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Transferência bilateral no desempenho de habilidades motoras

Transferencia bilateral en el desempeño de habilidades motoras

 

*Graduando em Educação Física da Faculdade

Estácio de Sá – Belo Horizonte.

**Professor da Faculdade Estácio de Sá – Belo Horizonte

(Brasil)

Carmélia Povoas da Silva*

Wellington Nascimento Araújo*

Márcio Mário Vieira**

wnaraujo1@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Desde o inicio de nossas vidas estamos descobrindo movimentos e aprendendo novas habilidades motoras, as quais garantirão nossa sobrevivência e quem sabe um possível sucesso se associado a alguma modalidade esportiva. O desenvolvimento das habilidades vem para cada indivíduo de forma diferenciada dependendo de suas vivências e do ambiente em que vive. A compreensão desse processo de aprendizagem é de grande importância para o homem por apresentar subsídios que podem explicar a forma como o ser humano se adapta as diferentes condições que lhe são impostas. O objetivo do presente estudo foi analisar as diferenças na transferência bilateral de indivíduos de diferentes dominâncias laterais (canhotos e destros) no desempenho de habilidades motoras. Uma revisão de literatura foi construída a partir de diferentes estudos encontrados na literatura relacionada ao comportamento motor, principalmente em referência a transferência bilateral de aprendizagem motora.

          Unitermos: Canhotos. Destros. Transferência de aprendizagem. Transferência Bilateral.

 

Abstract

          Since the beginning of our lives we are discovering and learning new skills, which will ensure our survival and who knows a possible success if associated with any sport. The development of skills comes to each individual differently depending on their personal experiences and environment in which you live. Understanding of the learning process is of great importance for man by offering subsidies that may explain how humans adapt to the different conditions that are imposed. The goal of this study was to analyze the differences in bilateral transfer of individuals from different dominance side (left-handed and right-handed) in the performance of motor skills. A review of the literature was built from different studies found literature related to motor behavior, especially in reference to bilateral transfer of motor learning.

          Keywords: Left-handed. Right-handed. Transference of learning. Bilateral transference.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A aprendizagem representa um elemento crítico para a existência do homem (SCHMIDT, 1988) correspondendo às mudanças nos domínios cognitivo, afetivo-social e motor. Esse conjunto de processos associados a pratica e a vivência motora é responsável em promover mudanças no desempenho motor. Tais mudanças são resultado da interação entre o estado atual dos domínios e a aquisição de habilidades levando a um aumento de competência que deve ser mantido por um determinado tempo (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).

    A aprendizagem é um fenômeno observável indiretamente; podendo ser inferida a partir do comportamento ou desempenho de uma pessoa (MAGILL, 1984). Algumas características desse desempenho são indicadores do nível de aprendizagem ou da capacidade de aquisição de uma habilidade motora. A alteração na capacidade da pessoa em desempenhar uma habilidade pode ser inferida como uma melhoria relativamente permanente no desempenho em decorrência da pratica ou experiência (MAGILL, 2000; SCHMIDT; LEE, 1999). Para Rose (1997), a aprendizagem motora consiste na mudança interna, relativamente permanente, resultante da prática e feedback e inferida pelo desempenho. Essa possível mudança interna leva à exibição da habilidade, ou seja, a execução de movimentos que permitem atingir um objetivo no ambiente com máxima certeza e mínimo gasto de tempo e ou energia (SALMONI; SCHMIDT; WALTER, 1984).

    Entender a aprendizagem motora enquanto fenômeno reforça que enquanto área ela diz respeito aos mecanismos internos e as variáveis que interferem na aquisição de habilidades motoras (SCHMIDT, 1988). Assim dentre essas as inúmeras variáveis a transferência de aprendizagem tem representado um fator de questionamentos principalmente quando se relaciona ao comportamento de indivíduos de diferentes preferências laterais.

Transferência de aprendizagem

    A Transferência de aprendizagem diz respeito à influência de uma habilidade motora adquirida sobre aprendizagem de uma nova habilidade (MAGILL, 1984). Também pode ser considerada a capacidade determinada pela experiência de desempenhar uma habilidade em uma nova situação (MAGILL, 2000).

    A transferência de aprendizagem pode ser classificada em positiva, na qual a experiência anterior ajuda ou facilita a aprendizagem de uma nova habilidade. Negativa, aquela cuja experiência anterior prejudica ou interfere na aprendizagem de uma nova habilidade, e também nula, aquela em que a habilidade anterior não tem efeito algum no processo de aprendizagem de uma nova habilidade (TEIXEIRA, 2006).

    O fenômeno negativo da transferência de aprendizagem deve ser levado em consideração quando se está trabalhando no ensino de habilidades motoras ou reabilitação (MAGILL, 2000). A transferência negativa ocorre quando os estímulos ou a percepção para execução das habilidades são semelhantes, porém os movimentos ou a técnica são diferentes. Exemplos de características de habilidades suscetíveis a esse efeito negativo são a alteração da localização espacial do movimento (dirigir carro com posições do cambio diferentes) e o “timing” do movimento (a estrutura temporal da tarefa não muda mesmo quando o tempo de execução para mesma tarefa é diminuído). Em ambas as situações existem alterações na resposta para o mesmo tipo de estímulo (MAGILL, 2000). Esta forma de manifestação da transferência de aprendizagem é reversível com a partir do treinamento, logo este fenômeno não impossibilita a aprendizagem de habilidades motoras, mas implica em mais tempo para sua aquisição (MAGILL, 2000; SCHMIDT; WRISBERG, 2001).

Transferência bilateral

    Dentre as diferentes formas de transferência de aprendizagem a relação entre os diferentes membros corporais tem sido foco de investigação, assim a transferência bilateral tem representado uma importante variável de estudo (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).

    A transferência bilateral baseia-se na aprendizagem de elementos cognitivos envolvidos na execução das habilidades e no controle motor, como programação motora, que definem os aspectos temporais e espaciais requeridos nos movimentos (THORNDIKE 1914). Uma forma de ilustrar é analisar o movimento de uma piscadela e o movimento de pinça da mão para pegar um objeto, no qual a mão dominante irá ao encontro do objeto proposto, no mesmo instante ocorrem duas ações diferentes com tempo de reação distintos.

    Para Teixeira (2006), determinados componentes da tarefa como o controle de força e timing coincidente são controlados com a mesma proficiência por ambos os hemisférios cerebrais, o que gera uma transferência simétrica entre os membros nesses parâmetros. De acordo com Wrisberg (1993), o achado mais significante sobre transferência bilateral é que essa transferência é assimétrica entre os membros, ou seja, existem diferenças em termos de direção da transferência.

    A transferência de aprendizagem consiste em uma área do comportamento motor que recebe atenção cientifica atualmente, pois aborda o desempenho de uma ação motora numa situação nova ou na aquisição de uma nova tarefa motora, conseqüência de inúmeros fatores internos e externos (MANOEL, 1998; MANOEL, 1999; SCHMIDT, 1988). É representada pela aquisição de uma habilidade unilateralmente uma vez que ela já tenha sido aprendida pelo membro contralateral ou homólogo, apesar do desempenho inferior (ELLIOTT, 1985; HAYWOOD; GETCHELL, 2004; MAGILL, 1988; FERREIRA, 1999).

    Culturalmente, existe uma valorização dos destros e exclusão dos canhotos, isto é visível na etimologia das palavras direito e esquerdo; “right” (direito) e “left” (esquerdo), onde direito é sinônimo de correto e esquerdo têm significado de fraco e imprestável (ELLIOTT, 1985). Para Elliott (1985), destro deriva do latim “dextru”, significando dotado de destreza, rápido, hábil, ao contrário de canhoto que se refere ao desastrado, inábil, desajeitado. Alguns indivíduos têm a dominância de dois membros. A dominância lateral é conseqüência de uma dominância hemisférica cerebral, logo o hemisfério mais desenvolvido será determinante para a dominância lateral do individuo, esta dominância não se manifesta apenas nos membros superiores e inferiores (GUYTON, 1991). Em se tratando dos hemisférios cerebrais é importante saber se a transferência bilateral é simétrica ou assimétrica Hicks et al. (1983), assim pode-se obter informações sobre o papel dos hemisférios no controle do movimento, se os dois desempenham o mesmo papel ou não. Quando a predominância é assimétrica, deve-se treinar um membro e em seguida o outro, ficando a dúvida se ocorre mais transferência do membro dominante para o membro não dominante, ou vice-versa (PARLOW & KINSBOURNE, 1990; HAALAND & HOFF, 2003).

    Resultados divergentes têm sido encontrados sobre os efeitos da transferência bilateral assimétrica. Halsband (1992) e Thut et al. (1996) observaram resultados favoráveis quando a direção da transferência bilateral partia da prática do membro preferido para a prática do membro não preferido. Ao contrário, os estudos de Parlow e Kinsbourne (1990) e Haaland e Hoff (2003) verificaram o efeito oposto na direção da transferência bilateral. Em contrapartida, se há a transferência simétrica, não deveria haver diferença com qual membro se inicia o treinamento, pois ela ocorreria da mesma forma.

Teorias explicativas sobre a transferência bilateral

    No período dos anos 30 a 50 a transferência bilateral chamou bastante atenção pelos pesquisadores, como por exemplo, T. W. Cook, que publicou cinco artigos que foram capazes de fundamentar que a transferência bilateral ou educação cruzada, segundo ele, ocorre na aquisição de habilidades motoras. Desde então, este tema não atraiu tanta atenção, mas novas questões foram levantadas (MAGILL, 2000). Uma das explicações sobre este fenômeno é baseada na cognição. As habilidades realizadas com o membro dominante ou não dominante podem ser consideradas como habilidades distintas entre si, todavia os elementos, destas habilidades são semelhantes. Isto permite que o desempenho com o membro não treinando seja superior que o desempenho no inicial do processo de aquisição da habilidade com o membro treinado (MAGILL, 2000).

    As duas teorias mais aceitas pelos cientistas propõem que existem semelhanças entre os componentes da habilidade e o contexto, isto é, o grau de transferência é determinado pela semelhança entre as tarefas, como andar e correr, ginástica rítmica e balé. A segunda teoria se baseia nas semelhanças das solicitações de processamento, ou seja, além das semelhanças entre as habilidades em aquisição, o individuo deve se envolver em atividades de soluções de problemas, como tarefas cognitivas e rastreamento com as mãos. Ambas as tarefas executadas bilateralmente (MAGILL, 2000).

    Para que ocorra a transferência bilateral de aprendizagem, existe uma explicação cognitiva informando que, a informação relacionada com o que se almeja conseguir no desempenho da habilidade motora, é o que é transferida. Na prática com um membro adquire-se a informação cognitiva importante que será disponibilizada ao executar a habilidade motora com o outro membro (HAALAND & HOFF, 2003).

    Outra explicação é baseada no controle motor relacionada aos programas motores generalizados e as questões de ativação neuromuscular (KELSO & ZANONE, 2002). Em algumas habilidades motoras é possível atingir a meta utilizando grupos musculares atípicos, exemplo: escrever com o uso da boca e dentes. Isto é possível porque esta teoria funciona com os mecanismos de controlo temporais e espaciais, explicados anteriormente (MAGILL, 2000).

    Os programas motores generalizados, como mecanismo de controlo, pela especificação das características do movimento relacionadas com o tempo e com o espaço, numa relação integrada de percepção ação (KELSO; ZANONE, 2002).

    Em se tratando da ativação neuromuscular, HICKS et. al. (1983) determinam que parte da transferência bilateral é mediada pela comunicação inter-hemisférica, ao nível do corpo caloso, relativamente a informações sobre os componentes motores da tarefa. A mensuração pode ser feita por registros eletromiográficos detectados durante a prática, no membro oposto e inativo.

    Taylor e Heilman (1980) afirmam que a prática com a mão não-preferencial leva a uma ativação cerebral bi-hemisférica, facilitando assim a transferência para o membro preferencial. Por outro lado, a prática com a mão preferencial levaria a uma maior ativação do hemisfério esquerdo levando a um menor grau de transferência para o membro não-preferencial. Há uma tendência de que o membro treinado na tarefa seja o membro preferido pelo individuo (MAGILL, 2000). Reforçam esses pressupostos os achados de Passarotti, Banich, Sood e Wang (2002) e Tinazzi e Zanette (1998), nos quais seria possível inferir que uma maior complexidade da habilidade levaria a uma maior ativação bi-hemisférica, tendo o sistema se beneficiado desse processo na transferência da aprendizagem do membro preferencial para o não-preferencial. Na direção contrária, esse benefício poderia não ser tão claro. Sendo assim, a transferência bilateral de aprendizagem provém da constante interação entre fatores cognitivos, neuromusculares e motores.

    Outra explicação para o efeito positivo da transferência bilateral estaria na teoria do esquema proposta por Schmidt em 1975 (SCHMIDT, 1975). Essa teoria considera que os movimentos adquiridos são constituídos por elementos invariantes e variantes, isto é, o que permanece armazenado são padrões de movimentos e não movimentos específicos, estes padrões permitem variações na execução das tarefas, todavia os parâmetros eram inseridos por meio de regras abstratas chamadas de esquemas. Essa teoria, por sua vez, foi à base para a explicação de componentes específicos dos movimentos (MAGILL, 1988; SCHMIDT, 1975).

Estudos sobre a transferência bilateral

    Indivíduos iniciantes em uma determinada atividade tendem a utilizar o membro em que sentem mais conforto e confiança, visando uma execução de movimento mais eficaz. Nestes casos o membro não preferido permanece inativo gerando uma falta bilateral de competência, podendo fazer alguma diferença em suas vivências motoras em determinado momento.

    Porac e Coren (1981), a preferência manual parece ser exclusivamente funcional. A noção de que a mão preferida é a melhor ou a mais forte, está implícita quando a designamos por mão dominante. Por outro lado, nem sempre a mão preferida desempenha todas as tarefas motoras. Há casos em que o membro não dominante será acionado. Um indivíduo pode preferir o uso de uma mão para certa atividade que desempenharia de forma mais eficaz com a outra (VASCONCELOS, 2004). Tais informações são de grande relevância no processo de aprendizagem, no qual professores e treinadores encontrarão indivíduos com diferença na preferência manual ou pedal. Relacionando a tba com a preferência manual, há investigações que defendem a ausência de qualquer associação entre as duas e outras que idealizam o contrario, tornando assim um campo de investigação em aberto.

    Teixeira (2006) investigou a transferência intermanual numa tarefa de timing em direções de transferência diferentes (membro dominante para não dominante e vice-versa) e em diferentes níveis de complexidade: flexão do punho (soft tap) como tarefa simples e o “forehand” com uma raquete de badmington como tarefa complexa. Para este estudo, foram utilizados apenas indivíduos destros. Os resultados mostraram que os grupos que iniciaram a tarefa de maior complexidade e com membro dominante mantiveram o mesmo valor de atraso nas respostas. Ao ponto que, o grupo contrário manifestava diferentes formas de erros: respostas antecipadas para o membro não-dominante e ausência de uma clara tendência na direção para o membro dominante. Conclui-se que independente do uso da direção de transferência ou da complexidade da tarefa, ocorre à transferência de aprendizagem, desde que haja similaridade na especificidade das tarefas.

    Já os estudos de Taylor; Heilman (1980) e Elliott (1985) determinaram que em uma habilidade motora que envolvia sequenciamento complexo de dedos, a direção da mão não-dominante para a dominante apresentou maior eficiência na transferência bilateral para destros.

    Alguns fatores como a simetria e assimetria na transferência bilateral baseiam-se na quantidade ou proporção de transferência para o membro não-treinado. No caso de a transferência ocorrer de forma semelhante em proporção, o desempenho na tarefa entre os membros, treinado(s) e não-treinado(s), será semelhante, ocorrendo então à transferência simétrica. Ao ponto que se houver diferença no desempenho entre os membros em dada tarefa, a transferência será assimétrica. Esta questão implica tanto no desempenho dos hemisférios cerebrais no controle motor, como na abordagem de profissionais durante a aquisição de novas habilidades motoras (MAGILL, 2000).

    A transferência bilateral assimétrica é a mais aceita, contudo existe muita controvérsia se essa assimetria favorece quando o membro dominante é treinado ou para a tarefa ou o contrário (MAGILL, 2000).

    Peters (1976) mostrou que a assimetria lateral de desempenho inicialmente observada em tarefa de rapidez de toques repetidos foi eliminada após prática extensiva na tarefa com ambas as mãos. Assimetrias laterais no comportamento motor humano estão presentes tanto na preferência quanto no nível de desempenho apresentado com segmentos corporais de ambos os lados. Tais assimetrias podem ser observadas logo nas primeiras semanas de vida através de movimentos direcionais da cabeça orientados predominantemente para o lado direito do corpo em crianças descendentes de pais com preferência lateral direita (Cioni e Pellegrinetti, 1982; Liederman e Kinsbourne, 1980), assim como no maior uso da mão direita em movimentos habituais após seis meses de vida (Provins, Dalziel e Higginbottom, 1987). A concepção de que os genes trazem embutidas em seu código especificações sobre o desenvolvimento diferenciado dos hemisférios cerebrais, determinando qual deles será o hemisfério dominante em relação a certas funções, oferece-se como explicação para assimetrias laterais. Considera-se que para pessoas destras, o hemisfério cerebral direito seja o principal responsável pelo processamento paralelo e percepção de aspectos espaciais do ambiente, enquanto o hemisfério esquerdo desempenha o papel principal no seqüenciamento e temporização de movimentos (Goodale, 1990).

    Em um estudo apresentado por Carmélia Póvoas da Silva; Wellington Nascimento Araujo; Hugo Fábio Souza; Márcio Mário Vieira (2010), com a intenção de verificar a diferença na transferência bilateral entre indivíduos destros e canhotos em uma tarefa de arremesso, foi observado que os indivíduos canhotos obtiveram uma superioridade significativa baseada no conceito de transferência de aprendizagem, que é definida por experiências anteriores que influenciam o desempenho de uma habilidade numa nova situação ou na aquisição de uma nova habilidade (MAGILL, 1988). O desempenho por parte dos indivíduos canhotos se da pela capacidade de adaptação em se tratando das tarefas cotidianas que são de um modo geral preparadas para indivíduos destros. De acordo com Manoel (1998, 1999); Magill e Schmidt (1988), tais experiências geram consequentemente um controle motor mais adaptável. A amostra do estudo contou com 20 indivíduos de ambos os sexos, sendo 10 canhotos e 10 destros, voluntários e graduados em Educação Física, com o objetivo de executar o arremesso da bocha em uma pista pré-determinada contendo um alvo com demarcações escalonadas e pontuada de 1 a 9, 10 e de 9 a 1. O experimento constou da fase de aquisição (execução do movimento com membro dominante) e da fase de teste de transferência (execução do movimento com membro não dominante).

Conclusão

    Contudo, concluímos que o processo de aprendizagem e a transferência bilateral ocorrem em todos os indivíduos de forma diferenciada relacionado aos fatores intrínsecos e suas vivencias motoras. A (tba) acontece independente da sua direção (membro preferencial para não-preferencial e vice-versa), das preferências manuais e pedais do indivíduo e das explicações baseadas no processo cognitivo ou programas motores generalizados e ativações neuromusculares.

    Nas habilidades seqüenciadas há um melhor desempenho partindo do membro não dominante para o membro dominante.

    A simetria ou assimetria de transferência está diretamente relacionada à proporção com que ela acontece podendo obter resultados diferenciados com a pratica extensiva de uma determinada habilidade motora.

    Pensando no rendimento esportivo e associando às informações obtidas com o estudo, no esporte as capacidades de cada indivíduo podem e tem sido cada vez mais explorada visando o alto rendimento. É muito importante que os professores e treinadores saibam como trabalhar seus atletas ou alunos em se tratando de suas preferências manuais e pedais visando otimizar seu rendimento.

    No futebol, por exemplo, é importante que o atleta tenha um rendimento semelhante entre os membros contralaterais. Este tipo de habilidade é um fator que o diferenciará dos demais, pois nem todos possuem tal nível de comportamento motor.

    Como vimos durante o estudo, há uma pré-disposição na escolha entre os membros e órgãos sensoriais no desempenho de diferentes tarefas, as habilidades motoras são passiveis de treinamento e a transferência bilateral de aprendizagem pode ocorrer, dependendo da forma com que é trabalhada. Pensando no beneficio dos indivíduos de um modo geral, dos atletas e suas equipes, seria ideal se ambos os membros pudessem realizar o papel de ação e suporte de forma simétrica, de acordo com a situação.

    Na intenção de diminuir as assimetrias nas tarefas motoras a serem executadas por um jogador, o treinamento similar entre os lados pode ser relevante, levando em consideração estudos que defendem a idéia de que este tipo de treinamento apresenta melhorias no desempenho do lado não dominante (Haaland & Hoff, 2003; Teixeira, Silva & Carvalho, 2003), mesmo que o desempenho do membro dominante pareça ser maior.

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