência e, muitas vezes, essa auto-afirmação ocorre através da exibição de um corpo atlético, altamente valorizado na cultura atual. No entanto, por não ter sido o objetivo deste estudo, para que se possa refletir mais acerca da alta incidência de praticantes de Ginástica, novos estudos deverão ser feitos.

Gráfico 4

    Partindo da idéia de que os hábitos esportivos possam sofrer maior influência das aulas de Educação Física escolar, disciplina curricular obrigatória, e de que a escola, segundo a Constituição Federal de 1988, deveria ser um local pelo qual todos deveriam passar, e consequentemente, este seria um contato garantido dos jovens com os esportes –época do Esporte como direito (COUTO, 2006)- buscou-se identificar como os mesmos relacionam-se com a Educação Física escolar.

    Identificou-se que 93% destes jovens têm aulas de Educação Física nas escolas (Gráfico 5), mas que de todos os entrevistados, apenas 82% gostam destas aulas (Gráfico 6) e 68% fazem as mesmas (Gráfico 7).

    Nesta perspectiva, se mostra mais uma vez importante a realização de estudos que visem analisar a relação dos jovens com os esportes, mais especificamente, neste caso, a relação dos jovens com a Educação Física escolar, uma vez que se pode identificar uma falha no atendimento à expectativa dos jovens com esta disciplina (82% gostam das aulas, mas apenas 68% fazem as mesmas), o que representa a perda de uma ferramenta importantíssima na criação do hábito e do gosto dos jovens pela prática esportiva.

Gráfico 5

 

Gráfico 6

 

Gráfico 7

    Além da prática do esporte fora das escolas ou dentro das mesmas, deve-se analisar a frequência com que os jovens têm praticado atividades físicas.

    Durante o século XX, houve um aumento significativo de morte por doenças cardiovasculares, sendo este aumento em parte creditado à maior longevidade e em partes creditado ao aumento do sedentarismo, da alimentação rica em gordura e dos elevados níveis de estresse (NAHAS, 2003). Diversos estudos já comprovaram que a prática de atividade física regular associada a um estilo de vida ativo e hábitos alimentares saudáveis são fatores fundamentais para a prevenção destas doenças e para a qualidade de vida (NAHAS, 2003).

    De acordo com os dados obtidos na pesquisa, identificou-se que para a maioria dos jovens, esta relação está abaixo do que se espera quando tratamos de atividades físicas regulares. Percebe-se que apenas 52% dos jovens entrevistados praticam atividades físicas 3 vezes por semana ou mais, que 37% praticam apenas 2 vezes na semana e que 21% praticam apenas uma vez por semana (Gráfico 8).

    Em 2003, segundo Nahas, a Organização Mundial de Saúde considerava ativo o indivíduo que realizava pelo menos 30 minutos de atividades físicas moderadas em pelo menos cinco dias da semana. Desta forma, identificou-se mais um desencontro entre estes resultados e o que as pesquisas mostram ser o ideal para que as práticas esportivas possam representar melhora na qualidade de vida dos jovens.

Gráfico 8

    Associado a reduzida frequência de práticas esportivas pelos jovens entrevistados e confirmando os achados de muitos estudos recentes, identificou-se uma tendência significativa da opção dos jovens pelo que alguns autores denominam como atividades de lazer passivo, ou seja, atividades que representam um menor gasto energético.

    De acordo com os dados obtidos neste estudo, observou-se que 30% dos jovens utilizam a Internet durante o tempo livre, seguido de 24% que estudam e 21% que assistem à televisão, retratando esta mudança cultural, em que apenas 13% dos entrevistados jogam bola durante o tempo livre (Gráfico 9).

    Para os profissionais da Educação Física, os dados apresentados neste estudo devem ficar como um alerta, pois o gosto do jovem pelo esporte está presente, porém a efetiva prática do mesmo, mostrou-se bastante abaixo do ideal. Identificar o motivo desta incoerência, pode e deve ser objeto de estudo de novas pesquisas, mas enquanto as mesmas não são realizadas, adequar às aulas de Educação Física especificamente para os jovens já é um bom começo.

Gráfico 9

Conclusão

    Após a interpretação dos dados obtidos neste estudo e sustentado pela definição de Costa (2000) de que o jovem é um fenômeno inserido no universo sócio cultural com o qual exerce constantemente interações construtivas e destrutivas, pode-se afirmar que o jovem vem respondendo às mudanças culturais do seu cotidiano e estabelecendo novas relações com suas atividades diárias, inclusive com o Esporte.

    Há que se avaliar as consequências desta nova realidade para os jovens, as interferências que estas mudanças exercem nas aulas ministradas pelos professores de Educação Física e partindo para uma análise interdisciplinar, as implicações que estas mudanças acarretam para as demais áreas da Saúde que, direta ou indiretamente, relacionam-se com a Educação Física.

    O jovem de hoje tem mostrado claramente uma preferência por atividades relacionadas ao setor da tecnologia, atividades em geral de menor gasto energético, bem como apresenta uma relação com o esporte reduzida em sua frequência de realização e em sua variedade de modalidades praticadas. Essa redução da prática esportiva estende-se inclusive para as aulas de Educação Física escolar que deveriam ser obrigatórias, mas como mostrado pelos dados deste estudo, não são realizadas por muitos dos jovens.

    Neste contexto, um fator revela-se muito importante: o gosto pela prática esportiva. Embora pratique pouca atividade física, o jovem de hoje gosta desta prática e a considera importante como objeto de aprendizagem. Inúmeras medidas podem ser tomadas na tentativa de reverter-se este quadro. Em concordância com Nahas (2003), deve-se investir em medidas que aumentem o desejo dos jovens de aplicar tais conhecimentos e de se motivarem para realizar atividades físicas de forma continuada.

    Iniciar pela mudança da metodologia das aulas e dos conteúdos, atendendo às expectativas dos jovens pode ser uma medida imediata e de mais fácil realização. Podendo-se acrescentar às medidas dos professores, medidas públicas, relacionadas à construção de espaços destinados especificamente para prática esportiva pelo público jovem, como por exemplo: academias públicas com profissionais especializados e ciclovias, em concordância com a grande expressividade desta atividade perante os jovens entrevistados.

    A criação de políticas públicas, programas e projetos esportivos sociais voltados para a juventude é premente no Brasil, tratamos de uma parcela da sociedade desprovida de oportunidades e carente de ações. Neste sentido, faz-se mister destacar nos dados ora apresentados o interesse pela prática, entretanto e paradoxalmente os jovens pouco praticam.

    Projetos devem conectar demandas e interesses além de terem em seu escopo o foco na formação humana, de modo que contribuam na promoção dos valores e das competências –pessoais, relacionais, produtivas e cognitivas– dos jovens, possibilitando, assim, que se constituam cidadãos conhecedores dos seus direitos e detentores de um projeto de vida.

    Por fim, torna-se fundamental estabelecer a conexão entre esporte, lazer e projetos sociais, pois deste modo, os potenciais serão reconhecidos, enquanto principio de educabilidade; oportunidades serão ofertadas, haja vista que em nossa sociedade a juventude é vulnerável e a meta será a contribuição para a constituição das escolhas futuras, quando das tomadas de decisão na vida.

    Não obstante, sugere-se a realização de novas pesquisas que sejam capazes de identificar os fatores relacionados ao desejo dos jovens em praticar atividades esportivas e de terem oferta de tempos e espaços de lazer, de modo que suas demandas sejam conhecidas, bem como os fatores motivacionais vinculados a prática esportiva por este público específico.

Referências

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  • COSTA, A. C. G.. Juventude: uma breve aproximação do tema. In: Protagonismo Juvenil – adolescência, educação e participação democrática. Salvador: Fundação Odebrecht, 2000. p. 65 – 80.

  • COUTO, A. C. P.. A EDUCAÇÃO FÍSICA À LUZ DO MOVIMENTO DA ESCOLA CULTURAL: Investigação centrada no Projecto Guanabara na cidade de Belo Horizonte - Minas Gerais – Brasil. 2006. 300 f. Tese (Doutorado em Ciências do Desporto) – Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, Porto, 2006.

  • INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Apresenta informações sobre a população brasileira. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/populacao_jovem_brasil/default.shtm. Acesso em: 12 de nov. de 2009.

  • LEMOS, K. L. M.. Educação Física e Valores: Análise centrada em discurso de professores e alunos de Escolas do Ensino Fundamental e Médio da Cidade de Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil. 2006. 249 f. Tese (Doutorado em Ciências do Desporto) – Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, Porto, 2006.

  • NAHAS, Markus Vinicius. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3. ed. Londrina: Midiograf, 2003. 278 p.

  • TANI, G.; BENTO, J.O.; PETERSEN, R. D. S. Esclarecimentos e Pressupostos. In: Pedagogia do Desporto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 03 – 11.

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Desenvolvido pelo Núcleo Web – Cedecom. Apresenta informações sobre a Mostra das Profissões UFGM 2009. Disponível em: http://www2.ufmg.br/mostra09/a-mostra. Acesso em: 12 de nov. de 2009.

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