Alterações da flexibilidade de bailarinos clássicos durante a pré-temporada Variaciones en la flexibilidad de los bailarines clásicos durante la pretemporada |
|||
*Graduação em Educação Física Licenciatura pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS **Graduação em Fisioterapia pela Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ) Mestrado em Engenharia de Produção: Ênfase em Gerenciamento de Processos e Ergonomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Doutorado em Ciências da Saúde (Cardiologia) pelo Instituto de Cardiologia do RS - Fundação Universitária de Cardiologia (IC/FUC) Pós-doutorado em Ciências da Saúde (Cardiologia) pelo IC/FUC ***Graduação em Educação Física pela FURG. Residente do Programa de Residência Integrada Multiprofissional Hospitalar com Ênfase na Atenção à Saúde Cardio-Metabólica do Adulto (RIMHAS), Rio Grande, RS ****Graduação em Educação Física Licenciatura pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Especialização em Prevenção e Reabilitação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Mestrado em Ciências do Movimento Humano (UDESC). Professora Pesquisadora de Educação à Distância pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS *****Graduação em Educação Física Licenciatura Plena pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), mestrando do Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS ******Graduação em Fisioterapia pelo Centro Universitário Augusto Mota (UNISUAM), Rio de Janeiro, RJ *******Graduação em Educação Física Licenciatura Plena pela UFPEL Mestrando do Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS |
Vanessa Carvalho Torança* Luis Ulisses Signori** Ana Paula Pereira Cardoso* Silvia de Quadro Dorneles*** Daniela Llopart Castro**** danielallopartcastro@gmail.com Ozeia Simões Franco***** Jeferson Mendes Cruz****** André de Oliveira Teixeira******* (Brasil) |
|
|
Resumo Introdução: A flexibilidade é uma das variáveis da aptidão física imprescindível para o movimento humano, sendo considerada pré-requisito básico para a performance do balé clássico. Objetivo: Avaliar os efeitos dos ensaios realizados durante a pré-temporada na flexibilidade de bailarinos clássicos. Métodos: A amostra compreendeu treze bailarinos clássicos (3 homens), com mais de cinco anos de experiência, com idade entre 14 a 39 anos. Os dados foram coletados entre março (início dos ensaios) e julho (início das apresentações) de 2010. Os ensaios eram realizados três vezes por semana, com duração de uma hora, compreendendo o treinamento da técnica clássica acrescidos de exercícios de alongamento. A flexibilidade foi avaliada pelo banco Wells e Dillon (músculos isquiotibiais), pela goniometria do quadril (movimentos de flexão e extensão) e pelo flexiteste (avaliação passiva e ativa corporal dos segmentos dos quadris, coluna vertebral e ombros e geral). Resultados: A flexibilidade não apresentou modificações para os músculos isquiotibiais (p=0.747), para a goniometria do movimento de flexão do quadril (p=0.199); para pontuação dos movimentos passivos dos quadris, coluna vertebral e ombros e, para os movimentos ativos de flexão e extensão do quadril, abdução e extensão do ombro. Os movimentos ativos de abdução do quadril, flexão e inclinação lateral da coluna e flexão do ombro reduziram (p<0.05). Estas alterações repercutiram na redução (18.6±3 vs 16.1±2 pontos; p=0.006) da flexibilidade corporal total ativa. Conclusão: Os ensaios e os alongamentos não melhoraram a flexibilidade dos bailarinos durante o período. Unitermos: Dança. Amplitude de movimento articular. Exercícios de alongamento muscular. Treinamento. Performance.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com |
1 / 1
Introdução
Devido à complexidade da execução dos movimentos corporais que o balé clássico de alto nível exige, os bailarinos se profissionalizaram através das grandes companhias, as quais possibilitam a dedicação quase que exclusiva para os ensaios e treinamentos (Mendes, 1985). O treinamento da técnica clássica exige muita disciplina, considerando princípios de postura ereta e alongada, na qual os seguimentos corporais devem ser sustentados, necessitando de força, equilíbrio, agilidade e flexibilidade para o desenvolvimento do movimento corporal harmônico (Silva & Bonorino, 2008). A dedicação para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da técnica é tanta que muitos bailarinos começam a dançar já na infância (Guimarães & Simas, 2001).
A flexibilidade é a qualidade física responsável pela performance dos movimentos voluntários de amplitudes articulares (AAM) máximas dentro dos limites morfológicos (Araújo, 1983). Esta variável é considerada como um pré-requisito para a execução tecnicamente correta dos movimentos na dança (Dantas, 2005; Silva & Bonorino, 2008), em especial o balé clássico, pois exige o máximo dos movimentos articulares e o nível de flexibilidade determina em grande parte o desempenho dos bailarinos (Dantas, 2005), representado pela leveza dos movimentos (Silva & Bonorino, 2008).
A idade, o gênero, a temperatura corporal e a dor são variáveis que interferem na flexibilidade (American College of Sports Medicine, 1998). Entretanto, em condições fisiológicas, a diminuição da AAM está mais relacionada ao decréscimo da atividade física do que o efeito das demais (Hurley & Roth, 2000), este fenômeno é chamado de destreinamento e é responsável pela perda parcial ou completamente das adaptações anatômicas, fisiológicas e de desempenho adquiridas pelo treinamento da flexibilidade (Mujika & Padilla, 2000; Michelin et al., 2008).
Na busca da técnica, o tempo dedicado aos treinamentos da flexibilidade pelos bailarinos varia de acordo com o período de ensaios e espetáculos, sendo que para iniciantes, os ensaios são realizados dois dias por semana, com duração aproximada de uma hora. Para o nível intermediário, recomendam-se encontros de três a cinco vezes por semana (Schafle, 1996; Guimarães & Simas, 2001) e para o alto nível, exige a profissionalização (Mendes, 1985). A intensidade dos treinamentos e a complexidade dos movimentos vão aumentando de acordo com o nível do bailarino (Schafle, 1996; Guimarães & Simas, 2001). Os ensaios devem ser planejados de forma a desenvolver o ritmo, a percepção espaço-temporal, a impulsão, a coordenação, o equilíbrio, acrescidos da tenacidade, da imaginação e da precisão dos movimentos necessários para a dança (Achcar, 1998) e, ainda, melhorar e/ou manter a flexibilidade (Dantas, 2005).
A flexibilidade pode variar consideravelmente ao longo do ano, principalmente após o período de férias, o que leva ao destreinamento (Mujika & Padilla, 2000; Michelin et al., 2008), bem como, de acordo com período de treinamento e/ou ensaios e apresentações (Schafle, 1996; Dantas, 2005). Na tentativa de melhorar a flexibilidade, os bailarinos dos diferentes níveis incorporaram aos ensaios (Leal, 1998) métodos específicos de alongamento (Dantas, 2005; Cigarro et al., 2006; Mendes & Braciak, 2000; Silva & Bonorino, 2008), entretanto, este conjunto de ações podem não ser efetivas no ganho da flexibilidade e ou na performance. O objetivo do presente trabalho foi verificar os efeitos dos ensaios durante a pré-temporada (março e julho) sobre a flexibilidade dos bailarinos clássicos.
Materiais e métodos
Coleta de dados
Os dados foram coletados durante a pré-temporada, na primeira semana de março (período que corresponde ao início dos ensaios) e na última semana de julho (anterior às apresentações do grupo) do ano de 2010. As avaliações foram efetuadas nos horários habituais dos ensaios do grupo de balé clássico, antes do inicio de suas atividades, no turno da tarde, entre 15 e 17h. Os voluntários foram orientados a manter suas rotinas de vida normal.
Procedimento
Inicialmente os voluntários foram aclimatados por 15 minutos em sala com temperatura constante entre 22 a 25ºC, e não realizaram nenhuma atividade durante este período, apenas avaliação física. As variáveis da composição corporal foram verificadas através de uma balança (marca Philco PHBE6) de bioimpedância.
A flexibilidade dos músculos isquiotibiais foi avaliada pelo banco Wells (marca Instant Flex Sanny BW2002), conhecido como teste de sentar e alcançar (Wells & Dillon, 1952, Signori et al, 2008). Os voluntários sentavam no chão com as pernas paralelas, joelhos estendidos e pés apoiados no aparelho, logo flexionavam o tronco a frente com braços estendidos na direção dos pés, foi verificado o valor quantitativo da sua flexibilidade pela medida expressa em centímetros (cm). O teste foi considerado satisfatório após o voluntário ter realizado três movimentos com variação menor que 10%, sendo utilizado para as análises o maior valor alcançado (Rocha, 1995).
A flexibilidade corporal total foi avaliada pelo flexiteste, onde o voluntário é submetido a oito movimentos de flexibilidade de forma passiva até a sua amplitude máxima sem aquecimento prévio. A avaliação compreendia os movimentos de flexão, extensão e abdução do quadril, flexão e inclinação lateral da coluna vertebral e abdução e extensão dos ombros. Cada grau de flexibilidade corresponde a um valor pré-estabelecido na escala preconizada pelo protocolo (Rocha, 1995). A flexibilidade ativa foi avaliada durante a realização ativa dos movimentos anteriores, sendo aplicada a escala no momento em que o voluntário atingia a amplitude máxima. A flexibilidade corporal total passiva e ativa correspondeu ao somatório (å) dos valores da escala de cada movimento.
A goniometria permite medir os ângulos articulares do corpo (Marques, 1997), sendo observados os movimentos de flexão e extensão do quadril direito. Para sua realização foi utilizado o goniômetro universal 360° (marca IMBRAMED).
Programação dos ensaios
Os ensaios compreendiam aulas de balé clássico que aconteciam três vezes por semana, com duração aproximada de uma hora. A estrutura dos ensaios consistia em diferentes momentos de acordo com a orientação da instrutora. Inicialmente era realizado o aquecimento das principais articulações utilizadas na prática do balé, seguido de exercícios na barra que se alternavam entre aperfeiçoamento da técnica, alongamento dinâmico, estático e balístico, presentes nos movimentos característicos do balé. Estes eram seguidos de alongamentos passivos (em duplas), ativos, balísticos e FNP (Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva). Após eram realizadas sequências de passos rápidos (allegro), com objetivo de desenvolver equilíbrio e velocidade, seguidos de exercícios de diagonal, para aperfeiçoar giros e saltos. Para encerrar a aula era realizado o adágio, que é uma sequência de movimentos lentos, executados no centro da sala com final de reverência e/ou agradecimentos que os bailarinos fazem ao fim de um espetáculo (Iuqui, 1982).
Análise estatística
As variáveis contínuas estão apresentadas em forma de média e desvio padrão, as variáveis categóricas estão com seus valores absolutos e respectivos percentuais. A distribuição das variáveis foi testada através do teste de normalidade Shapiro-Wilk. As variáveis com distribuição simétrica foram comparadas pelo teste t pareado de Student. A taxa de erro alfa menor que 5% (P<0,05) foi considerada estatisticamente significante.
Resultados
A Tabela 1 apresenta a caracterização dos treze voluntários estudados. A amostra foi composta em 2/3 por bailarinos do gênero feminino (dez voluntários, 77%), sendo a idade média do grupo de 22.6 (±8) anos, onde o mais jovem apresentava 14 anos e o mais velho 39 anos. O índice de massa corporal (IMC: 22 ±1.8) indica que a amostra encontrava-se eutrófica, o mesmo acontecendo com o estado de hidratação (normal entre 40 e 70% do peso corporal total) e o peso ósseo. O percentual de gordura médio é considerado adequado (15 a 25%) para a idade, porém, cinco (38%) bailarinos encontravam-se com percentual de gordura acima do recomendado para a idade, e dez (77%) bailarinos apresentavam percentual muscular abaixo dos 40% que seriam considerados normais para idade.
Tabela 1. Características físicas dos bailarinos
Dados contínuos estão expressos na forma de média e desvio padrão. Dados categóricos expressos em números absolutos e percentuais. M: masculino, F: feminino; IMC: Índice de Massa Corporal; %: porcentagem.
A Figura 1 apresenta os dados da AAM do quadril direito durante a pré-temporada que correspondeu o período (março e julho) avaliado pela goniometria. O movimento de flexão do quadril após o programa de alongamento reduziu 10 graus (p<0.01), o que representa uma diminuição de aproximadamente de 8%. O movimento de extensão do quadril não apresentou alteração (p=0.199) nos graus de movimento articular. A flexibilidade dos músculos isquiotibiais avaliada pelo Banco de Wells e Dillon não se alterou durante o período (março: 42.4 ± 2 vs julho: 42.6 ± 3cm; p=0.747).
Figura 1. Amplitude Articular dos Movimentos de flexão e extensão do quadril direito avaliado pela Goniometria.
Valores em média e desvio padrão. F: flexão; E: extensão; Comparados por teste t pareado de Student
A Tabela 2 apresenta os dados da flexibilidade corporal passiva avaliada pelo flexiteste. Durante o período a flexibilidade passiva não se modificou em nenhum dos movimentos do quadril (flexão, extensão e abdução), da coluna (flexão e inclinação lateral) e do ombro (flexão, abdução e extensão) avaliados, sendo a média da flexibilidade passiva corporal total classificada como muito grande em ambas as avaliações.
Tabela 2. Flexibilidade passiva dos bailarinos avaliados pelo flexiteste.
Valores em média e desvio padrão. Comparados por teste t parado. F: flexão; E: extensão; Ab: Abdução; IL: Inclinação Lateral. Comparados por teste t pareado de Student.
A Figura 2 apresenta os dados da flexibilidade corporal total ativa avaliada pelo flexiteste. A flexibilidade ativa não se alterou nos movimentos de flexão e extensão do quadril, e abdução e extensão do ombro. Porém, os movimentos abdução do quadril, flexão e inclinação lateral da coluna e flexão do ombro reduziram aproximadamente 1/2 pontos na escala do flexiteste ativo. A flexibilidade corporal total ativa reduziu (18.6 ±3 vs 16.1 ±2 pontos; p=0.006) aproximadamente 15%, entretanto, esta não modificou sua classificação de média positiva.
Figura 2. Flexibilidade ativa dos bailarinos avaliados pelo flexiteste
Valores em média e desvio padrão. F: flexão; E: extensão; Ab: Abdução; IL: Inclinação Lateral. Comparados por teste t pareado de Student.
Discussão
Os ensaios de balé clássico, realizados ao longo de cinco meses, não se apresentaram efetivos quanto aos níveis de flexibilidade dos bailarinos, pois estes não modificaram a plasticidade muscular. A flexibilidade ativa do quadril, coluna vertebral e ombro diminuíram ao longo do período, isso impactou negativamente na flexibilidade corporal geral ativa, o mesmo efeito negativo foi observado na goniometria do quadril.
A flexibilidade ativa é dependente da força muscular (Frontera, 2001). Programas de treinamento com pesos promovem o desenvolvimento da força muscular e a proliferação de tecido conjuntivo que acompanha a hipertrofia muscular repercutem no aumento da elasticidade muscular e na AAM, favorecendo a flexibilidade (Thrash & Kelly, 1987). A força é um requisito necessário para a realização do movimento ativo e no grupo estudado, 77% dos bailarinos apresentaram massa muscular inferior ao previsto (Frontera, 2001), podendo este fator interferir na avaliação da flexibilidade ativa, assim, exercícios de força poderiam ser usados periodicamente nos ensaios e/ou no programa de exercícios complementares.
A flexibilidade consiste na busca constante de padrões estéticos e performance, além dos limites morfológicos considerados normais para o bailarino (Klemp, 1984). Dessa forma, a prática do balé clássico, visa obter alto nível de flexibilidade em especial da articulação do quadril (Klemp, 1984; Silva & Badaró, 2007). Os bailarinos estudados já apresentavam altos níveis corporais de flexibilidade passiva (flexiteste), verificados já no início do período de acompanhamento. Os bailarinos clássicos normalmente começam seus treinamentos na infância, o que lhes confere uma flexibilidade diferenciada (Guimarães & Simas, 2001), o grupo estudado treinava o balé clássico há no mínimo cinco anos, isso, em parte sugere a não modificação da flexibilidade durante o estudo. O estágio de hipertreinamento da flexibilidade dos bailarinos deve ser considerado, sendo recomendado nestes casos alongamentos apenas uma vez por semana, visando apenas à manutenção desta variável (Gama et al, 2007).
Durante o alongamento muscular, o tempo de exposição é uma variável determinante para os efeitos na plasticidade muscular independente da técnica utilizada (Anderson & Burke, 1991; Dantas, 2005). Os proprioceptores musculares são intensamente estimulados, sendo que o estiramento do músculo age sobre o fuso muscular provocando reflexo miotático, induzindo a contração das fibras musculares (Frontera, 2001). Por outro lado, o órgão tendinoso de Golgi reage à tensão máxima sobre o tendão, causando o relaxamento da musculatura (Frontera, 2001; Dantas, 2005). Estes mecanismos antagônicos são utilizados para preservar a integridade muscular, sendo que para inibir a ação do fuso neuromuscular o alongamento deve ser mantido por um período 20 a 30 segundos (Bandy et. al.1997). O alongamento passivo estático é executado colocando-se os músculos a serem alongados ao maior comprimento possível e mantendo-os nessa posição durante um período de tempo, sendo seguido de um intervalo (Anderson & Burke, 1991). O aumento do comprimento muscular advindo do alongamento passivo estático é resultante da diminuição da resistência muscular passiva, oriunda do aumento da viscosidade e da elasticidade da unidade musculotendínea (Magnusson, 1998; Kubo et al, 2001). Os bailarinos pesquisados seguiam essa metodologia, mas o tempo de intervalo não era constante.
Estes princípios são utilizados nos alongamentos com FNP e passivo mantido (Dantas, 2005), sendo que a manutenção do alongamento por um tempo inapropriado pode resultar no relaxamento muscular insuficiente para provocar a deformação plástica muscular. A aplicação da técnica de treinamento inadequada pelos bailarinos colaborou para os resultados do grupo estudado. Estes achados são ressaltados pelo trabalho de Silva e Badaró (2007), que estudaram os efeitos de um programa complementar de alongamento por FNP em bailarinos, observando que apenas os ensaios não apresentam ganhos adicionais à flexibilidade.
O tipo de alongamento também interfere nos resultados. O alongamento balístico pode ser eficaz para a elasticidade, no entanto, ativa o reflexo do fuso neuromuscular, produzindo contração involuntária do músculo a ser alongado, criando uma resistência ao movimento (Taylor et al,. 1990; Frontera, 2001). No grupo estudado este tipo de alongamento é amplamente utilizado em detrimento dos demais métodos, sendo considerado o menos efetivo (Sady et al., 1982; Funk et al., 2003), assim, deveria ser menos empregado durante os ensaios. Entre os métodos de alongamento, o FNP é sugerido por oferecer os melhores resultados em menor tempo e apresentar-se menos lesivo (Sady, 1982; Dantas, 2005; Cigarro et al., 2006). Os requisitos técnicos como a posição para o alongamento, a duração individual e a sequência dos músculos a serem alongados devem ser respeitados, caso contrário o estímulo provocará o estiramento do fuso neuromuscular resultando em contração muscular, não favorecendo a modificação da plasticidade muscular (Bandy et. al., 1997; Alter, 1999), assim, para sua eficácia o individuo deve ter conhecimento adequado da técnica. No grupo estudado um bailarino aplicava o FNP no outro. Para melhorar os resultados sugere-se que estes conhecimentos devam ser ensinados e supervisionados periodicamente pelos instrutores.
A frequência semanal dos alongamentos é outra variável a ser considerada. A manutenção da flexibilidade após um programa de alongamentos pode ser obtida com uma frequência de uma vez por semana (Schafle, 1996), entretanto, para melhora recomenda-se de três a cinco vezes semanais (Wallin et al, 1985), o que é recomendado para bailarinos de nível intermediário (Schafle, 1996). Segundo Gama e colaboradores (2007), 24 horas após o alongamento existe ganho de amplitude, assim, a cada dia um ganho de amplitude residual é incorporado. De acordo com as observações, o programa era realizado apenas três vezes por semana, o que pode ter sido insuficiente para o ganho da flexibilidade e ainda ter influenciado no decréscimo da amplitude articular de movimento. Este é um dos fatores que contribuíram para a profissionalização dos bailarinos (Mendes, 1985), pois os treinamentos exigem muito tempo, o que não era viável no grupo estudado.
O planejamento de um programa de alongamentos deve prever além dos ensaios, o período de espetáculos e/ou apresentações. Salienta-se que o período final de coletas de dados correspondia às vésperas das apresentações. Este fator pode ter contribuído na redução da flexibilidade, pois o período provavelmente demandou maior tempo para os ensaios das coreografias em detrimento do treinamento da flexibilidade. Dessa forma pode ocorrer o destreinamento da flexibilidade e assim a perda parcial e/ou total da amplitude articular de movimento adquirido ao longo do programa de treinamento (Mujika & Padilla, 2000). Estes dados são reforçados por MICHELIN e colaboradores (2008), onde é sugerido que um mês de destreinamento é suficiente para que o indivíduo perca parcial ou completamente as adaptações anatômicas, fisiológicas e de desempenho conquistadas com o treinamento.
Conclusão
Contrariando os resultados esperados, os ensaios foram insuficientes para melhorar a flexibilidade dos bailarinos clássicos durante o período de cinco meses. Um conjunto de fatores, tais como, altos níveis de flexibilidade prévios, diminuição da força muscular, planejamentos inadequados dos exercícios, ensaios ou do programa como um todo, podem levar a resultados insatisfatórios.
Agradecimentos
Agradeço aos colegas do grupo de pesquisa Promoção a Saúde da Universidade Federal do Rio Grande. Ao acadêmico Rodrigo Soares pela dedicação nas coletas de dados.
Referências bibliográficas
ACHCAR, D. Bale: uma arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
ALTER, MJ. Ciências da Flexibilidade. Porto Alegre: Artmed, 1999.
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Exercise and physical activity for older adults. v.30. p. 992-1008. 1998.
ANDERSON B, Burke ER. Scientific, medical, and practical aspects of stretching. Clin Sports Med 1991;10:63-86.
ARAÚJO, CGS. Existe Relação entre Flexibilidade e Somatotipo? Uma nova metodologia para um problema antigo. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 7 (4): 7. 1983.
BANDY WD; IRON JM; BRIGGLER M. The Effect of time and frequency of static stretching on flexibility of the hamstring muscle. Phys Ther. 1997; 77:1090-6.
CIGARRO, NMS; FERREIRA, RE; MELLO, DB. de. Avaliação da Flexibilidade da Articulação do quadril em Bailarinas Clássicas antes e após um Programa Específico de Treinamento. Revista de Educação Física. 133:25-35. 2006.
DANTAS, EHM. Flexibilidade: alongamento e Flexionamento. 5º ed. Rio de Janeiro: Shape. 2005.
FRONTERA, WR; DAWSON, DM; SLOVIK, DM. Exercício Físico e Reabilitação. Porto Alegre, Artmed, 2001.
FUNK, DC; SWANK, AM.; MIKLA, BM; FAGAN, TA; FARR, BK. Impact of prior exercise on hamstring flexibility: a comparison of proprioceptive neuromuscular facilitation and static stretching. J Strength Cond Res. 2003; 17(3): 489-92.
GAMA, ZAS; MEDEIROS, CAS; DANTAS, AVR; SOUZA, TO. Influência da Freqüência de Alongamento Utilizando Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva na flexibilidade dos Músculos Isquiotibiais. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 13,n. 1,2007.
GUIMARÃES, ACA; SIMAS, JPN. Lesões no Bale Clássico. Revista da Educação Física/UEM Maringá; 12(2):89-96. 2001.
HURLEY BF; ROTH SM. Stregth Training in the Elderly – Effects on Risk Factors for Age-Related Diseases. Sports Medicine. V.30, n.4, p. 249-268, 2000.
IUQUI, L. Ballet: termos, passos e sua execução. Rio de Janeiro: Ediouro; 1982.
KLEMP, PL. Hipermobility and injuries in a professional ballet company. British Journal of Sports Medicine, v.18, n.3, p. 143-148, 1984.
KUBO K, KANEHISA H, KAWAKAMI Y, FUKUNAGA T. Influence of static stretching on viscoelastic properties of human tendon structures in vivo. J Appl Physiol 2001;90:520–7.
LEAL MRM. A preparação física na dança. Rio de Janeiro: Sprint, 1998.
MAGNUSSON SP. Passive properties of human skeletal muscle during stretch maneuvers: a review. Scand J Med Sci Sports 1998;8:65–77.
MARQUES, AP. Manual de Goniometria. São Paulo: Manole Ltda, 1997.
MENDES, EH; BRACIAK, GM. Métodos de Treinamento de Flexibilidade em Praticantes de Ginásticas Rítmicas do Paraná. Caderno de Educação Física: Estudos e reflexões. V. 5. n.9, p. 43 – 50. V Encontro de Pesquisa em Educação Física – Parte 1. 2000.
MENDES, MG. A Dança. Ed. Ática. São Paulo. 1985.
MICHELIN, E; COELHO, C de F; BURINI, RC. Efeito de um Mês de Destreinamento Sobre a Aptidão Física Relacionada à Saúde em Programa de Mudança de estilo de Vida. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Vol. 14, n°3. Mai/jun, 2008.
MUJIKA, I; PADILLA, S. Detraining: loss of training-induced physiological and performance adaptations. Part. I – short term insufficient training stimulus. Sports Med. 2000; 30: 79-87.
ROCHA, PECP. Medidas e avaliação em ciências do esporte. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.
SADY, SP; WORTMAN, M; BLANKE, D. Flexibility training: ballistic, static or proprioceptive neuromuscular facilitation? Arch Phys Med Rehabil.1982;63(6):261-3.
SCHAFLE, MD. Segredos em medicina desportiva: respostas necessárias ao dia-a-dia em centros de treinamento, na clínica em exames orais e escritos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
SIGNORI, LU; VOLOSKI, FRS; KERKHOFF, AC; BRIGNONI, L; PLENTZ, RDM. Efeito de agentes térmicos aplicados previamente a um programa de alongamentos na flexibilidade dos músculos isquiotibiais encurtados. Rev Bras Med Esporte, 14( 4): 328-331 2008.
SILVA, AH; BADARÓ, AFV. Influência do Alongamento por Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva na flexibilidade em Bailarinas. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n.4, p. 109-116, out./dez.2007.
SILVA, AH; BONORINO, KC. IMC e Flexibilidade de Bailarinas de Dança Contemporânea e Clássica. Fitness Performance Jornal. Rio de Janeiro, 2008,7(1):48 – 51.
TARJET-FOXELL B; ROSE FD: Pain and pain tolerance professional ballet dancers. Br. J Sports Med 29(1):31-34, 1995.
TAYLOR, DC; DALTON Jr JD.; SEABER, AV.;GARRET Jr WE. Viscoelastic Properties of muscle–tendon units: the biomechanical effects of stretching. American Journal of Sport Medicine, 1990. 18(3): 300-9.
THRASH, K; KELLY, B; Flexibility and Strengthtraining. Journal of Applied Sport Science research, 1987. 4:74-75.
WALLIN D, EKBLON B, GRAHN R. et al. Improvement of muscle flexibility. Am J Sports Med 1985; 13:263-268.
WELLS, KF; DILLON, KE. The sit and reach: a test of back and leg flexibility. Res Q 1952;23:115-8.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 159 | Buenos Aires,
Agosto de 2011 |