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Perspectivas da avaliação na Educação Física Escolar

Perspectivas de la evaluación en la Educación Física Escolar

 

Mestrando em Educação – UPF

Doutorando em Ciência da Educação Física e Esporte, UCCFD, Havana, Cuba

Professor dos cursos de graduação em Educação Física da Faculdade

IDEAU de Getúlio Vargas e da Universidade do Contestado – UnC – Concórdia

Professor de Cursos de Pós graduação em Educação Física

Ivan Carlos Bagnara

ivanbagnara@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O tema avaliação em Educação Física escolar sempre foi e é motivo para debates e discussões. Ao longo dos tempos a avaliação na Educação Física foi sofrendo influências das concepções e correntes da época. Inicialmente subordinada a aplicações de testes físicos para mensurar capacidades físicas e motoras, e a partir daí atribuir uma nota para os alunos, até a atualidade com avaliações baseadas na sua maior parte em observações, análises e preenchimento de fichários, com objetivo de avaliar o aluno nas dimensões procedimentais, conceituais e atitudinais. A avaliação deixou de ser um mero quantificador e passou a ser utilizado não para avaliar somente o estudante, mas sim o processo de ensino e aprendizagem como um todo. Nesse processo inclui-se o professor, os métodos utilizados, o planejamento das aulas, a participação dos estudantes e o próprio processo de avaliação.

          Unitermos: Avaliação escolar. Dimensão procedimental. Dimensão conceitual. Dimensão atitudinal.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    O tema avaliação em Educação Física escolar sempre foi e é motivo para debates e discussões. O assunto ainda está longe de ser esgotado, pois a avaliação tem ligação direta com outros fatores determinantes da aula de educação física: planejamento, métodos, objetivos e conteúdos. E, de acordo com as estratégias adotadas, os objetivos pretendidos, os métodos escolhidos e os conteúdos trabalhados a avaliação poderá ser realizada de maneiras distintas. Ainda, um fator determinante para a utilização da avaliação é o estilo de trabalho do professor que está ministrando as aulas.

    Para FREIRE (2009, p.174)

    Boa parte dos problemas que preocupam os professores nas escolas refere-se à questão da avaliação. Como avaliar um aluno ao final de um processo de aprendizagem, isto é, como saber se o aluno aprendeu, e quanto e como aprendeu a respeito dos conteúdos apresentados?

    Ao longo dos tempos a avaliação na Educação Física foi sofrendo influências das concepções e correntes da época. A partir da década de 1970, no Brasil, vigorou a perspectiva/tendência tradicional ou esportivista. Nessa época a avaliação era composta por questões que enfatizavam a medição de capacidades físicas, de habilidades motoras e em muitos casos ainda utilizavam-se medidas antropométricas. Os elementos supracitados eram usados com o objetivo de atribuir uma nota aos estudantes. Existia uma tabela com padrões pré-estabelecidos e os resultados quantitativos dos testes indicavam se o aluno se enquadrava em uma das categorias: fraco, regular, bom e excelente. A partir daí era atribuída uma nota, conceito ou outro fator, de acordo com as normas da escola.

    Ainda, em alguns casos os diários de classe dos professores de Educação Física já vinham formatados com instruções para a realização dos testes de suficiência/eficiência física. Normalmente eram realizados testes de força abdominal, membros inferiores e superiores, e testes de coordenação motora. Tais testes eram aplicados de forma mecânica, fora de contexto e aleatória. Os alunos não sabiam os objetivos dos testes e não havia vinculação dos mesmos com os conteúdos ou programas que seriam trabalhados durante o ano letivo.

    As afirmações contestando os métodos de utilização de testes para as avaliações ganha coro no discurso de FREIRE (2009, p. 174), onde o mesmo afirma que “quase sempre o que se vê é uma mensuração de resultados, muito mais que uma avaliação qualitativa. Para cada conteúdo ou conjunto de conteúdos, aplicam-se provas atribuindo-se uma nota”.

    A forma de avaliação apresentada anteriormente foi perdendo espaço nos últimos anos. Com a Educação Física voltando-se para uma perspectiva mais humanista, a avaliação volta-se para os aspectos internos e individuais do estudante. A prática de auto-avaliação começa a ganhar espaço e valorização. A auto-avaliação considera que o estudante é quem conhece suas experiências, vivências e sabe o que é realmente significativo em termos de aprendizagem de jogos, atividades e demais tarefas.

    Essa mudança de pensamento e visão em relação à avaliação na Educação Física começa a considerar a avaliação do processo de ensino e aprendizagem como um processo sistemático e intencional de atribuição de juízos de valor aos dados quantitativos e qualitativos considerados relevantes (DARIDO E RANGEL, 2008).

A prática dos professores na avaliação em Educação Física Escolar

    Um novo discurso presente na área da Educação Física a partir da década de 1990 indicou mudanças em algumas concepções e percepções dos professores em relação à área e a avaliação especificamente. Diversos estudos realizados a partir da década referida acima apontaram mudanças na forma de avaliar e interpretar os dados ou conceitos obtidos com a prática da avaliação.

    DARIDO E RANGEL (2008, p.125, apud Darido 1999), apontam que as pesquisas indicaram que, atualmente, a perspectiva tradicional, que prioriza o produto, a quantificação e a avaliação por meio de testes, divide a preferência e o espaço com a visão mais processual, abrangente e qualitativa.

    A mesma autora continua sua afirmação baseada nos depoimentos dos pesquisadores onde muitos professores reconhecem que em sua formação, não obtiveram conhecimentos consistentes a respeito de como encaminhar a avaliação na prática pedagógica. Isso nos remete à falta de formação específica na graduação de como realizar a avaliação especificamente não sendo de forma tradicional, ou seja, sem aplicar testes específicos e quantitativos de mensuração de capacidades físicas.

    Na atualidade, muitos professores têm utilizado critérios próprios para atribuir a nota de seus estudantes, ou seja, avaliando através de critérios como participação, interesse, freqüência e comportamento, ao invés de utilizar testes físicos e motores. Concomitante a esta mudança na forma de avaliar, ocorre um problema originado pelos próprios professores de Educação Física. Esse problema está diretamente relacionado com a impressão de falta de iniciativa ou motivação do professor em tratar a avaliação como um processo de interesse por parte dos alunos. Observa-se isso quando os professores não informam aos estudantes a forma como se dará a avaliação, e, por conseguinte, os indivíduos avaliados não sabem por que receberam aquela nota ou conceito.

    A avaliação deve ser realizada nas três naturezas ou dimensões utilizadas para se trabalhar os conteúdos na escola, ou seja, dimensão atitudinal, conceitual e procedimental. O que se vê na maioria dos casos é uma avaliação baseada somente na dimensão atitudinal, referida neste caso à participação e comportamento.

    “Visando construir alternativas para a avaliação nesse nível de ensino, buscou-se responder a cinco questões centrais: por que, quem, o que, como e quando avaliar?” DARIDO E RANGEL (2008, p. 126).

Respondendo às cinco questões centrais

    Muitas vezes não é suficiente somente levantar a possibilidade de questionamentos, mas sim, além disso, propor uma possibilidade de resolução da questão. Não a resposta tomada como única verdade, mas sim uma resposta que possa instigar a procura por mais explicações, uma resposta que possa servir de ponto de partida, uma resposta que possa dar o norte para o professor/leitor buscar na literatura e no seu conhecimento mais soluções ou a melhor solução para seu caso específico. Sendo assim, a seguir as questões centrais: por que, quem, o que, como e quando avaliar serão brevemente respondidas.

1.     Por que avaliar?

    A avaliação não deve ser tomada como instrumento de castigo ou de pressão sobre os avaliados. A avaliação deve ser um instrumento de utilidade para os envolvidos no processo avaliativo, ou seja, o professor, o estudante e a escola. Deve contribuir para o crescimento individual do aluno, sem comparativos, deve fazer uma análise das etapas ultrapassadas e verificar se os objetivos traçados foram atingidos.

    DARIDO E RANGEL (2008, p. 126) afirmam que a avaliação “constitui-se num processo contínuo de diagnóstico da situação, contando com a participação de professores, alunos e equipe pedagógica”.

    A avaliação não tem como objetivo final a atribuição de uma nota ou quantificação de quanto vale o aluno ou quanto foi seu aproveitamento no processo de ensino e aprendizagem. A avaliação tem a função e o dever de oferecer aos professores elementos para analisar de forma contínua sua prática, sempre pensando de forma global, ou seja, envolvendo os métodos utilizados, os objetivos definidos, as estratégias adotadas e os conteúdos trabalhados. Uma avaliação coerente auxilia na revisão da aula, informando quais os aspectos precisam ser revistos, modificados ou ajustados para que o processo de ensino e aprendizagem tanto individual como do grupo seja eficaz.

    Para o estudante, a avaliação deve servir como um instrumento capaz de proporcionar a tomada de consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades. Indicando caminhos para melhorar práticas ou condutas inadequadas e que por ventura podem estar atrapalhando seu aprendizado ou evolução como ser humano.

    Para a escola, a avaliação deve proporcionar através das ferramentas utilizadas o reconhecimento de prioridades e a localização de ações educacionais que deverão receber maior apoio. Deve identificar pontos em que a escola está acertando e pontos que estão sendo tratados de forma incorreta ou insuficiente.

    Existe uma corrente de professores que defendem a idéia de que desde o início do ano letivo, os alunos precisam ser informados por que, como, quando e de que modo estão sendo avaliados, abrindo um espaço para a participação, sugerindo e criticando. (DARIDO e RANGEL, 2008).

2.     Quem avalia?

    Na tentativa de saber ou identificar quem deve avaliar a discussão também ocorre. Teoricamente e a primeira impressão que temos é que o avaliador deve ser e sempre será o professor. Porém, a participação dos alunos no processo de definição dos critérios e rumos que a avaliação irá tomar deve ser intensificada. As tomadas de decisões devem ser realizadas de forma conjunta. Pois assim, todos poderão assumir seus papéis e responsabilidades perante o processo avaliativo.

    A auto-avaliação é sugerida, com o objetivo de desenvolver a autonomia e consciência dos alunos. Não somente avaliando o seu desempenho, comportamento e participação nas aulas de Educação Física, mas também avaliando a prática de seus professores e automaticamente o ensino ofertado por eles.

    Os professores devem informar periodicamente aos alunos sobre possíveis dificuldades e quais os critérios utilizam para avaliá-los, sejam eles qualitativos ou quantitativos. Devem informar ainda a necessidade de mudanças em determinadas situações e quais os resultados que já foram obtidos com a prática até o momento.

3.     O que avaliar?

    Uma crítica que está consolidada na Educação Física sobre o método tradicional de avaliação tem ligação direta com os requisitos avaliados, ou seja, somente as questões motoras e de rendimento físico, como se a Educação Física fosse somente isso, sem levar em consideração questões cognitivas, afetivas e sociais.

    DARIDO E RANGEL (2008, p. 128) colocam:

    A avaliação em Educação Física deve considerar a observação, análise e conceituação de elementos que compõem a totalidade da conduta humana, ou seja, a avaliação deve estar voltada para a aquisição de competências, habilidades, conhecimentos e atitudes dos alunos.

    Para uma avaliação abrangente e coerente, devem ser levados em consideração alguns aspectos. Aspectos cognitivos, ou seja, competências e conhecimentos, aspectos motores (habilidades motoras e capacidades físicas) e aspectos de atitudes (valores). Deve ser verificada a capacidade do aluno expressar seu conhecimento relativo à cultura corporal, nas linguagens escrita, falada e do corpo. Deve ser ter um cuidado muito grande para na hora da avaliação supervalorizar um dos pontos apresentados acima e menosprezar outros, provocando certa tendência em avaliar isso ou aquilo.

    Porém, o tema da avaliação é tão complexo que muitas vezes na tentativa de acertar o professor acaba cometendo um erro bem comum. O professor na tentativa de diversificar e ser o mais justo possível com seus alunos desenvolve provas de conhecimento teórico, cobrando aspectos históricos, regras e contextualização de determinada modalidade esportiva. Nestes casos ao invés de inserir o aluno no mundo da cultura corporal de movimento, acabam provocando uma preparação momentânea para a realização da prova, com aulas teóricas e com “decoreba” por parte dos alunos sobre os assuntos abordados na prova.

4.     Como avaliar?

    A pergunta que nos refere a como avaliar está diretamente relacionada com que tipo de instrumento utilizar para avaliar. Nesse ponto sugere-se a utilização de fichas, que serão utilizadas de forma contínua e cumulativa. O professor, primeiramente acumula algumas aulas de atividades e posteriormente anota suas observações nas fichas, ainda, pode permitir que os alunos avaliem seu desempenho em fichário específico para esse fim ou em textos auto-avaliativos.

    Atualmente estão sendo difundidas duas formas de avaliação em relação aos alunos. Podem ser utilizadas isoladamente, apesar de recomendar-se a utilização das duas. A primeira é de forma sistemática, observando vivências, práticas, posturas, através de perguntas e situações problemas durante as aulas. A segunda estaria relacionada mais especificamente às provas, relatórios, pesquisas, apresentações, dentre outros instrumentos.

    A utilização das duas formas de avaliação descritas acima permite que alunos com maiores dificuldades em uma delas possam apresentar suas qualidades e angústias na outra forma. Devido a isso é muito importante que as ferramentas utilizadas para avaliação sejam as mais diversificadas possíveis.

    Para a auto-avaliação, defendida neste texto, recomenda-se que ela seja algo programado e sistematizado de maneira que o aluno tenha a oportunidade de se auto-avaliar antes e depois de estudar sobre determinado assunto.

5.     Quando avaliar?

    Antes de iniciar um processo de avaliação para aferir uma nota ou conceito sobre determinado processo de ensino e aprendizagem, devemos realizar uma espécie de avaliação diagnóstica. A avaliação diagnóstica representa o ponto de partida e a forma como será abordado determinado assunto. Para a realização de uma avaliação diagnóstica é necessário obter respostas para algumas perguntas como, por exemplo: o que os alunos sabem sobre o que se quer ensinar? Quais são os interesses dos mesmos? Quais as experiências anteriores os mesmos já tiveram sobre o assunto? E quais são seus estilos ou modos de aprendizagem? Após obter a resposta sobre cada uma dessas questões, prepara-se a estratégia de ensino para mais tarde verificar através das ferramentas avaliativas como ocorreu o processo de aprendizagem.

    Através das observações realizadas em aula, o professor poderia fazer a correção de algo que não estaria atingindo os objetivos propostos e mudar o curso de suas aulas a tempo. As observações avaliadoras podem ser realizadas em todas as aulas e em todos os momentos. Lentamente o professor vai analisando e comunicando aos seus alunos suas observações, para que dificuldades sejam superadas e avanços reconhecidos.

    Agora para uma avaliação integral, justa e formativa, é preciso avaliar os alunos nas três dimensões de conteúdos, ou seja, procedimental, conceitual e atitudinal.

Avaliação na dimensão procedimental

    Os conteúdos envolvidos na dimensão procedimental estão diretamente relacionados com o saber fazer, e para avaliar esse ponto, somente verificando situações em que os estudantes devem aplicar tais conteúdos. A aprendizagem não é definida pelo conhecimento que se tem de determinado assunto, mas a capacidade e domínio que se tem em transferir determinado assunto para a prática. Conhecer até que ponto os alunos sabem dançar, jogar, pesquisar, utilizar determinadas ferramentas e instrumentos, orientar-se em determinado espaço somente é possível quando os alunos realizam tais tarefas ou atividades.

    Nesta dimensão, logo imaginamos que devemos avaliar utilizando testes motores ou de capacidades físicas. Porém, é possível avaliar outros aspectos da dimensão procedimental além destes. O professor consegue observar as melhoras de seus alunos na prática do dia a dia, como o saque do voleibol, por exemplo.

    Alguns instrumentos de avaliação podem ser utilizados para tornar de formar eficaz o processo de mensuração nesta dimensão. Os alunos podem coletar noticias em jornais ou revistas e anexar comentários próprios em seguida. Pode-se propor a confecção de um livro, reunindo textos e imagens pesquisadas pelos estudantes, juntamente com textos inéditos produzidos por eles a partir de determinada observação, pode-se organizar painéis com temas variados: maneira correta de realizar caminhadas, benefícios dos exercícios físicos, olimpíadas, copa do mundo, problemas posturais, dentre outras. (DARIDO E RANGEL, 2008).

    As possibilidades são muitas, basta o professor de Educação Física utilizar a criatividade e debater com seus alunos para chegar a um denominador comum sobre a melhor e mais eficiente forma de avaliação dos conteúdos trabalhados na dimensão procedimental.

Avaliação na dimensão conceitual

    A dimensão conceitual está diretamente relacionada com a questão dos conhecimentos envolvendo os conceitos dos conteúdos trabalhados. E, como realizar uma avaliação que atenda a necessidade de verificação do processo de ensino e aprendizagem nesta dimensão? Como saber se realmente os alunos aprenderam tais conhecimentos? Como avaliar a questão da dimensão dos conceitos nas aulas de Educação Física?

    Alguns autores colocam que uma prova escrita atende perfeitamente o objetivo de avaliação dos conhecimentos. Porém, deve se ter em mente que um conceito dificilmente chega ao final, ou seja, os conceitos estão em constante mudança e evolução. O conceito está em constante processo de reelaboração, de redefinição.

    DARIDO E RANGEL (2008, p. 130, apud Zaballa 1998) apontam que “a melhor forma de se avaliar a aprendizagem dos conceitos é observar o uso de cada um dos conceitos em diversas situações e como os alunos os utilizam em suas explicações espontâneas”. Dessa forma, pode-se compreender que a melhor ou pelo menos a forma mais indicada de avaliar o aprendizado dos conceitos é sua utilização em trabalhos em grupos, debates, exposições, e ainda em diálogos entre alunos e com o professor. Quando não há o tempo necessário em se realizar todas as observações, uma prova escrita pode ser utilizada, mas tendo clareza nas limitações que essa ferramenta podem medir de fato a aprendizagem dos estudantes.

    Quando se trabalha com conceitos, objetiva-se normalmente que os alunos sejam capazes de utilizá-los em diversos momentos e situações, então, quando estamos querendo analisar a capacidade devemos propor questões não com o objetivo de explicar determinado conceito, mas sim resolver um conflito ou um problema utilizando-se de os conceitos.

    Uma proposta interessante e corroborada por alguns autores, dentre eles DARIDO E RANGEL (2008) é de se evitar a utilização única e exclusiva de provas escritas para avaliar a dimensão conceitual dos conteúdos, mas sim utilizar da observação dos estudantes durante todas as aulas se possível, e ainda se for necessário, sim, lançar mão de provas escritas ou até mesmo orais, solicitando a interpretação e aplicação de diversos conceitos utilizados.

Avaliação na dimensão atitudinal

    A avaliação dos conteúdos da dimensão atitudinal é muito complexa. Isso ocorre grande parte em função de seus componentes afetivos e cognitivos. Isso ocorre, pois para os professores muitas vezes é difícil avaliar a solidariedade, a tolerância, o respeito, o companheirismo, dentre outros pontos importantes dos aspectos atitudinais. Outro fator determinante para isso é a questão da tradição escolar, que até pouco tempo atrás não levava em consideração estes fatores. As observações por parte dos professores de Educação Física estavam condicionadas unicamente à participação dos alunos. E, esse leque de observações precisa ser ampliado consideravelmente.

    A avaliação do ponto de vista atitudinal ocorre na maioria dos casos em situações de conflitos. Durante as atividades propiciadas pelas aulas de Educação Física, os alunos são colocados em muitas situações de desafios. Essas atividades normalmente possuem regras e orientações, e quando essas regras e orientações começam a ser desconsideradas ou um grupo não concorda com a forma como o outro está tentando resolver a situação, começam a surgir os conflitos. Nesse momento o professor deve ficar atento e quando necessário interferir, pois esse tipo de situação é fundamental para a formação do cidadão. Podem ser sugeridos diálogos, debates e pesquisas sobre o assunto originário do conflito para que os estudantes juntamente com o professor cheguem às conclusões mais apropriadas para a situação.

    ZABALA (1998), apud DARIDO E RANGEL (2008, p. 131 e 132), coloca que:

    A melhor fonte de informação para se conhecer os avanços nas aprendizagens de conteúdos atitudinais é a observação sistemática de opiniões e das atuações nas atividades grupais, nos debates, nas manifestações dentro e fora da sala da aula, nas visitas, passeios e excursões, na distribuição das tarefas e responsabilidades, durante o recreio e nas atividades esportivas. Além disso, para tornar o processo de avaliação mais criterioso, pode-se, como algumas escolas já vêm realizando, utilizar fichas de observação das atitudes dos alunos.

Considerações finais

    Ao longo do texto pode se observar que o assunto em torno da avaliação é complexo e passível de muita discussão. A avaliação é necessária e de extrema importância no processo educacional. A nota ou conceito que será atribuído ao estudante não tem como objetivo principal castigá-lo ou premiá-lo por comportamentos e posturas em aula. O objetivo da emissão de uma nota ou conceito está diretamente relacionado com a informação sobre os caminhos percorridos dentro do processo de ensino e aprendizagem.

    A Educação Física tem evoluído ao longo dos tempos e juntamente com ela, seus entornos, ou seja: planejamento, conteúdos, métodos e a avaliação. E, a avaliação, antes muitas vezes utilizada somente para medir a capacidade física que um estudante ou indivíduo possuía, evoluiu e chegou ao patamar apresentado neste texto.

    Os alunos da atualidade querem mais, e não se satisfazem com aulas mal planejadas, com conteúdos trabalhados superficialmente, com métodos inadequados e com avaliações incoerentes, sem finalidade específica ou sem justificativas. O aluno deste século exige e quer saber onde errou, por que errou e como errou. Ele tem necessidade de saber o que deve fazer para acertar, como acertar, por que acertar e quando acertar.

    A tecnologia está a serviço da informação e através destas informações os estudantes de hoje em dia possuem um conhecimento infinitamente superior aos estudantes de mesmo nível e idade de alguns anos atrás. E, o professor, dentre eles encontra-se o professor de Educação Física precisa acompanhar o ritmo das mudanças e a evolução das coisas, pois nossos alunos sentem a necessidade de crescimento, seja, como cidadão, como pessoa, como estudante ou como praticante da cultura corporal de movimento. E, não existe uma maneira mais correta e eficiente de proporcionar aos nossos alunos o almejado crescimento se não for com ferramentas e instrumentos de avaliação abrangentes e coerentes. Ferramentas essas que podem mostrar ao professor e ao aluno onde estão os erros, onde estão os acertos e onde está o caminho que deverão seguir para atingir os objetivos traçados.

Referências

  • BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Educação Física, Brasília: MEC, 1998.

  • DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física na Escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

  • DARIDO, S. C.; SOUZA JUNIOR, O. M. Para Ensinar Educação Física: possibilidades de intervenção na escola. Campinas: Papirus, 2007.

  • FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da educação física. São Paulo: Scipione, 2009.

  • FREIRE, J. B.; SCAGLIA, A. J. Educação como Prática Corporal. São Paulo: Scipione, 2009.

  • GALLARDO, J. S. P. Prática de Ensino em Educação Física: a criança em movimento. São Paulo: FTB, 2009.

  • LUCKESI, C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 1994.

  • SOARES et al. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • ZABALLA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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