Ginástica enquanto conteúdo integrante da Educação Física escolar: um relato de experiência La Gimnasia como contenido de la Educación Física escolar: relato de una experiencia |
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GIEF – Grupo Interdisciplinar de Educação Física Linha De Pesquisa Pedagogia do Movimento Humano Escola Municipal de Tempo Integral Clemente Soltis, Guarani das Missões Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, URI Campus Santo Ângelo (RS) |
Samuel Nascimento De Araújo Cinara Valency Enéas Mürmann (Brasil) |
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Resumo A ginástica compreendida como elemento da cultura corporal de movimento (CCM) possibilita a construção de conhecimentos referentes aos elementos ginásticos. A ginástica como conteúdo integrante das aulas de Educação Física na escola, geralmente não é trabalhada em sua totalidade, o que torna o conteúdo monótono, não despertando o interesse dos praticantes (NUNOMURA, 2005). Sabemos que esta possui um papel fundamental na formação do aluno, e, portanto deve ser trabalhada de uma forma acessível, sem exigências de alto rendimento possibilitando a todos a execução das atividades propostas. Neste sentido a ginástica é um dos conteúdos que contribuem para ampliar o repertório de movimentos dos alunos. O objetivo deste trabalho é proporcionar a vivencia de movimentos ginásticos através da inclusão da ginástica como conteúdo integrante do currículo de Educação Física em uma escola da rede municipal de ensino da cidade de Guarani das Missões (RS). As atividades iniciaram no primeiro semestre do ano letivo de 2010, onde participaram alunos do 1º ao 5º ano, envolvendo 86 alunos. No primeiro momento foram confeccionados materiais alternativos de ginástica para possibilitar um melhor desenvolvimento das aulas, formas construídas duas gavetas de plinto, uma trave baixa e um mini-tramp (com pneu). As aulas acontecem no turno inverso, sendo esta escola de tempo integral e são realizadas duas vezes por semana no saguão e pátio da escola. Os alunos vivenciaram os movimentos básicos de ginástica em/com aparelhos, partindo de uma educação crítica e participativa, os conteúdos já desenvolvidos foram os seguintes: rolar, saltar, embalar, balançar, parada de mãos, parada de cabeça, saltitos e voleios e elementos acrobáticos. A metodologia utilizada nas aulas fundamenta-se na concepção de aulas abertas à experiência de HILDEBRANDT (1986) e na ginástica pedagógica de MÜRMANN (1998) e LAGING (1990). As aulas práticas são organizadas através da tematização das aulas proporcionando atividades que permitam diferentes vivências em/com aparelhos, encenação da confrontação das atividades, aprendizagem por problemas. Além das intervenções pedagógicas foi construída com os alunos a coreografia de uma Ginastrada, a qual partiu das experiências de movimento vivenciadas por eles até o momento. Percebemos uma ampliação de movimento/repertório motor além de estar neste contexto realizando inclusão e integração social dos alunos, favorecendo a construção do conhecimento e o desenvolvimento de competências para a ação/tomada de decisão, acreditamos que a ginástica deve ser tematizada e desenvolvida na Educação Física como um conteúdo integrante do currículo escolar. Unitermos: Ginástica pedagógica. Educação Física. Currículo.
Abstract Gymnastics understood as part of the culture of body movement (CCM) allows the construction of knowledge concerning the gymnastic elements. Gymnastics as an integral content of physical education classes in school is generally not worked at all, which makes the dull content, not raising the interest of practitioners (NUNOMURA, 2005). We know that this has a key role in student education, and therefore must be handled in an accessible way, without requiring high performance enabling the implementation of all proposed activities. In this sense, the gym is one of the contents that contribute to expanding the repertoire of movements of students. The objective is to provide the experience of gymnastic movements through the inclusion of gymnastics as content of the curriculum of physical education in a school in the municipal schools in the city of Guarani das Missões (RS). The activities started in the first semester of the academic year 2010, attended by students from 1st to 5th year, involving 86 students. At first were made of alternative materials to provide the best gymnastics development of classes, two forms built plinth drawers, a low beam and a mini-tramp (with tire). Classes are held in the opposite shift, this being a full time school and are held twice a week in the lobby and courtyard of the school. Students experienced the basic movements of gymnastics / appliances, from a critical and participatory education, the content already developed were as follows: rolling, jumping, rocking, swinging, handstand, hang upside, bouncing volleys and elements acrobatics. The methodology used in classes based on the concept of open classes to experience HILDEBRANDT (1986) and gymnastics pedagogic Murmann (1998) and Laging (1990). The classes are organized through the theming of classes providing activities that allow different experiences in / with equipment, staging the confrontation of activities, learning problems. In addition to the educational interventions was built with the students the choreography of a Ginastrada, which departed from the experiences of movement experienced by them so far. We see an expansion of movement / motor repertoire in addition to being here doing social inclusion and integration of students, enhancing the building of knowledge and skills development for the action / decision-making, we believe that gymnastics should be developed thematically and Physical Education content as an integral part of school curriculum. Keywords: Educational gymnastics. Physical Education. Curriculum.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
O movimento humano é utilizado para fazer relação com o mundo (sociedade), onde se educa os alunos para que os mesmos possam adquirir competência para agir autonomamente. A concepção de aulas abertas propostas por Hildebrandt o ensino visa à valorização da experiência e diálogo do aluno, incentivando-o a descobrir e explorar, construindo assim a aprendizagem.
O movimento na ginástica deve atribuir diferentes significados, e reinterpretações por intermédio das interações valorizando o grupo, onde cada indivíduo explora seu potencial contribuindo para a construção deste grupo, ampliando as interações sociais, focando neste processo a demonstração e não a competição sendo neste ato o aluno o centro do processo de ensino.
Percebemos na ginástica uma forma de realizarmos um processo de socialização e construção de conhecimento, de forma que o aluno seja o centro do processo de ensino-aprendizagem e que a ginástica constitua os currículos de Educação Física e seja abordada no contexto escolar como um meio para a aquisição de habilidades motoras, afetivo-sociais, mas também como meio pra construção de uma Educação Física de qualidade.
A escola de Tempo Integral
A proposta de Educação Integral visa à superação das desigualdades e a busca ao respeito e afirmação dos direitos às diferenças, através de uma articulação intra governamental e com as comunidades envolvidas neste processo de construção de uma proposta pedagógica que torne “... a educação como direito de todos e de cada um.” (Brasil, 2009)
A Educação Integral no Brasil surge com o intuito de disfarçar as desigualdades que constitui nossa nação, desigualdade social como principal prioridade. “Por intermédio desta o país busca combater a pobreza pactuando de uma agenda pela qualidade da educação...” sendo que esta deve considerar “... o valor da diferenças, [...] o pertencimento étnico, a consciência de gênero, orientação sexual, as idades e as origens geográficas.”
Enfim busca-se com a Educação Integral construir políticas e projetos pedagógicos criativos e que combatam as desigualdades sociais e promova a inclusão educacional, Brasil (2009) afirma que: “... a situação de vulnerabilidade e risco social, embora não seja determinante, pode contribuir para o baixo rendimento escolar, para a defasagem idade/série e, em última instância, para a reprovação e evasão escolares”.
Mas não basta apenas democratizar o acesso à escola, deve-se primar pela permanência do aluno na escola sempre tornando real o direito da criança e adolescente na escola, mas com qualidade nesta educação, pois a classe social que necessita deste atendimento de “atenção integral e Educação Integral”, cientes de que os gestores devem articular os “... processos escolares com outras com outras políticas sociais, outros profissionais e equipamentos públicos, na perspectiva de garantir o sucesso escolar” Brasil (2009:13).
A ginástica e a Educação Física escolar
“A Educação Física é uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma área denominada aqui de cultura corporal. Ela está configurada com temas ou formas de atividades, particularmente corporais, como as nomeadas anteriormente: jogo, esporte, ginástica, dança ou outras, que constituirão seu conteúdo.” (Coletivo de Autores, 1992: 62).
Visto que também podemos observar que o conteúdo “ginástica” aparece em destaque nos PCN’s (Brasil, 1997:46) como proposta a ser implementada dentro dos três grandes blocos de conteúdos:
Toledo (1999) apud Toledo (2004) nos sugere uma seqüência pedagógica a ser seguida, desenvolvida no universo gímnico no ensino fundamental:
Quadro 1. Hierarquia para o desenvolvimento dos conteúdos procedimentais na Ginástica Escolar (Toledo, 1999 apud Toledo, 2004)
Ao analisarmos os pressupostos básicos que norteiam o conteúdo de ginástica na Educação Física escolares, percebemos inúmeras formas de intervenção sendo que esta modalidade muitas vezes é deixada de lado nas propostas de intervenção pedagógica na escola. Estas formas ou concepções de intervenção na escola resumem-se inúmeras vezes à calistenia, sendo realizada anterior a alguma modalidade esportiva, igualmente, percebemos a ginástica esportiva presente neste contexto, com uma proposta baseada na repetição de movimentos estereotipados, onde o aluno somente repete as inúmeras propostas sugeridas pelo professor.
Também podemos enumerar diversos aspectos que pode influenciar metodologicamente o ensino da ginástica, partindo da percepção de ginástica pedagógica ou geral em comparação com a ginástica esportiva ou de competição, como segue na tabela abaixo.
Tabela 1. Paralelo entre Ginástica Esportiva e Ginástica Pedagógica, baseado em Mürmann e Baecker (1998); Ayoub (2003)
Visto esta forma de intervenção Hildebrandt e Laging (1986) propõe a concepção de ginástica pedagógica, baseada em aulas abertas à experiência tendo com a metodologia a aprendizagem por problemas, visando que o aluno torne-se apto a tomar decisões e fazer parte do processo de construção do conhecimento, planejando coletivamente e superando os problemas impostos e conhecendo seus próprios limites e possibilidades de movimento, desta forma o aluno é o centro do ensino.
Mürmann e Baecker (1998) apresentam quatro formas de facilitação da aprendizagem da ginástica pedagógica, sendo:
Exploração livre;
Compreender as intenções do movimento;
Propostas de aprendizagem;
Configuração explorativa.
Esta concepção de ginástica prioriza a autonomia dos alunos onde o mesmo é o sujeito de sua história produzindo seus conhecimentos e tomando decisões em grupo.
Segundo Mürmann (1998) a proposta metodológica deve visar o se movimentar onde o aluno possa construir seus conhecimentos e situações de movimento, tomar decisões e participar na construção da aula, enfatizando autonomia do movimento e não aspectos ligados à técnica de movimento.
Ao analisar os pressupostos básicos que norteiam o conteúdo da ginástica na Educação Física Escolares, percebemos inúmeras formas de intervenção sendo que esta modalidade muitas vezes é também deixada de lado nos currículos de E.F.E.
Estas formas ou concepções de intervenção na escola resumem-se inúmeras vezes à calistenia, sendo realizada antes da prática de alguma modalidade esportiva, igualmente, percebemos o ginástico esportivo presente neste contexto, com uma proposta baseada na repetição de movimentos estereotipados, onde o aluno somente repete as inúmeras propostas sugeridas pelo professor.
Visto esta forma de intervenção, Hildebrandt e Laging (1986), propõe a concepção onde ginástica pedagógica, baseada em aulas abertas à experiência, tendo como metodologia a aprendizagem por problemas, visando que o aluno torne-se apto a tomar decisões e fazer parte do processo de construção do conhecimento, planejando coletivamente e superando os problemas impostos e conhecendo seus próprios limites.
A Educação Física escolar deve proporcionar aos alunos um espaço pra exploração das inúmeras possibilidades de “se movimentar” no contexto complexo de movimento, desta forma a ginástica na escola deve enfatizar o “se movimentar” como proposta metodológica “... onde o aluno possa construir suas situações de movimento, tomando decisões e participando da construção da aula, ou seja, também enfatizando os aspectos pedagógicos e não somente os aspectos técnicos e desportivos do movimento humano.” (Mürmann e Baecker, 1998).
Desta forma ao atribuir um tema para ser desenvolvido em aula, o professor deve organizar um contexto “... onde os educandos possam atribuir diferentes significados, reinterpretações, através de interações sociais, e que possam perceber as diferenças e os significados...” deste tema sugerido com outras manifestações da cultura corporal de movimento.
Ginástica e material alternativo
Um dos grandes desafios em realizar um trabalho de qualidade em Educação Física na escola nos remete a uma constante reflexão e adaptação das situações que encontramos na escola, muitas vezes somos levados a um ambiente frustrante, sem espaço adequado e sem material que nos de o mínimo possível de possibilidades de realizar uma intervenção de qualidade. Ao falar na ginástica Schiavon (2004) afirma que esta modalidade na escola contribui para “o desenvolvimento da criança em todas as dimensões, seja física, motora, cognitiva, afetiva ou social”.
A mesma autora ainda complementa falando das dificuldades em implantar uma proposta que beneficie aos alunos com o componente curricular de ginástica, e que este nos remete a dois grandes problemas:
“1. a falta de material específico dessa modalidade esportiva;
2. “ A falta de espaço adequado para a disposição dos aparelhos.”
Outra questão relevante é o alto custo para aquisição de materiais oficiais, o que dificulta ainda mais a inserção deste tema na escola, uma saída é a confecção de materiais alternativos para a prática da ginástica que também é proposto pela mesma autora.
Ressaltamos que em muitos casos o grande problema não está somente na falta de espaço ou material adequado para a prática da ginástica, este problema vem acompanhado da desqualificação e despreparo do professor, muitas vezes se chocando o saber o que fazer e não saber como fazer relacionado com a práxis profissional.
Metodologia
O presente trabalho é considerado estudo de caso, onde o professor também é pesquisador.
Este estudo privilegiou 86 alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental da Escola Municipal de Tempo Integral Clemente Soltis, do município de Guarani das Missões (RS). O estudo/pesquisa realizou-se no ano letivo de 2010, sendo realizada nas atividades em contra turno, ou turno inverso sendo que os alunos eram divididos em quatro grupos conforme a faixa etária e cada grupo tinham dois períodos de intervenção por semana com duração de 01h30min (uma hora e trinta minutos) cada intervenção. Os dados eram relatados em diário de campo, tarefas extraclasse, estudos dirigidos, revisão de literatura e avaliação dos trabalhos realizados.
Considerações finais
Sendo assim, com esta estrutura curricular montada de forma a privilegiar o conteúdo da Ginástica de forma pedagógica e lúdica no contexto escolar, construindo e reconstruindo saberes com os alunos de forma que eles sejam realmente construtores de suas aprendizagens na escola, e que os mesmos possam reconstruir a manifestação cultural da ginástica fora dos muros escolares, bem como os valores que são construídos nestas intervenções, tais como: a amizade, respeito mutuo, coleguismo, responsabilidade e acima de tudo o respeito ao ser humano por traz do praticante da ginástica.
Esperamos que estas manifestações sejam implantadas e recriadas em outras instituições de nossa localidade a fim de fazer da Ginástica um marco inicial para a construção de uma cultura corporal de movimento emancipada e crítica que zele pela construção de valores éticos e morais, e que estes invadam toda a comunidade e sociedade que os cerca.
Referências bibliográficas
AYOUB, E. Ginástica Geral e Educação Física escolar. Campinas: Ed. Unicamp, 2003.
BRASIL. Educação Integral: texto referência para o debate nacional. Brasília: MEC, Secad, 2009.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez: 1992.
HILDEBRANDT, R. Textos pedagógicos sobre o ensino da Educação Física. Ijui: Ed. Unijui, 2001.
_____________________ & LAGING, R. Concepções abertas no ensino da Educação Física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1986.
MÜRMANN, C. V. E. BAECKER, I. M. Algumas reflexões sobre ginástica pedagógica. Revista Kenesis, Santa Maria, n. 20, 95-128, 1998.
TOLEDO, E. de. A Ginástica Rítmica e Artística no ensino fundamental: uma prática possível e enriquecedora. In: MOREIRA, E.C. (Org.) Educação Física Escolar: desafios e propostas. Jundiaí, SP: Fontoura, 2004.
SCHIAVON, L. M. Materiais alternativos para a Ginástica artística. In: NUNOMURA, M. & NISTA-PICCOLO, V. Compreendendo a Ginástica Artística. São Paulo: Phorte Editora Ltda. 2004.
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