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O Centro de Excelência do basquetebol no estado

do Paraná: um olhar a partir de Elias e Dunning

El Centro de Excelencia del baloncesto en el estado de Paraná: una mirada a partir de Elias y Dunning

 

*Aluno do programa de Mestrado em Educação Física da UFPR

**Mestre em Educação Física

***Doutor em Educação, Prof. do Departamento de Educação Física da UFPR

(Brasil)

Luciano da Cruz*

Ricardo Lemes da Rosa**

Fernando Renato Cavichiolli***

lu_cruz@ibest.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O esporte em suas variadas formas de manifestação vem ocupando um lugar de destaque na sociedade, sendo responsável por atrair diversas possibilidades de interpretação e análise. Nesta perspectiva torna-se necessário cada vez mais investigar e entender alguns possíveis significados de programas e projetos esportivos que foram e ainda continuam sendo promovidos. Assim esta pesquisa tem como proposta analisar o Centro de Excelência do Basquetebol e a equipe feminina denominada “Paraná Basquete”, implantados no município de São José dos Pinhais no Estado do Paraná, entre 1999 a 2001, buscando compreender a relação deste programa com o tempo livre da comunidade local, caracterizada pela participação e envolvimento de seus torcedores. Como referencial teórico de análise foi utilizado os conceitos de mimesis social, lazer e tempo livre propostos por Eric Dunning e Norbert Elias.

          Unitermos: Centro de Excelência. Basquetebol. Eric Dunning. Norbert Elias.

 

Abstract

          The sport in its varied forms of manifestation comes occupied a prominent place in society, being responsible for attracting a number of possibilities of interpretation and analysis. From this perspective is becoming increasingly necessary to investigate and to understand a few possible meanings of sports programmes and projects that have been and still being promoted. So this research aims to analyse the Basketball Centre of Excellence and female team named “Paraná Basquete”, deployed in the municipality of São José dos Pinhais in the State of Paraná, from 1999 to 2001, seeking to understand the relationship between this programme with the local community's free time, characterized by participation and involvement of their sports fans. As a theoretical analysis was referential used the concepts of social mimesis, leisure and free time offered by Eric Dunning and Norbert Elias.

          Keywords: Basketball. Centre of Excellence. Eric Dunning. Norbert Elias.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Elias (1980) demonstra que para entendermos a problemática sociológica é preciso um trabalho de reorientação da compreensão do termo sociedade. Temos que diluir a idéia de que a sociedade é composta por estruturas que nos são exteriores, e avançar para o conceito de teias de interdependência ou configurações, que no limite, nos encaminha para uma visão mais realista das relações desenvolvidas pelas pessoas.

    Para Elias, a sociedade não deve ser compreendida de forma fragmentada, pelo contrário, devemos compreendê-la através de inúmeras relações entre os mais diferentes indivíduos e grupos, ou seja, a sociedade é formada pelo “nós”, por meio de teias de interdependência que se estabelecem nas mais variadas configurações, e que são conduzidas por forças compulsivas.

    Uma dessas configurações são os indivíduos presentes no contexto do esporte, que tem gerado cada vez mais reflexões acerca de seu papel e sua relação com a sociedade.

    Se pensarmos da mesma forma em relação ao esporte moderno, constatamos então que o esporte contribui para o processo de compreensão da sociedade, pois possibilita diversas relações de interdependências entre os indivíduos envolvidos nas mais diferentes formas, seja, como praticante ou espectador esse envolvimento pode ser entendido como uma maneira de alterar por meio do lazer a rotina estabelecida no dia-a-dia presente na sociedade.

    O esporte pode então ser utilizado como uma espécie de “laboratório natural” para a exploração de propriedades das relações sociais, pois a competição e a cooperação, o conflito e a harmonia, que parecem ser, segundo a lógica e os valores correntes, alternativas que se excluem mutuamente, mas que neste contexto, no que se refere à estrutura intrínseca do desporto, possuem uma interdependência evidente e muito complexa. (ELIAS e DUNNING, 1992 p. 18 e 19)

    Durante o século XX, o esporte promoveu por meio de suas provas físicas uma representação simbólica da competição entre os Estados, substituindo o confronto corporal e o derramamento de sangue, pela competição desportiva. Esta competição nunca esteve isolada a um indivíduo, mas presente na satisfação de vários espectadores nas mais diferentes modalidades.

    Que espécie de sociedade é esta onde as pessoas, em número cada vez maior, e em quase todo mundo, sentem prazer, quer como atores ou espectadores, em provas físicas e confrontos de tensões entre indivíduos ou equipas, e na excitação criada por estas competições, realizados sob condições onde não se verifica derrame de sangue, nem são provocados ferimentos sérios nos jogadores? (ELIAS e DUNNING, 1992 p.40).

    A sociedade no seu processo civilizatório apresenta um campo de ação limitado quanto à conduta e expressividade de seus sentimentos, favorecendo o aparecimento da rotina na execução de diversas atividades sociais e profissionais. Esta mesma sociedade em oposição a essa rotina e stress desenvolve inúmeras atividades de lazer gerando novas sensações e tensões na busca pelo equilíbrio de suas ações (ELIAS e DUNNING, 1992).

    O desporto destaca-se como uma forma de ocupação de lazer no tempo livre, fazendo parte do quadro imaginário construído por esta sociedade que busca nesta atividade o excitamento e a representação da vida real, porém sem os riscos e perigos impostos a ela no dia-a-dia. Assim:

    Perigo imaginário, medo ou prazer mimético, tristeza e alegria são produzidos e possivelmente resolvidos no quadro dos divertimentos. Diferentes estados de espírito são evocados e talvez colocados em contraste, como a angústia e a exaltação, a agitação e a paz de espírito (ELIAS e DUNNING, 1992, p. 71).

    Deste modo esses sentimentos imaginários e humanos dizem respeito às situações reais do cotidiano e que são entendidas como a “expressão mimética”, ou seja, a representação simbólica e social das mais variadas ações, as quais são constantemente utilizadas pelo indivíduo em sua vida.

    Os espectadores são um exemplo desta representação, pois ao buscar a excitação mimética num jogo onde duas equipes disputam entre si, procuram vivenciar fortes sentimentos através desta competição, que em frações de segundos podem ir do sucesso e alegria a derrota e a tristeza, e assim despertar neste quadro imaginário a companhia de outras pessoas que também buscam essa sensação libertadora e agradável.

    As tensões miméticas do esporte, como prática de lazer, podem ser verificadas de forma global, pois diversas nações se colocam frente a frente num acontecimento esportivo, como no caso clássico dos jogos olímpicos. Neste exemplo esse mimetismo reserva um determinado grau de autonomia, pois aí está presentes além enfrentamento esportivo, questões políticas, econômicas, sociais e culturais que elevam o grau de envolvimento e pertencimento dos torcedores. (ELIAS e DUNNING, 1992).

    Assim o esporte nos possibilita entender que sua função não é compensatória as outras esferas da sociedade, como na tradicional dicotomia entre o trabalho e o lazer, mas que o fenômeno esportivo também procura gerar novas sensações de excitação e descontrole, os quais são auto-permitidos, por se tratarem de uma prática realizada no tempo livre. Desta maneira:

    Muitas dessas ocupações de lazer, entre os quais o desporto na suas formas de prática ou de espetáculo, é consideradas como meios de produzir um descontrolo de emoções agradável e controlado. Com freqüências elas oferecem (embora nem sempre) tensões miméticas agradáveis que conduzem a uma excitação crescente e a um clímax de sentimentos de êxtase, com ajuda dos quais a tensão pode ser resolvida com facilidade, como no caso de sua equipa vencer uma prova desportiva. (ELIAS e DUNNING, 1992, p. 73).

    O esporte então representa uma parcela desta gama de atividades de lazer que as sociedades complexas oferecem na sua forma mimética. Assim esta relação entre o esporte e a sociedade deve ser observada de forma contextualizada, pois o desporto é um fenômeno desenvolvido socialmente pelos mais diferentes indivíduos, nas mais diferentes configurações.

    Com o objetivo de contribuir nesta dinâmica interpretativa deste fenômeno, torna-se importante cada vez mais investigar e entender alguns possíveis significados de programas e projetos esportivos que foram e ainda continuam sendo promovidos.

    Dessa forma, esta pesquisa tem como proposta analisar o desenvolvimento do Centro de Excelência do Basquetebol implantado no município de São José dos Pinhais no Estado do Paraná, ano de 1999, buscando compreender a relação deste programa com o tempo livre da comunidade local, caracterizada pela participação e envolvimento de seus torcedores.

O Centro de Excelência de Basquetebol no Paraná

    A partir da segunda metade da década de 90 o Estado do Paraná (MARTINS, 2004) inicia uma política esportiva com foco no rendimento, algumas ações foram sendo implantadas como, por exemplo: a realização dos Jogos da Juventude na sua fase nacional em dezembro de 1996, a criação da Universidade do Esporte com sede em Curitiba, Vila Olímpica, a realização dos Jogos mundiais da Natureza, e a implantação do Centro de Excelência Rexona de Voleibol.

    Com este mesmo direcionamento no ano de 1999, o governo estadual implanta o Centro de Excelência do Basquetebol, a qual tinha como destaque a equipe feminina de basquetebol “Paraná Basquete”, tendo como proponente do projeto e madrinha a ex-jogadora de basquetebol Hortência Marcari.

    Os Centros de Excelência eram entendidos pelo governo como:

    Um conjunto de projetos de ação integrada entre o estado, comunidade e iniciativa privada, dotados de equipamentos, instalações, recursos materiais e pessoal técnico multidisciplinar, adequado ao desenvolvimento teórico-prático de uma determinada modalidade esportiva com o objetivo de alcançar a excelência, contribuindo também para a formação da cidadania, através da prática continuada da atividade física. (MARTINS, 2004)

    Os Centros de Excelência do Basquetebol promoviam a iniciação da modalidade e foram desenvolvidos nos seguintes municípios: Castro, Jacarezinho, Astorga, Curitiba, Toledo, Campo Mourão, Cornélio Procópio, Pato Branco, Palmas, Cambé, Chopinzinho, Maringá, Rio Negro e São José dos Pinhais, que além de receber a implantação, também assume coordenação geral do projeto e a estrutura de treinamento da equipe profissional.

    São José dos Pinhais a partir da década de 90 apresentou um aumento significativo de sua população, devido principalmente à instalação de duas montadoras da rede automobilística, fazendo com que o município viesse se tornar o segundo pólo automotivo do Brasil, sendo também responsável por parte considerável do PIB estadual.

    Acompanhando tal período de expansão demográfica e econômica, a política de esporte e lazer municipal também sofre modificações na sua estrutura administrativa com o aumento do número de profissionais e a ampliação de seus equipamentos.

    O Estado do Paraná na gestão do governo Jaime Lerner exibia como proposta o prestígio e o reconhecimento do Paraná perante os outros estados através de ações voltadas ao esporte. Dessa forma o ato de proeza tido como digno, e a possibilidade de comparação através da propriedade, que neste contexto se expressa por meio de uma equipe basquetebol profissional, cujo próprio nome do time (Paraná Basquete) vinculava o esporte ao Estado.

    Assim, logo que a propriedade se torna a base de estima popular, torna-se ela também um requisito daquela complacência que se chama respeito próprio... Num caso, um certo padrão de riqueza, no outro, um certo padrão de proeza são as condições de honorabilidade; e todo o que excede este padrão é meritório (VEBLEN, 1980, p. 29).

    Então podemos perceber a denominada equipe como uma propriedade do estado, a qual vai promovendo valores “sentimentais” e de pertencimento ao público que a acompanha, desenvolvendo uma relação de respeito ao passo que além de torcer por uma equipe de basquete, também se torce pelo seu estado e município.

    Assim São José dos Pinhais, através da Secretaria de Esporte e Lazer, usufruía vicariamente do prestígio da equipe no cenário já citado, pois neste período o município por inúmeras vezes teve o seu nome divulgado na mídia nacional, principalmente no ano de 2000 quando a equipe Paraná Basquete torna-se campeã da liga nacional de basquetebol, atraindo assim a atenção de milhares de praticantes e apaixonados pelo esporte. E assim possivelmente confirmaram a demonstração de proeza e prestígio que o Estado do Paraná e o município obtiveram por meio do fenômeno esportivo.

    A força pecuniária é respeitável ou honorífica porque, em última análise, atesta o bom êxito e uma força superior; portanto, a prova de dispêndio e de ócio revelada por qualquer indivíduo em seu próprio interesse não pode consistentemente assumir uma forma tal ou ser levada a um ponto tal que ateste incapacidade ou marcante desconforto de sua parte (VEBLEN, 1980, p. 105).

    São José Pinhais então confirma a sua posição ilustre na parceria com o estado, que através desse feito demonstra na configuração do basquetebol sua força e êxito, afirmando o pródigo momento econômico que passava a cidade, aumentando consideravelmente seu prestígio junto ao cenário econômico nacional, havendo uma transferência deste grau de proeza conquistado para potencializá-lo através do esporte.

O esporte e a busca pela emoção

    Elias e Dunning ao não classificar o lazer como uma função compensatória ao trabalho consideram o tempo livre como possibilidade das pessoas desenvolverem atividades dedicadas ou não para com o lazer, podendo este fenômeno ser entendido como uma ocupação escolhida livremente e não remunerada, escolhida, antes de tudo porque é agradável para si mesmo, com aprovação pública e excitação emocional socialmente regularizada.

    Dessa forma as atividades de lazer se contrapõem as rotinas públicas ou privadas da vida do indivíduo as quais exigem que as pessoas mantenham um perfeito domínio sobre os seus estados de espíritos, impulsos, afetos e emoções. As atividades de lazer se afloram diretamente para os sentimentos das pessoas e estimula-as, ainda que segundo maneiras e graus variados, sendo que muitas ocupações de lazer fornecem um quadro imaginário que se destina a autorizar o excitamento, ao representar, de alguma forma, o que tem origem em muitas situações da vida real, embora sem seus perigos e riscos.

    Muitas ocupações de lazer fornecem um quadro imaginário que se destina a autorizar o excitamento, ao representa, de alguma forma, o que tem origem em muitas situações da vida real, embora sem os seus perigos e riscos. Filmes, danças, pinturas, jogos de cartas, corridas de cavalos, óperas, histórias policiais e jogos de futebol – estas e muitas outras atividades de lazer pertencem a esta categoria. [...] Deste modo os sentimentos dinamizados numa situação imaginária de uma atividade humana de lazer têm afinidades com os que são desencadeados em situações reais da vida – e é isso que a expressão “mimética” indica (ELIAS e DUNNING, 1992, p.70).

    Seguindo este entendimento podemos perceber que o esporte tem sido escolhido como uma possibilidade de lazer, porém o que também constatamos que a participação das pessoas no esporte vem ocorrendo de forma passiva, ou seja, muito mais como espectadores do que praticantes. Exemplo disto é o número de torcedores que participam das partidas das mais variadas modalidades esportivas que tem lotado os estádios e ginásios no Brasil e no mundo.

    Esse dado nos chama atenção, pois, quando o relacionamos com o objeto deste estudo, percebemos durante o processo de implantação do Centro Excelência de Basquetebol em São José dos Pinhais, que o número de torcedores envolvidos inicialmente era reduzido, ao passo que com a inserção da equipe na competição nacional, cada vez mais pessoas começaram a comparecer aos jogos, e já no segundo ano de execução do projeto, para suprir a demanda ocasionada pelo número crescente de torcedores, houve a necessidade de ampliar a estrutura de arquibancadas (MASTINI, 2000).

    Dessa maneira esta inserção possibilitou a esses indivíduos a vivência de atividades diferentes a sua rotina e que tais atividades permitissem o sentimento de emoções diferenciadas, quando comparado a eventos já presentes no seu cotidiano, que apresentam um acentuado controle, através de regras e normas, principalmente em relação à segurança e a violência, com características semelhantes às estabelecidas no meio social.

    Neste momento então na leitura em Elias e Dunning, compreendemos que o significativo número destes torcedores que em seu tempo livre acompanhavam a equipe do Paraná Basquete, buscavam a satisfação no lazer, que não ocorria pela compensação de tensões, mas sim, através da produção de novas tensões, o desenvolvimento agradável de uma tensão/excitação, buscando a produção de tipos específicos de aumento de tensão em companhia dos outros.

    Desta forma caracteriza-se a função mimética que a participação do público representava: “envolver-se como torcedor em atividades miméticas bastante organizadas sem fazer parte da própria organização, com pouca ou nenhuma participação nas suas rotinas e, de acordo com isso, com a destruição relativamente diminuta da rotina, através de movimento, por exemplo, ver futebol ou ir a um jogo” (ELIAS e DUNNING, 1992).

    Outro aspecto que merece atenção neste ensaio se refere ao conceito de mimesis, que pode ser entendido como a “representação” do que se vivencia no cotidiano, e é levado simbolicamente até a prática da atividade, ou como a figura do espectador, como por exemplo, o medo de ver a sua equipe perder a partida, o desafio de enfrentar um adversário de igual qualidade técnica, a angústia da disputa dos últimos segundos, a alegria da vitória ou a tristeza da derrota e até mesmo jogos que não despertam a motivação frente a fracos adversários.

    Esses exemplos nos possibilitam o extravasamento de emoções, de experimentação de sentimentos primitivos que estão relacionados aos nossos instintos e que, por isso, apesar do nível de civilização atingida, não são esquecidos. Caracterizam-se, então, por oferecerem um ponto de fuga dos rígidos controles sociais de comportamento, e que são aceitos pela própria sociedade.

    Dessa maneira os torcedores do Paraná Basquete durante a realização das partidas podiam vivenciar estas tensões no esporte permitindo que suas emoções pudessem fluir com mais liberdade, proporcionando uma imitação dos sentimentos da vida real das pessoas, sem riscos ou perigo, promovendo um “descontrole controlado” das emoções.

    Assim participar como um espectador deste jogo num momento de lazer representava a busca por um nível de tensão e excitação que permitissem os sentimentos a fluírem de forma livre, o que de certa maneira contribui para que as tensões e o stress provenientes dia a dia também pudessem ser extravasados.

    O esporte como outras atividades de lazer proporcionam o movimento e o estímulo a criatividade e a emoção, que por sua vez virá acompanhada de sensações que promovam e exercitem a possibilidade de praticar, e o novo, experimentando certo grau de descontrole, risco sem se preocupar se sua vida sejam colocada em perigo ou risco. Assim destacamos que:

    O desporto, tal como outras atividades de lazer no seu quadro específico, pode evocar através dos seus desígnios, um tipo especial de tensão, um excitamento agradável e, assim, autorizar os sentimentos a fluírem mais livremente. Pode contribuir para perder, talvez para libertar, tensões provenientes do stress. O quadro do desporto, como o de muitas outras atividades de lazer, destina-se a movimentar, a estimular as emoções, a evocar tensões sob a forma de uma excitação controlada e bem equilibrada, sem riscos e tensões habitualmente relacionadas com o excitamento de outras situações da vida, uma excitação mimética que pode ser apreciada e que pode ter um efeito libertador, catártico, mesmo se a ressonância emocional ligada ao desígnio imaginário contiver, como habitualmente acontece, elementos de ansiedade, medo – ou desespero (ELIAS e DUNNING,1992 p.79).

    O esporte como uma forma de lazer tem conseguido contribuir como gerador de possibilidades da experimentação da emoção, pois inúmeros foram os momentos na história do esporte que por meio do mesmo jogo disputado, os torcedores conseguiram vivenciar sensações antagônicas como: alegria e tristeza, raiva e culpa, imaginação e a realidade, e desta forma legitimar esta prática como uma esfera de imprescindível necessidade entre as mais diversas relações que se configuram na sociedade.

Considerações finais

    Diante do exposto, neste ensaio procuramos realizar um exercício de aproximação entre a implantação do Centro de Excelência do Basquetebol no Estado do Paraná, a luz de alguns conceitos sociológicos que permitissem uma interpretação ampliada referente ao fenômeno esportivo.

    Ao trazermos a leitura destes autores, possibilitamos aprofundar a análise de nosso objeto, discutindo acerca da implantação e desenvolvimento do referido projeto esportivo, refletindo sobre a participação e envolvimento de seus torcedores, buscando compreender o esporte como possibilidade de atividade de lazer no tempo livre, perpassando o mesmo como uma forma de representação social na busca pela emoção.

    Pois ao olhar para a configuração destes torcedores, esboçamos entendimentos de que estes indivíduos representavam os mais diferentes extratos sociais, demonstrando as mais variadas emoções, sensações, objetivos e identificação com a modalidade, o que dessa maneira nos exigem atenção e um olhar que nos permita evitar o reducionismo primário, atentando para os diversos significados trazidos pelo esporte, e neste caso, por nosso objeto de estudo em relação à implantação do Centro de Excelência do Basquetebol em São José dos Pinhais.

Referências

  • DUNNING, Eric & ELIAS, Norbert. A busca da Excitação. Lisboa, Difel,1992.

  • ELIAS, Norbert. Introdução a sociologia. São Paulo: Marins Fontes, 1980.

  • MARTINS, Dílson José de Q. A formulação e a implementação das políticas públicas no campo de esporte no Estado do Paraná entre 1987 e 2004. Dissertação de mestrado em Educação física da Universidade Federal do Paraná. 2004.

  • MASTINI, Davide C. Projetos Esportivos. São José dos Pinhais: Departamento de Esporte- SEMEL, 2000. Relatório Técnico.

  • Prefeitura Municipal de São José dos Pinhais. Disponível em: http://www.sjp.pr.gov.br. Acesso em fevereiro de 2009.

  • São José dos Pinhais. Secretaria Municipal de Planejamento. Censo demográfico. Disponível em http:/www.ibge.gov.br. Acesso em fevereiro de 2009.

  • Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico. Dados Gerais Série Verde. Informações Sobre a Cidade. Setembro de 2005.

  • VEBLEN, Thorstein B. A teoria da classe ociosa: um estudo econômico das instituições. São Paulo, SP: Abril Cultural, 1980.

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