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Qualidade de vida e distúrbios osteomusculares em 

cuidadores de pessoas com necessidades especiais

Calidad de vida y trastornos musculoesqueléticos en cuidadores de personas con necesidades especiales

 

*Fisioterapeuta, Doutoranda em Atividade Física e Saúde no Departamento

de Educação Física da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná

**Fisioterapeuta, Mestranda em Comportamento Motor no Departamento

de Educação Física da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná

***Professora de Educação Física, Mestranda em Educação Física

no Departamento de Educação Física da Universidade Federal

do Paraná, Curitiba, Paraná

****Fisioterapeuta, Aluna ouvinte, colaboradora no Programa de Mestrado

do Departamento de Educação Física da Universidade Federal

do Paraná, Curitiba, Paraná

*****Professora do curso de Artes, da Universidade Federal

do Paraná, Matinhos, Paraná

******Professora do Curso de Fisioterapia e do Programa de Mestrado

do Departamento de Educação Física da Universidade Federal

do Paraná, Matinhos, Paraná

Bárbara Maria Camilotti*

Elisangela Valevein Rodrigues**

Renata Wassmansdorf***

Thais Manzolin****

Gisele Kliemann*****

Vera Lucia Israel******

elisvalevein@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: Cuidador é a pessoa que assume a responsabilidade de assistir e garantir ao individuo de necessidades especiais adequadas condições de saúde e de funcionalidade. Sua responsabilidade interfere diretamente na qualidade de vida tanto do indivíduo cuidado como na do próprio cuidador. Ao considerar os impactos que essas atribuições podem ocasionar este estudo propõe caracterizar a qualidade de vida e identificar os distúrbios osteomusculares de cuidadores de pessoas com necessidades especiais e correlacionar os indicadores de qualidade de vida com distúrbios osteomusculares e com as relações com o nível de escolaridade, estado civil, filhos e tempo de função. Metodologia: A amostra foi composta por 20 cuidadoras de pessoas com necessidades especiais de uma instituição de Curitiba-Pr, do sexo feminino, com média de idade de 39,47 ± 9,19 anos. Para caracterizar a qualidade de vida foi utilizado o questionário WHOQOL Bref e para identificar distúrbios osteomusculares foi aplicado o Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ). Foram realizadas as análises descritivas com média, desvio padrão, erro padrão, valores mínimos e máximos com p<0,05. Utilizou-se teste de Pearson e de Sperman para verificar as correlações. Resultados: O domínio físico, psicológico e das relações sociais apresentaram escore maior que 70, e o domínio do meio ambiente escore maior que 50. No entanto a qualidade de vida geral e satisfação com a própria saúde apresentaram valores mais baixos, 17 e 15 respectivamente. No NMQ observou-se que a parte superior e inferior da coluna vertebral foi o distúrbio osteomuscular mais citado entre os avaliados. A maioria (65% das cuidadoras) trabalhavam nesta função em média há 4,67 anos. As cuidadoras realizavam jornada de trabalho de 12/36 horas, 65% eram casadas, 50% possuem 2 filhos, 40% das cuidadoras tinham o 2º grau completo. Conclusão: O nível de qualidade de vida apresentou-se satisfatório para os domínios, mas insatisfatório nas questões gerais. A quantidade de distúrbios osteomusculares relatados pelos cuidadores foi elevada, sendo a coluna a parte mais prejudicada para as cuidadoras. Quanto maior o relato de dor, menor foi o escore dos domínios físico, psicológico e de meio ambiente e para a questão geral sobre a satisfação com a própria saúde. E quanto maior a idade, maior foram os escores de qualidade de vida.

          Unitermos: Cuidador. Qualidade de vida. Distúrbios osteomusculares. Pessoas especiais.

 

Abstract

          Introduction: Caregiver is a person who has responsibility to assist and ensure the individual with special needs appropriate health and functionality. Your responsibility directly interferes with quality of life for both the individual's own care as the caregiver. When considering the impacts that these assignments can lead this study proposes to characterize the quality of life and to identify musculoskeletal disorders in caregivers of people with special needs and to correlate the indicators of quality of life with musculoskeletal disorders and the relationship with education level, marital status, children and time of function. Methodology: A sample consisted of 20 caregivers of people with special needs of an institution of Curitiba-Pr, female, with a mean age of 39.47 ± 9.19 years. To characterize the quality of life questionnaire was used to identify and WHOQOL Bref musculoskeletal disorders was applied Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ). Analyses were performed using descriptive mean, standard deviation, standard error, minimum and maximum values with p <0.05. We used Pearson correlation coefficient and Spearman correlations to verify. Results: The physical, psychological and social relations had a score greater than 70, and the field of environment score greater than 50. However the overall quality of life and satisfaction with their health showed lower values, 17 and 15 respectively. In NMQ observed that the top and bottom of spine musculoskeletal disorder was the most cited among those evaluated. Most (65% of caregivers) were working in this capacity for an average of 4.67 years. The caregivers performed shift work 12/36 hours, 65% were married, 50% have two children, 40% of caregivers had the 2nd degree completion. Conclusion: The quality of life had to be satisfactory for the domains, but unsatisfactory in the general questions. The amount of musculoskeletal disorders reported by caregivers was high, and the column the most impaired for the caregivers. The greater reporting of pain, the lower the score of the physical, psychological and environment and to the general question about satisfaction with their health. And the older, higher were the scores of quality of life.

          Keywords: Caregiver. Quality of life. Musculoskeletal disorders. People with special needs.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Na área da saúde ocorre um direcionamento das atividades para o desenvolvimento pleno as funções humanas considerando o conceito ampliado e integral de atenção. Na esteira deste conceito funcional este estudo envolve a temática das pessoas que cuidam destes aspectos.

    Cuidador é a pessoa que assume a responsabilidade de cuidar, dar suporte e assistir necessidades básicas e especiais visando melhoria da saúde e qualidade de vida da pessoa cuidada (LEITÃO E ALMEIDA, 2000). Suas funções vão desde alimentação, higiene até lazer. Oliveira et al. (2008) apontam que a rotina diária do cuidador é estressante e sobrecarrega partes do corpo, especialmente a coluna vertebral, tanto quando se cuida de crianças quanto de adultos e idosos. A sobrecarga pode ser muito maior quando se trata de crianças e adultos especiais e/ ou com paralisia cerebral. Além do esforço físico, há uma demanda emocional que pode comprometer a qualidade de vida deste cuidador (Oliveira et al. 2008).

    Assim entende-se que qualidade de vida é um conceito amplo e complexo, que engloba a saúde física, o estado psicológico, o nível de independência, as relações sociais, as crenças pessoais e a relação com as características do meio ambiente (Fleck et al. 2000). A qualidade de vida reflete a percepção que os indivíduos possuem de suas necessidades, se estão sendo obtidas ou, se as oportunidades de se alcançar a felicidade e a auto-realização estão sendo negadas, independentemente de suas condições sócio-econômicas e de saúde (PEREIRA et al. 2006). A qualidade de vida relacionada à saúde pode ser definida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (Fleck et al. 2000).

    Diversas pesquisas têm avaliado a qualidade de vida da população como, por exemplo, o estudo de Mason et al. (2008) e Horng et al. (2005) que avaliaram a qualidade de vida em indivíduos com dores lombares, Paskulin et al. (2009), Silva et al. (2009) e Murphy et al. (2009) que analisaram a qualidade de vida de idosos. Outros pesquisadores avaliaram a qualidade de vida de cuidadores (LEITÃO; ALMEIDA, 2000; DAMAS et al. 2004). Karsch (2003) e Cerqueira e Oliveira (2002) avaliaram a qualidade de vida de cuidadores de idosos, Barbosa e Fernandes (2009) cuidadores de crianças com transtorno do espectro de autístico, Oliveira et al. (2008) cuidadores de crianças com paralisia cerebral, com enfoque às mães de crianças com paralisia cerebral. Makiyama et al. (2004) e Bocchi (2004) cuidadores de pessoas com sequelas de acidente vascular cerebral (AVC), Garrido e Menezes (2004) de cuidadores de idosos com demência. Não foram encontrados, até o presente momento, artigos científicos que avaliassem a qualidade de vida de cuidadores de crianças e adultos institucionalizadas e relacionassem com os relatos de distúrbios osteomusculares.

    A dor é um sinal de alerta, um aviso que nos remete atenção. No entanto é subjetiva, não visual e individual. Cada indivíduo constrói o significado a partir de suas próprias experiências dolorosas físicas ou não (WINK e CARTANA, 2007). A dor é considerada um problema de saúde tanto pelo aspecto físico quanto pelo grande impacto sócio-econômico e conseqüente comprometimento da qualidade de vida. Além disso, é responsável por dias de trabalho perdidos e altos custos médicos. Croft et al (1993) em seu estudo, encontraram11,2% de prevalência de dor crônica em adultos. Storzhenko et al (2004) realizaram estudo com a população adulta de Yekaterinburg, Rússia, a prevalência foi de 13,3% de dor, sem diferença entre os sexos, com associação a sintomas psico-emocionais.

    Assim este estudo propõe identificar o nível da qualidade de vida e quantificar os distúrbios osteomusculares relatados pelos cuidadores de crianças e jovens com necessidades especiais. Também tem objetivo verificar o grau de relação entre os domínios de qualidade de vida com os distúrbios osteomusculares relatados. Além de verificar o grau de relação entre os domínios de qualidade de vida com a idade, nível de escolaridade, estado civil, tempo de função como cuidador de pessoas com necessidades especiais.

Materiais e métodos

Amostra

    Foram entrevistados 23 cuidadores de pessoas com necessidades especiais de uma instituição de Curitiba. Foram incluídos todos os cuidadores do turno diurno, porém, foi excluído, o único homem cuidador para padronização da amostra e 2 questionários preenchidos de forma incompleta.

Instrumentos de coleta de dados

    Primeiramente os cuidadores preencheram um questionário composto por dados de identificação. Para verificar a qualidade de vida dos cuidadores foi solicitado, o preenchimento do questionário genérico sobre qualidade de vida da OMS, o World Health Organization Quality of Life Instrument Bref (WHOQOL Bref) (OMS, 1998). Este questionário foi produzido pela entidade diante da crescente necessidade de avaliação da qualidade de vida e da falta de um instrumento internacional para avaliação desta (Fleck et al., 2000).

    Neste questionário, as duas primeiras questões são chamadas overall ou Qualidade de Vida Geral (QVG) e, quando calculadas em conjunto, geram um escore independente dos domínios. A primeira refere-se à qualidade de vida de modo geral, e a segunda, à satisfação com a própria saúde. As outras questões compõem os 4 domínios (físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente) divididos em 24 facetas, conforme Tabela 1. As respostas das questões apresentam escalas do tipo Likert, com cinco níveis cada uma e pontuação que pode variar de 1 a 5.

Tabela 1. Domínios e facetas WHOQOL (OMS, 1998)

Fonte: Fleck et al., 2000.

    Para identificar distúrbios osteomusculares foi aplicado o Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ) (KUORINKA, 1987), Figura 1. O NMQ foi desenvolvido com a proposta de padronizar a mensuração de relato de sintomas osteomusculares e, assim, facilitar a comparação dos resultados entre os estudos (KUORINKA, 1987).

    Esse questionário não é indicado como base para diagnóstico clínico, mas para a identificação do perfil de distúrbios osteomusculares e, como tal, poder constituir importante instrumento de diagnóstico do ambiente ou do posto de trabalho. Há três formas do NMQ: uma forma geral, compreendendo todas as áreas anatômicas, e outras duas específicas para as regiões lombar e de cervical e ombros. A forma geral do NMQ é a que recebe apresentação no presente estudo (PINHEIRO, 2002).

    O instrumento consiste em escolhas múltiplas ou binárias quanto à ocorrência de sintomas nas diversas regiões anatômicas nas quais são mais comuns. O respondente deve relatar a ocorrência dos sintomas considerando os 12 meses e os 7 dias precedentes à entrevista, bem como relatar a ocorrência de afastamento das atividades rotineiras no último ano (PINHEIRO, 2002), Figura 1.

Figura 1. Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ)

Fonte: Barros e Alexandre (2003)

Análise estatística

    A análise estatística foi realizada com o auxílio do programa estatístico SPSS versão 17.0. Análises descritivas e inferências foram conduzidas considerando um nível de significância de p<0,05.

    Na descrição das variáveis foram empregados os procedimentos descritivos de média, desvio padrão, erro padrão, valores mínimos e máximos. Para verificar a normalidade das variáveis foi aplicado teste de normalidade de Shapiro-Wilk. Para as variáveis normalizadas (domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente, o escore de qualidade de vida geral e escore de satisfação com a própria saúde e a idade) utilizou-se teste de correlação de Pearson e para as variáveis não normalizadas (nível de escolaridade, tempo de função como cuidador, estado civil e número de filhos) utilizou-se a correlação de Sperman.

Resultados

    A proposta deste estudo foi de identificar o nível da qualidade de vida e quantificar os distúrbios osteomusculares relatados pelos cuidadores de crianças e jovens com necessidades especiais. Além disso, verificar o grau de relação entre os domínios de qualidade de vida com os distúrbios osteomusculares relatados e com a idade, nível de escolaridade, estado civil, tempo de função como cuidador de pessoas com necessidades especiais.

    Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, a amostra foi composta por 20 cuidadoras, do sexo feminino, com média de idade de 39,47 ± 9,19 anos, sendo a cuidadora de menor idade com 25 e a maior com 53 anos.

    As cuidadoras realizam jornada de trabalho de 12 por 36 horas, em que trabalham 12 horas na instituição e retornam depois de 36 horas. Os indivíduos especiais residem em várias casas, denominadas de Lares, de acordo com grau de deficiência, e as cuidadoras se dividem e cuidam sempre dos mesmos indivíduos pertencentes a um determinado Lar conforme designado pela Instituição. No período de descanso do trabalho, cada cuidadora retorna a sua residência particular. Destas cuidadoras a maioria 65% era casada, 20% solteira, 10% divorciada e apenas 5% era viúva. Foi averiguado se tinham filhos e maioria das cuidadoras, 50% tem 2 filhos, 20% tem 3 filhos, 15% não tem filhos, 5% tem 5 filhos, 5% tem 4 filhos e 5% tem 1 filho.

    Quanto ao nível de escolaridade, 30% das cuidadoras possuíam o 1º grau completo, 40% o 2º grau completo, 25% eram técnicas em enfermagem e 5% auxiliares de enfermagem.

    Quanto ao tempo de trabalho na função de cuidadora de pessoas especiais, 65% cuidadoras trabalham nesta função entre 3 a 56 meses (4,67 anos), 10% trabalham de 56 a 109 meses (9,08 anos), 10% trabalham de 109 a 162 meses (13,50 anos) e 15% trabalharam na função há mais de 215 meses (17,92 anos).

    A identificação do nível de qualidade de vida das cuidadoras é apresentada na Tabela 2. Estão descritos a amostra (n), média, desvio padrão (DP), erro padrão (EP) e valores mínimos e máximos encontrados sobre os 4 domínios (físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente) e a classificação geral de qualidade de vida separada em qualidade de vida de modo geral e à satisfação com a própria saúde, obtidos pelo questionário WHOQOL Bref.

Tabela 2. Análise descritiva do perfil de qualidade de vida das cuidadoras

    De 20 cuidadoras, 17 (85%) relataram dores, ou formigamento ou dormência sentida nos últimos 12 meses em pelo menos uma região do corpo. Dez cuidadoras (50%) relataram que ficaram impedidas de realizar suas atividades cotidianas nos últimos 12 meses em função da dor relatada na pergunta anterior e procuraram um profissional da saúde devido à dor. E 12 cuidadoras (60%) relataram dores, ou formigamento ou dormência sentida nos últimos 7 dias (Figura 2).

Figura 2. Distribuição de freqüência dos relatos de dor pelo NMQ

    A localização dos distúrbios osteomusculares relatados foram tabulados e apresentados na Tabela 3. Como cada cuidadora podia indicar mais de um local com dor, esta tabela ilustra a quantidade de vezes que cada parte do corpo foi apontada. Estão os valores absolutos e relativos obtidos com a aplicação do NMQ com a freqüência de dores, ou formigamento ou dormência sentida nos últimos 12 meses, com a freqüência de vezes em que a cuidadora ficou impedida de realizar suas atividades cotidianas nos últimos 12 meses em função da dor relatada na pergunta anterior, a freqüência em que foi procurado um profissional da saúde nos últimos 12 meses e freqüência de dores, ou formigamento ou dormência sentida nos últimos 7 dias.

Tabela 3. Distribuição de freqüências e percentual da ocorrência de dor, formigamento ou dormência

N: número de indivíduos da amostra que tiveram resposta afirmativa para a questão. %: porcentagem de indivíduos da amostra que tiveram resposta afirmativa para a questão.

    O grau de relação entre os quatro domínios de qualidade de vida e os distúrbios osteomusculares é apresentado na Tabela 4. Os domínios físico, psicológico e meio ambiente apresentaram maior correlação do que o domínio das relações sociais. O escore de qualidade de vida geral não apresentou correlação com as questões de distúrbios osteomusculares. Ao contrário, a satisfação com a própria saúde, apresentou correlação moderada. Como esperado, todas as correlações foram negativas, ou seja, quanto maior a quantidade de relatos de dor, menor foi o escore de qualidade de vida.

Tabela 4. Correlação entre os 4 domínios, a qualidade de vida geral (QVG), satisfação com própria saúde e as 4 perguntas do NMQ

    A idade apresentou correlação significativa, porém fraca para os domínios físico, psicológico e de relações sociais. A escolaridade, correlação significativa, porém fraca e negativa entre o domínio físico e psicológico. O tempo de função, estado civil e número de filhos não apresentaram correlação significativa com nenhum dos domínios de qualidade de vida. Para a qualidade de vida geral e satisfação com a própria saúde não foram encontradas nenhuma correlação significativa com relação à idade, nível de escolaridade, tempo de função como cuidadora, estado civil e número de filhos (Tabela 5).

Tabela 5. Correlação entre os 4 domínios, a qualidade de vida geral (QVG), satisfação com 

própria saúde e a idade, escolaridade, tempo de função, estado civil e número de filhos.

Discussão

    Na aplicação do questionário WHOQOL Bref obteve-se resultado satisfatório com relação à qualidade de vida nos quatro domínios. O domínio físico, psicológico e das relações sociais apresentaram escore maior que 70, e o domínio do meio ambiente escore maior que 50. No entanto a qualidade de vida geral e satisfação com a própria saúde apresentaram valores mais baixos, 17 e 15 respectivamente.

    Percebe-se uma desigualdade entre o resultado obtido pelos domínios e o apresentado pelas questões gerais de qualidade de vida. Outros estudos observaram que a percepção da qualidade de vida pelas duas questões genéricas do WHOQOL Bref parece ser associada a sintomas de ansiedade e depressão (Sullivan et al 2000; FLECK et al. 2002). Fleck et al. (2002), verificou a qualidade de vida pelas duas questões genéricas do WHOQOL-Bref e comparou com outro questionário desenvolvido para medir sintomas depressivos, na população de pacientes que procuraram um serviço de cuidados primários em uma capital brasileira. O estudo mostrou uma relação inversa entre percepção de qualidade de vida e intensidade da sintomatologia depressiva. Os resultados mostraram que os pacientes com mais sintomas depressivos tinham mais comprometimento do funcionamento físico e psicológico e avaliavam sua qualidade de vida como pior e estavam menos satisfeitos com a própria saúde. No presente estudo, não foi avaliado o nível de ansiedade ou depressão, portanto não podemos afirmar que a diferença entre o resultado da qualidade de vida obtida pelos domínios e pelas questões genéricas tenha apresentado valores diferentes devido a estes quesitos.

    Outros estudos com qualidade de vida em diversas populações não apresentaram estas diferenças. Gordia et al (2009) analisou a qualidade de vida de adolescentes estudantes de uma escola da rede particular de ensino da cidade de Curitiba e não apresentou diferenças, tanto em relação à QV global, quanto para os domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente.

    Cuidadores familiares ou domiciliares, que possuem uma carga de trabalho diário físico e cognitivo extenuante apresentam diminuição na percepção de sua qualidade de vida (AMENDOLA et al, 2008). Por outro lado, a jornada de trabalho de 12 horas com descanso de 36 horas, pode ser um ponto positivo para elevar os escores dos domínios de qualidade de vida, pois o cuidador tem como retornar ao seu lar, descansar, relaxar, cuidar de si e de sua família e ter tempo de lazer.

    Os resultados encontrados a partir do NMQ (Tabela 3) mostram uma grande incidência de dor. Mais da metade dos cuidadores sente dor em pelo menos uma parte do corpo. Observou-se que a região que apresentou maior percentual de dor, formigamento e/ou dormência nos últimos 12 (doze) meses, foi a parte superior das costas (região cervical), com o percentual de 18% em relação às demais partes do corpo questionadas. Porém nas demais perguntas, a parte inferior das costas (região lombar) é que apresentou os percentuais mais altos de incidência: 32% relataram dor nos últimos 7 dias, 22% descreveram o impedimento de realizar atividades normais (trabalho, atividades domésticas e lazer) e 24% em relação à necessidade de consulta de algum profissional de saúde, também nos últimos 12 meses). Outro estudo, com trabalhadores de enfermagem, também apontou a região lombar como a mais freqüente, comprometendo 59,3% dos casos (PARADA et al. 2002). A grande incidência dos distúrbios osteomusculares está atribuída principalmente a fatores ergonômicos e posturais inadequados, presentes na dinâmica do trabalho do cuidador, em que estão envolvidos ampla variabilidade funcional, entre elas a higiene, o transporte e a manipulação de pacientes, atividades essas que exigem do profissional grande esforço físico, tensão muscular além de fatores psicológicos, despreparo e a falta de treinamento adequado para realizar os cuidados.

    Mesmo os escores de qualidade de vida tendo sido apontados como satisfatórios, os domínios físico, psicológico e meio ambiente apresentaram correlação significativa, moderada e negativa com relação aos relatos de dor dormência ou formigamento nos últimos 12 meses, com o impedimento de realizar atividades normais e em relação à necessidade de consulta de algum profissional de saúde. Quanto maior a incidência de dor, menor os escores de qualidade de vida.

    A questão geral sobre a satisfação com a própria saúde parece ter sido mais sensível para identificar a real situação da qualidade de vida relacionada à saúde. A analise de seu baixo escore e sua moderada e negativa correlação com o NMQ corroboram para um contexto de insatisfação na qualidade de vida desses cuidadores.

    O próprio conceito de qualidade de vida relacionada à saúde nos remete a compreensão de que a dor aguda ou crônica é um potente causador de infelicidade e preocupações que dificultam a vida de um trabalhador. A dor é um sintoma que interfere na percepção de qualidade de vida, provoca sentimentos de vulnerabilidade e desamparo, limita as atividades cotidianas, sociais e de lazer, tendendo a influenciar a qualidade de vida das pessoas (BRASIL et al., 2008).

    Em geral, a alteração da função física costuma ser sinal de alerta no que diz respeito à saúde, e, de todos os sinais e sintomas de enfermidades, possivelmente o mais comum e urgente é a dor. Ela incapacita e aflige mais pessoas do que qualquer quadro patológico particular e talvez seja a razão mais comum e decisiva pela qual uma pessoa procure o médico (PATRICIO et al., 2002).

    Neste estudo, a idade apresentou correlação significativa, porém fraca para os domínios físico, psicológico e de relações sociais. Mas ao contrário do esperado, a correlação foi positiva, quanto maior a idade, maior o escore nos domínios de qualidade de vida. O grau de relação entre os domínios de qualidade de vida com número de filhos, o estado civil e tempo de função como cuidador de pessoas com necessidades especiais não foi significativo.

    Keyes et al. (2002) realizaram estudo investigando os construtos de bem-estar subjetivo e bem-estar psicológico conforme faixa etária. A amostra foi composta por 3032 participantes americanos, composta por três grupos de idade: 33,2% adultos (25-39 anos), 46% de meia idade (40-59 anos) e 20,8% idosos (60-74anos). Neste estudo, pessoas de meia idade e idosos que possuem alto nível de escolaridade são provavelmente mais prósperas na vida e têm melhor percepção da qualidade de sua vida.

    No entanto, em estudo com cuidadores de pacientes com esquizofrenia verificou-se que a maior sobrecarga era percebida pelo cuidador de maior idade (URIZAR; MALDONADO, 2006). No estudo de GLOZMAN (2004), cuidadores mais velhos são mais susceptíveis a sobrecarga, já os mais jovens podem sofrer mais isolamento e maiores restrições sociais, proporcionais às maiores possibilidades de atividades de lazer e sociais de sua faixa etária. No estudo de AMENDOLA et al. (2008), que utilizou o questionário WHOQOL Bref em cuidadores domiciliares, verificou que quanto maior a idade do cuidador, menor foi o escore no domínio físico.

    O que se percebe é que as variáveis, idade e nível de escolaridade, exercem influência nas combinações de bem-estar conforme cada grupo social (Keyes et al., 2002).

Considerações finais

    Diante dos dados obtidos observou-se que o nível de qualidade de vida apresentou-se satisfatório para os domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente, mas insatisfatório nos escores de qualidade de vida geral e satisfação com a própria saúde. A quantidade de distúrbios osteomusculares relatados pelos cuidadores foi elevada, sendo a coluna cervical e lombar as regiões mais prejudicadas para as cuidadoras.

    Identificou-se também que quanto maior o relato de dor, menor foi o escore dos domínios físico, psicológico e de meio ambiente e para a questão geral sobre a satisfação com a própria saúde. Além disso, quanto maior a idade, maiores foram os escores de qualidade de vida. A relação entre os domínios de qualidade de vida com número de filhos, o estado civil e tempo de função como cuidador de pessoas com necessidades especiais não foi significativo.

Referência

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