1.
Introdução
Alunos do curso de Educação Física frequentam semestralmente a disciplina de
Atividades Aquáticas I, que tem como objetivo, aprendizagem dos nados crawl e
costas., É provável que os alunos da disciplina desenvolvam a capacidade de
apnéia, mesmo sem um treinamento específico para este fim, devido aos
exercícios respiratórios, ao processo de adaptação e aos demais exercícios
de condicionamento físico que ocorrem durante as aulas.
A apnéia é definida como a ausência de respiração espontânea (GUYTON e
HALL, 2006) e o tempo de apnéia pode ser aumentado em função do controle
respiratório adquirido no processo de aprendizado das técnicas. O aumento do
condicionamento físico proporcionado pelos exercícios para o aprendizado dos
nados pode proporcionar aumento da capacidade de apnéia.
A capacidade de desempenho físico pode ser influenciada pelo tempo de apnéia e
vice- versa. O aumento do tempo de apnéia implica em maior intensidade e
tolerância a hipoxía, que serve de estimulo para desenvolvimento de mecanismos
anaeróbios e aeróbios de adaptação, Fox et. al. (1999).
Sob outra perspectiva, o aumento do tempo de apnéia esta relacionado com a
adaptação ao meio líquido e reflete à melhoria de aspectos psicológicos,
pré-requisitos ao domínio do meio liquido e ao aprendizado dos dados: -
redução da sensação de desconforto e de medo ao emergir a cabeça na água.
Existem recursos ergogênicos que podem aumentar a capacidade de apnéia.
Recursos ergogênicos são definidos como meios lícitos capazes de aumentar a
performance, representada neste caso pelo tempo de apnéia. Sendo assim,
possivelmente os recursos ergogênicos poderiam contribuir com a aprendizagem
dos nados, minimizando o desconforto da imersão do rosto na água e aumentando
a aptidão física na realização dos exercícios.
A hiperoxia, definida como o aumento das concentrações de oxigênio acima dos
valores encontrados ao nível do mar, é comprovadamente um recurso ergogênico
para eventos de apnéia. A prova disso pode ser demonstrada através do recorde
mundial de apnéia após respiração de oxigênio puro em comparação com a
mesma situação em normoxia. Adicionalmente, a capacidade de recuperação
após exercício físico, desempenho de endurance, é aumentado durante
respiração hiperóxica em comparação a normoxia. Pedersen (1998) demonstra
isso, sob o ponto de vista fisiológico, investigando homens e mulheres jovens.
O referido autor obteve uma diminuição na concentração de lactato muscular
em comparação com normoxia, após os sujeitos realizarem extensão de joelhos
com 70 e 100% da carga máxima utilizando a concentração de 60% de oxigênio.
A freqüência cardíaca para a mesma carga de trabalho submáxima foi menor em
hiperoxia do que normoxia.
A presente investigação tem o objetivo de verificar o desenvolvimento do tempo
de apnéia durante a disciplina de atividades aquáticas I e se o uso de 15
minutos de hiperoxia com oxigênio puro proporciona aumento no tempo de apnéia
de alunos de Educação Física, matriculados na disciplina de atividades
aquáticas I.
A resposta ao segundo objetivo auxilia na decisão sobre o uso da hiperoxia com
a finalidade de facilitar a aprendizagem dos nados.
2.
Método
O grupo de estudo foi composto de 15 estudantes do Curso de Educação Física
da Universidade Federal de Santa Maria, matriculados na disciplina de Atividades
Aquáticas I, com media de idade 21,5 anos e desvio padrão 3,5. Todos deveriam
ter freqüência regular nas aulas (máximo 08 faltas) durante o semestre.
O experimento constou de quatro etapas, entre elas: 1) Pré-Teste de apnéia
após normoxia (AN1), realizado na quarta aula, constando três tentativas,
cronometradas, com um intervalo de cinco minutos em cada tentativa; 2) Vinte e
cinco aulas de Atividades Aquáticas I, para aprendizagem dos nados crawl e
costas; 3) Pós-Teste de apnéia após normoxia (AN2) ao final do semestre,
constando também de três tentativas, cronometradas, com intervalo de cinco
minutos entre elas; 4) Teste de apnéia após 15 minutos em hiperoxia (AH), com
uma única tentativa, realizado imediatamente após AN2. O tempo de apnéia de
cada participante foi determinado utilizando-se a média obtida em três
tentativas.
No teste de hiperoxia o tempo de exposição foi de 15 minutos e utilizou-se
99,9 % O2. Os alunos permaneceram sentados respirando oxigênio vindo de
circuito fechado como o armazenamento em Sacos de Douglas. Para o tratamento
estatístico foi tomada as médias das três tentativas de cada um dos alunos
participantes. As médias obtidas no pré e pós-teste em normoxia foram
comparadas de forma pareada, através do teste T de Student, adotando-se um
nível de significância 0,05. O mesmo procedimento foi usado para comparar AN2
e AH.
3.
Resultados e discussão
A tabela a abaixo mostra os resultados dos testes realizados:
Tabela
1. Média das três tentativas do tempo de apnéia após normoxia no pré
(AN1) e pós-teste (AN2) e após 15 minutos respirando hiperoxia (99,9 %), (AH)
A comparação dos resultados AN1 e AN2, feita através do teste T de Student
mostrou diferença significativa (p<0,05). Isso significa que houve uma
melhora, aumento do tempo de apnéia em conseqüência das atividades realizadas
na disciplina de Atividades Aquáticas I. Conforme já citado a disciplina tem
como objetivo a aprendizagem dos nados Crawl e Costa. Dessa forma fica
demonstrado o desenvolvimento da capacidade de apnéia dos alunos durante as
aulas desta disciplina. Isso ocorreu através dos exercícios gerais de
aprendizagem nos estilos de nado citados, sem que tenha havido um programa de
treinamento especifico para o desenvolvimento do tempo de apnéia.
O tempo de apnéia dos alunos da disciplina de Atividades Aquáticas I aumentou
com a participação nas aulas da disciplina, porém uma preparação
especifica, um treinamento para desenvolvimento da técnica de apnéia, como por
exemplo, a imersão, manobras de hiperventilação ou outra técnica especial
possibilitaria um melhor resultado, pois a performance dos alunos na
realização dos testes se demonstrou instável, o que ocorre em função da
técnica deficiente para realização das manobras de apnéia.
O aprendizado da técnica de Frenzel, citado pela associação internacional de
desenvolvimento da apnéia, poderia melhorar ainda mais o resultado obtido nesta
investigação. Sendo assim, é possível que o valor do tempo de apnéia medido
desta investigação subestime a real capacidade de apnéia dos participantes e
o nível de desenvolvimento desta capacidade proporcionado pelas aulas da
disciplina. Em síntese, em função da deficiência de uma técnica mais
apurada o fator tentativa e erro pode ter contribuído negativamente para que o
tempo de apnéia não tenha correspondência com o real limite fisiológico dos
estudantes.
A comparação dos tempos de apnéia entre as situações AN2 e AH, possibilita
a verificação de possível ganho no tempo de apnéia, pré-requisito para o
uso da hiperoxia com a finalidade de facilitar a aprendizagem. O resultado da
comparação através do teste T de Student para dados pareados, não apresentou
diferença estatística significativa (p> 0,05). A provável explicação
para este resultado, uma vez que se encontra comprovado o efeito positivo da
hiperoxia sobre o tempo de apnéia (fonte), é atribuída ao fato de que o tempo
de exposição hiperóxica foi insuficiente.
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Agosto de 2011
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