Atletas de futevôlei: antropometria, morfologia, posturografia por fotogrametria e índices de flexibilidade muscular Atletas de futivoley: antropometría, morfologia, posturografía por fotogrametria e índices de flexibilidad muscular |
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*Professor Doutor orientador do estudo LAFEX-UNIVALI **Acadêmico do Curso de Educação Física LAFEX-UNIVALI Universidade
do Vale do Itajaí |
João Augusto Reis de Moura* Guilherme dos Santos Machado** |
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Resumo O objetivo do presente estudo foi de quantificar a antropometria, morfologia e a flexibilidade muscular de atletas de futevôlei, bem como, avaliar a postura por método de fotogrametria. A amostra foi composta por 10 homens (idade 18-34 anos) que praticam futevôlei a pelo menos três anos com volume de treino de 10 horas/semana. As mensurações antropométricas seguiram técnicas recomendadas pela Antrhropometric Standardization reference Manual descritas em Lohman, Roche e Martorell (1991). Foram mensurados massa corporal, estatura, perímetros corporais, dobras cutâneas (DC). Morfologicamente a massa gorda foi obtida através de uma regra de três simples a partir do percentual de gordura (%G), o qual foi estimada pela equação de Siri (1964) a partir da densidade corporal predita pela equação de Petroski (1995). A Massa Muscular (MM) foi determinada pela equação de Frisancho (1981). Áreas musculares e gordas do segmento braço e coxa foram quantificadas segundo procedimentos sugeridos por Rech e Moura (2010). Para a quantificação da flexibilidade adotamos o teste de sentar-e-alcançar de forma bilateral e unilateral. Utilizamos o Software de Avaliação Postural (SAPO) para a avaliação postural via fotogrametria digital. Os indivíduos foram fotografados em vista anterior para análise de nivelamento horizontal de cabeça, ombro e pelve e em vista lateral direito/esquerdo para análise de cifose e lordose lombar. Os resultados apontaram estatura moderada para os atletas (172,2±4,3cm) ocorrendo baixa variabilidade na MC (CV=12,2%). O %G e %MM foram 14,4±5,5 e 46,9±2,9, respectivamente com as DC demonstrando valores mais altos na região abdominal. O percentual da área gorda do braço foi de 18,0±6,6% e da coxa 11,3±3,2%. Posturograficamente, os atletas apresentaram bem alinhados no plano frontal sem indicativos de escoliose e com curvaturas de cifose e lordose lombar em ângulos normais (144,8±6,6º e 152,5±3,4º, respectivamente), somente a pelve demonstrou tendência a retroversão. Conclui-se que os atletas apresentam %G adequado, porém com maior teor deste tecido na região abdominal. Demonstram boa flexibilidade de cadeia muscular posterior. Posturograficamente, apresentam bom alinhamento corporal somente com leve tendência a retroversão pélvica. Unitermos: Atleta. Futevôlei. Antropometria. Composição corporal. Flexibilidade. Postura.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
Desempenho esportivo de alto rendimento só é obtido por meio de adequado prepara físico, técnico, tático e psicológico. Entretanto Almeida, Almeida e Gomes (2000) identificaram outras variáveis componentes da perfomance. O Biótipo adequado a prática da modalidade também é um fator primordial para o desempenho esportivo. Alguns estudos demonstram as peculiaridades antropométricas e morfológicas que cada modalidade esportiva apresenta (Moura, Barros Junior, Cardoso Junior et al., 2004; Silva, Trindade e De Rose, 2003; Glaner, 1999). Também determinadas características posturais podem ser decorrentes de hábitos posturais frente ao estilo de vida e/ou labor (Neto Junior, Pastre e Monteiro, 2004; Guimarães, Sacco e João; 2007; Holderbaum, Candotti e Pressi; 2002), neste contexto encontra-se os atletas de alto rendimento.
Holderbaum, Candotti, Pressi et al. (2002) encontraram associações positivas entre desvios posturais e encurtamentos musculares com trabalhadores de atividade profissional de limpeza que atuavam a aproximadamente de quatro anos na função. Guimarães, Sacco e João (2007) verificaram anteriorização pélvica e a tendência de agravamento da hiperlordose lombar em meninas de ginástica olímpica entre 8 a 12 anos que praticavam a modalidade em uma freqüência maior que duas vezes por semana ou mais de três horas por semana. Neto Junior, Pastre e Monteiro (2004) identificaram alterações posturais importantes em atletas brasileiros de provas de potência muscular (atletismo de pista) em competições internacionais. Tais incidências de desvios posturais podem levar a agravamento de lesões como as encontradas no futebol de salão (futsal) por Ribeiro, Akashi, Sacco et al. (2003).
Os estudos supracitados têm uma característica em comum, todos os indivíduos estudados apresentavam um volume de exposição elevado a movimentos repetitivos peculiares dos esportes praticados. Posturas estáticas ou dinâmicas adotadas por longos períodos de tempo em desacordo com linhas de ação gravitacional em que os momentos das forças atuantes sobre o corpo não se equilibram, tornam-se fatores potencializadores de desconfortos musculares e desenvolvimento de desvios posturais (Moraes, 2002). Atletas de futevôlei estão pré-dispostos a esse agraves devido a posição adotada durante longo períodos de tempo de treino e jogo, onde, em função da ação técnica dos fundamentos. Por exemplo no futevôlei, a hiperextensão da coluna vertebral é fortemente executada durante o levantamento de bolas para o ataque.
A rápida análise morfológica, cinesiológica e biomecânica exposta anteriormente no texto apresentam a necessidade de se conhecer, em maiores detalhes, a postura corporal de atletas de futevôlei conhecendo seu padrão corporal (antropometria/morfologia), elasticidade de cadeias musculares e dores desenvolvidas, buscando identificar possíveis relações entre as mesmas. Assim, o presente estudo teve como objetivo quantificar a antropometria, morfologia e a flexibilidade muscular de atletas de futevôlei, bem como, avaliar posturograficamente os atletas de forma estática por método de fotogrametria digital.
Material e método
O presente estudo caracterizou-se por ser analítico-descritivo de corte transversal ao avaliar 10 atletas de futevôlei com idade variando entre 18 a 34 anos tendo como critério de inclusão que todos apresentassem ao menos três anos de treino com volume mínimo semanal de 10 horas nos últimos oito meses. Como critério de exclusão não participaram do estudo atletas que estivessem parados a mais de três semanas por lesão ou qualquer outro motivo e a presença, ou seqüela, de doença ortopédica, reumatológica, respiratória ou neurológica que impedisse a adoção de posturas corporais utilizados no presente estudo. Ao grupo de estudo foram explicados, minuciosamente, os procedimentos o presente estudo e foi lhes passado para leitura e análise o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O projeto de pesquisa deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Pesquisa da UNIVALI sob no nº 401/10.
Estimativa da composição corporal
Medidas antropométricas foram realizadas nos atletas de futevôlei no intuito de estabelecer a caracterização morfológica destes. Para tal, sempre pelo mesmo avaliador (que apresenta fidedignidade nas medidas antropométricas), efetuaram-se as mensurações antropométricas de acordo com as técnicas recomendadas pela Antrhropometric Standardization reference Manual descritas em Lohman, Roche e Martorell (1991). Foram mensurados Massa Corporal (MC), Estatura (EST), Perímetros Corporais (PC) da cintura (Pcint), braço (Pbrç), antebraço (Pant) e coxa medial (Pcxm), Dobras Cutâneas (DC) subescapular (DCse), triciptal (DCtr), abdominal horizontal (DCabd), suprailíaca (DCsi), coxa medial (DCcxm) e panturrilha medial (DCpm). Utilizou-se adipômetro CESCORF®, balança Filizola e fita métrica com resoluções de medida de 0,1 mm; 0,10 gramas e 0,1 cm; respectivamente. Para medida de EST foi utilizado um estadiômetro com balança marca Filizola com resolução de 1,0cm. Morfologicamente a Massa Gorda (MG) foi obtida através de uma regra de três simples a partir do percentual de gordura (%G), o qual foi estimado pela equação de Siri (1961) a partir da densidade corporal predita pela equação de Petroski (1995) com quatro dobras cutâneas. A Massa Muscular (MM) foi determinada pela equação de Frisancho (1981). Áreas musculares e gordas do segmento braço e coxa do lado direito corporal foram quantificadas em valores absolutos (cm2) e relativos (%) segundo procedimentos sugeridos por Rech e Moura (2010).
Índices de flexibilidade muscular
A variável flexibilidade foi mensurada na cadeia muscular posterior corpórea através do teste de sentar-e-alcançar (TSEA) bilateral e unilateral com o uso do Banco de Wells (dimensões padronizadas de construção da marca Cardiomed®) por meio do protocolo descrito em Moura, Oliveira, Souza et al. (2011) (imagem A, figura 1).
Para o procedimento unilateral o posicionamento e execução do teste foi idêntico ao teste anterior para os MMSS e movimento de quadril e coluna vertebral durante o teste. Um dos Membros Inferiores (MMII) posicionava-se conforme descrito anteriormente, todavia, o outro MMII ficava com o joelho semi-flexionado e o quadril um pouco abduzido o suficiente para que este, e principalmente o pé, posicione-se fora do aparelho (imagem B, figura 1).
Figura 1. Teste de sentar-e-alcançar para mensurar a flexibilidade da cadeia muscular posterior. Em “A” teste bilateral e em “B” teste unilateral.
Em ambas as posições o avaliador fixa o joelho estendido contra o solo para garantir que este não flexione durante o movimento do tórax à frente.
Avaliação posturográfica estática por fotogrametria digital
Utilizou-se o programa SAPo (Software de Avaliação Postural) versão 0,68 de distribuição livre (http://sapo.incubadora.fapesp.br) para a avaliação postural via fotogrametria digital.
Os indivíduos estavam em posição de ortostase e usando trajes de banho, quando eram então fotografados, após o comando “fique em pé nesta plataforma numa posição que te seja familiar e confortável, posicione os pés da maneira que lhe for mais confortável”, no plano coronal-anterior com os membros superiores ao longo do corpo e sagital direito e esquerdo com os cotovelos semi-fletidos, conforme figura 2. Uma pequena plataforma de avaliação (a 20 cm da parede) foi colocada sob os pés dos avaliados sendo que esta apresentava um nivelador por bolha de ar para que pudesse ser garantido o nivelamento horizontal da mesma. As fotos foram realizadas em uma sala reservada com fundo não reflexivo realizado o registro por uma câmera fotográfica digital da marca Sony® (Cyber-shot) com 4,1 megapixels de resolução sem o uso de zoom posicionada em um tripé regulável a uma distância horizontal de três metros do avaliado a altura aproximada da cintura deste. Um fio de prumo profissional submetido a gravidade que cruzava verticalmente o simetrógrafo indo até próximo aos pés do avaliado e, no qual, era demarcado o comprimento de 1,0 metros para posterior calibração do SAPO.
Previamente a realização das fotos, os indivíduos foram demarcados 10 pontos anatômicos alguns de forma bilateral, pontos estes identificados por palpação das proeminências ósseas e posteriormente marcados por demarcadores passivos constituídos de esferas de isopor de reflexão a iluminação com 25 mm de diâmetro fixas no corpo com fita dupla-face. Os pontos selecionados foram: Trago, acrômio, trocanter maior do fêmur, espinha ilíaca ântero-superior (EIAS), espinha ilíaca póstero-superior (EIPS).
O ângulo formado entre o segmento de reta pelo trago direito e esquerdo (linha “a”, imagem “A”, figura 2) com a horizontal (Ângulo Horizontal da Cabeça - AH_C) define o equilíbrio da cabeça. Os segmentos de reta “b” (imagem “A”, figura 2) formados pelos acrômios definem o alinhamento de cintura escapular com a horizontal (Ângulo Horizontal dos Acrômios – AH_A), o segmento de reta “c” (imagem “A”, figura 2) define o alinhamento da pelve com a horizontal (Ângulo Horizontal das EIAS – AH_EIAS), o ângulo entre os segmentos de reta “b” e “c” (imagem “A”, figura 2) definem o alinhamento da coluna vertebral (Ângulo Horizontal entre Acrômios e EIAS – A_A/EIAS) sendo uma estimativa de escoliose. As diferenças das distâncias de d1 e d2 (imagem “A”, figura 2) definem as bases (MMII) de suporte de equilíbrio da pelve (Diferença de Membros Inferiores – D_MI).
Para determinação de Ângulo Cifose Torácica (A_CT) foi utilizado o protocolo de Penha, João, Casarotto et al. (2005) de ângulos formados entre os pontos de maior concavidade da lordose cervical e lombar e o ponto de maior convexidade da coluna torácica (imagem “B”, figura 2). O Ângulo de Lordose Lombar (A_LL) foi determinado pelos pontos de maior concavidade lombar com o a maior convexidade torácica e o segmento de reta lombosacro (imagem “C”, figura 2). O equilíbrio pélvico entre anteversão e retroversão (Ângulo Horizontal da Pelve – AH_P) foi determinado pelo segmento de reta formado pela EIAS e EIPS com a horizontal (imagem “D”, figura 2).
Tratamento estatístico
Inicialmente foi testada a normalidade dos dados através do teste de Shapiro-Wilk e em seguida aplicada a estatística descritiva sobre os mesmos. Os dados posturais de A_CT, A_LL e AH_P foram avaliados as diferenças entre lado direito e esquerdo através de Teste “t” de Student para amostras dependentes. O nível de significância de P<0,05.
Figura 2. Imagens representando pontos de avaliação postural. Em “A” pontos de nivelamento com a horizontal.
Em “B” e “C” pontos de medida de cifose torácica e lordose lombar, respectivamente. Em “D” avaliação do equilíbrio pélvico.
Resultados
Iniciamos a analise dos dados pelo teste de normalidade dos mesmos (Shapiro-Wilk) quando foi comprovado a distribuição normal. Na sequência os dados antropométricos foram analisados pela estatística descritiva (tabela 1).
Tabela 1. Dados descritivos antropométricos (EST, MC, IMC, DC e PC)
Com relação as DC (Tabela 01) estas foram, no geral, baixas obtendo-se valores médios de 4,9mm (DC-Bi) a 21,8mm (DC-ABD), sendo este ultimo o único ponto anatômico com dobra acima de 20,0mm. Entretanto, o CV mostrou alta variação no tamanho das dobras em relação a sua respectiva média sendo as DCs de maior variabilidade as encontradas na região abdominal com CV de 51,07% e 49,70% para DC-SI e DC-ABD, respectivamente. Os valores mínimos destas DC foram baixíssimos 4,8mm e 6,3mm para DC-SI DC-ABD, respectivamente, porem alguns praticantes apresentaram valores elevados com 30,6mm e 38,0mm, respectivamente, sendo essas dobras as que apresentaram as maiores amplitudes.
A perimetria apresentou dados mais homogêneos se comparados com os DCs. Dos 10 pontos perimétricos avaliados somente um apresentou CV acima de 20% (Pcint = 21,3%) sendo que os demais pontos perimétricos as variações não chegaram a 10%. O ponto de medida perimétrica mais heterogenia é juntamente a região de maiores DCs (DC-ABD e DC-SI) como visto na análise de espessimetria evidenciando que este perímetro teve forte influencia do tecido adiposo local.
Tabela 2. Dados morfológicos de atletas de futevôlei com a composição corporal e áreas musculares e gordas de braço e coxa
A variabilidade de gordura corporal (CV = 38,7% e 47,8% para %G e MG respectivamente) maior que a da massa muscular (CV = 6,2% e 10,6% para %MM e MM, respectivamente). Assim, os atletas são homogêneos no desenvolvimento muscular mais não no teor de gordura.
Com relação a morfologia localizada em braço e coxa, as áreas de gordura foram maior no segmento braço (18,0%) do que coxa (11,3%) ficando conseqüentemente a área muscular maior na coxa. Este fato pontual da morfologia segmentos já havia ocorrido quando feita a analise morfológica geral (MM e MG). A variabilidade dos dados foi maior na área ocupada pelo tecido gorduroso tanto em braço quanto em coxa.
Tabela 3. Descrição dos valores estatísticos de flexibilidade (TSEA)
Tabela 4. Descrição estatística de variáveis relacionadas ao alinhamento corporal
A tabela 4 apresenta processos de alinhamento corporal. O AH_C apresentou uma média de alinhamento com a horizontal de 0,9º. Todavia, pode ser notado através do dp (1,1º) que a variação de valores em torno da média foi alto chegando a 116,5% no Coeficiente de Variação (CV). O atleta com ângulo mais destoante a horizontal apresentou valor de 2,5º e três integrantes da amostra apresentaram alinhamento perfeito com a horizontal (0,0º).
O AH_A apresentou em média (1,0º) pequena distância com o alinhamento horizontal perfeito. A variabilidade também foi alta em torno da média (CV=89,8%). Dois atletas apresentaram os valores mais elevados (3,1º) e quatro sujeitos apresentaram alinhamento perfeito (0,0º). Quanto ao alinhamento da AH_EIAS foi a que apresentou maior diferença média em relação ao alinhamento perfeito (1,2º±1,4º) com uma variação elevada (CV=113,3%), três atletas obtiveram alinhamento perfeito (0,0º) e um atleta valor máximo de 3,3º.
A diferença média no comprimento de membros inferiores direito e esquerdo (D_MI) foi baixa (0,7±0,5cm) sendo a maior diferença encontrada de 1,8 cm e dois atletas não apresentaram diferenças. O ângulo entre o segmento e reta de Acrômio e do segmento de reta formado pelas EIAS (A_A/EIAS) apresentou o valor médio de 1,1º e uma variação de 59,4%.
Na análise do plano sagital (vista lateral) o A_CT, A_LL e AH_P apresentaram valores médios de 144,8º, 152,5º e 10,1º, respectivamente quando em análise do lado direito corporal e 144,5º, 152,0º e 8,9º, respectivamente, quando em análise do lado esquerdo corporal. Nenhuma destas médias apresentou diferenças estatísticas significativas (P>0,05) entre lado direito e esquerdo corporal. Os dados foram homogêneos para A_CT e A_LL todos iguais ou abaixo de 5%. No AH_P a variabilidade foi bem maior sendo, portanto, esta medida heterogênea entre os atletas, sendo o valor mais baixo 6,3º (medida do lado direito em somente um atleta) e o valor mais alto 15,4º em dois atletas que coincidiram este valor.
Discussão dos resultados
A primeira analise que realizamos foi a respeito da antropometria e morfologia dos atletas de futevôlei. Identificamos que os atletas de futevôlei apresentam uma estatura mediana diferentemente de outros esportes onde a estatura é muito mais elevada (Moura, Barros Junior, Cardoso Junior et al., 2005; Glaner, 1999; Francisco, Moreno, Lima et al., 1998; Pires Neto, 1985) e sua MC é compatível com a estatura identificado pelo IMC e %G médios na faixa de normalidade (25,2 kg/cm2 e 14,4%, respectivamente). Entretanto, existe uma acúmulo maior de gordura na região abdominal verificados através das DC-SI e DC-ABD com uma grande variação do PCint (CV=21,3%).
Tal diagnóstico morfológico difere de outros estudos onde demonstra-se que os atletas de rendimento normalmente apresentam uma distribuição equilibrada de gordura corporal (Glaner, 1999; Silva, Trindade, De Rose, 2003; Prado, Botero, Rodrigues et al., 2006; Avelar, Santos, Cyrino et al., 2008). Talvez pela amostra tratar-se de atletas que não são de elite possa haver menor exposição a treinamento físico sistemático e isto comprometa uma melhor distribuição de gordura corporal.
As áreas gordas demonstraram que os atletas têm menor teor de gordura em MMII comparativamente com MMSS. Como o futevôlei apresenta muito deslocamento e este é feito em “piso de areia irregular” torna o trabalho desta musculatura intenso gerando certo grau de hipertrofia em MMII, fato que não acontece em MMSS. Assim, explica-se a menor proporção de área gorda em MMII em relação a área total do segmento.
Os atletas também não apresentam um elevado desenvolvimento muscular quando comparados a outros esportes (Castanhede, Dantas, Fernades Filho, 2003; Avelar, Santos, Cyrino et al., 2008). A não realização de treinamento sistemático e intenso de variáveis físicas pode esclarecer esta questão. Também hipotetizamos que para o deslocamento do piso de areia uma elevada MC, mesmo que constituída de músculos, poderia prejudicar em parte a mobilidade dos atletas.
A flexibilidade dos atletas de futevôlei foi avaliada através do TSEA o qual mensura a flexibilidade da cadeia muscular posterior (eretores da espinha, quadrado lombar, glúteos, isquiotibiais). A pesar de apresentar algumas limitações metodológicas descritas por Chagas e Bhering (2004); Moura, Oliveira, Souza et al. (2011) identificaram este teste com o de melhor sensibilidade de medida para flexibilidade da cadeia muscular posterior comparado com testes de fita métrica ou com uso de flexímetro.
Os atletas apresentaram índices que os caracterizam com boa flexibilidade e não apresentaram assimetria de flexibilidade entre lado direito e esquerdo corpóreo. Muito embora os movimentos técnicos de defesa no futevôlei sejam realizados quase que totalmente pelo membro inferior dominante, tal ato motor parece não influenciar sobre o equilíbrio de flexibilidade dos atletas.
Quanto as análises posturais, a cabeça apresenta-se bem equilibrada com um desvio em relação ao plano horizontal que foi em média de 0,9º. O fundamento cabeceio é extremamente utilizado no futevôlei, porém de ação motora bilateral (plano frontal) e anterior (plano sagital), provavelmente, em função desta ação bilateralizada de acionamento técnico do fundamento cabeceio é que favoreça os atletas a manterem um bom alinhamento da cabeça, pois a musculatura de escalenos médio e posterior, longo do pescoço, escaleno da cabeça e semi-espinhal da cabeça (Verderi, 2008) são tensionadas de forma igualitária para ambos os lados.
Com relação a coluna vertebral nenhum dos indicadores de escoliose (AH_A, AH_EIAS e A-A/EIAS) os atletas apresentaram, em média, um desvio superior a 1,2º com a horizontal, desta forma, entendemos que o grupo de atletas não apresenta indícios de escoliose através do método fotogramétrico. Confirmando e corroborando com essa afirmativa, a diferença entre o comprimento de membros inferiores (D_MI) não chegou a 1,0 cm; ficando em 0,7 cm. Alterações posturais podem ser decorrentes de vários fatores como anatômicos de discrepâncias em MMII (Veronesi Junior e Azato, 2003), esta diferença no comprimento de membros inferiores foi sutil em nossos resultados. Este dado permite com que a pelve fique bem equilibrada sobre os membros inferiores mantendo o sacro adequadamente verticalizado, este então serve como uma excelente base de apoio para L5 e as demais vértebras da coluna vertebral (Kapandji, 1990, Verderi, 2008).
Movimentação técnica de levantamento de ombro no futevôlei é executada por alguns atletas de forma unilateral (majoritariamente o lado de dominância motora). Tal aspecto referente ao fundamento técnico de levantamento não alterou o equilíbrio da cintura escapular (AH_A) sendo a variação média somente de 1,0º com a linha horizontal. Outros estudos encontraram valores maiores de desnivelamento com a horizontal. Iunes, Cecílio, Dozza et al. (2010) encontraram 2,29º em indivíduos com escoliose idiopática, sendo que após o tratamento os valores baixaram para 1,27º. Já Miranda, Schor e Girão (2009) encontraram valores de nivelamento de 1,9º em mulheres com dor pélvica crônica e 1,6º no grupo controle. Comparativamente a estes estudos os atletas de futevôlei apresentaram ótimo alinhamento.
Corroborando com este aspecto, o futevôlei não apresenta assimetrias funcionais motoras de MMSS, já que estes não são permitidos de serem usados nos fundamentos técnicos deste esporte (com exceção dos ombros). Assim, não gera nenhum tipo de assimetria sobre cintura escapular ou sobre a própria coluna vertebral como o que ocorre quando comparado com esportes de ação motora unilaterais como arremesso de peso, lançamento de dardo, voleibol, handebol entre outros, estes tende a apresentar maior tendência a gerar desvios de inclinações laterais devido a ação muscular ser muito intensa e somente de uma lado corporal (Tribastone, 2001).
A pelve equilibrada no plano sagital não deve exceder 20º de inclinação em relação a horizontal para Verderi (2008) ou 15º para Kapandji (1990) e Tribastone (2001), pois acima destes valores o indivíduo acentuará a lordose lombar apresentando hiperlordose. Os valores médios registrados para os atletas de futevôlei ficaram em 10,1º (lado direito) e 8,9º (lado esquerdo), portanto, bem abaixo dos valores de hiperlordose. Porém Tribastone (2001) coloca que ângulos abaixo de 10º caracterizam a retroversão pélvica. Assim, os atletas de futevôlei apresentam uma tendência de retroversão vista pelo lado direito corporal e confirmada em vista esquerda.
Diante desta tendência de movimentação posterior da pelve Hamil e Knutzen (1999) afirma que devido a movimentação de posteriorização do sacro (retroversão pélvica) a coluna lombar tende a retificar-se. Contudo, nossos dados demonstram que a lordose lombar em ângulos concordantes com a literatura. Miranda, Schor e Girão (2009) encontraram valores similares (média de 152,3º de lordose lombar). Assim, embora a pelve tenda a retroversão esta parece não ter influenciado no ângulo de lordose lombar.
O ângulo de cifose torácico médio ficou dentro de valores considerados normais quando mensurados com técnica utilizada neste estudo. Esta técnica para quantificação da curva de cifose utilizada no presente estudo foi originalmente descrita por Wilner (1981) e Corlett, Wilson, Manenica (1986), posteriormente adaptada por Penha, João, Casarotto et al. (2005) e foi empregada posteriormente nos trabalhos (Penha, 2007; Canales, 2008; Rodrigues, Romeiro, Patrizzi, 2009) para avaliar a cifose torácica.
A curva de cifose torácica dos atletas de futevôlei, embora similares ao encontrados por Canales (2008) em indivíduos sem alterações posturais (lado direito = 145,0º±5,9º; lado esquerdo= 146,2º±5,7º), demonstraram-se mais homogêneos (desvio padrão menor). Neste mesmo estudo Canales verificou que indivíduos com tendência à hipercifose apresentam valores abaixo de 140º. Quando comparado os dados com estudo de Penha (2007) o qual foi conduzido em crianças de 7 e 8 anos de idade os valores diferem, médias de 151,9º (sete anos) e 149,7º (oito anos) mostram que nesta faixa etária as crianças apresentam a curvatura mais retificada.
As curvaturas, tanto lordose lombar quanto de cifose torácica, variam de pessoa para pessoa em posição de ortostase o que dificulta caracterizar como curvatura normal (Vialle, Levassor, 2005). Contraditoriamente, os dados do presente estudo apresentaram uma variação considerada pequena de cifose torácica e lordose lombar o que retrata homogeneidade dos atletas de futevôlei com relação a esta curvatura.
Conclusão
Os atletas de futevôlei estudados caracterizam-se por estatura média e MC correspondente, porém com distribuição de gordura mais localizada na região da cintura e proporção da área gorda maior em MMSS que comparativamente com MMII.
Os atletas apresentam flexibilidade no TSEA acima de 20 cm o que os caracteriza como de “boa” flexibilidade e não apresentam assimetria desta qualidade física entre lado direito e esquerdo.
No plano frontal os atletas apresentaram-se bem equilibrados com ângulos de horizontalidade próximos a nivelamento perfeito (ângulo igual a zero com a horizontal), portanto, sem tendências a desnivelamento pélvico, de cintura escapular ou escoliose.
O ângulo de cifose identificado os caracteriza como de curvatura normal. O ângulo de lordose foi considerado normal. Na média os atletas apresentam tendência de retroversão pélvica mas sem influência sobre a curvatura de lordose lombar. Os atletas de futevôlei apresentaram-se homogêneos em relação aos dados posturais.
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 159 | Buenos Aires,
Agosto de 2011 |