Indústria cultural: o profissional de Educação Física e o legado dos megaeventos esportivos La industria cultural: el profesional de la Educación Física y el legado de los megaeventos deportivos |
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*Discente da graduação em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB/RJ) **Co-orientador. Pós graduado em Elaboração e Gestão de Projetos Sócio-Esportivos pela UCB/RJ Licenciado em Educação Física pela UCB/RJ Diretor técnico do Instituto Muda Mundo; Pesquisador do CUCA da UCB/RJ *** Orientador. Mestre em Ciência da Motricidade Humana pela UCB/RJ Licenciado em Educação Física pela UCB/RJ. Docente da UCB/RJ Subsecretario de esporte e lazer do município do RJ/SMEL |
Julia dos Santos* | Mayara Peluso* Raquel Lopes* | Steffanie Duarte* Vitor Hugo Rodrigues* Mauricio Fidelis** Sergio Tavares*** (Brasil) |
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Resumo O profissional de Educação Física em formação é o foco desta pesquisa, pois a mídia em torno dos megaeventos pode alterar a sua formação. A fim de se adequar ao mercado de trabalho o aluno de Educação Física se capacita diante de uma perspectiva, porém a mídia pode influenciar muito, e essa pode não ser uma garantia de emprego e muito menos de melhores condições de trabalho. O objetivo do presente estudo é identificar a influência que a mídia pode gerar em relação às pretensões profissionais dos estudantes de Educação Física. Unitermos: Educação Física. Mídia. Megaeventos esportivos.
Abstract The physical education professional training is the focus of this research because the media around the mega events can change their training. In order to suit the job market students to enable physical education before a prospect but the media can influence a lot and this may not be a guarantee of employment and even less for better working conditions. The aim of this study is to identify the influence that the media can generate in relation to claims of professional physical education students. Keywords: Physical Education. Media. Sports mega-events.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
Os profissionais de Educação Física vivem um grande momento diante das possibilidades trazidas pela realização dos megaeventos esportivos em nosso território nacional (Brasil 2011, 2014 e 2016). Porém deve-se perceber que existe uma Indústria Cultural por trás desses eventos que unilateraliza as notícias dando um aspecto somente benéfico ao fato, o que não se comprova na prática. Os autores Theodor Adorno e Max Horkheimer (1968, p. 287), membros da Escola de Frankfurt criaram o conceito de Indústria Cultural para definir a conversão da cultura em mercadoria, o conceito não se refere aos veículos utilizados pela mídia, mas no uso das mesmas para manutenção da dominância de classes sociais sobre a massa. Inserido neste contexto está o profissional de Educação Física em formação que ocupará os postos de trabalho no futuro. Estes eventos desde sempre, nunca foram de cunho somente esportivo e, durante as diferentes épocas transmitem as intenções de determinados grupos. Na Grécia Antiga, os povos demonstravam a força de seus guerreiros e exércitos através dos jogos.
Na era moderna, após a 2ª Guerra Mundial, o mundo ficou polarizado e os países expunham seu poderio através do quadro de medalhas. Hoje, com a globalização e o desenvolvimento do mundo econômico, os países ainda usam os megaeventos esportivos como vitrine, porém grandes corporações faturam até bilhões com construção civil, venda de direitos de imagem, produtos esportivos etc.. Essa nova realidade influencia toda a sociedade e inserido em tal realidade se encontra o professor de Educação Física, pois estando diretamente relacionado e envolvido com o esporte, tem, muitas vezes, sua vida modificada por tal acontecimento.
Em torno dessa realidade existe um caráter da filosofia do iluminismo que alimenta a Indústria Cultural, onde, segundo ADORNO & HORKHEIMER, 1983, p.18, “(...) objetivo não são os conceitos ou imagens nem a felicidade da contemplação, mas o método, a exploração do trabalho dos outros, o capital.” Tal fato provém das classes dominantes que transmitem somente os benefícios, onde muitos não se concretizam.
(...) lhe apresentar tanto as necessidades, como tais, que podem ser satisfeitas pela indústria cultural, quanto em, por outro lado, antecipadamente, organizar estas necessidades de modo que o consumidor a elas se prenda, sempre e tão só como eterno consumidor, como objeto da indústria cultural. Esta não apenas lhe inculca que no engano se encontra sua realização, como ainda lhe faz compreender que, de qualquer modo, deve-se contentar com o que é oferecido. (ADORNO & HORKHEIMER, 1982, p.179)
Metodologia
O presente estudo se caracteriza como uma pesquisa experimental com delineamento ex-post-facto. O grupo amostral constituiu-se de 14 estudantes do curso de Educação Física do 5° período da Universidade Castelo Branco, unidade de Realengo.
O instrumento utilizado foram dois questionários abertos, o primeiro (pré-teste) contendo 4 perguntas e o segundo (pós-teste), contendo 3 perguntas, ambos avaliados em 4 níveis, onde: nível 1 (não possui influencia significativa) não tem pontuação, nível 2 (levemente influenciado) pontua 1 ponto, nível 3 (moderadamente influenciado) pontua 2 pontos e nível 4 (fortemente influenciado) pontua 3 pontos. A intervenção se deu através de uma exposição de um vídeo, produzido pelos integrantes do presente estudo e posteriormente foram feitas algumas considerações e comentários pelos mesmos, com o objetivo de promover uma reflexão sobre quais são realmente os benefícios que os megaeventos esportivos trazem para a área de Educação Física. Os instrumentos utilizados foram validados por três mestres da área de Educação Física.
Os megaeventos esportivos
Nos próximos anos, são previstos no Brasil, para a cidade do Rio de Janeiro, vários megaeventos esportivos, como os Jogos Mundiais Militares de 2011, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Tais espetáculos são vistos mundialmente como geradores de uma série de benefícios, dentre eles, benefícios econômicos e públicos as cidades que os sediam.
O Brasil atualmente vem se destacando no cenário mundial de diversas formas. Segundo Martha E. Ferreira (2008), “(...) dos quatro Brics, o Brasil é seguramente o que tem maior potencial para se beneficiar nessa corrida conjunta para o Primeiro Mundo”. Uma vertente desse destaque se reflete na candidatura e vitória do país em sediar megaeventos esportivos, iniciado em 2007 quando sediou os jogos Panamericanos na cidade do Rio de Janeiro e agora como sede dos Jogos Mundiais Militares, a Copa de Mundo e as Olimpíadas.
Um megaevento esportivo se caracteriza por “um acontecimento de curta duração, com resultados permanentes por longo tempo nas cidades e/ou países que o sediam e está associado à criação de infra-estrutura e comodidades para o evento” (ROCHE, 1994, P.19), e sua realização traz consigo um enorme impacto nas cidades onde se realizam impactos que alteram diversas esferas da sociedade.
Os efeitos desses eventos são dívidas e o desfinanciamento de áreas como a saúde e a educação. No ano do Pan, o Rio enfrentou sua maior epidemia de dengue. Todo o dinheiro estava comprometido com os jogos. Os eventos são para assistir e não para desenvolver. (GILMAR MASCARENHAS, abril de 2011 - http://www.comitepopularcopapoa2014.blogspot.com)
As altas dívidas públicas, a desapropriação de uma série de comunidades, gerando benefícios desiguais, a corrupção, o superfaturamento, as praças esportivas inutilizadas e as promessas não cumpridas, compõem uma realidade que a cidade não esperava, pois esses fatores não eram os que apareciam nas propagandas. A sociedade percebe essas mudanças devido a vários fatores, como: as obras de infraestrutura, as leis, tais como o Decreto de número 33774 de 9 de maio de 2011, do Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro - 10/05/2011, que declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, os imóveis que menciona (área de entorno do Estádio Olímpico João Havelange, no bairro do Engenho de Dentro, XIII RA). Ainda dentro de todo esse contexto, existe a mídia e todo seu marketing que promove os megaeventos esportivos, dando a entender que será um legado e tanto para a cidade.
A Mídia e o legado do Pan 2007
A mídia de massa em torno destes eventos (megaeventos esportivos) tem um discurso consistente em prol dos mesmos e embasa o ideal do qual lhe é conveniente sobre infra-estrutura, mostra-se ainda segura em relação ao país ter uma maior educação esportiva, provocando uma procura dos jovens pelo esporte e mais empenho nas aulas de Educação Física. E, no entanto, não é o que se observa quando todo aquele espetáculo, toda aquela euforia que se vê durante os jogos passa. A sensação de que se obtém, muitas vezes é que tudo aquilo foi passageiro. A exemplo do PAN de 2007, que apesar do sucesso midiático, no que se refere às cerimônias e as competições, pode-se afirmar na íntegra que os Jogos foram um fracasso, pois seus objetivos eram de deixar um legado para a cidade e, no entanto, foram excessivos os gastos públicos e as obras realizadas que posteriormente seriam usadas para projetos sociais, e que hoje estão praticamente abandonadas.
O melhor parque aquático brasileiro está abandonado! Jogado as traças! Parece piada, não parece?! A algum tempo atrás, li várias matérias onde o COB e a CBDA iriam utilizar o Maria Lenk para projetos sociais e conseqüentemente iriam manter o parque aquático funcionando em perfeitas condições. Claro, podemos ver isso, não é?! Esse é um dos legados do Pan Rio 2007(...). (FISCHER, 28 DE MARCH, 2010 – www.eduardofischer.com.br).
Entretanto, depois que os jogos do PAN 2007 ocorreram, uma pequena parte da mídia comercial junto ao relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), apontaram diversas críticas se referindo as intervenções urbanas levantadas pelo movimento de resistência ao PAN. Dentre essas críticas, destaca-se as ameaças de remoção de comunidades junto à falta de uma política habitacional, as intervenções no entorno do Autódromo Nelson Piquet, tendo sua pista original descaracterizada e o aproveitamento da Vila do Pan, financiado com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT, destinado para projetos populares.
O profissional de Educação Física
O profissional de Educação Física está diretamente relacionado com os megaeventos esportivos, pois sua função diante do esporte é viabilizar a prática do mesmo, extraindo todas as potencialidades que o indivíduo pode atingir para si e para a sociedade.
Art. 1º - O Profissional de Educação Física é especialista em atividades físicas, nas suas diversas manifestações - ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais -, tendo como propósito prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para consecução da autonomia, da auto-estima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a preservação do meio ambiente, observados os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e coletivo. (JORGE STEINHILBER - http://www.confef.org.br)
Estando o profissional de Educação Física tão imerso em todo esse contexto, como os futuros profissionais ainda na fase de formação dentro das universidades estariam sendo influenciados por toda essa mídia dos megaeventos esportivos?
Nos últimos tempos, não se consegue mais falar de esporte, sem incluir em tal assunto a influência que a mídia vem exercendo sobre o mesmo. E é a partir desse contexto que se verifica que o esporte ao longo de determinado tempo deixa de ser uma manifestação onde nela, se demonstra as mais diversas expressões do movimento humano e hoje, passa a ser um produto da Indústria Cultural.
Na verdade chegamos a um estágio tal que o esporte e a mídia são totalmente dependentes um do outro. De um lado, a mídia (especialmente a TV) foi a grande responsável pela popularização de inúmeras atividades esportivas. De outro, as transmissões esportivas rendem as maiores audiências que a TV pode obter, garantindo a satisfação de telespectadores e anunciantes. (POZZI, 1998:106)
O profissional de Educação Física em formação é atacado por uma enxurrada de informações, que nem sempre estão comprometidas com a verdade dos fatos diante de um contexto, pois vinculam apenas os impactos diretos e imediatos sem revelar as conseqüências possíveis e duradouras. Os alunos de Educação Física perante estes fatos adotam novos rumos para sua formação o que pode ser um erro, pois análises feitas de outros estudos mostram que os legados dos jogos não são tão seguros e duradouros quanto a mídia e a política insistem em transmitir.
Resultados e discussões
Pré-teste
No pré-teste é notório que o índice de influência é analisado como moderado e fortemente influenciado, visto que o grupo amostral ainda não possui um referencial teórico concreto sobre o que os megaeventos esportivos podem contribuir para sua profissão e para a área de Educação Física como um todo.
Pós-teste
No pós-teste percebe-se a manutenção desta influência por parte da Indústria Cultural que corrobora com a ideologia vigente.
Conclusão
O resultado da intervenção proposta pelo grupo foi insatisfatório à medida que o objetivo desta era promover uma maior conscientização em relação à equação mídia x megaeventos esportivos. A influência da Indústria Cultural se mostrou preponderante no pré e pós-teste realizados.
Visto que não houve uma alteração na opinião dos estudantes de Educação Física, indentifica-se uma solidificação acerca dos ideais da Indústria Cultural. Segundo Theodor Adorno in “Minima Moralia”, “Chegou-se ao ponto em que a mentira soa como verdade, e a verdade como mentira. Cada expressão, cada notícia e cada pensamento estão preformados pelos centros da indústria cultural.”
Em meio a toda essa atmosfera contraditória acerca a pertinência da Indústria Cultural, os megaeventos esportivos são uma oportunidade valorosa, entretanto exige um exame mais aprofundado de todos os envolvidos.
É de grande valia que os futuros professores de Educação Física tenham uma visão crítica em relação aos megaeventos esportivos, visto que eles podem sim, trazer algumas oportunidades para a profissão, porém não duradouras. Para isso, é necessário que haja um trabalho de conscientização perante a realidade do profissional de Educação Física e o mercado de trabalho.
Referências Bibliográficas
ADORNO, Theodor e HORKHEIMER, Max. A indústria cultural: O Iluminismo como mistificação das massas. Trad. Júlia Elisabeth Levy. In: Teoria da Cultura de Massa. Org. Luiz Costa Lima. 3.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
ADORNO, Theodor W. Minima Moralia. Ed: Edições 70, 2001.
GURGEL, Anderson. Desafios do Jornalismo na Era dos Megaeventos Esportivos. Motrivivência Ano XXI, N° 32/33, P. 193-210 Jun-Dez./2009. http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/imprensa/noticias/noticias_arquivos/Pan.doc, Acesso em 1 de junho de 2011.
MASCARENHAS, Gilmar. Professor da UERJ fala sobre impacto de megaeventos nas cidades, Apr 15th, 2011 by Marco Aurélio Weissheimer. Disponível em: http://rsurgente.opsblog.org/2011/04/15/professor-da-uerj-fala-sobre-impacto-de-megaeventos-nas-cidades/ Acesso em 30 de maio de 2011.
MÜLLER, Uwe. Esporte e mídia: um pequeno esboço. Revista brasileira de ciências do esporte 17(3), Maio/96.
POFFO, Bianca Natália. Legados do Pan Rio/2007: análise do discurso midiático sobre o tema. Florianópolis, agosto de 2010.
ROCHE, M. Mega events and urban policy. Annals of tourism research, Nova York: Pergamon Tress, 1994, v. 21, 1-19.
STEINHILBER, Jorge. RESOLUÇÃO CONFEF nº 046/2002, em 18 de fev. de 2002. Disponível em: http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/conteudo.asp?cd_resol=82, Acesso em 30 de maio de 2011.
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