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Introdução

    Nos últimos anos vários estudos ^{1,2,3,4,5,6,7} têm se preocupado em analisar e esclarecer os principais ajustes agudos e crônicos, provocados pelos diferentes tipos de exercícios (aeróbios e resistidos) sobre o sistema cardiovascular.

    Dentre as variáveis cardiovasculares mais estudadas destacam-se o duplo produto (DP) e a pressão arterial (PA) as quais têm impacto direto sobre a exigência de trabalho do miocárdio.

    Segundo Leite e Farinatti6 o duplo produto (DP) é uma variável pouco utilizada pelos profissionais da saúde. Entretanto, este parâmetro relaciona-se diretamente com FC e PA, sendo uma estimativa do trabalho do miocárdio e, portanto, expressando a intensidade de esforço sobre este órgão.

    Segundo Pollock et al.³ a taxa de trabalho imposta ao coração é menor em exercícios resistidos quando comparados a exercícios aeróbios, representado por um menor duplo produto alcançado, devido a uma menor freqüência cardíaca (FC). Contudo, o DP e PA nos exercícios resistidos podem ter respostas agudas diferentes de acordo com a característica do exercício analisado.

    Leite e Farinatti ⁶ compararam os valores de FC, pressão arterial sistólica (PAS) e DP em teste de 12 repetições máximas (RM) envolvendo exercícios de leg press, cadeira extensora, mesa flexora e flexão dos joelhos em pé, tríceps pulley e francês, rosca bíceps direta e alternada. Neste estudo os exercícios envolvendo a musculatura posterior da coxa, tríceps e bíceps braquial, apresentaram DP, FC e PAS semelhantes. Já nos exercícios envolvendo o músculo quadríceps femoral as variáveis DP e FC foram 10% maiores na cadeira extensora quando comparada as suas respostas no leg press. Assim, concluiu-se que exercícios diferentes para mesmo grupamento muscular podem ter repercussões cardiovasculares diversas.

    Polito, Rosa e Schardong⁸ realizaram estudo no qual analisaram a resposta da PA, FC e DP, em 18 voluntários, durante a extensão do joelho realizada de forma uni e bilateral até a exaustão. Tal experimento concluiu que PAS foi significativamente maior na terceira série em relação ao repouso e que a execução bilateral mostrou tendências a elevar os valores de PAS e DP em relação à execução unilateral.

    De acordo com os estudos supracitados nota-se que foram realizadas comparações de exercícios resistidos para grupamento musculares semelhantes, porém, em exercícios com características bem distintas. Tal fato deixa uma lacuna a ser preenchida quanto às respostas cardiovasculares agudas de exercícios resistidos com características semelhantes para grupamentos musculares semelhantes.

    Portanto, o presente estudo teve como objetivo comparar a resposta aguda do DP e PA em exercícios multiarticulares para grupamento muscular semelhante.

Material e métodos

População e amostra

    Para o presente estudo foram selecionados 14 voluntários, sendo 11 indivíduos do sexo feminino e três do sexo masculino, com médias de idade igual 23,8 + 4,11, sendo todos treinados há mais de 3 meses nos exercícios onde foram realizados os testes. Tal critério foi adotado para prevenir a falta de coordenação na realização dos exercícios e para uma boa realização da técnica de respiração.

    Foram utilizados como critérios de inclusão, indivíduos não fumantes, assintomáticos para doença arterial coronária, com IMC < 30 e que não utilizavam qualquer substância farmacológica que alterassem a FC e PA. Todos voluntários assinaram um termo de consentimento livre-esclarecido para a realização da pesquisa.após a aprovação da mesma pelo Comitê de Ética e Pesquisa.

Métodos

    Primeiro foi realizado um teste piloto onde foram ordenados os aparelhos de musculação, os locais de avaliação antropométricas e observados quaisquer possíveis problemas que pudessem vir a prejudicar o andamento da coleta de dados.

    No primeiro dia de avaliação os voluntários foram submetidos a avaliações antropométricas para estabelecimento do IMC individual. Após estabelecidos os critérios de inclusão, no dia seguinte os voluntários realizaram teste de 12 RM no aparelho de agachamento Smith (Physicus) e leg press 45 (Physicus) para determinar a carga utilizada no segundo dia de avaliação.

    O teste de carga de 12 RM foi realizado em dois dias, sendo um dia para determinação da carga no leg press e o outro dia para determinação da carga do agachamento. Cada voluntário foi posicionado nos aparelhos (descrição da execução mais abaixo) e realizaram com uma determinada carga 12 repetições. Se ao término das repetições o voluntário fosse capaz de realizar mais repetições, o aparelho era travado e aumentava-se a carga numa proporção de 10 por cento do valor anterior. Esperava-se três minutos e realizava novamente as 12 repetições. A carga de 12 RM era determinada quando ao término das repetições o voluntário não fosse capaz de erguer mais o peso no aparelho.

    No segundo dia analisamos a FC repouso, monitorada por um freqüencímetro (POLAR modelo A3) e PA de repouso com o esfigmomanômetro (Missouri Adulto). Para aferição de tais variáveis de repouso os voluntários foram aconselhados a ficarem cinco minutos sentados confortavelmente e em total repouso a fim de estabilizar a FC e PA. Antes de iniciar cada atividade foram verificadas a PA com o esfigmomanômetro acoplado ao braço direito do voluntário, utilizando-se o método auscultatório convencional. A aferição foi realizada três vezes consecutivas, a fim de se evitar possíveis erros de leitura. Logo em seguida foi realizado um sorteio com números (1,Agachamento;2, leg press) para determinar a atividade a ser realizada, no mesmo dia.

Execução do exercício agachamento Smith

    Após aferida a PA e FC no início do exercício o voluntário posicionava o corpo embaixo do aparelho, segurando a barra em pronação um pouco mais afastado que a largura dos ombros, favorecendo um apoio confortável da barra no músculo trapézio. Os pés encontravam-se afastados na largura dos ombros. Logo a barra era destravada do suporte e dava-se um ligeiro passo para o devido alinhamento da coluna. Um cuidado especial foi deixar a coluna ereta e olhar para frente durante o movimento. Na execução do agachamento Smith as pernas e coxas eram flexionadas até que os joelhos atingissem um ângulo de aproximadamente 90º. Em seguida as pernas e coxas eram estendidas retornando a posição inicial. O exercício foi realizado com três séries de 12RM com velocidade de execução de dois segundos na fase descendente e dois segundos na fase ascendente com intervalo de descanso entre as séries de 2 minutos. Durante todo o movimento os voluntários foram orientados a evitar a manobra de Valsalva, realizando a expiração durante a fase em que deveria vencer a resistência aplicada. Nas duas ultimas repetições de cada série, o esfigmomanômetro era inflado, sendo a leitura do aparelho realizada imediatamente ao término da última repetição, utilizando-se o mesmo método auscultatório realizado no pré-teste. A fim de se observar o comportamento das variáveis durante o período de recuperação, após a última série a PA e FC foram aferidas durante 20 minutos de recuperação numa freqüência de cinco em cinco minutos.

Execução do exercício Leg Press 45º

    Os voluntários foram posicionados no aparelho mantendo os pés paralelos na plataforma afastados na largura dos ombros e a coluna apoiada completamente no encosto. Após os voluntários apoiarem as mãos nas barras laterais de apoio e mantendo os membros inferiores estendidos, o aparelho era destravado. O movimento foi realizado partindo da posição de pernas e coxas estendidas. A partir desta posição elas eram flexionadas até os joelhos atingirem um ângulo de 90º. Ao atingirem este ponto as pernas e coxas eram estendidas novamente até a posição inicial. O movimento foi realizado em três séries de 12RM com velocidade de execução de dois segundos para a fase concêntrica e dois segundos para a fase excêntrica, com intervalo de descanso entre as séries de dois minutos. Durante todo o movimento os voluntários foram aconselhados a evitarem a manobra de Valsalva, realizando a expiração durante a fase em que deveria vencer a resistência aplicada. Nas duas ultimas repetições de cada série, o esfigmomanômetro era inflado, sendo a leitura do aparelho realizada imediatamente ao término da última repetição, seguindo o mesmo procedimento realizado no exercício agachamento Smith. Após a última série a PA e FC foram aferidas durante 20 minutos de recuperação numa freqüência de cinco em cinco minutos a fim de se observar o comportamento destas variáveis, obedecendo ao mesmo procedimento já descrito no exercício agachamento Smith.

    Para análise dos resultados foi aplicado o teste U de Mann-Whitney ⁹, aos valores obtidos nos exercícios de Leg Press 45º e Agachamento Smith, com nível de significância em 0,05.

Resultados

    De acordo com os resultados (tabela 1), observa-se que quanto ao exercício Leg Press 45º, foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre as medidas obtidas na situação pré e na situação pós-exercício, com relação às variáveis: FC, PAS e DP, sendo que os resultados obtidos na situação pós foram os mais elevados.

Tabela 1. Comportamento das variáveis cardiovasculares pré e pós exercício de leg press 45º

    Quanto ao exercício de Agachamento Smith (tabela 2) foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre as medidas de todas as variáveis analisadas, sendo que os resultados obtidos na situação pós-exercícios foram mais elevados, com relação às variáveis: FC, PAS e DP. Com relação à variável PAD, os valores mais elevados foram obtidos na situação pré-exercício.

Tabela 2. Comportamento das variáveis Cardiovasculares pré e pós exercício de agachamento Smith

    Após o término dos exercícios foram coletados os valores das variáveis da FC, PAS, PAD e DP de 5 em 5 minutos totalizando 20 minutos.

    As médias dos resultados estão demonstradas no gráfico 1 (para as variáveis de FC nos dois exercícios) gráfico 2 (para as variáveis de PAS e PAD nos dois exercícios) e no gráfico 3 (para as variáveis de DP nos dois exercícios)

Gráfico 1

    A FC teve uma queda logo após 5 minutos do término do exercício quando comparado aos valores pós esforço demonstrado na tabela 1.

    Porém, os valores permaneceram mais altos em comparação aos valores de repouso conforme gráfico 1.

Gráfico 2

    No gráfico nº 02 a PA teve uma queda rápida nos dez primeiros minutos, abaixo do nível de repouso e permanecendo baixa durante os 20 minutos analisados. As respostas desta variável foram semelhantes nos dois exercícios.

Gráfico 3

    Com relação ao gráfico nº 3 a resposta do DP foi similar nos dois tipos de exercícios, sendo conseqüência da queda da FC e PAS.

Discussão

    Antes de começarmos a discussão é necessário levantar alguns comentários sobre os métodos adotados. A primeira é sobre a aferição a PA, que foi realizada com o método auscultatório, uma vez que o método de cateterismo é considerado o mais fidedigno. Porém, como cateterismo é um método invasivo, poderia proporcionar efeitos adversos como dores, espasmo, oclusão, sangramento e síncope do sujeito analisado. Portanto, procuramos diminuir a discrepância do método indireto para o método direto, realizando a aferição da PA na última repetição de cada série¹⁰.

    Pesquisas realizadas^{6, 8} buscaram estudar variáveis hemodinâmicas durante o exercício resistido, tentando esclarecer as sobrecargas impostas ao miocárdio durante o treinamento. Contudo, a maioria dos estudos focou em analisar grupamentos musculares diferentes ou exercícios com características diferentes (uni e multiarticular) para o mesmo grupamento muscular. Tal fato ressalta a diferenciação do presente trabalho, pois, propõe análise das variáveis hemodinâmicas em exercícios com características semelhantes para o mesmo grupamento muscular.

    Em relação ao DP houve diferenças significativas nas duas atividades comparadas entre si na situação pré e pós-exercício. Tal fato está respaldado pela literatura clássica de fisiologia do exercício a qual relata que em exercícios de naturezas diversas (tanto aeróbio quanto anaeróbio) há um aumento tanto da FC quanto da PAS e consequentemente do DP^11,12.

    Em relação especificamente ao DP no exercício Leg Press 45º nossos resultados corroboram com Leite e Farinatti6 os quais observaram aumento na média desta variável, porém utilizando uma amostragem menor que a utilizada no presente estudo. Quando os exercícios foram comparados, o DP foi maior no exercício do agachamento Smith do que no exercício de Leg Press 45º. Este fato pode ser explicado devido principalmente a um maior aumento da FC no exercício de agachamento Smith, já que a PAS em ambos não se diferenciou.

    Em relação a variável PA, Polito et al ⁸ ao compararem a resposta desta variável em exercício unilateral e bilateral de extensão de joelho observaram uma maior tendência de aumento da PA no segundo. Já em nosso estudo a comparação foi feita entre exercícios bilaterais e com características semelhantes, não se observando diferenças do comportamento da PA durante a execução de ambos. Tal ocorrência pode ser explicada pelo fato de que no estudo do autor supracitado a realização de exercícios bilaterais a massa muscular envolvida é maior quando comparado a exercícios unilaterais. Assim, têm-se oclusão de um maior número de vasos o que leva a um maior aumento da resistência periférica. Juntando-se a isto se observa que quanto maior a massa muscular envolvida maior a necessidade de fluxo sangüíneo. O aumento da resistência periférica juntamente com a maior demanda de fluxo sangüíneo irá levar a maiores respostas da PA. Já em nosso estudo, por se tratar de exercício com mesma característica (bilateral e multiarticular) para o mesmo grupamento muscular, é normal que o comportamento da PA seja semelhante durante a execução de ambos. Tal fato é respaldado por Pollock 3 que ressalta a resposta da FC e PA é proporcional à porcentagem da carga voluntária máxima e massa muscular envolvida. A respeito da PAS em nosso estudo a média foi de 150,2 mmHg, para o exercício de Leg Press, a qual foi menor daquela observada por alguns autores ^{13, 14, 6} . Contudo, nosso estudo diferenciou destes autores, em relação ao método de verificação da PA e intensidade de esforço e ritmo de execução do movimento. Gotshall et al. ¹³, utilizaram o Finapres como método de aferição de PA, carga de trabalho correspondente a 10RM de execução do movimento três segundos para a fase concêntrica e três segundos na fase excêntrica. Portanto, a intensidade do esforço e o tempo de tensão muscular foram consideravelmente maiores, o que levou a uma maior resposta da PA em relação aos dados observados na presente pesquisa.

    Os dados obtidos em nosso estudo com relação a FC foi em média de 158,2 bpm para o exercício de agachamento Smith e 140 bpm para o exercício leg press 45º. A alta FC do exercício de agachamento pode estar associada ao modo de execução, pois o retorno venoso é favorecido no exercício de leg press, uma vez que, o movimento é realizado com os membros inferiores elevados. Por conseqüência ocorre um favorecimento do volume sistólico. Em contrapartida, no exercício de agachamento Smith, não ocorre essa facilitação do retorno venoso, tendo como conseqüência um aumento FC para não comprometer o débito cardíaco devido ao menor volume sistólico neste exercício ¹⁵. Portanto, estes achados nos chamam a atenção para a maior exigência do miocárdio durante o exercício agachamento Smith em relação ao leg press 45º, indicando que o segundo deveria ser, preferencialmente, escolhido para integrar um programa de exercícios, principalmente referentes àqueles elaborados para sujeitos com maiores riscos cardiovasculares.

    Verificamos também a resposta hipotensiva após a sessão dos dois exercícios. Houve uma queda da PAD nos dois exercícios, fatos que vão de acordo com os achados por Hill et.al.¹⁶; Bermudes ¹⁷ onde esta queda está associada à redução da resistência vascular. Segundo Macdonald (2002) apud Polito et al.⁸, os fatores associados para tal condição são desconhecidos. Entretanto, podemos inferir que esta queda da PAD se deve ao fato de uma maior vasodilatação após o exercício, pois, com o relaxamento da musculatura a barreira imposta pela contração muscular à dilatação dos vasos é neutralizada. Como se pode observar no gráfico 1, a queda da FC foi maior no exercício de agachamento Smith do que aqueles observados no leg press 45º. Porém, em ambos, continuaram elevados acima dos níveis de repouso. Esta resposta da FC durante a recuperação do exercício, pode ser motivada pela ação dos barorreceptores influenciados pela queda da PA levando a um aumento da atividade simpática para o coração¹⁸. Assim, vemos serem necessários mais estudos que possam observar o comportamento destas variáveis por um período maior de recuperação.

    De acordo com o gráfico 2, a PAS após ambos os exercícios teve uma queda semelhante abaixo dos níveis de repouso. Roltsch et al. 2 verificaram que não houve grandes reduções da PAS em indivíduos normais, homens e mulheres treinados por 24 horas. É provável que possa não haver uma redução da PAS por um grande período de tempo. Este fato também foi observado pelo estudo de Polito et al ⁴. Contudo, em nosso estudo, verificamos apenas 20 minutos após uma única sessão de exercício. Portanto, uma única sessão de exercício resistido para membros inferiores parece obter uma resposta hipotensiva pós esforço durante os primeiros 10 minutos de recuperação, após os quais tende a voltar aos níveis de repouso. Tal fato foi observado em menor tempo por Hill et al. ¹⁶, onde em seu estudo constatou que a PA reduziu logo após o término do exercício, porém, a 1 minuto de ter encerrado o exercício a PA voltou ao seu nível de repouso.

Conclusão

    De acordo com os procedimentos adotados e resultados encontrados pode-se concluir que o exercício agachamento Smith possui maior exigência sobre o miocárdio quando comparado ao exercício Leg Press 45o devido ao seu maior DP, o qual é influenciado diretamente por uma maior FC neste exercício.

Referências bibliográficas

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 159 | Buenos Aires, Agosto de 2011   © 1997-2011 Derechos reservados