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Análise da marcha de um paciente com 

reconstrução do nervo fibular unilateral

Análisis de la marcha de un paciente con reconstrucción del nervio fibular unilateral

 

*Acadêmicos de Fisioterapia do UNINORTE

**Preceptor de Estágio do UNINORTE

***Professor e Orientador do UNINORTE

(Brasil)

Izabel Cristina de Sousa Leite*

Lidiely Dácio Sabóia*

Michele da Silva Panfilio*

Natan de Oliveira Pantoja*

Vivian Monique Farias do Nascimento*

Sione Bezerra Lopes*

Luis Gustavo Gambim Pinto**

Jansen Atier Estrázulas***

jansenef@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Para muitos pacientes a deambulação é um dos principais objetivos funcionais. A deambulação humana, ou marcha, é um dos componentes básicos do funcionamento independente que costuma ser afetado por processos de doença ou lesão. Melhorar ou mesmo manter uma marcha funcional é uma tarefa desafiadora e tem sido de grande preocupação para os profissionais da área de saúde. Embora andar seja um movimento inconsciente e quase automático, é altamente complexo, pois exige a perfeita harmonia do corpo internamente enfrentando as forças externas que estão em constante ação sobre nossos segmentos. O objetivo desse estudo é descrever o comportamento biomecânico da marcha de um indivíduo em processo de reabilitação após lesão do nervo fibular comum. Sendo assim realizou-se um estudo quantitativo de uma forma descritiva e exploratória, a partir de um estudo de caso envolvendo um indivíduo do gênero masculino, 44 anos, que apresentou lesão do nervo fibular comum do membro inferior esquerdo, após um mecanismo traumático da fíbula. Durante a coleta de dados o paciente deambulou por uma passarela onde se realizou uma avaliação videográfica no plano sagital, os dados cinemáticos foram processados através do Software Peak Motus e os dados cinéticos foram avaliados através de uma plataforma de força e tratados através do software SAD 2 versão 2.5. Os resultados permitem inferir que o paciente realiza uma marcha com alterações quando comparada aos padrões da normalidade, onde o lado lesionado, o membro inferior esquerdo, está abaixo dos valores considerados normais em todas as variáveis de força de reação do solo e o membro inferior direito apresenta maior recepção de carga o que caracteriza ações compensatórias realizando assim um mecanismo de proteção em relação ao lado lesionado. Adicionado a isso temos as alterações angulares que principalmente destacamos a flexão de joelho maior do lado não afetado na fase de resposta a carga durante o contato. Estes resultados permitem concluir que o paciente em questão necessita de uma reeducação da marcha para melhorar a sua funcionalidade e permitir um andar com mais fluidez e precisão.

          Unitermos: Fisioterapia. Biomecânica. Marcha. Nervo Fibular comum.

 

Abstract 

          For many patients walking is a major functional objective. The human walking, or gait, is one of the basic components of the independent operation which is plagued by cases of illness or injury. The objective of this study is to describe the biomechanical behavior of an individual's gait in rehabilitation after injury of common peroneal nerve. So there was a quantitative study in a descriptive and exploratory, from a case study involving an individual male, 44 year old, who had a lesion of the common peroneal nerve of the left leg after a traumatic mechanism of the fibula. During data collection, the patient walked on a pathway where they underwent a videographic evaluation in the sagittal plane kinematic data were processed using the Peak Motus Software and kinetic data were evaluated using a force platform and processed by software SAD 2 version 2.5. The results may imply that the patient performs a gait changes when compared with normal values, where the injured side, the left leg, is below normal values in all variables of ground reaction force and lower limb has higher load reception featuring the compensatory actions thus creating a protective mechanism against the injured side. Added to this we have the angular changes that highlight mainly the knee flexion greater than the unaffected side in the response phase of the load during contact. These results indicate that the patient in question needs a reeducation of gait to improve its functionality and allow a walk with more fluidity and precision.

          Keywords: Physiotherapy. Biomechanics. Gait. Commom peroneal nerve.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A marcha é um fenômeno complexo que requer a repetição de movimentos coordenados dos membros para locomover o corpo (CHUNG, 1999). Neste sentido Perry (2005), afirma que o andar é um meio natural do corpo para se deslocar de um local para outro. Dessa forma a marcha é fundamental para o deslocamento humano sendo um componente presente por toda a vida.

    Segundo Kisner (2005), as articulações, os ligamentos e os músculos do tornozelo e do pé são projetados para promover estabilidade bem como mobilidade às estruturas distais do membro inferior. O pé precisa suportar o peso corporal durante a bipedestação, com um mínimo de gasto de energia muscular. Ele deve ser capaz de adaptar-se para absorver forças e acomodar-se a superfícies irregulares e, também, deve ser capaz de tornar-se uma alavanca estrutural rígida para fazer a propulsão do corpo à frente durante a caminhada e a corrida.

    O’Sullivan e Schimitz (2004), afirmam que a marcha é um dos componentes básicos do funcionamento independente que costuma ser afetado por processos de doença ou lesão. Nas lesões do nervo fibular comum os principais músculos afetados são os dorsiflexores do tornozelo que causam uma marcha patológica dificultando a progressão do corpo para frente.

    A marcha é definida como um método de locomoção envolvendo o uso de duas pernas de modo alternado, para fornecer suporte e propulsão a ambas, pelo menos um pé estando em contato com o solo todo o tempo. Ou uma série de movimentos altamente coordenados, na qual o equilíbrio está sendo constantemente desafiado e continuamente recuperado.O padrão de marcha inclui a velocidade de locomoção (centímetros por segundo) e o número de passos completados por unidade de tempo (passos por minuto), também chamado de cadência (SCHUSTER, 2007). Esse padrão usualmente afetado após uma lesão, pois o individuo na grande maioria das vezes encontra-se inseguro.

    É difícil, à observação clínica, analisar estes fenômenos, e quantificar seu grau de afastamento da normalidade. Tais limitações levaram médicos, biologistas, engenheiros e estudiosos do movimento a desenvolver recursos de registro e análise de marcha. A análise de marcha oferece dados importantes para a compreensão e tratamento de distúrbios da locomoção. Sua importância é tal que justificou a criação dos chamados Laboratórios de Movimento (SAAD et al, 1996).

    A Fisioterapia é fundamental para a reabilitação de pacientes após mecanismos traumáticos que acometem nervos periféricos e que ocasionam déficit sensorial e motor.

    Porém, o profissional de fisioterapia deve compreender os fenômenos que ocorrem nestes casos, podendo desta forma conhecer a causa da não realização de tais movimentos.

    De acordo com Moore (2001), Os nervos unem o sistema nervoso central aos órgãos periféricos e tem como função conduzir, através de suas fibras, impulsos nervosos do sistema nervoso central para a periferia (impulsos eferentes) e da periferia para o sistema nervoso central (impulsos aferentes). Os nervos periféricos são freqüentemente traumatizados, resultando esmagamentos ou secções que trazem como conseqüência perda ou diminuição da sensibilidade e da motricidade no território inervado.

    Como resultado das lesões as estruturas musculares ficam impedidas de receber ou enviar os estímulos e assim realizar os movimentos adequados e necessários para uma marcha correta.

    Nesse caso se o nervo fibular comum for danificado, há paralisia dos músculos tibial anterior, extensor longo do hálux, extensores longos e curto dos dedos e fibular terceiro.

    O nervo fibular comum fica muito exposto quando deixa a fossa poplítea e se curva em torno do colo da fíbula para penetrar no músculo fibular longo.

    Comumente ele é lesionado na fraturas do colo da fíbula e por pressão de moldes ou talas. Como conseqüência ocorre alterações motoras, onde a musculatura anterior e lateral da perna é paralisada, a saber, o tibial anterior, os extensores longos e curtos dos dedos, o fibular terceiro, o extensor longo do hálux.

    Como resultado, os músculos antagonistas, os flexores plantares da articulação talocrural e os inversores das articulações subtalar e transversa do tarso, levam o pé à flexão plantar (pé caído) e inversão. Uma atitude referida como pé equinovaro.

    Existe ainda perda da sensibilidade abaixo dos lados anterior e lateral da perna e do dorso do pé e dedos, incluindo o lado medial do hálux.

    Segundo Ferreira (2006), um paciente com lesão completa do nervo fibular comum apresenta uma paralisia da dorsiflexão e eversão do pé e extensão dos dedos, resultando no pé caído, com a marcha característica em elevação forçada do joelho, a fim de evitar que a ponta do pé bata no solo. No estudo de Perry (2005), a falha dos músculos Pré-tibiais (principalmente o tibial anterior) para produzir uma força adequada de dorsiflexão permite que o pé caia de um modo incontrolado. Se somente o tibial anterior é afetado, a queda do pé envolve somente o medial do pé. A atividade mantida pelo extensor do hálux, extensor longo dos dedos e fibular terceiro produz uma composição de dorsiflexão e eversão.

    A marcha escarvante (pé caído), é encontrada em lesões do nervo fibular comum, não permitindo dorsiflexão do pé.

    Este tipo de marcha é de observação corrente nas afecções do neurônio motor periférico. Quando há comprometimento do nervo peronial comum (fibular ou ciáticopopliteo externo), que acarreta flacidez da perna e déficit dos músculos dorsiflexores do pé, o paciente caminha levantando excessivamente a perna, à custa de enérgica flexão da coxa sobre o quadril (marcha Escarvante). Pode ser observada em paciente com lombociatalgia - uma marcha saudatória ou antalgica na qual o membro afetado é mantido em atitude antalgica de semiflexão (para evitar o estiramento da raiz comprometida) e na deambulação esta posição é conservada, e ao avançar o paciente inclina o tronco para frente (tronco fletido).

    Segundo Porto (2005), a marcha escarvante ocorre quando o doente tem paralisia do movimento de flexão dorsal do pé, ao tentar caminhar toca com a ponta do pé no solo e tropeça. Para evitar isso, levanta acentuadamente o membro inferior.

    Os laboratórios de análise da marcha são importantes para avaliação através da coleta de dados para diagnosticar as alterações da marcha de cada individuo. Direcionando os profissionais a escolha de métodos de tratamento mais adequados à necessidade de cada paciente, possibilitando ainda técnicas preventivas à saúde, diminuindo riscos de disfunções e incapacidades, preparando o paciente para o retorno de suas independências e habilidades, proporcionando melhora na qualidade de vida em pacientes acometidos por tal lesão.

    Neste sentido, a avaliação da marcha de um paciente deve ser incluída em qualquer avaliação dos membros inferiores. Por essa razão, é importante se conhecer os parâmetros normais da marcha e o mecanismo da marcha. Com tal conhecimento, as maneiras com que a marcha é alterada em condições patológicas podem ser melhor compreendidas (MAGGE, 2005). A descrição do movimento consiste principalmente em tornar uma habilidade motora simples ou complexa e defini-la como uma série de movimentos individuais que estejam cinemática e cineticamente encadeados. As análises articulares e musculares, embora extremamente simples, são fundamentais à análise qualitativa do movimento (RASCH, 1991).

    De acordo com Durward & Baer (2001), para os fisioterapeutas a variação de movimento articular constitui uma medida essencial, que quase sempre é realizada em uma posição estática. Quando se trata de observar estes movimentos durante tarefas funcionais como a marcha, o terapeuta deve confiar na avaliação subjetiva.

    O que se deve ter em mente ao realizar qualquer tipo de análise de marcha é que se esta observando os efeitos e não as causas, ou seja, as alterações detectadas não são conseqüências apenas do processo patológico, mas também dos mecanismos de compensação utilizados. Diante disso, é necessário sistematizar o processo de análise, seja qual for o método utilizado, pois só dessa maneira será possível detectar as anormalidades, comparar e, eventualmente chegar a conclusões (HEBERT, et al, 2009).

    Quando confrontado com um distúrbio da marcha, o examinador tem que observar a postura o paciente e a atitude as posições dominantes das pernas, do tronco e dos braços. É uma boa prática observar os pacientes enquanto caminham para a sala de exame, quando é mais provável que caminhem mais naturalmente que durante os exames especiais. Eles devem ser solicitados a ficar em pé, com os pés juntos e a cabeça ereta, com os olhos abertos e, em seguida, fechados, enquanto move a cabeça de um lado para outro, teste que elimina os estímulos visual e vestibular e isola os mecanismos aferentes propioceptivos como aqueles que mantêm o equilíbrio Adam & Victor (1998), Basmajian (1987).

    Segundo Basmajian (1987), quando se examina um paciente com um padrão de marcha anormal, devem-se seguir certos princípios. Depois de ter feito a história clínica do paciente, o examinador deve deixar o paciente mostrar várias vezes a sua marcha, porque algumas doenças podem ser detectáveis apenas durante a marcha rápida, enquanto que outras só são nítidas durante a marcha muito lenta. De modo semelhante ficar de pé, subir e descer uma ladeira e subir escadas, podem mostrar as alterações da marcha. Enquanto o paciente anda, cada uma das articulações deve ser observada separadamente e deve-se fazer uma comparação mental com a função normal.

    Quando todos os testes foram executados com sucesso, pode-se presumir que qualquer dificuldade na locomoção não se deve a comprometimento de um mecanismo proprioceptivo, labiríntico, vestibular, dos gânglios da base ou cerebelar. O exame musculoesquelético e neurológico bem detalhado é, então, necessário para determinar qual dentre os vários outros distúrbios de função é responsável pelo distúrbio de marcha do paciente Adam & Victor (1998).

    Caracterizada a importância da avaliação da marcha patológica, formulou-se o objetivo desse estudo, que é descrever o comportamento biomecânico da marcha de um indivíduo em processo de reabilitação após lesão unilateral do nervo fibular comum.

Materiais e métodos

    Essa pesquisa caracteriza-se por ser uma pesquisa de cunho quantitativa, descritiva e exploratória, onde a nossa proposta foi analisar através de dados descritivos as variáveis angulares e cinéticas de um indivíduo com lesão do nervo periférico.

    Este estudo de caso avaliou um indivíduo do gênero masculino, com 44 anos de idade, que sofreu um mecanismo traumático luxando o tornozelo e fraturando a fíbula do membro inferior esquerdo, onde o mesmo realizou osteossíntese, apresentando desde o trauma, déficit motor e sensitivo sendo assim submetido a procedimento neurocirúrgico, neurólise, retirada de neuroma e neurorrafia terminoterminal do nervo fibular comum esquerdo, utilizando o nervo tibial do lado contralateral (direito).

    O indivíduo encontra-se em fase de tratamento fisioterapêutico há um ano e dois meses com protocolo de cinco sessões por semana, sendo dois dias de eletroterapia e três dias de hidroterapia. O processo de inclusão deste paciente ocorreu de forma intencional devido o mesmo apresentar um diagnóstico de lesão do nervo fibular comum.

    Após aprovação do Comitê de Ética o paciente foi avaliado no laboratório de Biomecânica do Centro Universitário do Norte localizado na cidade de Manaus-AM. Antecipadamente foi realizado um agendamento, onde foi consentida a participação do paciente através da assinatura do termo de consentimento livre esclarecido.

    Para a coleta de dados utilizou-se uma Plataforma de força da marca Roesler®, de dimensões 50 x 50 cm, uma câmera digital Panasonic com freqüência de aquisição 30Hz, um calibrador de um metro quadrado de comprimentos, marcadores corporais com fita reflexiva para demarcação dos pontos anatômicos, fita métrica, Software do Sistema Peak Motus e o software SAD 2.

    Durante a coleta de dados o paciente apresentou-se em traje de banho sendo orientado quanto ao procedimento, onde o mesmo deambulou por uma passarela com dez metros de comprimento por um metro e vinte centímetros de largura. No centro dessa passarela havia uma plataforma de força nivelada ao solo para coletar informações de força de reação do solo do membro inferior lesionado e não lesionado. Para a análise cinemática a câmera foi posicionada de forma a gravar as imagens referente ao plano sagital bilateral do sujeito. Para uma melhor visualização foram fixados marcadores nos seguintes pontos anatômicos selecionados: acrômio, trocânter maior do fêmur, linha articular do joelho, maléolo lateral, cabeça do quinto metatarso e linha média posterior do calcâneo.

    Os dados cinemáticos foram processados através do Software Peak Motus, onde foram calculados os ângulos do tronco, quadril, joelho e tornozelo do membro afetado e não afetado. Já as variáveis cinéticas foram processadas através do Software SAD 2 na versão 2.5, sendo avaliados o primeiro pico de força, segundo pico de força e a força de suporte médio.

Resultados e discussão

    Apesar da existência de pesquisas científicas sobre as neuropatias periféricas que incluem o nervo fibular comum, ainda são poucos os dados informativos e descrições sobre o tema abordado. Dessa forma, dificulta comparar estatisticamente os resultados obtidos da análise em questão com estudos que contenham pacientes semelhantes. Para uma melhor exposição das informações os resultados serão divididos em duas categorias de variáveis estudadas: variáveis angulares e variáveis cinéticas.

Variáveis angulares

    As variáveis cinemáticas incluem aceleração, velocidade e deslocamento angular. O deslocamento angular descreve as amplitudes de movimentos articulares durante a marcha (KIRKWOOD, 2007).

    A análise cinemática é um método importante para a discussão e confirmação das alterações em relação à postura adotada na marcha, a distância entre os pontos analisados são utilizadas para confirmar os desvios presentes no ciclo por meio dos protocolos já estabelecidos. Amadio et al (2006), afirmam que o instrumento básico para medidas cinemáticas é o baseado em câmeras de vídeo que registram a imagem do movimento e então através do software especifico calculam as variáveis cinemáticas de interesse. Desta forma, temos a seguir a figura 1 e 2 contendo as imagens do andar do paciente pesquisado, sendo que o lado esquerdo é o afetado e o lado direito é o não afetado.

    O estudo biomecânico das articulações de forma individual durante a marcha leva a uma maior compreensão do papel de cada articulação durante o movimento, contribuindo assim para a elaboração de melhores programas físicos de reabilitação, prevenção e treinamento de performance (KIRKWOOD, 2007).

Figura 1. Fotos do hemicorpo esquerdo durante a marcha

 

Figura 2. Fotos do hemicorpo direito durante a marcha.

    Durante a análise cinemática o indivíduo apresentou no ciclo da marcha às seguintes características: ao deslocar o quadril o indivíduo perfaz uma rápida extensão do lado lesionado que se justifica pela rápida colocação do pé no solo devido à instabilidade na sustentação ao realizar uma curta descarga de peso em relação ao lado não afetado no qual o indivíduo realiza uma maior flexão de quadril estando dentro dos padrões normais.

    Segundo Perry (2005), o quadril desloca-se somente através de dois arcos de movimento durante uma passada normal: extensão durante o apoio e flexão no balanço. Entretanto, ao final do ciclo temos uma pequena extensão do quadril para finalizar o ciclo e fazer a colocação do retropé no solo. Nesta fase que o paciente do presente estudo obteve alteração entre os lados direito e esquerdo e também entre o lado direito que é a descrição de padrão de normalidade feita na literatura (PERRY, 2005; O’SULLIVAN e SCHMITZ, 2004).

    Analisando o ângulo do joelho do sujeito da pesquisa, esta variável caracterizou-se por realizar uma maior flexão durante o inicio do ciclo, fase de recepção da carga, totalizando uma flexão máxima nesta fase do lado não afetado de 30º, enquanto do lado afetado apenas de 20 º.

    Observar-se que os valores de angulação possuem diferença, uma vez que, no início do ciclo da marcha o indivíduo realiza uma flexão maior do lado direito com o objetivo de distribuir e amortecer a carga recebida para minimizar o impacto da descarga do peso. De acordo com Ottoboni (2002), na marcha hemiparética ocorre uma hiperextensão do joelho durante toda a fase de apoio, principalmente no nas subfases de resposta a carga e apoio médio; ou flexão de joelho aumentada por toda a fase de apoio. Estas alterações tanto em hiperextensão quanto em flexão durante o apoio caracteriza-se como alteração da marcha para uma ação compensatória do comprometimento do membro em estudo ou do lado contralateral.

    O paciente com lesão do nervo periférico durante a deambulação no contato inicial do lado afetado não realiza a flexão plantar controlada pelos dorsiflexores, pois já inicia com flexão plantar tocando todo o pé no solo. Com isso ocorre também maior flexão plantar na fase de balanço, não preparando esta parte do corpo para finalizar corretamente o ciclo. No estudo de Hebert et al (2009), o grupo de pesquisadores destacou que o tornozelo é uma articulação em dobradiça com movimentos em um plano e, portanto, sua análise limita-se ao estudo do plano sagital e descreve a dorsiflexão inadequada do pé durante a fase de balanço. Como conseqüência o contato inicial não ocorre com o calcâneo, produzindo a marcha em eqüino e alterações nos joelhos e nos quadris, muito semelhante a marcha encontrada no presente estudo.

Variáveis cinéticas

    As variáveis cinéticas incluem as forças de reação do solo, os momentos de força, potência e trabalho das articulações durante o movimento. O momento de força caracteriza a somatória das forças dos músculos, tendões, ligamentos e ossos que estão agindo internamente para opor as forças externas que agem sobre o nosso corpo (KIRKWOOD, 2007).

    A cinética mede a ação deformadora da força sobre os corpos através de um método direto onde se determinam as forças externas as quais são pré-requisitos necessários para o cálculo das forças internas (AMADIO et al, 2006). Um dos métodos mais utilizados por pesquisadores biomecânicos é a avaliação da força de reação do solo durante a marcha. Para tanto, utiliza-se a plataforma de força e posterior ao tratamento dos resultados são plotadas as curvas de força. Desta forma, temos a seguir a Figura 3, contendo a avaliação da força de reação do solo representada em gráfico, mostrando a curva média de 3 contatos completos do pé do lado direito e esquerdo do paciente pesquisado. Este apresenta a força expressa em valores referente ao peso corpóreo do sujeito em função do tempo.

Figura 3. Força vertical de reação do solo do lado durante um apoio completo.

Obs.: o lado direito está caracterizado pela linha contínua, e a linha pontilhada caracteriza o lado esquerdo afetado.

    O movimento e a massa corporal fazem uma relação entre duas forças que agem em um corpo, sendo estas, objeto de estudo da cinética. Segundo Hamill (2008), as FRSs na locomoção representam a somatória algébrica de todas as acelerações dos seguimentos.

    Os perfis mudam constantemente com o tempo, sendo em geral apresentados como uma função do tempo. Barela (2006) diz que para a normalização poder ser feita por meio do valor do peso corporal do indivíduo, em que o resultado obtido de um determinado indivíduo na plataforma de força é dividido pelo seu peso corporal. Podendo ser realizado também pela normalização temporal da duração da FRS, estabelece-se no início dos dados da FRS corresponda a 0% e o final a 100% e então o procedimento matemático chamado interpretação é utilizado para gerar um determinado número de pontos entre 0 a 100% para diferentes repetições.

    Através dos dados coletados verificamos as principais características presentes na marcha patológica do indivíduo. Na representação da figura 3, o lado não afetado (linha contínua) apresenta maior magnitude durante o contato com o solo, enquanto que do lado afetado (linha pontilhada) podemos observar uma diminuição no pico do inicio do ciclo da marcha, devido à diminuição de descarga de peso realizada pelo indivíduo.

    Os dados obtidos na análise cinética do primeiro pico força (PPF) e do segundo pico força (SPF) e a força de suporte médio (FSM) foram descritos na Tabela 1 e 2, os resultados referente ao lado afetado e não afetado, apresentam valores em N e seus respectivos percentuais, havendo diferenças no primeiro e segundo pico em relação ao lado direito e lado esquerdo respectivamente. Na tabela 1 os valores de força de reação do solo apresentam-se dentro da normalidade, comparado ao estudo de Hamill e Knutzen (2008), que descrevem como valores normais 100%-120% do peso corporal do indivíduo no PPF e SPF, porém o lado esquerdo apresenta valores abaixo em relação ao lado direito, indicando alteração na condução de descarga de força.

Tabela 1. Valores dos Picos da força de reação do solo do membro inferior direito

 

Tabela 2. Valores dos Picos da força de reação do solo do membro inferior esquerdo

    Segundo Perry (2005), para o valor máximo de força de reação de solo é considerado normal 110% em indivíduos saudáveis. No presente estudo o indivíduo apresenta como característica principal um percentual abaixo dos padrões de normalidade no membro inferior esquerdo devido à própria lesão, sendo um mecanismo de adaptação e proteção sobrecarregando o membro inferior direito.

    Os valores das variáveis dos membros inferiores direito e esquerdo, durante o primeiro pico de força é referente como o indivíduo recebe o impacto no momento de contato do retropé no solo para aplicação do passo durante a marcha, ele apresenta uma maior carga do lado direito em comparação ao lado esquerdo totalizando uma diferença de 16,6% tornando-se a alteração mais significativa na força de reação do solo entre os dois membros. No estudo de Estrazulás et al (2005), indivíduos com uma faixa etária de 18 a 41 anos apresentam uma média de 105% no primeiro pico de força, ao comparamos o membro inferior direto do indivíduo em estudo podemos ressaltar que o mesmo está na faixa de aceitação para os parâmetros da normalidade.

    Durante o segundo pico de força ao verificarmos a propulsão do pé para avanço do próximo passo em relação ao solo, o lado direito em comparação ao lado esquerdo apresentou novamente uma significante diferença de 11,82% entre os dois membros. Ao observarmos a Tabela 2 verificamos que 101,15% é a maior porcentagem no membro esquerdo isso pode ser explicado pela falta de controle na execução durante a marcha. Estrázulas et al (2005), em seu estudo ao realizarem a análise da marcha de crianças com faixa etária entre 10 a 12 anos observaram que o grupo apresentou uma média de 111% sendo o maior valor em comparação aos demais grupos estudados com faixa etária superior a 18 anos podendo ser atribuído à falta de maturação desse grupo na execução da marcha. Já no estudo de Melo et al (2007), obtiveram a média de 103% ao analisar marcha de idosos na velocidade habitual, atribuiu este resultado ao fato de que homens apresentam maior comprimento dos membros e maior alavanca no tornozelo/pé.

    A força de suporte médio ocorre na fase de transferência do peso sobre o pé de apoio estatisticamente não apresentou diferença significante, quando comparada entre os dois membros sendo apenas 6,4%, devido ocorrer uma transição rápida de descarga sobre o pé de apoio. Mas, ao analisarmos a Tabela 2 individualmente é possível verificar que o valor encontra-se abaixo do normal sendo a menor porcentagem apresentada pelo membro esquerdo. No estudo de Melo et al (2007), no que se referem a variável força de suporte médio para idosos, verificou-se diferença significativa com o nosso estudo, sendo que em idosos praticantes observou-se o valor médio inferior de 78% em sua análise.

Conclusão

    Ao analisarmos os resultados, concluímos que o paciente realiza no contato inicial do membro afetado uma rápida extensão do quadril e já entra em flexão plantar, pois não possui controle dos dorsiflexores. Caracterizou-se também uma maior flexão de joelho do membro não afetado.

    Podemos inferir ainda que o lado afetado, está abaixo dos valores do padrão da normalidade em todas as fases da força de reação do solo e o membro inferior direito apresenta maior recepção de carga, o que caracteriza ações compensatórias, realizando um mecanismo de adaptação e proteção em relação ao lado afetado, onde as disfunções que foram observadas não são apenas conseqüências da lesão que o mesmo apresenta, mas também do mecanismo adaptativo, acarretando assim um padrão de anormalidade da marcha.

    Apesar da existência de algumas literaturas e pesquisas científicas sobre marcha patológica após lesão periférica que incluem o nervo fibular comum, ainda são poucos os dados informativos e descrições sobre o tema, sendo assim evidenciamos a necessidade de por em prática mais estudo sobre esse foco. Pois favorecerá aos profissionais da saúde e a toda sociedade uma fonte de informações e conhecimentos essenciais para pesquisa, pois o padrão de marcha de cada indivíduo é o resultado de uma complexa integração entre as estruturas osteomioarticulares.

    É de extrema importância que o fisioterapeuta tenha o conhecimento sobre os padrões biomecânicos da normalidade e também da caracterização geral da marcha alterada após uma lesão, a fim de reconhecer a necessidade de analisar essa marcha e com isso selecionar condutas eficazes para a reabilitação funcional do paciente.

Referências

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