A relação entre as motivações das atletas do voleibol de rendimento e a ‘Lei Pelé’ La relación entre las motivaciones de los jugadores de voleibol de alto rendimiento y la ‘Ley Pelé’ The relationship between the motives of volleyball players of high-level sport and the ‘Pelé Law’ |
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*Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) **Escola de Vôlei do Bernardinho (EVB) ***Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Universidade Gama Filho (Brasil) |
Raphael Russo Damasceno* Viviane Miranda dos Santos** Evaldo Chauvet Bechara* Guilherme Locks Guimarães*** |
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Resumo Este estudo levantou se as motivações de atletas federadas de voleibol estão de acordo com os objetivos da "Lei Pelé" para o esporte de rendimento. Para a coleta de dados empregamos um questionário, que foi respondido por 38 atletas do sexo feminino, das divisões infanto-juvenil e juvenil, com mais de dois anos de filiação na Federação de Voleibol do Estado do Rio de Janeiro. Os resultados demonstram que os fatores que influenciam a participação das atletas no desporto de rendimento se relacionam com as características previstas na referida lei. Ressalvamos que algumas atletas declararam fatores incompatíveis com o desporto de rendimento. Unitermos: Voleibol feminino. Lei Pelé. Desporto de rendimento. Fatores motivacionais.
Abstract This study raised the motivations of volleyball female athletes are consistent with the goals of "Pele Law" for the high-level sport. To collect data we used a questionnaire that was answered by 38 female athletes, divisions under 17 and under 20, with more than two years of membership in the Federation of Volleyball in the State of Rio de Janeiro. The results show that the factors that influence the participation of athletes in the high-level sport related to the features provided by that law. We emphasize that some athletes have declared incompatible with the factors of sport performance. Keywords: Brazilian legislation. High-level sport. Volleyball female. Motivational factors.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
Resolvemos realizar esta pesquisa diante da pergunta de Tani et al. (2009, p.487) “que contribuição efetiva a universidade brasileira poderia dar para o desenvolvimento do esporte de rendimento, em consonância com os seus objetivos precípuos”? E diante da resposta dos mesmos autores (op. cit.), que sugerem, entre outras propostas, a produção do conhecimento vinculado ao esporte de rendimento.
O voleibol nos chamou a atenção por ser o segundo esporte mais praticado no Brasil (BOJIKIAN, 1999). Esta popularidade também foi comprovada por Azevedo Junior et. col. (2006), que em pesquisa realizada sobre as preferências de atividades físicas e esportivas na adolescência, detectou que dentre os homens, o voleibol é o segundo mais praticado e entre as mulheres, o primeiro.
Para Marchi Júnior (2005, p. 153), “a popularização do voleibol no Brasil é fruto de conquistas nacionais e internacionais significativas”. Guimarães e Matta (2004) apontam que a difusão televisiva dos eventos esportivos e as conquistas de âmbito mundial originaram a figura do ídolo neste esporte.
Deste modo, parece-nos lícito entender que da vontade de se espelhar nos ídolos esportivos, pode ocorrer o interesse de se tornar um deles e, para tanto, participar como atleta de uma equipe do esporte de rendimento. Entretanto, percebe-se em consulta ao site da Federação de Voleibol do Estado do Rio de Janeiro (FVR), que através dos anos, há uma diminuição do número de clubes inscritos nos campeonatos.
Esta discrepância entre a popularização do esporte e a queda do número de equipes que disputam os campeonatos da FVR nos motivou a fazer uma pesquisa para saber quais as motivações que levam as atletas a fazer parte de uma equipe da modalidade esporte de rendimento e verificar se estão relacionados com as características que dispõe a “Lei Pelé” sobre este.
Pretendemos com esta pesquisa auxiliar os dirigentes e técnicos de clubes de voleibol de rendimento a promover ações públicas a fim de desenvolver e ampliar o número de atletas, o que representaria para os profissionais de Educação Física um considerável aumento de oportunidades de trabalho.
Entendemos, também, que este conhecimento poderá influenciar na construção das ementas da disciplina de voleibol dos cursos de graduação em Educação Física, já que apresentará aos professores envolvidos os interesses e motivos para a prática desta modalidade de esporte.
A legislação brasileira e a prática do esporte
A Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988) dispõe no artigo 217 que a prática desportiva é direito constitucional a todos assegurado e é dever do estado fomentar a sua prática. A norma reguladora deste artigo constitucional está na Lei 9.615/98 (BRASIL, 1998), conhecida como “Lei Pelé”, que em seu artigo terceiro, esclarece ser o esporte reconhecido sob a modalidade educacional, participação e de rendimento. Este último, subdividido em profissional e não profissional.
A "Lei Pelé" (op. cit) enfatiza que o esporte de rendimento possui um caráter competitivo e visa a resultados. Esta afirmação nos leva a pensar em uma atividade que têm como característica principal o agonismo, o que segundo Caillois (1990, p.35), "supõe uma atenção persistente, um treinamento apropriado, esforços assíduos e uma vontade de vencer”, indicando que para participar desta modalidade o atleta deve se submeter a um processo sistemático de treinamento esportivo.
Assim, tendo em vista as modalidades de práticas apresentadas pela lei em questão, a pessoa para praticar uma atividade desportiva com desejado nível de satisfação e motivação, deve realizar uma escolha. Essa escolha deve ser feita de acordo com as características do esporte que mais atendem as exigências do praticante (SAMULSKI, 2002). Em outras palavras, como sugerem Ryan e Deci (2000) sentir prazer no ato de praticá-la.
Já March (2002) destaca que escolher é tomar uma decisão. E, esta é o produto das alternativas, consequências ou expectativas e preferências por algo ou alguém. Em nosso estudo a preferência nos remete ao motivo que leva essas atletas a participar de uma equipe de voleibol de rendimento.
A expressão rendimento no esporte sugere constante superação, o que torna necessário levar em consideração Paim (2010), que afirma ser a motivação um dos elementos centrais para a execução bem sucedida das tarefas.
Para os efeitos deste estudo empregamos como definição de motivação a de Samulski (2002), para quem esta é um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, e é dependente da interação de fatores pessoais ou intrínsecos e ambientais ou extrínsecos. Para este autor (op. cit.) os fatores pessoais são as necessidades, motivos, interesses, metas e expectativas que a pessoa possui para a prática esportiva, além de sua personalidade. Já no que diz respeito aos fatores ambientais, identifica-os como as facilidades e os desafios que tornam as tarefas atraentes e as influências sociais.
Metodologia
Tipo de pesquisa
Esta pesquisa foi conduzida como um modelo de estudo exploratório, pois, estes, conforme definição de Sampieri, Collado e Lucio (1998, p.58): "se efetuam, normalmente, quando o objetivo é examinar um tema ou problema de investigação pouco estudado ou que não tenha sido abordado antes", como o problema que se aponta.
População e amostra
A população deste estudo é composta por atletas filiadas a Federação de Voleibol do Estado do Rio de Janeiro (FVR) há, no mínimo, dois anos, que se incluam na faixa etária das divisões infanto-juvenil e juvenil (15 a 20 anos) e que atuam em diferentes clubes que disputam as competições da região. A amostra contém trinta e oito atletas do sexo feminino pertencentes a quatro das seis equipes que disputam competições no Estado do Rio de Janeiro.
Instrumento de coleta de dados
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário, validado por dois juízes representados por professores doutores do Instituto de Educação Física e Esporte da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, composto por doze perguntas abertas e fechadas, Para este estudo foram utilizadas três, sendo duas abertas, relacionadas à idade e ao tempo de filiação e outra fechada para esclarecer os motivos que levam estas atletas a praticar o voleibol de rendimento.
Na questão fechada sobre os motivos que as levam a praticar o voleibol de rendimento, as respostas foram dadas a partir da ordenação por importância dos fatores explicitados, considerando o número um como o mais importante e o número nove e último o menos importante. Ainda com relação a esta questão havia a possibilidade da atleta citar algum outro motivo que não estivesse presente e que ela considerasse como importante para participar do voleibol de rendimento, a este deveria ser atribuída uma classificação. Ressaltamos que não houve acréscimo de outra categoria.
Procedimentos para a coleta de dados
Para realizar a pesquisa, contatamos os responsáveis pelas equipes infanto-juvenis e juvenis filiadas à FVR a fim de conseguir a permissão para a realização da pesquisa e a marcação das datas para a coleta de dados. Obtida a permissão, foi entregue aos atletas um termo de consentimento livre e esclarecido (BRASIL, 1996) para utilizar os dados oriundos da entrevista, sem a identificação do nome das equipes ou entrevistados. O documento das menores de idade foi assinado pelo responsável.
No dia estabelecido para a realização da coleta de dados, explicamos as questões contidas no questionário e reforçamos que o sigilo de seus nomes e clubes seria mantido. Após estas informações, as atletas responderam ao questionário individualmente.
Apresentação e discussão dos dados
Quadro 1. Distribuição da freqüência absoluta (Fa) e da freqüência relativa (Fr)
dos dois principais motivos e seu total para a prática do voleibol de rendimento
Motivos |
1° |
2° |
Total |
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Fa |
Fr |
Fa |
Fr |
Fa |
Fr |
|
Porque gosto |
25 |
33% |
6 |
8% |
31 |
41% |
Recomendação médica |
___ |
___ |
1 |
1% |
1 |
1% |
Manter a forma |
___ |
___ |
7 |
9% |
7 |
9% |
Fazer amigos |
___ |
___ |
1 |
1% |
1 |
1% |
Ter amigos que jogam |
___ |
___ |
2 |
3% |
2 |
3% |
Ganhar títulos e troféus |
___ |
___ |
5 |
7% |
5 |
6% |
Tornar-se profissional |
9 |
12% |
13 |
17% |
22 |
29% |
Imposição dos pais |
2 |
3% |
2 |
3% |
4 |
5% |
Para não ficar em casa |
2 |
3% |
1 |
1% |
3 |
4% |
No quadro, as categorias de respostas estão apresentadas na ordem em que estavam no questionário respondido por nossas entrevistadas.
Por entendermos como Leontiev (1987, p.20) "que a atividade se torna multimotivacional, isto é, responde simultaneamente a dois ou mais motivos", tomamos a decisão de tabular junto o primeiro e o segundo quesito.
Com o objetivo de não haver casas decimais nas freqüências relativas, o processo de arredondamento dos números foi realizado da seguinte maneira: até 0,5, o número inteiro foi mantido, enquanto que acima de 0,5, o número inteiro foi aumentado em uma unidade. Portanto, a freqüência relativa total em alguns dados será maior ou menor que 100%.
O primeiro motivo para a prática do voleibol de rendimento foi a categoria “porque gosto” citada por 42% das entrevistadas (n=25).
Uma análise superficial pode nos levar a concluir que esta resposta não contempla as características do esporte de rendimento dispostas na “Lei Pelé”. No entanto Ryan e Deci (2000) explicam que as pessoas intrinsecamente motivadas se envolvem nas atividades por interesse ou prazer. E gostar, entre outras definições, é sentir prazer (HOUAISS e VILLAR, 2001), logo entendemos que esta categoria seja pertinente ao esporte de rendimento por ser elemento facilitador do alcance de altas performances.
Além disso, indicamos baseados em Caillois (1990) que para participar do esporte de rendimento o atleta deve se submeter a um processo de treinamento esportivo. Por este motivo, chamamos em causa Wankel citado por Juchem et. alri (2007) que ao considerar o prazer como elemento fundamental para a manutenção e continuidade da prática de atividades físicas por uma pessoa, dá-nos outra razão para considerar a categoria “porque gosto” como motivo para a prática desta modalidade esportiva.
O segundo motivo escolhido foi “tornar-se atleta profissional”, citado por 29% das atletas (n=32) como o principal motivo para a prática do voleibol de rendimento.
A vontade de se tornar atleta profissional parece-nos estar intimamente ligada ao trabalho realizado nas divisões de base, que é o de formar atletas para a equipe adulta, em geral, profissionais. Pode ter, também, relação com o fato de querer se espelhar nos ídolos esportivos que estão sendo propagados pelos meios midiáticos, especialmente a televisão. A este respeito, Marchi Júnior (2005) nos recorda que os atletas considerados ídolos são transmissores de mensagens e estereótipos para o público. Por isso, ao ver um atleta na televisão ganhando medalhas, dando entrevistas, jogando na seleção e ganhando dinheiro, a jovem pode querer buscar esta forma como atividade laboral, afiliando-se a um clube desportivo de rendimento.
Como terceiro motivo mais importante para a prática do voleibol de rendimento está a ”manutenção da forma física” indicada por 9% das atletas (n=7).
A leitura crítica da “Lei Pelé” (Brasil, 1998) não nos faz perceber uma relação direta entre manutenção da forma física com as características do esporte de rendimento. A colocação desta alternativa nesta posição nos surpreendeu, já que esta categoria nos remete a uma ação individual, o que é contraposto ao voleibol, esporte coletivo.
O quarto motivo para a prática do voleibol de rendimento, atrás dos itens “porque gosto”, “para se tornar profissional” e “manutenção da forma física”, indicado por 6% das atletas (n=5) é a “conquista de títulos e troféus”.
A “Lei Pelé” (op. cit.) dispõe ser a obtenção de resultados esportivos um dos objetivos do esporte de rendimento. Portanto, a vontade de conquistar títulos e troféus está de modo claro em conformidade com as características desta modalidade esportiva.
Como quinto motivo para a prática do voleibol de rendimento aparece a categoria “imposição dos pais”, citada por 4% das atletas (n=3).
A este respeito Juchem et. altri (2007) afirmam que a participação por imposição externa é internalizada pelo individuo e o mesmo passa a participar pressionado da atividade. A nossa experiência nos faz concordar com os autores e assumir o risco de afirmar que quando o atleta ingressa no esporte de rendimento deste modo, provavelmente, o rendimento será prejudicado, devido ao baixo nível de motivação para a atividade. Contudo, apresentamos como ressalva a esta possibilidade o fato que a atleta possa encontrar na prática da atividade esportiva motivos para permanecer nesta. Reforça esta ressalva, Adelman (2003) ao reportar o depoimento de Carol jogadora da seleção brasileira de voleibol,
eu também comecei por acaso. Eu não fazia nada, só estudava, fazia alguns cursos de inglês, fazia dança, e meu pai falou que eu tinha que praticar algum esporte, alguma coisa, que eu estava muito à toa em casa à tarde. Eu falei: 'Eu não, não quero me envolver com esporte'. Ele falou: 'A senhorita vai entrar, sim'. E me levou num colégio que tinha aula, o amigo dele era professor... Fiquei uns seis meses e já fui para o Minas; ele me levou para o Minas porque eu era bem alta.
Como sexto principal motivo para a prática do voleibol de rendimento, aparece a categoria “para não ficar em casa” citado por 4% das atletas (n=3)
Pensamos que a opção de ingressar no esporte de rendimento pelo fato de não querer ficar em casa poderá ampliar a motivação para se afiliar e participar do processo de treinamento exigido por uma equipe do esporte de rendimento, já que o sucesso na prática deste pode levá-lo a ser convidado por um clube de outra cidade e a profissionalização.
Entendemos que a nossa posição a este respeito poderá gerar algum desconforto entre as pessoas que entendem ser a casa da família o melhor local para o desenvolvimento da vida, já que nossos entrevistados são em sua maioria adolescentes. Porém, baseamos nossa afirmação no relato de Guilherme Locks Guimarães, um dos autores desta pesquisa e que trabalhou como técnico do voleibol de rendimento no Brasil, Argentina e Itália por 27 anos, relatou ter conhecido em sua carreira de técnico, inúmeros atletas que saíram, por vários motivos, da casa da família em busca de sucesso no esporte.
O sétimo motivo apontado para estar em equipes do voleibol de rendimento é o de “ter amigos que jogam”, citado por 3% das atletas (n=2).
Para Weinberg e Gould (op. cit, p. 478) “os psicólogos do desenvolvimento sabem há muito tempo que os amigos e o grupo desempenham um papel importante no desenvolvimento psicológico das crianças”. E avançam neste assunto ao afirmar que “a afiliação é um motivo importante que as crianças têm para praticar o esporte. Portanto, as crianças apreciam o esporte devido às oportunidades que ele proporciona de estar com os amigos e fazer novas amizades” (op. cit., p. 478). Parece-nos que as explicações dos autores relativas à formação de grupos e afiliação a estes, demonstram que a prática do esporte de rendimento por “ter amigos que jogam” está em consonância com a “Lei Pelé” (BRASIL, 1998)
Como oitavo motivo para a prática do voleibol de rendimento, nossas entrevistadas indicam a categoria “fazer amigos”, citado por 1% das atletas (n=1).
A importância dos fatores de socialização, como o fato de já ter amigos na modalidade ou querer conquistar amigos, segundo Buonomano e Mussino citados por Tresca e De Rose Júnior (2000), influencia positivamente na motivação das pessoas. Reforçam este argumento Ullrich-French e Smith citados por Juchem et. altri (2007) que confirmam a importância da socialização, associando índices positivos desta ao maior prazer pela atividade física. Isto, segundo Brustad citado por Tresca e De Rose Júnior (2000) está diretamente ligado à continuidade ou não em uma prática desportiva. Deste modo, entendemos que “fazer novos amigos” é indicativo da intenção da atleta para participar do esporte de rendimento, já que esta modalidade exige continuidade no processo de treinamento.
O nono motivo citado entre para a prática do voleibol de rendimento, encontra-se a “recomendação médica”, citado por 1% das atletas (n=1).
Apesar do depoimento de Mara, atleta da seleção brasileira de voleibol, recolhido em Adelman (2003): “comecei a treinar porque tinha problemas de coluna e o médico indicou para eu fazer um esporte, natação ou vôlei, então entrei na escolinha por causa disso, não por paixão”. Entendemos, apoiados por Deehan, Bell e McCaskie (2007), Le Gall, Carling e Reilly (2007), Domingues (2008) e Bussey (2010) que registram a ocorrência em atletas jovens de contusões, fraturas, luxações, hérnias discais, lesões por esforços repetitivos e rupturas de menisco e ligamentos cruzados no esporte juvenil, o esporte de rendimento não deve ser praticado por recomendação médica.
Isto é reforçado por Feldman (2006) e Silva e Petrosky (2008) ao afirmarem que na segunda década da vida, faixa etária de nossas entrevistadas, o organismo humano passa por significativas transformações no aparelho locomotor ativo e passivo, que podem sofrer danos crônicos caso a aplicação de forças inerentes ao processo de treinamento não seja adequada. Portanto, esta categoria não pode ser indicativa de preferência pelo esporte de rendimento devido às características deste e a natureza traumática das ações motoras que compõem o voleibol.
Considerações finais
Pensamos ter esclarecido que a maioria dos fatores motivacionais que levam as atletas a se engajar no voleibol de rendimento está em consonância com os objetivos desta modalidade de esporte. Entendemos que estes dados poderão ser utilizados como subsídio pelos gestores deste esporte nas suas ações futuras.
O modelo aclamado da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) para a gestão deste esporte, o espetáculo midiatizado, é para poucos e pode ser resumido na frase de dois treinadores da cidade do Rio de Janeiro durante uma entrevista: "o voleibol do Brasil vai muito bem, o voleibol no Brasil vai muito mal" (GUIMARÃES et al., 2009), em outras palavras, as equipes representativas da CBV são bem estruturadas e vencedoras e a dos clubes à míngua.
Assim, tendo em vista o fato relatado da diminuição de atletas e equipes filiadas a FVR, chamamos, sobretudo, a atenção dos treinadores das divisões iniciais para que a sua intervenção pedagógica não dificulte a permanência destas pessoas no âmbito do voleibol de rendimento e, que os professores, ao transmitirem seus conteúdos nas aulas do curso de formação de profissionais em educação física, deem ênfase aos cuidados para que se evite a evasão dos praticantes da atividade desportiva.
Assim, com o intuito de colaborar com o futuro do ambiente do voleibol feminino no Estado do Rio de Janeiro nos apropriamos das palavras de Bloch (2005, p.18),
um futuro do tipo autêntico, aberto como processo, é inacessível a mera contemplação. Somente uma maneira de pensar direcionada para a mudança do mundo, que municia com informação este desejo de mudança, diz respeito a um futuro que não é feito de constrangimento (futuro como um espaço de surgimento inconcluso diante de nós) e a um passado que não é feito de encantamento. Por isso, o decisivo é que apenas o saber como teoria-práxis consciente diz respeito ao que está em devir, e que, por isto mesmo, é passível de decisão.
Deste modo, ao que nos é dado parecer, o modelo atual, que tem como fulcro campeonatos organizados pela FVR parece-nos superado, o que nos mostra a necessidade de criar outros espaços. Ou como explicam Deleuze e Guattari (1992), "desterritorializar" para "reterritorializar", outra vez. Isto pode significar uma mudança da ação desta federação de modo a ampliar a sua atuação no território do voleibol ou estimular a comunidade do voleibol a criar outros instrumentos que se interessem pela organização deste esporte em locais e espaços onde a FVR não conseguiu.
Encerramos retomando Guimarães e Matta (2004, p.87)
por entender-se que é necessário recuperar a alegria de jogar voleibol em nível competitivo. Por entender-se que existe espaço para um voleibol onde a motivação intrínseca de treinar-se, de superar-se e de relacionar-se em condições de antagonismo com pessoas de outras sociedades desportivas deva ser maior que a motivação ao salário no fim do mês ou o prêmio da partida. Por pensar-se assim, solicita-se a todos os envolvidos com a prática do voleibol, por estar-se asfixiados, que se abata o muro da imagem, que se desligue a televisão e se volte ao campo para jogar.
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