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Valores e atitudes no esporte social

Valores y actitudes en el deporte social

 

*Graduanda em Educação Física – FACOS/Osório-RS

**Mestre em Ciências do Movimento Humano – UFRGS

Professor da Faculdade Cenecista de Osório (FACOS), RS

Núcleo de Estudos e Pesquisa em Pedagogia

e Psicologia do Esporte (NP3 Esporte) da UFRGS Porto Alegre, RS

Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos – GPEO/PUCRS

Liziane Costa Alves da Rosa*

lizianecostaalves@hotmail.com

Ms. Ricardo Pedrozo Saldanha**

ricardo@ricardosaldanha.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo trata dos valores e atitudes de jovens de 12 a 17 anos praticantes de esportes em projetos sociais. O objetivo foi verificar a correlação dos valores (Morais, Status e Competência) e atitudes (Pró-Social e Anti-Social) de jovens praticantes de esportes em projetos sociais. A amostra foi composta por 71 sujeitos, divididos em dois grupos de faixa etárias (de 12 a 14 anos e de 15 a 17 anos). Os instrumentos utilizados foram o Questionário de Identificação das Variáveis de Controle” (QIVC), Inventário de Valores do Esporte Juvenil 2 (IVEJ-2), Questionário de Atitudes no Esporte (QAE-16), Escala de Desejabilidade Social e Escala de Tendência à Mentira. Os valores Morais e de Competência correlacionaram-se positivamente com as atitudes Pró-sociais e negativamente com as Anti-sociais, entretanto os Valores de Status correlacionaram-se positivamente tanto com as atitudes Pró-sociais quanto com as Anti-sociais. As atitudes dos jovens podem ser determinadas em razão do clima motivacional da aula, do meio que estão inseridos, pelas regras do jogo, etc., pois a forma com que os professores transmitem seus valores induzirá, na maioria das vezes, a um clima que provavelmente os alunos venham a ter essas características. Verificou-se que são necessários mais estudos sobre essa temática, considerando a complexidade do tema.

          Unitermos: Valores. Atitudes. Projetos esportivos sociais. Adolescência.

 

Abstract

          The present study deals with the values ​​and attitudes of youth 12 to 17 years of practicing sports in social projects. The objective was to investigate the correlation values ​​(Mitchell, Status and Powers) and attitudes (Pro-Social and Anti-Social) youth sports athletes in social projects. The sample consisted of 71 subjects, divided into two age groups (12-14 years and 15-17 years). The instruments used were the Questionnaire for Identifying Variables Control "(QIVC), Inventory of Values ​​of Youth Sport 2 (IVEJ-2), the Sports Attitudes Questionnaire (AEQ-16), Social Desirability Scale and the Scale Trend Bullshit. Values ​​and Moral Competence correlated positively with pro-social attitudes and negatively with the Anti-social, however Status Values ​​correlated positively with both the pro-social attitudes as well as with anti-social. The attitudes of young people can be certain because of the motivational climate of the classroom, the environment that are inserted by the game rules, etc., for the way in which teachers transmit their values ​​will lead, in most cases, a climate that probably students will have those features. It was found that further studies on this topic, considering the complexity of the issue.

          Keywords: Values.​ Attitudes. Social sports projects. Adolescence.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O presente estudo trata dos valores e atitudes de jovens de 12 a 17 anos praticantes de esportes em projetos sociais. Levando em consideração que o esporte é um meio que transmite uma série de valores, e que hoje a adesão nas práticas esportivas vem crescendo consideravelmente entre os jovens, é necessário a transmissão de atitudes pró-sociais, pois segundo Gonçalves (1991) a práticas desportivas são ferramentas que possibilitam a transmissão de valores levando em consideração as situações que são criadas nas práticas.

    Os professores e treinadores tendem a esquecer freqüentemente dos aspectos relacionados com a educação sócio-desportiva de seus alunos, preferindo muitas vezes adotar uma atitude passiva, resultando assim em atitudes anti-sociais como trapaça, pratica de agressões, falta de respeito com colegas, adversários e árbitros.

    No esporte os professores se deparam com várias situações em que podem desenvolver a educação integral de crianças e jovens, focando várias dimensões: motora, cognitiva, afetiva e social. Entretanto, para que isso aconteça é necessário que os educadores deixem um pouco de lado o desenvolvimento de gestos motores perfeitos e se dediquem mais no desenvolvimento integral de seu aluno.

    Sua prática deve ser planejada considerando as vivências que os jovens trazem de seus ambientes. As práticas devem ser desenvolvidas a partir de aspectos positivos para suas vidas, de vivências que possibilitem a aprendizagem e a experiência em valores morais e atitudes pró-sociais.

    Os valores morais vêm sendo transmitidos através dos esportes a mais de um século, o Fair Play (Desportividade) é uma das contribuições mais relevantes dos princípios olímpicos (SANMARTÍN, 1995) demonstra diversos valores, como por exemplo: valores morais, cooperação, companheirismo, jogo limpo, status, solidariedade, entre outros.

    Os projetos sociais que possuem as práticas desportivas têm uma grande possibilidade de transmitir esses valores. Muitos jovens chegam a esses projetos sociais com valores destorcidos, devido a muitos problemas familiares, problemas com drogas, prostituição entre outros. O projeto interligado com os esportes pode ser um grande instrumento para construir ou reconstruir valores, resgatando assim as atitudes pró-sociais.

    Se os valores têm grande influência nas decisões e ações das pessoas diariamente, em especial nas práticas desportivas, existirá então uma grande relação entre valores e atitudes. Sendo assim justifica-se a presente pesquisa no sentido de ajudar os educadores, treinadores e todos os responsáveis pela educação moral, a planejar e organizar as atividades do ensino esportivo juvenil. Para que seja possível desenvolver valores morais pró-sociais (LEE et al., 2008; GONÇALVES, 2007) através da prática esportiva.

    O objetivo central desta pesquisa foi verificar a correlação dos valores (Morais, Status e Competência) e atitudes (Pró- Social e Anti-Social) de jovens praticantes de esportes em projetos sociais de Porto Alegre/RS. Para bem responder esta questão foram empregados os procedimentos metodológicos apresentados a seguir.

Métodos

    O presente estudo é transversal de tipo correlacional. A população que compõe esta pesquisa são jovens com idades de 12 a 17 anos que participam de projetos esportivos sociais. A amostra foi composta por 71 sujeitos, divididos em dois grupos de faixa etárias (de 12 a 14 anos e de 15 a 17 anos). Abaixo apresentamos a Tabela 1 com a separação da amostra por variável de controle.

Tabela 1. Distribuição de freqüências de sujeitos por variável de controle

    Foram utilizados quatro instrumentos: “Questionário de Identificação das Variáveis de Controle” (QIVC). O QIVC é um instrumento onde o sujeito coloca seus dados pessoais. Sexo, Idade, Nível Educacional, Tipo de esporte que pratica e há quanto tempo pratica esporte no projeto. Inventário de Valores do Esporte Juvenil 2 (IVEJ-2), traduzido da versão original: Youth Sport Value Questionnaire 2 (YSVQ-2). O YSVQ-2 é um instrumento que avalia os valores no esporte em 3 dimensões valorativas (Valores Morais, de Competência e de Status). As respostas aos itens são dadas a partir de uma escala tipo Likert graduada em 5 pontos (de 1 esta idéia é pouquíssimo importante para mim a 5 esta idéia é muitíssimo importante para mim. Questionário de Atitudes no Esporte (QAE-16). O QAE 16 é um instrumento que avalia em que nível o atleta concorda (ou discorda) com as atitudes declaradas nos itens do Inventário. As respostas ao inventário são dadas através de uma escala de tipo Likert, graduados em cinco pontos, indo de (1) “discordo firmemente da declaração”; a (5) “concordo firmemente com a declaração”. As propriedades métricas desse instrumento foram avaliadas no estudo de Lee, Whitehead e Ntoumanis, (2007). Escala de Desejabilidade Social. A Desejabilidade Social será medida através de uma versão abreviada da “Escala de Desejabilidade Social” de Marlowe-Crowne (CROWNE; MARLOWE, 1960). Trata-se de uma escala com 6 itens respondidos em uma escala dicotômica: verdadeiro (V) ou falso (F). Escala de Tendência à Mentira. A tendência das pessoas mentirem será medida pela “Escala de Tendência à Mentira” (BALBINOTTI, 2008). Trata-se de uma escala composta por 5 itens respondidos em uma escala de tipo Likert (LIKERT,1932), em 5 pontos indo de Totalmente Falso (resposta 1) até Totalmente Verdadeiro (resposta 5). Todos os cuidados éticos da pesquisa foram tomados, respeitados rigorosamente todos os cuidados éticos relacionados à pesquisa com seres humanos, conforme previsto na Resolução do Ministério da Saúde nº 196/96. Assim, Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul analisou e aprovou o estudo sob o número de protocolo 18193.

Resultados

    Para operacionalização das análises de dados, foi utilizado o programa estatístico SPSS 15.0. Dois grupos de análises foram realizadas, a saber: análises descritivas e análises correlacionais. O primeiro grupo de análises foi composto pelas análises descritivas, a saber: de tendência central (média, média-aparada a 5%, moda, mediana), dispersão (desvio-padrão) e distribuição (normalidade). A análise da distribuição permitiu tomar a decisão a respeito do uso de instrumental paramétrico ou não paramétrico. O segundo e último grupo de cálculos contempla as análises correlacionais, a fim de se obter a intensidade, sinal e nível de significância das correlações (Pearson) entre as variáveis. Assim a exploração dos escores obtidos pelos instrumentos seguiu os princípios norteadores comumente aceitos na literatura especializada (HILL; HILL, 2008; PESTANA; GAGEIRO, 2005; REIS, 2000).

    A fim de descrevermos os resultados que serão obtidos, apresentaremos as estatísticas de tendência central (média, mediana, média aparada a 5% e a moda); de dispersão (desvio-padrão e amplitude total); e de distribuição da amostra (normalidade). Inicialmente, apresentaremos as estatísticas de tendência central e de dispersão da amostra.

Tabela 2. Estatísticas de Tendência Central, de Dispersão e Distribuição da amostra Geral, conforme dimensões Valorativas

 

Tabela 3. Estatísticas de Tendência Central, de Dispersão e Distribuição da amostra Geral, conforme dimensões Atitudinais

    Os resultados constatados nas tabelas de medidas de tendência central, média (), média aparada a 5% (Trimed 5%), Mediana (Med) e Moda (Mod), foram próximos e o desvio padrão (DP) não ultrapassou a metade dos valores da média. A pesquisa também demonstrou os valores mínimos e máximos que ficarem entre 08 e 57. A normalidade dos resultados (K-S; gl; Sig), na tabela dos Valores, não aderiram à normalidade, isto é, resultados heterogêneos (Sig < 0,05) nas dimensões de Competência e Status. Entretanto, a dimensão Moral aderiu à normalidade, assim se obteve resultados homogêneos (Sig > 0,05). A tabela das Atitudes mostrou que a dimensão Anti-Social não aderiu e a Pró-social aderiu à normalidade dos resultados. Abaixo está a tabela que mostrará a correlação dos resultados.

Quadro 1. Correlação de Pearson entre Valores e Atitudes

    Na correlação dos resultados dos valores (de cada dimensão) e de atitudes verificou-se o sinal, a intensidade e o nível de significância. Foi constado que a correlação entre as dimensões Competência e Anti-social teve sinal negativo, intensidade fraca e não foi significativo (-0,029/ 0,808). Entretanto a dimensão Competência com a dimensão Pró-social teve sinal positivo, intensidade fraca e significativa (0,279 / 0,018). Na correlação da dimensão Moral com dimensão Anti-social foi verificado sinal negativo, intensidade fraca e não significativo (-0,126/ 0,296), já a dimensão Moral com a dimensão Pró-social foi positiva, intensidade fraca e significativa (0,294/0,013). Na dimensão Status, verificou-se sinal positivo, intensidade fraca e não significativo em ambas as dimensões das Atitudes Anti-sociais (0,201/0,093) e Pró-sociais (0,142/ 0,236).

Discussão dos resultados

    Nesse estudo verificamos a correlação dos valores e das atitudes de jovens que estão em pleno desenvolvimento, cognitivo, afetivo e social, sendo que todos estão inseridos em bairros com altos índices de drogas, violência, prostituição e etc. Essa pesquisa mostrou a situação referente aos valores e as atitudes de jovens de 12 a 18 anos de idade.

    É na adolescência que os jovens estão formando sua personalidade e desenvolvendo seu caráter (PERRON, 1987), porém um fator que poderá determinar esse desenvolvimento é o meio que estes sujeitos estão inseridos. Sendo assim as atitudes pró-sociais e anti-sociais podem ser potencializadas através da sociedade.

    O esporte é um meio que pode potencializar os valores e as atitudes, entretanto dependerá do profissional que desenvolve as aulas demonstrar valores e atitudes pró-sociais, pois muitos jovens podem ser induzidos e provavelmente venham a ter as mesmas características do seu professor ou treinador (SANMARTÍN, 1995; LEE et al., 2008).

    Os resultados obtidos na pesquisa mostraram que valores Morais correlacionam-se positivamente com as atitudes pró-sociais (socialmente positivas), diferente das atitudes anti-sociais (socialmente negativas). Da mesma maneira os valores de competência, obtiveram correlações positivas com atitudes pró-sociais e negativas com as anti-sociais. Já os valores de Status mostraram correlações positivas com as atitudes pró-sociais e anti-sociais.

    Em seu estudo, Lee et al. (2008) obteve resultados parecidos, os valores morais correlaciona-se positivamente com atitudes pró-sociais, diferente das atitudes anti-sociais e os valores de Competência e de Status, respectivamente, obtiveram correlações fortes. O valor de Competência correlacionou positivamente com atitudes pró-sociais e negativamente com as anti-sociais, o que aconteceu inversamente com os valores de Status. Porém em seu estudo Lee mostrou que os valores de Status correlacionam-se negativamente com as atitudes pró-sociais o que não foi constatado no presente estudo. O número de sujeitos pesquisados pode ter sido um fator determinante para ter ocorrido diferenças nos resultados, pois Lee pesquisou com 892 sujeitos e esta pesquisa foi realizado com 71 sujeitos.

    Todas as pessoas possuem seu sistema de valores (ROKEACH, 1981), e este sistema é constituído por valores morais ou não, o reflexo desses valores pode aparecer nas ações e nos comportamentos das pessoas. A hierarquização é que se dará de forma diferente, cada sujeito dará mais importância para aquilo que achar mais conveniente.

    Os valores morais, segundo Cabanas (1996), são princípios básicos da ética que permite buscar critério para definirmos o que é ser bom correto ou moralmente certo, como por exemplo, a honestidade, honra e lealdade. O respeito pelas pessoas é um principio que norteia os meios de ação moral, podendo ser um fim ou um ideal para a ação (KOHLBERG, 2006). Esses valores são adquiridos pelo individuo ao longo do seu desenvolvimento, sendo influenciados primeiramente pelos pais, chamado de “complexo de Édipo por Sigmund Freud (1856-1939), e depois pelos professores, amigos, técnicos e outros. Os valores morais não são somente uma consciência do dever, mas sim uma motivação interna que resultará em uma ação. Essas ações são sentimentos que integram nossa personalidade e que impulsionam para uma ação moral (TOGNETTA; VINHA. 2009).

    Segundo Lee et al (2008) quem têm interiorizado um valor Moral, provavelmente terá atitudes Pró-Sociais. Atitudes pró-sociais são ações ou julgamentos voluntários resultando em conseqüências positivas, portanto sua correlação com o valor Moral será negativa com as atitudes Anti-Sociais, que são ações que prejudicam o convívio em sociedade, com conseqüências negativas. Neste estudo foi confirmada essa correlação.

    Os valores de competência se referem à responsabilidade, participação, desempenho, dedicação e etc., ou seja, o individuo que tem esses atributos provavelmente, terá atitudes pró-sociais (Lee et al 2008). O resultado encontrado mostrou quanto maior os valores de competência maiores serão as atitudes pró-sociais. A valorização de si, o autoconhecimento, a auto-estima e a convivência familiar são fundamentais para construção de valores de Competência, estes importantíssimos para o relacionamento com outras pessoas e consigo mesmo. A baixa auto estima implica um fator de risco para a saúde, física e psíquica.

    [...] a baixa auto-estima gera sofrimento e atrapalha o posicionamento do jovem no mundo. Estes jovens tornam-se vulneráveis, demonstrando com freqüência, sentimentos de inferioridade e insegurança, com tendência ao isolamento. (MITRE, 2005, p. 207)

    A afetividade transmitida por pais, treinadores e professores é fundamental para o desenvolvimento da auto-estima, o resgate e a valorização dos aspectos positivos que cada individuo possui em sua personalidade e, provavelmente, ajudará crianças e jovens a desenvolverem valores de competência.

    Em contra partida os Valores de Status resultaria em atitudes Anti-Sociais (LEE et al, 2008). Porém o resultado deste estudo mostrou que esse valor se correlacionou positivamente com as atitudes pró-sociais e anti-sociais, provavelmente esse resultado se deu pelo modo de vida que esses jovens possuem. Todos moram em comunidades pobres, violentas, onde as regras e valores muitas vezes estão hierarquizados de formas diferentes do que encontram nos projetos sociais que freqüentam.

    A ida desses jovens para os projetos sociais fazem com que muitos tenham um jeito de agir diferente em cada lugar, chamado pelo Rokeach (1981) de Pseudo-valores. Este valor caracteriza-se por uma ação ou reação diferente de seus valores em uma determinada situação, podendo estar relacionada com uma pressão externa. No caso desses jovens essas ações poderão ter relação com as recompensas ou castigos, vinda dos colegas ou do próprio treinador.

    No esporte, o desenvolvimento dos valores morais se faz importante e necessário, contudo as mudanças na significação moral no esporte em relação ao dia-a-dia são esperadas, sabendo das características próprias do esporte (VIEIRA, 1993), entretanto essa moralidade “alterada” deve ter um limite, dentro das regras do esporte (VISEK; WATSON, 2005). Esses limites devem ser apreendidos pelos atletas a partir da sua relação com seus pares significativos (pais, técnicos, torcedores), a qual irá determinar a interpretação do atleta sobre o que é certo e o que é errado (BREDEMEIER, 1985; STEPHENS, 2000). Sendo assim a atividade física e o esporte são terrenos excelentes para promoção dos valores morais. (SANMARTIN, 1995).

    La Taille (2009) fala sobre a “cultura da vaidade”, que é a forma com que os jovens querem se destacar, ser prestigiados, ser o melhor, enfim aparecer e ser vencedor. Por isso esses jovens dentro de um campo de futebol, podem ter hierarquizado de modo diferente o valor de Status, pois querem vencer e ser o melhor.

    Outro fator é a influencia da mídia sobre a educação das pessoas. A televisão é uma mediadora no processo da construção dos valores de crianças e jovens, pois moldam o modo de pensar, de agir, de ser e de sentir, promovendo verdades absolutas ao público que a assiste (TREVISOL, 2009). Muitos jovens, para obter resultados de vitória burlam regras, trapaceiam, enfim, possuem comportamentos anti-sociais. Um dos motivos pode ser o modo que o jogo é transmitido pela mídia, pois muitos jogadores famosos e bem sucedidos têm esses tipos de comportamentos para alcançarem a vitória.

    A fase da adolescência segundo Perron (1987) ocorre muitas diversificações de valores, pois estão desenvolvendo sua personalidade levando a diversas formas de maturidade. Estão em constante conflito entre o agir e o ser, precisando ainda formar seus sistemas de valores. Nesse sentido, Trevissol (2009. p.179) afirma:

    Crianças e jovens passam grande parte de sua vida na escola. Nesse tempo formam-se suas sensibilidades, sua maneira de pensar e de julgar, constroem-se conceitos e representações, atitudes e comportamentos. Todo esse desenvolvimento que acontece ao longo dos anos escolares representa a constituição da identidade do sujeito com suas diferentes, mas complementares faxes do epistêmico, do estético e do ético.

    Com base no que o autor acima afirmou a escola deve ser consciente de seu papel instrutivo e formativo na transmissão de valores, mas não qualquer valor, mas sim valores que constitui a base ética comum, aqueles que formam o caráter das pessoas, considerados valores morais universais. Entretanto essa transmissão não é fácil, pois envolvem muitos fatores como as manifestações afetivas e sociais. Porém esses valores são internalizados por meio de vivências repetidas, segundo Araújo1 (2000 apud TREVISOL 2009), “nessa concepção [...] os valores nem estão pré-determinados nem são simples internalizações (de fora para dentro), mas resultantes das ações do sujeito sobre o mundo objetivo e subjetivo em que ele vive”, o que torna um trabalho árduo e persistente pelos educadores, ainda mais que estamos em uma acelerada transformação social (TARDELI, 2009).

    Com essa transformação social os educadores precisam se preocupar com os valores, pois é através deles que geram as ações das crianças e dos jovens que integram o ambiente escolar. Porém muitos professores não possuem conhecimento suficiente sobre o desenvolvimento moral, o que dificulta a transmissão dos mesmos. Seria necessário que o sistema escolar tivesse vinculado as práticas sociopolíticas e sua preocupação com a educação em valores deveria ser essencial desde o ensino básico (CAMINO; PAZ; LUNA, 2009).

    Segundo Trevisol (2009) os valores estão em crise e enfraquecidos, por isso a importância dos educadores atuarem no sentido de construção e reconstrução dos valores, sendo estes valores responsáveis pelo agir dos alunos. Mas para isso, é fundamental que passe do desejo de mudança para ações educacionais e políticas, sendo assim é necessário uma consciência crítica por parte da família dos educadores e da sociedade em geral, pois sabemos que a escola não é a única responsável por essa transmissão.

    Mas como realizar o ensino de valores? Conforme Trevisol (2009) o professor é sempre “modelo”, por isso precisa ser justo e respeitoso para assim passar o exemplo a seus alunos. Sua tarefa é valorizar a troca de idéias, o diálogo, acordos e consensos sobre os problemas éticos que surge dentro e fora da escola, propiciar espaços de inter-relações, a atividade pedagógica que desperte no aluno a reflexão e faça com que consiga chegar a um consenso, propicia a ativação cognitiva e afetiva do educando. Conforme La Taille (2009, p.107),

    [...] a escola precisa urgente assumir sua tarefa, pois é a única instituição que ainda tem legitimidade social para tanto, a única que, no fundo, diz respeito a todo mundo, visto que, em algum momento da vida, todo mundo é aluno ou professor, pai ou irmão [...] Ou seja, a escola ocupa um lugar central na sociedade.

    Tendo em vista que a maioria dos projetos sociais acontece dentro do ambiente escolar é de suma importância a integração de professores e treinadores para o desenvolvimento da moral e da ética nos jovens, assim como adquirirem maior conhecimento das mesmas para conseguirem formar sujeitos críticos através da educação moral. Porém para haver a mudança é preciso um compromisso coletivo da família e de todos os educadores integrantes do desenvolvimento de crianças e jovens.

Conclusão

    Com base nos resultados encontrados, tendo- se em vista que o objetivo do estudo foi verificar a correlação dos valores (Morais, Status e Competência) e atitudes (Pró-Social e Anti-Social) de jovens praticantes de esportes em projetos sociais, foi constatado que os indivíduos da amostra tiveram correlações positivas e negativas entre os Valores e as Atitudes.

    Os valores Morais e de Competência se correlacionaram positivamente com Atitudes Pró-sociais e negativamente com as Atitudes Anti-sociais. Entretanto o valor de Status se correlacionou positivamente tanto com as atitudes Pró-sociais quanto com as Anti-sociais.

    Verificou-se que são necessários mais estudos sobre essa temática, considerando a complexidade do tema. As atitudes dos jovens podem ser determinadas em razão do clima motivacional da aula, do meio que estão inseridos, pelas regras do jogo, etc, pois a forma com que os professores transmitem seus valores induzirá, na maioria das vezes, a um clima que provavelmente os alunos venham a ter essas características. Porém, pode-se perceber a importante ferramenta que o esporte proporciona aos professores e treinadores de projetos sociais na transmissão e (re)construção de valores.

    Sabe-se que os valores guiam as ações, portanto é necessária a conscientização de todos os educadores/treinadores para que a educação moral esteja presentes nesses projetos sociais e em todas as redes de ensino, para assim formar sujeitos honestos, responsáveis e com um futuro brilhante pela frente baseados em valores e atitude Pró-sociais.

Notas

  1. ARAÚJO, U.F.. Escola, democracia e a construção de personalidades morais. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.26, n2, jul./dez, 2000.

Referências

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  • VISEK, A.; WATSON, J. Ice Hockey Players Legitimacy of Aggression and Professionalization of Attitudes. Journal of Sport Psychologist. Champaign, v.19, n.2, p.178-192, 2005.

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