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Percepção do fenômeno da mama fantasma 

em pacientes submetidas à mastectomia

La percepción del fenómeno del seno fantasma en pacientes sometidas a mastectomía

Perception of the phantom breast phenomena in mastectomized women

 

*Fisioterapeuta, doutorado em Ciências Pneumológicas

pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria

Ambulatório e Setor de Oncologia e Quimioterapia do Hospital São Vicente de Paulo

e Clínica da Mama em Passo Fundo, Universidade Federal de Santa Maria (RS)

(Brasil)

Silvia Lorenzini*

Ana Paula Brendler

Miriam Durante

Jones Eduardo Agne

silvialorenzini@ymail.com

 

 

 

 

Resumo

          Com o objetivo de avaliar a sensibilidade e a manifestação da mama fantasma, foi realizada uma pesquisa quantitativa com análise estatística descritiva, com cálculos de média e percentual. O estudo foi realizado no Ambulatório e o setor de Oncologia e Quimioterapia do Hospital São Vicente de Paulo e a Clínica da Mama em Passo Fundo, RS. A amostra foi constituída de 25 mulheres mastectomizadas. Os dados foram coletados através da aplicação de um questionário e teste de sensibilidade com monofilamentos de Semmes-Weinsten. Verificou-se que o fenômeno da mama fantasma ocorreu em 32% das mastectomizadas. Quanto à sensibilidade no local da mastectomia, a hipoestesia foi observada em 50% das mulheres que apresentaram o fenômeno da mama fantasma e 35,3% nas que não apresentavam o fenômeno.

          Unitermos: Neoplasia da mama. Mastectomia. Sensibilidade. Fenômeno da mama fantasma.

 

Abstract

          Aiming to evaluate the sensitivity and the manifestation of the breast phantom, a quantitative analysis with descriptive statistics was performed with mean and percentage calculations. The study was conducted in the oncology and chemotherapy sector of Sao Vicente de Paulo Hospital and in Clinica da Mama in Passo Fundo, RS. The sample consisted of 25 women with mastectomies. Data were collected via a questionnaire and sensitivity testing with Semmes-Weinstein monofilaments. It was found that the phantom breast phenomenon occurred in 32% of mastectomies. Regarding the sensitivity on the mastectomy site, hypoesthesia was observed in 50% of women who had the phantom breast phenomenon and 35.3% in those without this phenomenon.

          Keywords: Breast neoplasms. Mastectomy. Sensitivity. Phantom breast phenomenon.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A neoplasia mamária é o tumor mais frequente na mulher, manifestando-se mais significativamente a partir dos 40 anos de idade, incidindo preferencialmente nas camadas sócio-econômicas mais altas1. O diagnóstico tardio resulta num maior agravo da doença exigindo uma intervenção mais radical e comprometedora como a mastectomia, que é uma cirurgia mutiladora e traumática para a mulher2.

    Nos últimos anos, a sobrevida das pacientes mastectomizadas vem aumentando devido ao grande avanço das abordagens terapêuticas, no entanto a qualidade de vida dessas pacientes depende de uma abordagem composta por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar que busque resultados visando à satisfação pessoal, emocional, social e uma auto-estima elevada3.

    Várias são as alterações que podem ocorrer após a mastectomia, como alterações da sensibilidade na região cicatricial e o fenômeno da mama fantasma3, ambas pouco estudadas e abordadas durante a avaliação pelo Fisioterapeuta.

    Foi com essa preocupação que o presente trabalho teve como objetivo avaliar a sensibilidade no local da mastectomia e a manifestação da mama fantasma.

    Visto que nos últimos anos, a sobrevida das pacientes mastectomizadas terem aumentando significativamente devido ao grande avanço das abordagens terapêuticas, ressalta-se a importância desta investigação, pois o profissional Fisioterapeuta deve ter conhecimento de todas as alterações que possam interferir na qualidade de vida dessas pacientes.

Materiais e métodos

    A pesquisa foi realizada seguindo as normas que regulamentam pesquisa com seres humanos contidas nas Resoluções 196/96 e 251/97 do Conselho Nacional de Saúde, aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Passo Fundo sob o protocolo 756/2005.

    Para avaliar a sensibilidade no local da mastectomia e a manifestação da mama fantasma, foi realizada uma pesquisa quantitativa com análise estatística descritiva, com cálculos de média e percentual.

    Os dados para este estudo foram coletados durante os anos de 2006 e 2007, no Ambulatório e setor de Oncologia/Quimioterapia do Hospital São Vicente de Paulo e Clínica da Mama em Passo Fundo, RS.

    A amostra foi constituída de vinte e cinco mulheres mastectomizadas, seguindo como critério de inclusão a realização da mastectomia por qualquer técnica cirúrgica e a faixa etária entre 20 e 70 anos de idade, sendo excluídas as mulheres que realizaram reconstrução mamária imediatamente após a cirurgia.

    Os dados foram coletados através de um questionário e teste de sensibilidade da região mastectomizada com monofilamentos de Semmes-Weinstein (Estesiômetro).

    Os monofilamentos de Semmes-Weinsten são constituídos por um conjunto de seis monofilamentos de nylon, de 38 mm de comprimento e de diâmetros diferentes. Cada monofilamento é fixado a uma haste, em ângulo de 90º, e corresponde a um nível funcional representado por uma cor. O teste começava com o mo­nofilamento mais leve (verde) e pedia-se à paciente para responder “sim” quando sentisse o toque do filamento. Na ausência de resposta, continuava-se com o próximo filamento mais pesado (azul), e assim sucessivamente. As cores dos monofilamentos, em ordem progressiva de aplicação, são: verde, azul, violeta, vermelho escuro, laranja e vermelho magenta.

    Ao se aplicar o teste, a percepção da paciente ao contato com estas hastes dá a resposta da sensibilidade da região estudada. Para realizar o teste, o cabo do instrumento era segurado de modo que o filamento de nylon ficasse perpendicular à superfície da pele, a uma distância de mais de dois cm. A pressão na pele era feita até obter a curvatura do filamento e mantida durante aproximadamente um segundo e meio, sem permitir que o mesmo deslizasse sobre a pele4.

Resultados e discussão

    Vários estudos já investigaram a presença da manifestação da sensação da mama fantasma. Nesta pesquisa, o fenômeno da mama fantasma foi experimentado por 32% das mulheres, resultados similares aos encontrados em outros estudos.

    Tasmuth, Blomqviste e Kalso5 observaram a manifestação da sensação da mama fantasma em 25% das pacientes estudadas; 33% das mulheres investigadas por Staps, Hoogenhout e Woobes6 referiram sentir dor, coceira ou vaga sensação de que a mama estaria presente; no estudo de Poma e colaboradores7 97 mulheres mastectomizadas foram estudadas sendo que 30% apresentaram a síndrome da mama fantasma; na pesquisa de Christensen e colaboradores8 com 31 mulheres jovens submetidas à mastectomia 35,5% manifestaram a sensação da mama fantasma.

    No estudo de Ferraz10, com 25 mulheres portadoras de câncer de mama, 64% apresentaram o fenômeno da mama fantasma no pós-operatório recente, 56% apresentaram no pós-operatório tardio e 48% das mulheres apresentaram no pós-operatório afastado (6 meses após a cirurgia). A mama fantasma foi descrita como sensação de persistência mamária, prurido, amortecimento, formigamento e peso.

    A média de idade das mulheres mastectomizadas que manifestaram o fenômeno da mama fantasma, neste estudo, foi de 57 anos (faixa etária entre 37 a 65 anos), resultado muito semelhante à média geral de outros estudos 7,8.

    O fenômeno da mama fantasma manifestou-se de forma dolorosa em 12,5% das pacientes, não-dolorosa em 50%, em 37,5% o fenômeno manifestou-se de maneira associada (dolorosa e não dolorosa). Não foi encontrada associação entre as manifestações da mama fantasma dolorosa e não dolorosa em outros estudos 9,11.

    Em uma entrevista com 20 mulheres, Rothemund e colaboradores9 observaram que 11 mulheres manifestaram o fenômeno da mama fantasma não dolorosa, enquanto que 9 manifestaram o fenômeno doloroso. Já Kroner11 e colaboradores em estudo com 68 pacientes entrevistadas 6 anos após a mastectomia, 17,4% das pacientes manifestaram o fenômeno não doloroso e 11,8% à forma dolorosa.

    Poma e colaboradores7 também encontraram resultados semelhantes, quanto ao fenômeno fantasma doloroso afirmando que este é menos comum, pois em seu estudo essa forma de manifestação ocorreu em somente 3 das 29 mulheres entrevistadas.

    O presente estudo assemelha-se aos estudos citados anteriormente, em relação à menor freqüência do fenômeno da mama fantasma dolorosa comparando-se ao fenômeno não doloroso.

    Estudo realizado por Ferraz10 sugere que a freqüência da mama fantasma dolorosa pode ser menor que a esperada, sendo confundida com as demais algias que fazem parte do quadro clínico e que a mama fantasma não dolorosa é freqüente podendo ocorrer antes de 48 horas após a amputação não constituindo um problema clínico. .

    Neste estudo a sensação fantasma não dolorosa foi descrita pelas pacientes como tensão, coceira e sensação de inchaço (semelhante à sentida na tensão pré-menstrual). A sensação fantasma dolorosa foi caracterizada pelas mulheres como irritante, fisgada, pontada, enjoada e agulhada.

    As mulheres entrevistadas por Rothemund e colaboradores9 descreveram a sensação fantasma não dolorosa como pontada, entorpecida, tensão, latejante, pressionante, coceira, picante e incômoda, enquanto que o fenômeno fantasma doloroso foi caracterizado como pontada, pressão, cortante, lacrimejante, tenso, convulsivo, brusco e apertado.

    Nogueira, Bergamann e Ribeiro12 em sua revisão bibliográfica encontraram descrições da sensação da mama fantasma como alfinetada, dormência, pressão, prurido e dor.

    Quanto à localização da sensação fantasma, este estudo observou que a manifestação em 50% das pacientes ocorreu no mamilo, e em 50% na mama inteira. Outro estudo constatou que a maioria das participantes localizou a sensação fantasma no mamilo7.

    No que diz respeito à percepção da sensibilidade através dos monofilamentos de Semmes-Weinsten nas mulheres entrevistadas que manifestaram o fenômeno da mama fantasma, o grau de alteração da sensibilidade predominante correspondeu à cor violeta dos monofilamentos de Semmes-Weinsten (50%), que corresponde à incapacidade para discriminar texturas e temperatura, seguidas da seguinte distribuição quanto à percepção: monofilamento verde (12,5%), monofilamento azul (nenhuma), monofilamento vermelho escuro (12,5%), monofilamento laranja (12,5%), monofilamento vermelho magenta (nenhuma), sem resposta ao teste de sensibilidade (12,5%).

    Já entre as mulheres que não manifestaram o fenômeno da mama fantasma, 35,3% apresentaram o grau de alteração de sensibilidade correspondente à cor violeta dos monofilamentos de Semmes-Weinsten, monofilamento verde (11,8%), monofilamento azul (23,5%), monofilamento vermelho escuro (17,6%), monofilamento laranja (5,9%), monofilamento, vermelho magenta (nenhuma), e, sem resposta ao teste de sensibilidade (5,9%).

    Não foram encontramos estudos que abordassem a alteração de sensibilidade com os monofilamentos, no local da mastectomia em mulheres que manifestaram o fenômeno da mama fantasma.

    Questionadas sobre o quanto conheciam a respeito do fenômeno da mama fantasma, apenas duas das mulheres entrevistadas relataram ter ouvido falar do fenômeno. Uma destas pacientes, apresentando a manifestação da sensação fantasma, relatou estar “enlouquecendo”, e sem compreender o que lhe acontecia comentou com o seu ginecologista, e este apenas lhe confirmou que existia possibilidade deste fenômeno ocorrer, sem fornecer maiores informações.

    A outra paciente apenas ouviu comentários através de outras mulheres mastectomizadas que manifestaram a mama fantasma. As demais entrevistadas (92%), relataram nunca ter recebido informação sobre este fenômeno. Durante a entrevista, as mulheres que manifestaram o fenômeno da mama fantasma relataram que a sensação é tão real que parece palpável, todavia pela falta de informação chegavam a pensar que estavam “enlouquecendo”.

    A falta de informações sobre este fenômeno gera um grande constrangimento nessas mulheres em abordar este assunto, o que está de acordo com os resultados obtidos pelo estudo de Jamison e colaboradores13 no qual a maioria das mulheres entrevistadas (58%) não relataram seus sintomas relacionados ao fenômeno fantasma ao médico, apesar destes sintomas interferirem consideravelmente em suas vidas.

    Outro fator a ser ressaltado, é que a carência de informações das pacientes sobre a manifestação do fenômeno da mama fantasma observada neste estudo pode ser pelo fato dos próprios profissionais da área da saúde desconhecerem este fenômeno que pode ocorrer após a amputação da mama.

Conclusões

    Após análise e discussão dos resultados, evidenciou-se que a ocorrência da manifestação do fenômeno da mama fantasma encontrada dentro da amostra, está de acordo com o que foi encontrado na maioria das pesquisas sobre este assunto. A freqüência do fenômeno, a localização da manifestação, a descrição das formas como se manifesta à sensação fantasma, o fato de a forma dolorosa ser menos comum e o constrangimento que as mulheres sentem em abordar este assunto são similares ao que foi encontrado nas bibliografias utilizadas que abordam estes aspectos.

    A alteração da sensibilidade na região da mastectomia, apresentada pelas mulheres que participaram deste estudo, ocorreu de forma semelhante entre as que manifestaram o fenômeno e as que não manifestaram.

    Observou-se que, as mulheres mastectomizadas não conhecem o fenômeno da mama fantasma, e, isto implica em efeitos negativos, interferindo em suas relações sociais e na sua qualidade de vida.

    No final deste trabalho de pesquisa, salienta-se a importância de ações de esclarecimento por parte dos profissionais da saúde, no que diz respeito à manifestação do fenômeno da mama fantasma a fim de melhorar a qualidade de vida das mulheres submetidas à mastectomia.

Referências

  1. Basegio DL. Por que eu? A mulher e o câncer de mama. Passo Fundo: UPF Editora, 2003.

  2. INCA. Incidência do câncer no Brasil - Estimativa 2005. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2005. Acesso em: 10 set. 2005.

  3. Cassali, DG et al. Assistência fisioterapêutica às pacientes pós cirurgia do câncer de mama. Anais do 7° encontro de extensão da UFMG - BH, 12 a 15 de set 2004.

  4. Lehman LF, Orsini MB, Nicholl AR. The development and adaptation of the Semmes-Weinstein monofilaments in Brazil. J Hand Ther. 1993; 6(4): 290-7.

  5. Tasmuth T, Blomqvist C, Kalso E. Chronic post-treatment symptoms in patients with breast cancer operated in different surgical units. European Journal of Surgical Oncology 1999; 25: 38-43.

  6. Staps T, Hoogenhout J, Woobes T. Phantom breast sensations following mastectomy. Cancer 1985; 56: 2898-2901.

  7. Poma S, Vanrenna R, Bordin G, Rubino T, Fuertes GF, Ambrosini MT, Moschini V. The phantom breast syndrome. Rev Clin Esp 1996; 196 (5): 299-391.

  8. Christensen K, Blichert - Toft M, Giersing U, Richardt C, Beckmann J. Phantom breast syndrome in young women after mastectomy for breast cancer. Physical, social and psychological aspects. Acta Chir Scand 1982; 148 (4): 351-354.

  9. Rothemund Y, Grüsser S M, Liebeskind U, Schlag P M, Flor H. Phantom phenomena in mastectomized patients and their relation to chronic and acute pre-mastectomy pain. Pain 2004; 107: 140-6.

  10. Ferraz, N. Mama Fantasma no Pós- Operatório de Mastectomia Radical Modificada. Tese - Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Brasilia, Brasilia, 2007.

  11. Kroner K, Knudsen UB, Lundby L, Hvid H. Long-term phantom breast syndrome after mastectomy. The Clinical Journal of Pain 1992; 8: 346-350.

  12. Nogueira EA, Bergamann A, Ribeiro MJP. Abordagem fisioterapêutica na mama fantasma em mulheres submetidas à cirurgia de mastectomia. Rev FisioBrasil 2005; 9 (72): 43-48.

  13. Jamison K, Wellisch DK, Katz RL, Pasnau RO. Phantom breast syndrome. Arch Surg 1979; 114 (1): 93-5.

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