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Karatê na Educação Física escolar: olhares 

sobre sua prática em escolas de Natal, RN

El Karate en la Educación Física escolar: panorama sobre su práctica en las escuelas de Natal, RN

 

*Bolsista da Rede CEDES / Ministério dos Esportes

**Professor Doutor. Departamento de Educação Física

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

***Professora Doutora. Departamento de Educação Física

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(Brasil)

Hellyson Ribeiro Costa*

hellyson_rc@hotmail.com

José Pereira de Melo**

j.pereira@ufrnet.br

Maria Isabel Brandão de Souza Mendes***

isabelmendes@ufrnet.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo foi resultado do trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em Educação Física na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Essa pesquisa objetivou investigar se o karatê está sendo desenvolvido enquanto conteúdo da Educação Física em escolas da cidade do Natal-RN. Foi realizada uma discussão nessa pesquisa sobre os fundamentos e as relações que fazem do karatê um conteúdo possível de ser desenvolvido nas escolas não somente como uma dimensão esportiva, mas como uma arte marcial que tem a possibilidade de ser vivenciada dentro da Educação Física escolar, onde possibilitará aos alunos presentes na educação básica a oportunidade de experimentar essa manifestação da cultura do movimento humano. Durante a pesquisa foram entrevistados nove professores de quatro escolas da cidade do Natal-RN. Visualizamos os olhares que esses professores que já atuam em escolas têm sobre essa problemática, e discutimos juntos com eles e com autores que tratam do assunto, sobre as possíveis dificuldades de se trabalhar com esse conteúdo. Além de pensarmos de que maneira a formação dos professores podem contribuir ou até mesmo influenciar nessa prática do karatê como conteúdo da Educação Física escolar. Ao final da pesquisa foi possível concluir que o karatê não está sendo incluído nas aulas de Educação Física, e um caminho que pode ser seguido para que essa situação tome outro rumo, é a presença dessa arte marcial de forma efetiva, não só na graduação, como também na formação continuada de professores de Educação Física.

          Unitermos: Karatê. Educação Física. Escola.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Não dá para negar o fascínio que as lutas provocam nos alunos. Nos dias atuais é perceptível o interesse das pessoas por essa prática de forma geral, seja em desenhos animados, em filmes ou em academias. Os adolescentes compram revistas e livros que se referem ao tema, e matriculam-se em academias. Além das exibições da mídia que hoje em dia promove verdadeiros espetáculos com algumas artes marciais, e lutas de forma geral, sejam com desafios, campeonatos mundiais, e as consideradas olímpicas. Por toda essa influência que existe das lutas e artes marciais no comportamento das pessoas de várias idades, principalmente em adolescentes e crianças, e pela necessidade de inserir o karatê como um conteúdo da Educação Física, por esta ser reconhecida como componente curricular.

    Essa pesquisa contribui para identificar as visões dos professores sobre o karatê, objeto de estudo desse trabalho, dando a oportunidade para que os que já atuam na docência e aqueles que estão na Universidade como discentes possam também ter a preocupação de pesquisar e estudar essa arte marcial, contextualizado-a dentro do ambiente escolar, para que não se torne uma prática de golpes e exercícios sem significados, tanto pra si como para os alunos.

    O artigo está organizado em dois momentos. No primeiro, Aspectos Históricos e Filosóficos do karatê, destacaremos resumidamente alguns aspectos ao longo do tempo até sua chegada as instituições de ensino, como escolas e Universidades.

    No segundo momento, Reflexões Sobre o Karatê na Educação Física Escolar, estará presente a discussão sobre a presença do karatê como conteúdo da Educação Física, sua importância para a área, além de descrevermos a opinião dos professores que participaram da pesquisa, relatando suas opiniões sobre vários aspectos relacionados a esse tema. Além de entendermos a principal questão desse estudo, que é saber se o karatê está ou não sendo inserido no planejamento e prática durante as aulas de Educação Física, investigamos também se há dificuldades de trabalhar esse conteúdo e quais as sugestões para um novo direcionamento e ressignificação desse conteúdo da Educação Física na escola.

Metodologia

    Essa pesquisa caracteriza-se como descritiva e de campo, que segundo Severino (2007) o objeto/fonte é abordado em seu meio ambiente próprio, e a coleta dos dados é feita nas condições em que os fenômenos ocorrem. Dessa forma, o objeto de estudo dessa pesquisa foi abordado diretamente em escolas onde existe a possibilidade da prática do karatê como um dos conteúdos da Educação Física escolar. Foram visitadas quatro escolas sendo duas particulares e duas municipais da cidade do Natal-RN. Os professores entrevistados foram aqueles que estavam presentes no momento da minha visita. A população desta pesquisa foi composta por professores formados que atuam na Educação Física escolar como componente Curricular na cidade do Natal - RN.

    A amostragem foi do tipo não probabilística selecionada de forma acidental, que segundo Martins (2001) é formada pelos elementos que vão aparecendo até completar o número desejado. Ela foi composta por nove professores, seis do gênero feminino e três do gênero masculino. As entrevistas foram feitas em quatro instituições, duas particulares, ambas no centro da cidade (zona leste) e duas Municipais, que se localizavam na cidade da esperança (zona oeste) e no conjunto Nova Natal (zona norte).

    O instrumento utilizado na pesquisa foi à entrevista não diretiva com nove perguntas abertas, que abordam assuntos como a presença do karatê em suas formações acadêmicas, materiais didáticos sobre karatê, a inclusão do karatê nas aulas de Educação Física, sugestões para que o conteúdo karatê esteja presente, tanto na graduação, como na pós-graduação. A análise foi realizada com base na interpretação e no diálogo com a literatura adotada.

    Antes de ser iniciada a coleta de dados, foi entregue um termo de consentimento aos professores, para que fosse feita a devida autorização para a utilização e exposição dos dados coletados e dos resultados obtidos. Optamos por não delinear o nome dos entrevistados, nem das escolas investigadas.

Aspectos históricos e filosóficos do Karatê

    Segundo Funakoshi (1975), por não haver praticamente nenhum material escrito sobre a história do início do karatê, não saberemos quem inventou e desenvolveu, e nem mesmo onde teve origem e evoluiu. De acordo com Reid & Croucher (1983), é muito grande o número de documentos que se referem aos primórdios da história das artes marciais, porém, muitos estudiosos dizem que a maioria dessas artes iniciou na China no século VI d.C. Mesmo aceitando que antes desse período os seres humanos já lutavam para sobreviver, usando a mesma com uma variedade de objetivos, seja pela caça em busca de alimentos, guerra entre povos e outros vários motivos dependendo dos costumes de cada cultura.

    A crença desses estudiosos é baseada numa lenda segundo a qual um monge indiano chamado Bodhidharma chegou certo dia ao templo e mosteiro Songshan Shaolin, ao pé das montanhas Songshan, no reino de wei, na China, onde passou a ensinar um tipo novo e mais direto do Budismo, que envolvia longos períodos de meditação e estática. Para ajudar os monges desse templo que estavam fracos pelas várias horas de meditação, ensinou-lhes a técnica de respiração para desenvolver-lhes a força e a capacidade de defender-se na remota montanha onde residiam. A lenda reflete o fato de que o interesse mútuo pelo Budismo garantiu o contato entre a China e a Índia no século VI d.C. Além disso, significa que, desde as épocas mais antigas, a meditação e os exercícios das artes marciais eram aspectos complementares do Budismo: a primeira, passiva e estática; o segundo, ativo e móvel (REID & CROUCHER, 1983).

    Em 1902, o Ministério da Educação do Japão autorizou a Prefeitura de Okinawa a incluir o karatê como parte do programa educacional a ser ministrado em suas escolas públicas, o que contribuiu para que o karatê se tornasse mais popular. Em 1906, um grupo de karatecas liderados por Gichin Funakoshi efetuou a primeira demonstração pública de karatê de que se tem registro, em Okinawa, na inauguração do novo prédio da Prefeitura. Posteriormente, este mesmo grande Mestre de Karatê (Gichin Funakoshi) - que nasceu em Shuri/Okinawa, no ano de 1869, tendo iniciado seus treinamentos de karatê com 11 anos e sido aluno dos Mestres Itosu e Azato, foi convidado pela Prefeitura de Okinawa a realizar, em 1916, a primeira demonstração pública de karatê fora de Okinawa, no Centro de Artes Marciais da cidade de Kyoto, no Japão. Em Março de 1921, Funakoshi é novamente encarregado pela Prefeitura de Okinawa para organizar uma nova demonstração pública de karatê, desta vez para o futuro Imperador do Japão (na época o príncipe herdeiro) em caminho para uma viagem à Europa. Em função do sucesso daquela demonstração Sensei Funakoshi foi convidado para participar, em 1922, da primeira demonstração atlética em Tókyo, sob os auspícios do Ministério da Educação (FEDERAÇÃO BAIANA DE KARATÊ).

    A primeira idade de ouro do karatê, como tem sido chamada, ocorreu por volta de 1940, quando quase todas as importantes universidades do Japão tinham seus clubes de karatê. Nos primeiros anos do pós-guerra, ele sofreu um declínio, mas hoje, graças ao entusiasmo dos que defendem o karatê-dô, ele é praticado mais amplamente do que nunca, difundindo-se para muitos outros países no mundo inteiro, criando uma segunda idade de ouro (NAKAYAMA, 1979).

    De acordo com Rodrigues (2004), no Brasil, o karatê chegou com os imigrantes japoneses, em 18 de Junho de 1908, quando o navio Kasaato-Maru aportava em Santos-SP. A colônia se instalou primeiro no interior de São Paulo. Durante décadas, professores vindos da terra-mãe ensinavam a "arte da mão vazia" aos jovens nipônicos e aos poucos brasileiros que se interessavam.

    De acordo com Silva (2007) o Karatê-dô no Brasil constitui-se como acervo ainda muito restrito tanto nas escolas formais quanto nas Universidades onde a prática é vista de forma superficial dentro da disciplina opcional “Lutas”. O não oferecimento desta prática esportiva pelas Instituições de Ensino Superior tolhe dos discentes e futuros profissionais da Educação a oportunidade do conhecimento de caráter científico sobre a importância do Karatê-dô como meio de educação.

Reflexões sobre o Karatê na Educação Física escolar

    Diante de reflexões próprias, dos discursos dos interlocutores e do diálogo com os autores, mostraremos como sugere o título dessa pesquisa, os olhares sobre a possível prática do karatê dentro da escola como um conteúdo a ser oferecido na Educação Física como componente curricular.

    Para que o karatê se tornasse e se torne efetivamente um conteúdo pedagógico nas aulas de Educação Física, foi e é necessária uma revisão dos seus conteúdos, pois em cada contexto onde estão inseridas as escolas, acontecerão modificações nas relações sociais de uma forma lenta e as às vezes acelerada, o que implica diretamente no cuidado e responsabilidade que os professores devem fazer relações com realidades em constante mudança.

    Durante as entrevistas com os professores, foram considerados alguns aspectos relacionados ao conteúdo lutas de forma geral e do karatê em especifico. Assim, surgiram discursos que relatam as condições de uma possível prática dessa arte marcial inserida na Educação Física como componente curricular. Dessa forma, foram discutidas as questões relacionadas aos professores entrevistados, tais como: A presença do karatê como disciplina durante sua formação; se praticam ou praticaram alguma arte marcial; a opinião deles sobre as lutas dentro da escola como componente curricular; além disso, interrogou-se a respeito da filosofia do karatê; se encontram alguma dificuldade com a finalidade de desenvolvê-lo; se encontram dificuldades de encontrar materiais didáticos para fazer leituras sobre o karatê a se desenvolvidos dentro das suas aulas; se é feita alguma relação entre a violência e a prática do karatê.

    Para Carreiro (2005) não é função da educação física escolar a preparação exímia de lutadores. Da mesma forma, também nos cursos de formação de professores (as) de educação física o que se espera é a preparação para atuação como educador e não como um lutador profissional. Neste sentido, pensamos que a Educação Física escolar ao tematizar as lutas, precisa necessariamente lidar com esse conhecimento de maneira particular e diferente do que ocorre nos campos específicos dessas práticas. Ainda segundo Carreiro (2005): “(...) as lutas tiveram ao longo da história um desenvolvimento independente do contexto da Educação Física escolar. Assim, é necessário ressignificar as lutas para que elas possam contribuir com os objetivos do componente escolar” (CARREIRO, 2005, p.249).

    Ainda são raros os cursos de Educação Física que possuem em sua grade curricular como disciplina - obrigatória ou optativa - relacionada às lutas, resultando em certo distanciamento do professor de Educação Física do universo cultural das artes marciais em geral (GONÇALVES JUNIOR e DRIGO, 2001).

    Dos nove professores entrevistados, o karatê só não estava presente no histórico acadêmico de um, nos outros oito depoimentos o karatê estava presente, mas apenas três cursaram a disciplina, enquanto os outros cinco optaram por outros conteúdos. Apenas o um relatou que na graduação a disciplina “foi desenvolvida de forma muito satisfatória”.

    Um dado interessante de ser exposto aqui é que os três professores que cursaram a disciplina são do sexo masculino, e os outros seis que não pagaram são do sexo feminino. A partir desse contexto é possível interrogar: será que essa situação ainda está enraizada na cultura do nosso país, onde meninas não podem “jogar bola” nem “brincar de luta” ou praticar artes marciais?

    Um grande desafio para os professores de Educação Física, no que diz respeito ao ensino das artes marciais, será quanto ao desenvolvimento de relações democráticas de gênero. Parece-nos evidente que as artes marciais sempre foram vistas como atividades masculinizada e masculinizadora. Ou seja, foram historicamente constituídas por homens e para homens, o que significa dizer que, em grande medida, as artes marciais serviram, e ainda servem como instrumento ideológico ao ser homem. O mesmo raciocínio pode ser aplicado quanto às manifestações da cultura corporal identificadas com fazer-se mulher.

    Assim como para a prática do futebol, nas artes marciais as meninas praticantes podem vivenciar dois tipos de preconceitos: o primeiro é ser identificado como masculinizada, como homossexual; a segunda é por ter que se submeter a uma manifestação da cultura corporal ligada essencialmente a uma das matrizes de gênero, no caso, a masculina, que acaba por reforçar a primeira, criando-se, assim, um círculo vicioso, que se autoalimenta continuamente. A menos que se interfira ativamente neste processo a fim de alterá-lo (VAZ, 2003).

    A questão do gênero precisa ser problematizada nas escolas, pois esse aspecto faz parte da construção cultural e pode ser reconstruído. Não podemos permitir que o preconceito chegue a impedir que as meninas possam vivenciar o conteúdo lutas, ou que os meninos não participem de manifestações de dança, ou de atividades rítmicas e expressivas dentro das aulas de Educação Física na escola. Para que isso ocorra, a escola não pode se limitar a contextualizar esse assunto dentro das salas de aula, pois podemos considerar esse ambiente escolar como uma extensão da sociedade, onde os preconceitos podem ser transmitidos de geração em geração dentro das próprias famílias. É a partir dessa situação que a escola deve abrir um diálogo com as famílias desses alunos e entender que a realidade desses está ligada também com a realidade daqueles com os quais convivem fora das escolas.

    Com relação aos professores entrevistados terem vivenciado ou não alguma arte marcial ao longo da sua vida, dos nove entrevistados, três nunca praticaram artes marciais em nenhuma situação, dois só na universidade, e os outros quatro relataram ter treinado boxe, jiu-jítsu, judô, e Karatê como esporte.

    Percebe-se que daqueles que praticam ou praticaram alguma arte marcial, apenas um disse ter praticado o karatê em situações diferentes de uma disciplina acadêmica, os outros três disseram ter praticado boxe, jiu-jítsu e capoeira, porém, sem obrigações com a universidade (sua formação acadêmica). Além dos relatos dos professores entrevistados sobre essa falta de vivências durante a graduação e o fator de muitos nunca terem praticado nenhuma arte marcial em suas vidas faz com que essa falta de experiência gere uma insegurança na hora de sistematizar os conteúdos que serão desenvolvidos em suas aulas.

    Podemos refletir que, se por um lado há uma vasta vivência das lutas em si por parte dos atletas e praticantes, poderá existir um lado frágil a respeito do conhecimento dos mesmos acerca do desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem, considerando, por exemplo, a seleção de estratégias metodológicas, as exigências fisiológicas solicitadas, a adequação das atividades para dada faixa etária, o respeito à individualidade, além de outros aspectos. Por outro lado, é complicado imaginar também um professor formado em Educação Física com esses conhecimentos ditos acima, mas sem nenhuma vivência no karatê. Esse problema nos leva a refletir sobre o diálogo que deve existir entre o curso de Educação Física e possibilidades de experiências, seja na graduação ou pós-graduação para aqueles que nunca praticaram possam vivenciar, podendo ganhar assim condições para selecionar e sistematizar com segurança o conteúdo em questão.

    Acreditamos que a prática do karatê na Educação Física escolar não pode ser limitada a esportivização, onde muitas vezes apenas os gestos perfeitos são valorizados, e os ensinamentos dessa cultura oriental por vezes perdem sua essência. Mesmo que tenham seus significados próprios em cada contexto cultural, a prática dessa luta milenar não pode perder seus verdadeiros significados, que são o de enaltecer o ser humano sem fragmentá-lo, sua cultura, além das tradições e filosofias orientais, considerando e respeitando sua origem. Assim temos a possibilidade de modificar a forma violenta que muitos alunos entendem a prática de uma arte marcial. A busca pelo respeito, disciplina e atenção nesse tipo de vivência na realidade escolar não precisa ser feita de forma militarizada, onde alunos serão castigados e não tem o direito a questionar, onde o professor toma uma postura autoritária.

    Há de se considerar algumas coisas antes de tomar qualquer atitude diante dos alunos que participam das atividades de karatê durante as aulas de Educação Física, tais como: saber a realidade do bairro onde se localiza a escola, histórico de violência na família, a influência da mídia de forma geral, se essa cultura das artes marciais tem proximidade com os alunos ou se é algo desconhecido. O karatê na Educação Física escolar deve objetivar a formação integral do aluno, para que este possa fazer relações com sua realidade, ou seja, seu contexto de vida. Poderão assim ir mais além, fazendo do aprendizado de defesas a ataques uma manifestação cultural do movimento humano.

    Por ser um conteúdo importante a ser vivenciado por todos os alunos que freqüentam as aulas de Educação Física, as lutas de uma forma geral podem ser o ponto inicial para muitos debates interessantes dentro da escola, tais como: as brigas e enfrentamentos de torcidas organizadas, formação de gangues, violência contra mulheres, e em especial a violência dentro de instituições de ensino, inclusive em universidades. O que será que os alunos pensam sobre essas atitudes? Essas são algumas questões que as lutas podem trazer para um diálogo durante suas vivências.

    Segundo Morais (2000), a compreensão da problemática da violência numa perspectiva histórico-social demonstra que ela tem raízes profundas que perpassam desde a crise familiar, enquanto instituição social, e pelas desigualdades no âmbito econômico, social, político e cultural. A justificativa para o estudo da agressão na criança em âmbito escolar não precisa se basear em suas manifestações nos adultos. Comportamentos agressivos podem ser prontamente observados nas interações sociais das crianças com seus pais, companheiros e outros adultos. É provável que nenhuma teoria isolada chegue jamais a explicar a grande diversidade de comportamentos humanos agressivos.

    Segundo Betti (1995), falta oportunidade para os educandos conhecerem outras práticas corporais, tais como as danças, os jogos, as lutas e a ginástica, bem como há resistência de alguns professores em face de novos conteúdos, a novas propostas de ensino e em repensar o esporte na escola. Durante os relatos dos professores na entrevista, ficou claro que todos reconhecem que o karatê tem espaço dentro das escolas, e que existem fundamentos que concretizem esse conteúdo, não só como uma forma de prática esportiva, mas que, além disso, possa estar incluso na Educação Física como um componente curricular.

    A respeito do que achavam da filosofia do karatê, alguns professores entrevistados afirmaram ter conhecimentos baseados em suposições, e que sentiam necessidade de um aprofundamento.

    Acreditamos que a todo instante deve partir de nós professores o desejo de buscar o novo, aquilo que ainda não nos deixa sentir seguros e capazes de desenvolver determinado assunto. É por esse caminho que devemos olhar pra essa dificuldade que existe muitas vezes em encontrar materiais didáticos, que vão nos auxiliar em nossa prática docente, pois não podemos nos acomodar com conteúdos que possam nos fazer acreditar que dominamos completamente uma área do conhecimento.

Considerações finais

    A partir dessa pesquisa ficaram evidentes os fatores positivos e negativos, que por um lado levaram os professores entrevistados e os autores discutidos a reconhecerem o karatê como um conteúdo importante dentro do bloco lutas na Educação Física escolar. Porém, apesar desse reconhecimento, o estudo aponta que o karatê não está sendo incluído no planejamento curricular pelo professor de Educação Física. Para justificar o fato alguns professores indicaram falta de espaço, falta de conhecimento aprofundado, além da falta de vivência no karatê na sua formação como professor.

    Por sugestões e apontamentos colocados pelos próprios professores, podemos pensar uma nova perpectiva para formação dos professores através da presença efetiva do conteúdo karatê na graduação, além de poder estar presente em cursos de Atualizações e Especializações em Educação Física escolar, para que assim os professores possam estar sempre atualizados sobre os novos “olhares pedagógicos” desse conteúdo, entendendo que se um dia a evolução dessa arte marcial foi independente da escola, no momento em que sua presença for garantida nesse contexto, as artes marciais de forma geral, em especial o karatê, evolui em paralelo com a escola, ou seja, para continuar presente na escola deverá entender que contexto social a escola está presente.

Referências bibliográficas

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