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Vida dos lutadores de sumô. Os yokozunas e os aspectos da cultura

japonesa e seu respeito pelas artes marciais e seus praticantes

Sobre la vida de los luchadores de sumo. Los yokosunas y los aspectos de la 

cultura japonesa y su respeto por las artes marciales y sus practicantes

 

*Prof. Dr. EACH-USP

(Brasil)

Danilo Chiba Toledo

Nadjila Tejo Machado

Talita Rosa de Oliveira

Marco Antonio Bettine de Almeida*

marcobettine@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O trabalho analisou os lutadores de sumô yokozunas, que estão na mais alta hierarquia do sumô. Relacionou-se o respeito da cultura milenar japonesa, e o respeito cultivado pelos yokozunas pelas artes marciais. Analisando por Max Weber, os lutadores de sumô exerceriam uma dominação carismática para com a sua nação, já que esta tradição é repassada de geração em geração. Este desporto quebra paradigmas já que todo lutador de sumô é visto como o obeso sedentário para quem não domina a cultura japonesa, se equivoque ao perceber o respeito aos praticantes deste desporto. A nossa hipótese não foi confirmada, já que desde a época do império, a luta era utilizada como meio de entretenimento de convidados. Hoje esta prática é menos utilizada para promover o governo japonês. Nos dias de hoje, o sumô contém seis campeonatos anuais e são passados ao vivo na televisão. Atualmente está perdendo espaço para outros esportes, mais continua sendo agraciada e tendo sua devida importância.

          Unitermos: Cultura japonesa. Artes marciais. Sumo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Este trabalho discutiu a vida do lutador de sumô no estágio yokozuna, na perspectiva de respeito destes lutadores através da cultura milenar japonesa, usufruído e respeitado até hoje pela população pela dominação carismática de Max Weber.

    Nos mais de 2 mil anos de história da luta, apenas 69 atletas são considerados yokozumas, maior título que alguém pode alcançar dentro da hierarquia do sumô. Para chegar lá é preciso passar antes pelas categorias Jonokuchi, Jonidan, Sandan-me, Makushita, Juryo, 1ª divisão - Maegashira, Komusubi, Sekiwake e Oseki.

    São poucos, muito poucos os que conseguem chegar ao grau de Oseki. Para tornar-se então um yokozuma é preciso vencer dois torneios consecutivos (são realizados apenas seis durante o ano) vencendo um yokozuna nos 2 torneios e ainda ser aprovado pelo comitê de julgamento da Associação Japonesa de Sumô. (6)

    Devido ao preconceito gerado pelas condições fisiológicas dos lutadores de sumô, este trabalho demonstrou que eles são agraciados de outro modo pela sua cultura. O físico não diz quem a pessoa é, e muito menos o peso sobre o sedentarismo, os yokozuma que o digam. As regalias chegaram a não ter horário para falar com o imperador. Este tipo de relação é a dominação carismática segundo Max Weber.

    Dominação Carismática (onde a autoridade é suportada, graças a uma devoção afetiva por parte dos dominados). Ela assenta sobre as “crenças” transmitidas por profetas, sobre o “reconhecimento” que pessoalmente alcançam os heróis e os demagogos, durante as guerras e revoluções, nas ruas e nas tribunas, convertendo a fé e o reconhecimento em deveres invioláveis que lhes são devidos pelos governados. (3)

    A cultura milenar japonesa cultua o corpo, e dentre as formas de fazê-lo é praticando atividades físicas. As artes marciais contêm toda uma filosofia por trás dos movimentos além da disciplina para a execução.

    O sumô é o segundo esporte mais praticado e reverenciado pelos japoneses, perdendo apenas para o beisebol (hoje, porém, o sumô vem perdendo muitos adeptos para o futebol). As lutas não são apenas lutas e sim verdadeiros rituais que muitas vezes contam com a presença do primeiro ministro e até do imperador. (...) Cada luta de sumô é precedida por um longo ritual que inclui demonstração de força, levantamento de pernas, entre outros cerimoniais. A luta propriamente dita dura em torno de 10 a 15 segundos. Isso mesmo. Este é considerado o combate mais rápido entre todas as artes marciais. E não há segundo round. (6)

    O lutador não leva uma vida sedentária, os treinos intensos são prova disto, a alimentação que é diferenciada. O acúmulo de gordura é proporcionado pela ingestão maior do gasto energético; sendo que, nem todo lutador de sumô precisa obeso, mas a gordura ajuda na luta. De certa forma o corpo é readaptado ao novo peso, e a qualidade de vida alterada para agüentar.

    Qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. O termo abrange muitos significados, que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, portanto, uma construção social com a marca da relatividade cultural. (7)

    Na adolescência o futuro lutador começa a ser preparado para a pratica do desporto de alto rendimento. Os novatos cuidam dos afazeres e servem os mais velhos, principalmente na parte de preparação dos alimentos e limpeza dos alojamentos em suas academias. A dedicação é integral, e chegam a ficar meses sem ver a família, saem na maioria das vezes quando se casam. Há uma hierarquia no sumô. Quando os lutadores chegam ao estágio yokozunas (o maior na hierarquia) são considerados semideuses e usufruem diversos benefícios.

    O ritual inicial dura mais que a luta. Há apenas uma disputa e vence aquele que faz o adversário encostar qualquer parte do corpo no ringue ou ser empurrado para fora dele. A luta deve durar 3 minutos no máximo, na maioria das vezes as lutas duram menos de 1 minuto. Dentre os fatores que podem ajudar mais não é o diferencial, o peso, a flexibilidade (essencial no ritual inicial), altura.

    O mawashi cobre as partes intimas do lutador, indicando que a luta é feita com a preparação de cada atleta sem utilização de terceiros. No feminino utiliza-se o mawashi juntamente com um colan para cobrir os seios e não se desprender na hora da luta. O campeonato feminino foi aceito em 1996 para poder torná-lo modalidade olímpica. A categoria amadora é a que mais cresce, e é aderida em todo o mundo.

    A cultura japonesa apesar de ser pouco explorada, é um interessante objeto de estudo pelo seu minucioso modo de passar de geração em geração seus contextos. E no desporto assim como tudo que a envolve, o respeito pelo corpo e mente.

    Está implícita a idéia de que os sociólogos têm esquecido o desporto, principalmente porque só alguns conseguiram distanciar-se o suficiente dos valores dominantes e das formas de pensamento características das sociedades ocidentais, enfim, para terem a capacidade de compreender o significado social do desporto, os problemas que este coloca ou o campo de ação que oferece para a exploração de áreas da estrutura social e do comportamento que, na maior parte, são ignoradas nas teorias sociais (8)

    Os japoneses agregam um valor milenar ao lutador, tendo em vista este contexto veremos como se dá a dominação por intermédio carismático. Seus valores atingem a mais alta hierarquia do sumô, os yokozunas. Os praticantes que atingem este nível são exaltados.

Método de pesquisa

    No projeto de pesquisa inicialmente foi feito apenas um apanhado geral do assunto através de pesquisas bibliográficas, para elaboração do projeto para entrega parcial. Ele foi dedicado principalmente à parte introdutória do trabalho, para ter embasamento teórico da nossa pesquisa.

    Na segunda parte realizou-se uma entrevista com um lutador de sumô, os dados coletados foram analisados de maneira qualitativa. A entrevista foi realizada apenas com um lutador devida o trino para o campeonato amador, e com isso, os atletas se recusaram a nos ceder a entrevista. O entrevistado será identificado como D.C.T., as suas iniciais. O nosso trabalho foi pobre em pesquisas confiáveis, conseguimos mais afirmações relevantes de sites.

    Os critérios seguiram a dominação carismática de Weber. Tivemos em mente a seguinte pergunta norteadora:

    Como os lutadores yokozunas exercem dominação carismática? Qual seu contexto?

Resultados

    O entrevistado foi um lutador de sumo amador. Ele disse que a hipótese do nosso trabalho não pode ser confirmada, pois o governo utiliza-se do sumo como modo recreativo no Japão.

    As artes marciais inserem-se num campo mais abrangente – o desporto. (...) Basta pensarmos, por exemplo, na atenção que os meios de comunicação social lhe prestam regularmente; na quantidade de dinheiro (público e privado) que se investe; na dependência da publicidade; na maior implicação do Estado por razões tão diversas como o desejo de combater a violência dos espectadores, melhorar a saúde pública, aumentar o prestígio nacional; no número de pessoas que com regularidade praticam desporto ou assistem como espectadores, para não falar dos que dependem direta ou indiretamente dele; no emprego de metáforas desportivas em esferas aparentemente tão diversas da vida como a política, a indústria, o exército, etc.; e, para concluir, nas ramificações a nível nacional e internacional, sociais e econômicas, negativas e positivas. (...) Nenhuma atividade terá servido com tanta regularidade de centro de interesse e tanta gente em todo o mundo. (...) As pessoas mais comprometidas com o desporto recebem o nome de “fans” e paran muitos destes torna-se uma “religião suplente”. Provas disto, temos a atitude reverente de muitos fans às suas equipas e a idolatria de atletas concretos. (9)

    Segundo FIGUEREDO (2003), “Não há dúvida de que o sumô é mais do que uma luta esportiva para os japoneses. Está na cultura, na tradição, na alma do povo”. Apesar de o sumô estar perdendo espaço para o futebol e para o baseball se tratando de esporte como um todo.

    A ligação entre os imperadores e o sumô ficou cada vez mais forte. A imperatriz Kogyoku (642 até 645) solicitava aos seus guardas a lutarem para entreter seus convidados. O imperador Shomu (724 até 749) realizava no palácio imperial um festival chamado “sechie e recrutava sumotoris de todo o país. O imperador Kanmu (781 até 806) oficializou o “sechie-zumo como um evento anual e o costume continuou durante todo o período Heian (794 até 1185). Mas foi no reinado do imperador Saga (809 até 823) que o sumô ganhou o status de arte marcial. As técnicas foram refinadas e regras estabelecidas. (...) Após o estabelecimento do primeiro shogunato em Kamakura (de 1185 até 1392) o sumô passou a ser praticado pelos guerreiros. Durante o período entre os séculos XV e XVIIII, os sumotoris ganharam uma grande importância na sociedade. Vários daimyôs ofereciam uma espécie de patrocínio aos lutadores mais fortes. Recebiam um status de samurai, eram presenteados com aventais bordados do senhor feudal e garantiam assim um bom padrão de vida. (6)

    O sumô é um esporte que foi difundido principalmente pelo governo imperialista japonês, que iniciou com caráter de entretenimento de convidados, até para arte marcial. Atualmente é realizada seis mundiais de sumô por ano, ou seja, um mundial a cada dois meses.

    Antigamente, estrangeiros não eram bem vistos no Sumô profissional, ao contrario hoje há vários sumotoris entre os mais bem colocados, são eles: o yokozuna Hakuho (Mongolia), o ozeki Harumafuji (Mongolia), o ozeki Kotooshu (Bulgaria), o ozeki Baruto (Estônia), o Komusubi Kakuryu (Mongólia), os maegashiras mongóis Tokusegawa, Tamawashi, Hakuba, Kyokutenho, Shotenro, Asasekiryu, Koryu, Mokonami e Tokitenku, os maegashiras Georgianos Tochinoshin e Gagamaru, o maegashira Sul Coreano Kasugao, o maegashira Russo Aran e o maegashira brasileiro Kaisei. (D.C.T.)

    O entrevistado destaca a importância dos não japoneses no sumô. Antigamente não eram aceitos lutadores de outra nacionalidade, mais com o crescimento do sumô amador, ele acabou se adequando. O atual yokozuna é o mongol Hakuho, seu nome original é Munkhbat Davaajargal. Hakuho é o 69º yokozuna da historia.

    Segundo FREDERIC & HWANG (2008), “Os yokozunas são extremamente populares e são venerados pelo público”. Na historia, apenas 4 yokozunas não são japoneses, são eles: o Havaiano Akebono (64º yokozuna da historia, atualmente lutador de MMA), o segundo yokozuna é outro havaiano, seu nome de guerra Musashimaru (67º yokozuna da historia),o terceiro é o mongol Asashoryu (68º yokozuna da historia, Asashoryu foi retirado do Sumô por maus comportamentos) e por fim o mongol Hakuho.

    Atualmente o sumotori brasileiro mais bem colocado tem o nome de guerra Kaisei (nome original Ricardo Sugano), representando a academia Tomozuna Kaisei está no grupo Maegashira na primeira divisão. No Brasil Kaisei representava a academia de Santo Amaro-SP. Kaisei atualmente pesa 174 quilos e tem 1,93 m de altura. (D.C.T.)

    O Brasil está se destacando com o sumotori Kaisei, a imigração japonesa trouxe uma troca de culturas benéficas ao país. Não só ao nosso, mais também a diversos, a ponto do yokozuna não ser japonês. Em outros países o sumô não é tão agraciado como no Japão. No Japão, o mundial de sumô passa ao vivo pela emissora estatal NHK, e muitos japoneses param para assistir.

    A prática está sendo difundida para que a modalidade seja inserida nas olimpíadas. O interesse fez com que o sumô fosse difundido em vários países e obtivesse reconhecimento do amadorismo, já que ele é quem possui a maior quantidade de atletas.

Discussão

    A hipótese do grupo não foi confirmada. O governo japonês desde o império utiliza o sumô para se promover. Os yokozunas fazem parte das ações sociais do governo para positivar suas ações, já que há um respeito dentre os japoneses por estes lutadores.

    Começou por meio de recreação dos convidados no império, e chegou a ponto de um sumotori yokozuna não precisar marcar horário para falar com o imperador. Esta relação foi somente de interesse já que o lutador tivesse regalias do império, mais não poderia interferir em seu andamento. Atualmente este respeito está sendo perdendo.

Conclusão

    Os lutadores de sumô também são dominados pelo estado, e por este motivo não exercem dominação carismática. O que acontece na verdade, é o estado usar do esporte sumô para obter dominação carismática entre os japoneses.

Referências

  1. ARTES MARCIAIS. O que são artes marciais? Disponível em: http://www.artes-marciais.net/conceito.html. Acesso em: 11 abril 2011.

  2. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: educação física. Brasília: MEC/SEF, 1998.

  3. BRASIL ESCOLA. Os tipos de dominação segundo Max Weber. Disponível em: http://meuartigo.brasilescola.com/sociologia/os-tipos-dominacao-segundo-max-weber.htm. Acesso em: 01 maio 2011.

  4. FREDERIC, L. HWANG, A.D. O Japão: Dicionário e civilização. São Paulo: Editora Globo; 2008. e.1. 1109 p.

  5. FIGUEIREDO, O.D. História dos Esportes. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003. e. 4ª. 473 p.

  6. HOW STUFF WORKS. Como funciona o sumo. Disponível em: http://esporte.hsw.uol.com.br/sumo.htm. Acesso em: 10 abril 2011.

  7. MINAYO, M. C. S.; HARTZ, Z. M. A.; BUSS, P. M. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciênc. saúde coletiva. 2000, vol.5, n.1, 7-18 p.

  8. NIPOCULTURA: A CULTURA JAPONESA A SEU ALCANCE. Sumô (HYPERLINK "http://www.nipocultura.com.br/?p=224"相撲HYPERLINK "http://www.nipocultura.com.br/?p=224"). Disponível em: http://www.nipocultura.com.br/?p=224. Acesso em: 11 abril 2011.

  9. ROSA, V. As artes marciais como campo de estudos sociológicos. Disponível em: http://www.vitorrosa.alojamentodigital.com/artigo2_jornal.pdf. Acesso em: 11 abril 2011.

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