Comparação da percepção subjetiva de esforço entre membros superiores e inferiores na intensidade do limiar ventilatório em atletas de basquete universitário Comparación de la percepción subjetiva de esfuerzo entre los miembros superiores e inferiores en la intensidad del umbral ventilatorio en jugadores de baloncesto universitario |
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*Graduado em Educação Física - Universidade Católica de Brasília – UCB **Mestrando em Educação Física - Universidade de Brasília – UNB ***Mestre em Educação Física - Universidade Católica de Brasília – UCB (Brasil) |
Thiago Santos da Silva* ** Lucas Cezar Vilela Mendes* Michel Santos da Silva* *** |
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Resumo Este trabalho teve como objetivo comparar a percepção subjetiva de esforço de membros superiores e inferiores na intensidade do limiar ventilatório em atletas de basquete universitário. Foram avaliados 10 atletas, em um cicloergômetro e ergômetro de membros superiores até atingirem a intensidade referente ao Limiar Ventilatório. Os resultados revelaram que no cicloergômetro os atletas obtiveram na Percepção Subjetiva de Esforço valores maiores que no ergômetro de membros superiores. Isso aconteceu, provavelmente, devido à quantidade de massa muscular envolvida no cicloergômetro ser maior que no ergômetro de membros superiores. Unitermos: Limiar anaeróbio. Limiar ventilatório. Consumo de oxigênio. Percepção subjetiva de esforço.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
Existe um grande interesse por parte da comunidade científica em desenvolver métodos precisos que possibilitem quantificar a capacidade dos indivíduos em realizar trabalho físico. Assim, muitos são os protocolos que têm procurado determinar as variáveis fisiológicas capazes de predizer o desempenho e que também possam ser utilizados como índices de referência para a prescrição e controle dos efeitos do treinamento (DENADAI, 2000). Dentre os índices mais utilizados, destaca-se o Limiar Anaeróbio.
O Limiar Anaeróbio (LAn) é a intensidade do exercício em que a produção de lactato é superior a remoção (SVEDAHL, 2003) concomitante com um aumento da ventilação e da glicemia (WASSERMAN & KOYAL apud MOREIRA et al., 2007). Têm sido alvo de diversas pesquisas nas últimas décadas (BALIKIAN et al., 2002; DENADAI et al., 2002; CAIOZZO et al, 1982; PEDROSA, 1997), uma vez que as informações produzidas a partir da determinação deste parâmetro são de grande utilidade, para a prescrição da intensidade do exercício (JACOBS, 1986; MEYER et al., 1999) controle dos efeitos do treinamento (GASKILL et al., 2001; KEITH et al., 1992) predição do desempenho físico (COYLE, 1995; ROECKER et al., 1999), é também indicador da capacidade cardiorrespiratória (SILVA et al., 2005). Podendo ser aplicado tanto em indivíduos atletas (BALIKIAN, 2002) quanto para populações especiais (SIMOES et al., 2010; DENADAI et al., 2002; WASSERMAN et al,1964; MOREIRA et al, 2007).
Existem varias formas encontradas na literatura para se estimar o LAn, são elas: Limiar de Lactato (ROCHA, 2010), Lactato Mínimo (ZAGATTO et. al., 2004; SANTHIAGO et . al., 2008). Máxima Fase Estável do Lactato (Hagberg, 1986), Limiar Ventilatório (OKANO et al., 2006). O método ventilatório baseia-se nas mudanças do padrão da ventilação, do consumo de oxigênio e da produção de CO2 durante o exercício progressivo, (BEAVER et al.,1986; REINHARD et al., 1979), é caracterizado pela incapacidade do sistema respiratório em tamponar o H+, como conseqüência a VE aumenta desproporcionalmente a eliminação de CO2, o que eleva o VE/VCO2 (BEAVER et al.,1986; REINHARD et al., 1979; WASSERMAN et al., 1994).
Porém, a realização desse protocolo requer a presença de técnicos, laboratórios e equipamentos sofisticados, o que demanda um alto custo. Para minimizar esses gastos, foram criados métodos indiretos que permitem o estimar o LAn através de escalas de percepção de esforço (BORG, 1982). A Escala de Borg de 15 níveis é um instrumento prático, de simples manipulação e é associado intensidade do exercício. Estudos buscaram associar o Limiar Ventilatório com a Percepção Subjetiva de Esforço (PSE), em cicloergômetro (DENADAI, 2002; BERTUZZI et al., 2008; MAHON et al., 1997; HILL et al., 1989), esteira (ARTONI, 2007) . Outros têm identificado que o LAn pode ser encontrado em intensidades diferentes dependendo da modalidade (BENEKE et al., 1996) e da massa muscular envolvida (BENEKE et al., 2001). Porém, não foram encontrados estudos comparando os valores de PSE entre membros superiores e inferiores de um mesmo indivíduo em uma mesma intensidade.
Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi comparar a Percepção Subjetiva de Esforço na intensidade do Limiar Ventilatório entre membros superiores e inferiores de atletas de basquete universitário.
Objetivo
Comparar a Percepção Subjetiva de Esforço entre membros superiores e inferiores na intensidade do Limiar Ventilatório em atletas de basquete universitário.
Materiais e métodos
Amostra
A amostra foi inicial foi composta por 10 indivíduos, voluntários, do sexo masculino, saudáveis, que treinavam quatro vezes por semana, atletas de basquetebol da Universidade Católica de Brasília. Instituição de ensino superior situada na cidade de Taguatinga, Distrito Federal.
Procedimentos
Todos os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido informando os propósitos bem como os riscos e benefícios para cada participante, respeitando a resolução nº. 196/96, sobre normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Os voluntários foram instruídos a não realizar exercício físico nas 24 horas anteriores aos testes, bem como não ingerirem bebidas alcoólicas ou suplementos alimentares nas 48 horas que anteriores. Não houveram voluntários com histórico de doença cardiovascular ou osteomioarticulares de membros superiores e inferiores que pudessem impedir a realização dos exercícios propostos nesta pesquisa.
Antropométrica
A mensuração da estatura foi realizada com o corpo o mais alongado possível, como recomendam Lohman et al. (1991), as mensurações foram tomadas em triplicata e a média da estatura foi registrada. A estatura foi medida por um estadiômetro (modelo “Personal Line”), com resolução de um centímetro.
A balança utilizada para a mensuração da massa corporal foi a Filizola® eletrônica/digital, com resolução de 100 gramas (modelo “Personal Line”). O avaliado se posicionou em pé, de costas para a escala da balança, com afastamento lateral dos pés, estando à plataforma entre os mesmos. Em seguida, o sujeito foi colocado sobre o centro da plataforma, ereto, com o olhar em um ponto fixo a sua frente.
Avaliação do Limiar Ventilatório
As avaliações foram realizadas no Laboratório de Estudos de Fisiologia do Exercício (LEFE) da Universidade Católica de Brasília UCB.
Os voluntários fizeram duas visitas ao LEFES. Na primeira visita realizaram o teste submáximo em um Cicloergômetro da marca Monark Ergomedic 828E e na segunda visita realizaram outro teste submáximo em um Ergômetro de Membros Superiores da marca Monark, foi utilizado um protocolo de incremento de carga 0,5 Kp de 3 em 3 minutos com uma cadência de 70 rotações por minuto (RPM) para ambos os testes, até o voluntário atingir seu limiar ventilatório. Para cada sessão de teste foi respeitado o intervalo mínimo de 48 horas e no máximo 72 horas. Durante o período de repouso foi aconselhado aos participantes que não executassem nenhum tipo de exercício.
O cicloergômetro foi ajustado com o banco na altura da crista ilíaca, onde os joelhos não ficassem completamente estendidos, empregando-se uma rotação fixa de 70 rpm. A carga inicial foi de 0,5 2p, com incrementos de 0,5Kp a cada 3 minutos, até o alcance do Limiar Ventilatório do voluntário.
O ergômetro de braço foi ajustado de modo que ombro permanecesse na mesma altura do eixo da manivela e os cotovelos não ficassem completamente estendidos, empregando-se uma rotação fixa de 70 rpm. A carga inicial foi de 0,5 2p, com incrementos de 0,5Kp a cada 3 minutos, até o alcance do Limiar Ventilatório do voluntário.
A análise dos gases (VE, VO2 e VCO2) foi realizada continuamente pelo analisador metabólico do modelo VO2000.
Percepção Subjetiva de Esforço (PSE)
Para a avaliação da PSE foi utilizado à escala de Borg com 15 níveis. A escala é composta de 15 níveis divididos entre 6 a 20, iniciando em “muito, muito leve” e terminando em “muito, muito difícil”. Todos os participantes foram orientados antes do início do teste para uma melhor interpretação da escala.
Análise estatística
A análise dos dados foi feita de forma descritiva, utilizando o test t de Student para comparação entre os testes, software utilizado para análise estatística foi Instat 3.36 para Windows O nível de significância adotado foi de p < 0,05.
Resultados e discussão
O objetivo desse estudo foi comparar a percepção subjetiva de esforço na intensidade do limiar ventilatório entre membros superiores e inferiores em atletas de basquete universitário. Para tanto a Tabela 1 mostra o perfil da amostra estudada, já a Tabela 2 apresenta os valores da Percepção Subjetiva de Esforço utilizando os diferentes protocolos. Podemos observar que foi encontrada diferença estatística significante p= 0, 0100.
Tabela 1. Perfil da amostra. Valor descritivo, média e Desvio padrão (±DP) das variáveis antropométricas. (n=10)
Figura 1. Comparação da Percepção Subjetiva de Esforço
em atletas de basquete universitário; n=10, p=0,0100 e r=0,5615
Em nosso estudo foi encontrado um p= 0, 0100, demonstrando que ocorreu diferença estatisticamente significante. Isso pode ter ocorrido devido à quantidade diferenciada de massa muscular envolvida na execução dos exercícios, os membros superiores têm menor quantidade de massa muscular, por isso o limiar ventilatório ocorreu em coincidência com uma PSE menor do que quando realizado com membros inferiores.
A quantidade de massa muscular envolvida na execução do movimento pode trazer alguma influência, como em um estudo publicado por Sawka (1982) onde o mesmo reporta que o VO2MÁX de membros superiores é de 68% dos membros inferiores para um mesmo indivíduo.
Esse comportamento do IPE parece ser explicado por um maior número de impulsos do córtex motor para o centro de controle cardiovascular, estando diretamente relacionado à sensação do esforço durante o exercício, acreditando contribuir para o aumento da PSE (MITCHELL et al., 1980 apud ERNESTO et al., 2009). Porém, deve-se levar em consideração que o estudo acima foi realizado com exercícios resistidos.
Conclusão
Conclui-se no estudo que a Percepção Subjetiva de Esforço é maior quando o exercício é realizado em um ergômetro de MMII do que no ergômetro de MMSS, este fator pode ser dar pelo maior envolvimento de massa muscular durante a atividade e parece ser explicado por um maior número de impulsos do córtex motor para o centro de controle cardiovascular, estando diretamente relacionado à sensação do esforço durante o exercício conforme (MITCHELL et al., 1980 apud ERNESTO et al., 2009).
Mais sugerimos novos estudos utilizando o mesmo protocolo com uma população maior e com indivíduos atletas de esportes de movimentos cíclicos para melhor performance dentro das avaliações simulando uma atividade de costume dos mesmos.
Referências bibliográficas
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