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Promoção da prática de atividade física na 

adolescência: uma proposta para o contexto escolar

Promoción de la práctica de la actividad física en la adolescencia: una propuesta para el contexto escolar

 

*Professora de Educação Física

**Professora do Curso de Licenciatura em Educação Física

Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC

Campus de São Miguel do Oeste

(Brasil)

Suéli Fernanda Ludwig*

sully.f@hotmail.com

Sandra Fachineto**

sandra.fachineto@unoesc.edu.br

 

 

 

 

Resumo

          Tem-se uma grande preocupação em se trabalhar a promoção da atividade física na escola, uma vez que os comportamentos e as atitudes se iniciam neste espaço e tendem a perdurar na vida adulta. Este estudo teve por objetivo implementar uma proposta de intervenção para uma turma do Ensino Fundamental de uma escola municipal do município de Guaraciaba, SC, visando promover a prática de atividade física, levando em consideração os fatores do ambiente de moradia e estilo de vida. Para o diagnóstico inicial, 72 alunos foram selecionados de forma intencional e voluntária. Para a etapa da intervenção, 16 alunos do 3º ano do 2º ciclo foram selecionados, pois apresentaram os menores índices de atividades físicas. Para o diagnóstico de comportamentos sedentários e prática de atividades físicas, foi utilizado o questionário “COMPAC – questionário de comportamento dos adolescentes catarinenses”, proposto por Nahas e outros (2002). Para verificar a cultura e origem étnica dos adolescentes bem como aprofundar detalhes sobre a prática de atividade física em seu ambiente de moradia (estilo de vida) elaborou-se uma entrevista semiestruturada. Após o diagnóstico foi realizada uma proposta de intervenção visando contribuir para a promoção da prática da atividade física na adolescência. Para registro de como foi recebida a proposta de intervenção pelos alunos foi usado um diário de campo. Para análise do questionário (COMPAC) foi utilizada estatística descritiva (análise de freqüência, a média e o desvio-padrão). A comparação do comportamento sedentário e a atividade física entre as zonas de moradia (rural e urbana) foi feita por meio do teste t de Student para amostras independentes. A comparação do comportamento sedentário e da atividade física entre as séries foi utilizada Anova One Way. Para análise das informações obtidas tanto do diário de campo e da entrevista foi utilizada a técnica qualitativa de análise de conteúdo. Os resultados mostraram que mais da metade do grupo de estudantes praticam atividades físicas por menos de 300 minutos por semana, sendo considerados “insuficientemente ativos”, no entanto, não apresentam comportamento sedentário em relação à televisão e uso de computador e vídeo game. Comparando a atividade física entre as séries, pode-se perceber que o 3º ano do 2º ciclo apresenta os menores índices de atividade física. Pode-se perceber que com a intervenção os estudantes passaram a ter um maior interesse pela prática de atividades físicas, pois através dos conteúdos repassados entendeu-se qual a importância de se ter um estilo de vida ativo para que no futuro tornem-se adultos ativos e com menos doenças. Conclui-se que trabalhos voltados à promoção da saúde contribuem na educação para um estilo de vida ativo.

          Unitermos: Atividade física. Sedentarismo. Promoção da saúde na adolescência.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A atividade física pode ser entendida como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, sendo, portanto, voluntário, e resultando em gasto energético maior do que os níveis de repouso. (CASPERSEN et al., 1985 apud GUISELINI, 2006, p.23).

    Pensando dessa forma, pode-se dizer que as atividades diárias podem ser consideradas atividades físicas, mas com menos intensidade do que aquelas que são praticadas especificamente para a manutenção da saúde.

    Com o passar dos anos pode-se perceber que as atividades físicas não estão sendo praticadas, principalmente por adolescentes, pois os mesmos não sabem da importância da prática da atividade física na fase de crescimento em que se encontram (TASSITANO et al., 2007, p. 56).

    Para explicar a importância da atividade física na adolescência, recorre-se ao seguinte trecho de Ramos (2002, p.87):

    A atividade física contribui para: estimular o aumento da estatura (crescimento longitudinal do osso); estimular o crescimento em espessura do osso; melhorar o controle do peso corporal (obesidade infanto-juvenil) – crianças ativas tem menor percentual de gordura corporal, quando comparadas com crianças inativas; aumentar a força muscular; aumentar a flexibilidade; hipertrofia muscular – o fenômeno da hiperplasia continua em investigação; maior resistência cárdio-respiratória, e níveis mais baixos de colesterol e triglicerídeos no plasma – prevenção de doenças cárdio-circulatórias.

    Diante da importância da prática de atividades físicas regulares para a saúde, sabe-se que a mesma pode ser influenciada por alguns fatores, entre os que destacam-se está o ambiente de moradia e o estilo de vida. O estilo de vida, de acordo com Nahas (2006, p. 20 grifo do autor) pode ser compreendido como o “conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades na vida das pessoas”. Neste sentido, os hábitos de vida podem variar em relação ao ambiente de moradia. Por exemplo, em um estudo realizado por Burgos e outros (2009) no município de Santa Cruz do Sul/RS os autores observaram que atividades realizadas por adolescentes fora do âmbito escolar, pode-se perceber uma grande diferença entre as práticas esportivas realizadas na zona rural e na zona urbana. No que diz respeito ao sexo masculino, nas cidades os esportes que prevalecem são o futebol e o basquete, já com escolares da zona rural o esporte predominante é o futebol com cerca de 72,9%. Já com relação ao sexo feminino, nas cidades aparecem o voleibol e o futebol, mas há uma grande percentagem de adolescentes que não praticam esporte algum, e quando fala-se em zona rural essa prática aumenta, e o esporte predominante é o futebol. (BURGOS et al., 2009, p. 81).

    Para uma melhor exemplificação da situação recorreu-se a uma pesquisa realizada sobre o assunto:

    O presente estudo é composto por uma amostra representativa dos adolescentes residentes na zona urbana da cidade de Pelotas, no Sul do Brasil. A taxa de resposta foi de 92,4%, reduzindo assim a possibilidade de ocorrência de viés de seleção [...] O estudo indica participação dos fatores biológicos, comportamentais e culturais na determinação do sedentarismo. Tentativas têm sido feitas para melhorar a condição de saúde e qualidade de vida dos adolescentes, por meio da diminuição do sedentarismo. Sabe-se, contudo, que as medidas, embora importantes, não têm sido eficazes. Ocorre a interferência dos meios de comunicação, principalmente os visuais, no dia-a-dia do adolescente, que não contribuem com a adesão a um comportamento físico ativo. Os principais fatores de risco para o sedentarismo revelados nesse estudo foram a baixa escolaridade do adolescente e classe social mais baixa, além do risco maior de sedentarismo para as meninas. (OEHLSCHLAEGER et al., 2004, p. 161)

    Com isso tem-se uma grande preocupação em se trabalhar a promoção da atividade física na escola, uma vez que, os comportamentos e as atitudes se iniciam neste espaço e tendem a perdurar na vida adulta. Por isso, é preciso que haja uma estimulação da atividade física por meio da escola, pois é através dela que os primeiros passos para um bom estilo de vida e saúde começam a ser dados.

    Sendo assim, o presente artigo objetivou implementar uma proposta de intervenção para uma turma do ensino fundamental visando promover a prática de atividade física, levando em consideração os fatores do ambiente de moradia e estilo de vida.

Metodologia

    Esta pesquisa, com abordagem qualiquantitativa se caracteriza como descritiva, ou seja, descreve um fenômeno, registra, analisa e interpreta-o objetivando o funcionamento no presente (MARCONI; LAKATOS, 1999, p 22).

    A amostra foi composta, para a etapa diagnóstica, por 72 escolares regularmente matriculados no turno matutino de uma escola municipal do município de Guaraciaba, Santa Catarina, conforme mostra quadro 1:

Quadro 1: Turmas e número de alunos

3º Ano 2º Ciclo

1º Ano 3º Ciclo

2º Ano 3º Ciclo

3º Ano 3º Ciclo

16 alunos

18 alunos

18 alunos

20 alunos

Total

72 alunos

Fonte: a escola

    Para a intervenção, somente participou a turma da 3º Ano do 2º Ciclo, composta por 16 alunos, escolhida intencionalmente conforme critérios abaixo:

  • A partir do diagnóstico, escolheu-se a turma, pois apresentou o maior número de alunos com índices baixos de atividades físicas.

    Para determinar o comportamento sedentário (assistir TV e uso de computador/videogame) e a prática de atividade física, a qual foi dada ênfase para elaboração do programa de intervenção, foi utilizado o questionário “COMPAC – questionário de comportamento dos adolescentes catarinenses” proposto por (NAHAS et al, 2002). Cabe salientar que, para efeito de classificação, foi considerado comportamento sedentário o adolescente que ficasse > 2 horas/dia assistindo TV e usando o computador/videogame. Da mesma forma, foram considerados insuficientemente ativos os adolescentes que acumularam <300 minutos/semana de atividade física moderada a vigorosa.

    Para verificar a cultura e origem étnica dos adolescentes bem como aprofundar detalhes sobre a prática de atividade física em seu ambiente de moradia (estilo de vida) elaborou-se uma entrevista semiestruturada.

    Para o acompanhamento e registro da proposta de intervenção utilizou-se o Diário de Campo.

    Para análise do questionário (COMPAC) foi utilizada estatística descritiva (análise de freqüência, a média e o desvio-padrão) e os resultados apresentados em forma de tabelas e gráficos.

    Para comparar o comportamento sedentário e a atividade física entre as zonas de moradia (rural e urbana) foi utilizado o teste t de Student para amostras independentes.

    Para comparar o comportamento sedentário e a atividade física entre as séries foi utilizada Anova One Way, com pós hoc de Tukey.

    Para análise das informações obtidas tanto do diário de campo e da entrevista foi utilizada a técnica qualitativa de análise de conteúdo. A análise de conteúdo é considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema.

Programa de intervenção – promoção de saúde na escola

    Esta pesquisa foi baseada na abordagem da saúde renovada, proposta por Nahas e Corbin (1992), onde afirmam que a educação física tem a maior responsabilidade de trabalhar com atividades físicas e desenvolvimento humano. Os autores entendem que as práticas de atividade física vivenciadas na infância e adolescência se caracterizam como importantes atributos no desenvolvimento de atitudes, habilidades, e hábitos que podem auxiliar na adoção de um estilo de vida ativo fisicamente na idade adulta.

    Com essas informações, é importante elaborar um programa de intervenção para contribuir em uma melhor compreensão sobre o entendimento da importância da prática da atividade física para uma vida saudável.

    As aulas foram ministradas pela acadêmica para o 3º ano do 2º ciclo, com a supervisão do professor da escola, três vezes por semana durante 42 minutos, totalizando 9 aulas.

Abaixo é apresentada a proposta de promoção da saúde:

Quadro 2: Programa de intervenção

Aula

Conteúdos

Estratégias

1

Estilo de vida: Atividade física e comportamento sedentário

Explanação da importância da atividade física para a saúde. Diagnóstico da prática de atividade física, do comportamento sedentário através da aplicação de questionário e entrevista para todas as turmas das séries finais do Ensino Fundamental.

2

Estilo de vida: nutrição, atividade física, controle de estresse, relacionamentos, comportamento preventivo

- Aplicação do questionário “Perfil do Estilo de Vida Individual para adolescentes” (ANEXO A) no intuito de verificar como está os componentes do estilo de vida (nutrição, atividade física, controle de estresse, relacionamentos, comportamento preventivo).

3

Estilo de vida: nutrição, atividade física, controle de estresse, relacionamentos, comportamento preventivo

Formação de grupos de discussão para avaliar e também para relacionar a prática de atividade física no meio rural e urbano, assim como os resultados do questionário do estilo de vida também foram analisados.

4

Atividade física e saúde

Prática de atividades que possam ser realizadas fora da escola com intuito de melhorar a saúde e tornar o estilo de vida mais ativo. (Voleibol com toalhas, voleibol com lençol e alongamentos).

5

Atividade física e saúde

Prática de atividades que possam ser realizadas fora da escola com intuito de melhorar a saúde e tornar o estilo de vida mais ativo. (Circuito de força e alongamentos)

6

Atividade física e saúde

Prática de atividades que possam ser realizadas fora da escola com intuito de melhorar a saúde e tornar o estilo de vida mais ativo. (Atividades aeróbios adaptadas com monitoramento de freqüência cárdica).

7

Atividade física e saúde

Brincadeiras para descontração. Dinâmica do presente.

8

Atividade física e saúde

Caminhada orientada com o intuito de proporcionar a vivência da prática e orientar sobre a forma correta de realizar a atividade, incentivando a prática da mesma para promover a atividade física fora da escola.

9

Estilo de vida ativo e os benefícios da atividade física para a saúde

Palestra ministrada por professoras do curso de Educação Fisica da UNOESC – SMO, para todas as turmas das séries finais do Ensino Fundamental.

Fonte: o autor

Resultados e discussões

    Os resultados do presente estudo serão apresentados em dois momentos:

  1. Diagnóstico, o qual envolve a coleta de informações com todas as séries finais do ensino Fundamental e;

  2. Relato da proposta de intervenção, a qual visa descrever como os alunos do 3º ano do 2º ciclo perceberam a intervenção.

Diagnóstico

    Na tabela 1 é apresentada as características da amostra. Do total de participantes, 38 pertencem ao gênero masculino e 34 ao feminino. A maior parte dos adolescentes reside na zona urbana. Com relação a etnia, 19 são alemães, 21 são italianos e 32 são de outra etnia.

    Ao analisar a variável atividade física, percebe-se que dos 72 alunos, 40 praticam atividades físicas por menos de 300 minutos por semana, e 32 praticam por mais de 300 minutos por semana. Neste sentido, a maior parte dos alunos pode ser classificada como sendo “insuficientemente ativo”.

    No entanto, em relação ao comportamento sedentário, no que tange à assistir televisão e ao uso de computador/videogame, a maioria do grupo passa <2 horas/dia realizando tais atividades. Isto representa um aspecto positivo no comportamento dos adolescentes.

Tabela 1. Características da amostra

    Para Nahas (2006), uma vida saudável deve começar na infância e adolescência, com boa alimentação, atividades físicas variadas e regulares, cuidados médicos adequados e um ambiente familiar seguro e estimulante.

    A prática regular de atividades físicas trás benefícios para a vida, mas tem-se que prestar atenção ao como praticar, e a intensidade da prática. Ceschini e Figueira Junior (2009, p. 7) definem atividade física insuficiente:

    [...] como praticar qualquer tipo de atividade física de intensidade vigorosa e/ou moderada fora do horário de aula escolar por um tempo menor que 300 minutos por semana, segundo a atual recomendação da atividade física para adolescentes.

    Em relação ao comportamento sedentário – televisão e uso computador/vídeo game – os estudantes entrevistados apresentam menores valores de horas do que os que aparecem na literatura. Segundo estudo feito por Lopes e Pires Neto (2001):

    [...] o tempo gasto para assistir televisão, verificou-se que as crianças de Santa Catarina, nos diferentes grupos analisados, gastam em torno de 4,5 horas diárias (31,5 horas por semana) assistindo televisão, acrescida das horas dedicadas ao jogo de vídeo game, ler estudar, o numero de horas gastas com atividades pouco ativas foi ainda maior.

    Por isso chama-se a atenção de que baixos níveis de atividade física podem trazer no futuro vários problemas de saúde. Segundo Ceschini e Figueira Junior (2009, p. 4) “[...] a prática regular de atividade física é um componente importante no combate às doenças crônicas que podem ser manifestadas com maior intensidade durante a vida adulta”.

    Na tabela 2 são apresentadas as comparações do comportamento sedentário e da atividade física dos escolares em relação à zona de moradia (rural e urbana). Como se pode observar houve diferenças significativas para a variável computador e videogame, mostrando que, em média, os alunos da zona urbana passam maior tempo nestas atividades.

    Embora não haja diferenças significativas para a prática de atividade física semanal, é importante observar que os alunos residentes na zona urbana apresentaram valores médios superiores aos da zona rural. Este fato se deu em função, principalmente, que um grupo de alunos, participa de treinamento de modalidades esportivas fora do ambiente das aulas de Educação Física, conforme relatado na entrevista realizada.

Tabela 2. Comparação do comportamento sedentário e da atividade física de escolares em relação à zona de moradia

    Pôde-se perceber, nos relatos presentes na entrevista, que os estudantes que moram na zona rural têm menos tempo para realizar atividades físicas, pois eles ocupam o tempo para ajudar os pais nos afazeres domésticos e nas atividades agrícolas, restando assim, pouco tempo para a prática da atividade física.

    Para elucidar esses dados, estudo realizado por Bankoff e outros (1997, p. 102) dizem que:

    [...] pôde-se evidenciar que os escolares da rede rural mostram-se menos favorecidos em comparação à redes urbanas, estando aquelas, durante a maior parte do horário não-escolar auxiliando seus pais nos trabalhos da agricultura e nos afazeres domésticos, não se permitindo, dessa forma, que os mesmos empreendam programas desportivos e atividades regulares durante a semana

    A fim de contribuir com os dados deste estudo, a entrevista mostrou que alunos do ambiente rural têm como atividade física, por exemplo: jogar futebol, conforme relatos apresentados abaixo:

    “eu gosto muito de jogar futebol, jogo quase todos os dias na grama na frente da minha casa”.

    “a gente junta todos os vizinhos para jogar futebol no campo que tem atrás da minha casa”.

    Analisando os resultados das entrevistas, pode-se perceber que os estudantes que residem na zona urbana têm mais contato com outras atividades físicas. Assim como mostra a pesquisa feita por Bankoff e outros (1997, p. 102), que dizem que “[...] os escolares das redes urbanas possuem tempo disponível semanalmente para desenvolver essas atividades”.

    Para se ter um exemplo, algumas falas dos estudantes da zona urbana na entrevista:

    “eu pratico futebol, futsal e dança”

    “eu jogo vôlei e vou a dança”

    “eu jogo vôlei no ginásio e vou à academia”.

    A tabela 3 mostra a comparação do comportamento sedentário e da atividade física em relação aos anos pesquisados. Houve diferenças significativas para a variável atividade física, sendo que os menores valores médios observados foram para o 3º ano do 2º ciclo, não atingindo o mínimo recomendado que é >300 minutos/semana. Fato este que fez com que a turma selecionada para a proposta de intervenção fosse esta.

Tabela 3. Características dos hábitos sedentários e da atividade física em relação as séries

    Através da análise dos dados pode-se perceber que a turma do 2º ano do 3º ciclo possui valores médios altos de prática de atividade física. Mas isso pode ser explicado pelo fato de que nesta turma estudam atletas que competem pelos jogos, e por esse motivo possuem uma maior carga de atividades físicas, em decorrência do treinamento semanal feito pelos mesmos. As demais turmas (1º ano do 3º ciclo e 3º ano do 3º ciclo) apresentaram valores médios superiores a 300 minutos/semana.

    Percebe-se que as preferências alimentares e as atividades físicas realizadas por crianças e adolescentes é influenciada diretamente pelos hábitos dos pais (OLIVEIRA et al, 2003 apud SOUSA JUNIOR; BIER 2008). Sendo assim, vê-se a importância do incentivo à prática de atividades físicas pelos pais.

    Observando as respostas das entrevistas pôde-se perceber que alguns pais já se preocupam com um futuro saudável para seus filhos.

    Na pergunta 4 “ Sua família orienta você a prática da atividade física? Por quê?” obteve-se respostas bastante satisfatórias:

    “sim, pois consideram a atividade física fundamental para a saúde mental e física, incentivando a mesma”.

    “sim, para eu ter um corpo mais saudável e ser mais feliz”.

    “sim, pois eles sabem que faz bem para mim”

    “Sim, pois deixa o corpo mais saudável”

    E também se pode perceber que alguns pais não se preocupam com o fato da prática de atividades físicas regulares:

    “não, porque não tem interesse e não tem tempo para isso”

    “não, porque não acham importantes”.

    É preciso que haja uma conscientização não somente dos alunos, mas sim de todos que estão ao seu redor, dentro da escola é papel do professor orientar, criar programas que visem à prática da atividade física, mas é fora da escola, no cotidiano que isso deve mudar. É necessário que aconteça uma união entre o que é repassado dentro da escola e o que os pais repassam.

    Segundo Souza Junior e Bier (2008):

    [...] há uma necessidade urgente de aplicação de programas que tenham o objetivo de estimular o aumento da atividade física espontânea no cotidiano dessa população, como meio profilático e de tratamento de doenças crônicas já instaladas. Existe à necessidade de adoção de um estilo de vida mais ativo nas crianças e adolescentes e mudanças comportamentais também em seus familiares, tendo como peça-chave no ambiente escolar o professor de educação física.

    Frente a esses resultados, cabe ao professor de Educação Física, traçar estratégias para que a prática de atividades físicas regulares seja adotada pelos estudantes, dentro e fora do âmbito escolar.

Proposta de intervenção - promoção da prática da atividade física na adolescência

    O trabalho realizado nas aulas de Educação Física focou para a promoção da prática de atividade física a fim de adotar um estilo de vida ativo. Para tanto, na primeira aula falou-se sobre a importância da atividade física para a saúde. Num segundo momento da aula houve a aplicação do questionário (COMPAC) e entrevista em todas as turmas dos anos finais do Ensino Fundamental, com o intuito de diagnosticar a prática de atividades físicas e o comportamento sedentário.

    É de fundamental importância a prática de atividades físicas na infância e adolescência. Segundo Guedes e outros (2001, p. 188), importantes estudos têm procurado destacar que hábitos de prática da atividade física, incorporados na infância e na adolescência, possivelmente possam transferir-se para idades adultas.

    Ao diagnosticar as atividades físicas na adolescência, tem-se a preocupação com os resultados, pois a inatividade física causa muitos problemas, e cada vez mais precocemente as doenças estão aparecendo. Conforme Souza Junior e Bier (2008):

    O sedentarismo causa um grande impacto na saúde da população moderna ocasionando o aparecimento de doenças degenerativas em um número crescente de pessoas. A obesidade, as doenças cardiovasculares, as doenças metabólicas e os distúrbios músculoesqueléticos não são exclusividade somente da população adulta, estas doenças estão surgindo precocemente, acometendo de forma preocupante também crianças e adolescentes. Este artigo tem o objetivo de analisar o impacto da inatividade física e suas conseqüências em crianças e adolescentes.

    A intervenção foi iniciada então com a turma do 3º ano do 2º ciclo. Na primeira aula foi aplicado o questionário sobre estilo de vida individual, proposto por Nahas (2006), como uma estratégia de aula no intuito de verificar como estão os componentes do estilo de vida (nutrição, atividade física, controle de estresse, relacionamentos e comportamento preventivo).

    Segundo Nahas (2006, p. 27),

    O Perfil do Estilo de Vida, derivado do modelo do Pentáculo do Bem-Estar, é um instrumento simples, auto-administrado, que inclui cinco aspectos fundamentais do estilo de vida das pessoas e que, sabidamente, afetam a saúde geral e estão associados ao bem-estar psicológico e as diversas doenças crônico-degenerativas, como o infarto do miocárdio, o derrame cerebral, o diabetes, a hipertensão, a obesidade e a osteoporose

    Após análise dos resultados, os mesmos foram discutidos com a turma e então traçadas estratégias para a discussão dos resultados. Fez-se perguntas sobre o que eles entendiam sobre atividade física, importância da prática de atividades físicas para a melhoria da saúde, prática de atividades físicas onde os estudantes residem, e assim surgiram varias discussões sobre como ter um estilo de vida mais ativo.

    Diante do que se discutiu em sala sobre atividade física e saúde, as aulas passaram a ser ministradas no ginásio, mostrando a eles que não importa a atividade que seja feita, mas sim que ela seja feita com a intenção de melhorar a saúde.

    As atividades eram realizadas de forma que todos os alunos pudessem participar, foram feitas atividades como voleibol de toalha, voleibol de lençol, circuito de força, atividades aeróbias, caminhada orientada, alongamentos e dinâmica do presente. As atividades práticas foram voltadas como uma opção para ser realizada no momento de lazer, relacionando com a temática promoção da prática da atividade física na adolescência.

    Os efeitos da prática regular de atividades físicas bem orientadas trazem benefícios significativamente positivos como redução do colesterol ruim (LDL) e aumento do colesterol bom (HDL), diminuição do risco de distúrbio cardiovascular, combate a obesidade, melhoria da eficiência cardíaca, fortalecimento de músculos, articulações e ossos que diminui o risco de lesões, dores nas costas, melhoria da flexibilidade e da força, autonomia, melhoria no humor, etc (FERREIRA, 2001).

    Com o intuito de melhorar a prática de atividades físicas, a implementação da proposta da caminhada monitorada fez com que os alunos tivessem um maior interesse. No momento em que a caminhada ocorria os mesmos tinham que acompanhar os seus batimentos cardíacos, para que pudessem perceber as alterações fisiológicas decorrentes desta atividade. Durante a caminha eram repassadas informações importantes sobre a importância de ser ter a consciência que atividades físicas diárias fazem bem a saúde, principalmente na idade em que eles se encontram.

    Ao final das atividades pode-se perceber que os alunos tinham um maior interesse sobre atividade física e saúde. Alguns perguntaram onde poderiam procurar por maiores informações demonstrando assim que a intervenção foi importante para que eles pudessem perceber quão importante é a prática de atividades físicas regulares.

    Para finalizar a intervenção, foi realizada uma palestra com todas as turmas investigadas. A palestra intitulada: “Estilo de vida ativo e os benefícios da atividade física para a saúde” foi ministrada por duas professoras do curso de Educação Física da Unoesc, campus de São Miguel do Oeste – Santa Catarina, onde foram repassadas informações importantes a respeito de estilo de vida ativo e atividade física e saúde.

    As informações repassadas na palestra são muito importantes para o cotidiano dos estudantes, pois eles puderam perceber que a prática de atividades físicas regulares pode evitar diversas doenças. Puderam perceber o quanto é importante deixar de assistir televisão e ir ajudar a lavar o carro, cortar grama e fazer qualquer outra atividade no dia-a-dia.

    Conforme Pinto e Lima (2001, p. 242):

    Atualmente, a falta de atividade física na infância e adolescência é uma das maiores preocupações do médico do esporte. Hoje em dia, com o desenvolvimento tecnológico e a vida moderna, atividades que faziam parte do dia-a-dia, como andar a pé, levantar para mudar os canais de TV e lavar o carro em casa, deixaram de existir. Não é possível ir contra a modernização, mas é importante que os hábitos sejam mudados e a atividade física programada seja incorporada à rotina de todas as pessoas.

    Assim, pode-se dizer que a prática regular de atividades físicas na infância e adolescência é o caminho para um adulto ativo e mais saudável.

Conclusões

    Os resultados do presente estudo mostraram que mais da metade do grupo de estudantes analisados praticam atividades físicas por menos de 300 minutos por semana. Neste sentido, a maior parte dos alunos foi classificada como sendo “insuficientemente ativo”.

    A partir dos resultados obtidos em relação à prática de atividades físicas na zona rural e zona urbana, pode-se perceber que os estudantes que residem na zona urbana têm uma maior prática de atividades físicas, pois possuem melhores recursos físicos e mais tempo, já os que residem na zona rural ocupam o seu tempo na ajuda de atividades domésticas e na agricultura.

    Já comparando entre as séries, pode-se perceber que a turma que teve os menores níveis de atividades físicas foi à turma de 3º ano do 2º ciclo, onde foram realizadas as atividades da intervenção para a promoção da prática da atividade física.

    Conclui-se, através da intervenção, que os estudantes passaram a ter um maior interesse pela prática de atividades físicas, pois através dos conteúdos repassados entendeu-se qual a importância de se ter um estilo de vida ativo para que no futuro tornem-se adultos ativos e com menos doenças.

    Com esta proposta observou-se que é de fundamental importância realizar atividades físicas regulares e que isso também deve ser proposto e estimulado nas aulas de Educação Física escolar. Dessa forma, possuir um estilo de vida ativa possibilita a promoção da saúde, sendo possível trabalhar nas aulas de educação física.

Referencias

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  • BURGOS, Miria Suzana et al. Estilo de vida: lazer e atividades lúdico-desportivas de escolares de Santa Cruz do Sul. Revista Brasileira De Educação Fisica e esporte, São Paulo, v.23, n.1, p.77-86, jan./mar. 2009.

  • CESCHINI, Fabio Luis; FIGUEIRA JÚNIOR, Aylton. Prevalência de atividade física insuficiente e fatores associados em adolescentes. São Paulo, 2009. Disponível em: http://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/viewFile/934/915

  • FERREIRA, Marcos Santos. Aptidão Física e Saúde na Educação Física Escolar: Ampliando o Enfoque. Revista Brasileira Ciência Esporte. Rio de Janeiro, v. 22, n. 2. 2001.

  • GUEDES, Dartagnan Pinto et al. Níveis de prática de atividade física habitual em adolescentes. Rev Bras Med Esporte, v. 7, n. 6, Nov./Dez., 2001.

  • GUISELINI, Mauro. Aptidão física saúde bem-estar: fundamentos teóricos e exercícios práticos. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2006. 23 p.

  • LOPES, Adair da Silva; PIRES-NETO, Cândido Simões. Estilo de vida de crianças com diferentes características étnico-culturais do estado de Santa Catarina, Brasil. Revista de atividade física & saúde, v. 6, n. 3. p. 6-11, 2001.

  • MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostras e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 260p.

  • NAHAS, Markus V. Atividade física, saúde e qualidade de vida. 4. ed. Londrina: Midiograf, 2006. 284p.

  • NAHAS, M. V.; CORBIN, C. B. Educação para aptidão física e saúde: justificativa e sugestões para implementação nos programas de educação física. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Florianópolis, SC, v. 6, n. 3, p. 14-24, 1992.

  • NAHAS, MV et al. Atividade física em adolescentes catarinenses: estudo da prevalência de comportamentos sedentários e fatores determinantes da atividade física habitual. Relatório final. Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina; 2002. Processo CNPq nº 462799/00-0.

  • PINTO, Ana Lúcia de Sá; LIMA, Fernanda Rodrigues. Atividade física na infância e adolescência. Rev Bras Reumatol, v. 41, n. 4, Jul./Ago., 2001.

  • RAMOS, Alexandre Trindade. Atividade física: diabéticos, gestantes, 3ª idade, crianças e obesos. 3. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2002. 87 p.

  • SOUSA JUNIOR, Sergio Luis Peixoto; BIER, Anelise. A importância da atividade física na promoção de saúde da população infanto-juvenil. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 13, n.119, abr. 2008. http://www.efdeportes.com/efd119/atividade-fisica-na-promocao-de-saude.htm

  • TASSITANO, Rafael Miranda et al. Atividade física em adolescentes brasileiros: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desenvolvimento Humano, 2007.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 158 | Buenos Aires, Julio de 2011  
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