A implementação do Programa Segundo Tempo no munícipio de Santa Rosa, RS La implementación del Programa Segundo Tiempo en el municipio de Santa Rosa, RS |
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*Mestre em Atividade Física Adaptada, Faculdade de Desporto Universidade do Porto, Portugal. Coordenador Pedagógico Programa Segundo Tempo. Santa Rosa - RS **Doutoranda em Educação, Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, RS Coordenadora Geral Programa Segundo Tempo Santa Rosa - RS ***Mestre em Ciência do Movimento Humano Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, RS Secretário Municipal de Esporte e Lazer de Santa Rosa, RS |
Vinícius Denardin Cardoso* Clarice Zientarski** Júlio Andreazza*** (Brasil) |
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Resumo O artigo trata sobre o Programa Segundo Tempo (PST), que busca democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte como forma de promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, também como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente daqueles que se encontram em áreas de maior vulnerabilidade social. Trata-se de um estudo bibliográfico, de caráter qualitativo, fundamentado ainda nas discussões que permearam todo o processo de elaboração do planejamento pedagógico, e, que antecederam o inicio do Programa no município em análise. Nesta perspectiva, conclui-se com a pesquisa que na elaboração do plano estão presentes os fundamentos do Programa, que são: o caráter educacional, e o propósito do desenvolvimento integral da criança e do adolescente, de forma a favorecer a consciência de seu próprio corpo, explorando seus limites, aumentando suas potencialidades, desenvolvendo seu espírito de solidariedade, de cooperação mútua e de respeito pelo coletivo. Unitermos: Programa Segundo Tempo. Esporte. Inclusão social.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução. Esporte educacional para a inclusão social
Desde a antiguidade já se pensava no esporte como um fundamental elemento para a educação do ser humano. Durante esta época, os gregos atribuíram um grande valor às atividades físicas e esportivas na formação biológica e moral de seus cidadãos. Muito além dos benefícios físicos e cognitivos, eles entendiam que o esporte contribui para a formação da cidadania de seu povo.
A ampliação do esporte moderno como um dos fenômenos sociais mais significativos dos últimos tempos, impulsionada pelas transformações sociais e acompanhada de toda a evolução tecnológica e dos costumes do século XX, chega ao novo milênio atingindo uma dimensão grandiosa nos campos político, econômico, cultural e educacional.
Ao longo do tempo foram acontecendo inúmeras discussões e abordagens que giram em torno da busca de uma compreensão mais ampla do esporte como fenômeno social e cultural, rompendo com a perspectiva do rendimento e profissionalismo. Estes questionamentos acabaram provocando mudanças na forma com que o esporte passou a ser visto e, contribuíram ainda, com a sua universalização.
Atualmente o esporte é considerado uma ferramenta importante no processo de inclusão social de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, pois, através das atividades físicas, esportivas, recreativas e culturais é possível proporcionar benefícios físicos, afetivos e sociais a seus praticantes.
Neste contexto Tubino (2006), relata que o esporte oferece possibilidades que se consolidam em práticas como: a comunicação, cooperação, respeito pelas regras, resolução de conflitos, entendimento (compreensão), conexão com outras pessoas, liderança, valor do esforço, respeito com o outro, como vencer, perder, administrar a competição, fair play, auto-estima, responsabilidade, honestidade, trabalho em equipe, disciplina e confiança.
Assim, o esporte pode ser considerado como uma ferramenta pedagógica na escola e fora do contexto escolar, dependendo de ações propostas pelos educadores e equipe de trabalho. Um espaço onde se oferte uma educação esportiva de qualidade e entendendo que a prática esportiva não se trata apenas de repetição de movimentos, mas sim, na capacidade de cada um se envolver e fazer parte do jogo. (ESPORTE E SOCIEDADE, 2004)
Neste sentido deve-se pensar a educação no esporte como meio de desenvolver a capacidade de formular e resolver problemas, estimulando a curiosidade e entendê-la como processo para a formação de indivíduos autônomos e investigadores. Com isto vai se nutrindo o desejo de saber, de ver, de conhecer, de aprender, posicionando o processo educativo não mais como obrigação, mas no plano das vontades do ser humano.
Neste sentido Korsakas e De Rose Jr (2002) relatam que o esporte deve proporcionar a participação, incentivando o senso de co-responsabilidade e de comprometimento social com a construção da realidade. A construção deve ser pautada no exercício de seus direitos e responsabilidades, estimulando também, a criatividade e a criticidade com o fim de desenvolver indivíduos autônomos e independentes.
O esporte e lazer como forma de inclusão social: o Programa Segundo Tempo
O esporte e o lazer, conforme preconizam os artigos 6º e 217 da Constituição Federal são direitos de cada cidadão, e é dever do Estado garantir o acesso e os direitos de cidadania. O acesso ao esporte e ao lazer contribui para a reversão do quadro de vulnerabilidade social, atuando como instrumentos de formação integral dos indivíduos e, consequentemente possibilitando o desenvolvimento da convivência social, a construção de valores, a promoção da saúde e o aprimoramento da consciência crítica e da cidadania. (HANSEN, OLIVEIRA; PERIM, 2009).
As atividades físicas e esportivas que são desenvolvidas dentro dos projetos sociais vêm se tornando cada vez mais valorizadas pela sociedade, seja pelo fator de formação de crianças e jovens como também um elemento de socialização e promoção da saúde de adolescentes e jovens.
Dessa forma, surge o Programa Segundo Tempo (PST) buscando democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente daqueles que se encontram em áreas de maior vulnerabilidade social. (OLIVEIRA; PERIM, 2009).
O Programa Segundo Tempo deve ter caráter educacional, tendo como objetivo o desenvolvimento integral da criança e do adolescente, de forma a favorecer a consciência de seu próprio corpo, explorar seus limites, aumentar as suas potencialidades, desenvolver seu espírito de solidariedade, de cooperação mútua e de respeito pelo coletivo.
De acordo com Böhme (2003), o esporte educacional tem um caráter formativo, fundamentado em princípios educacionais como participação, cooperação, co-educação, totalidade, regionalização e integração. Pode ser reconhecido como uma manifestação esportiva a qual se atribui um compromisso pedagógico com a formação e a educação de crianças e jovens.
Tani (2007) nos relata que o esporte educacional pressupõe o esporte como um patrimônio cultural da humanidade e como tal constitui um acervo a ser amplamente disseminado para que todos tenham acesso a ele, usufruam, transformem, transmitam e assim dêem seguimento ao seu contínuo processo de construção.
Ainda Hansen, Oliveira e Perim (2009) destacam que o esporte educacional deve ser compreendido para além de sua forma institucionalizada, ou seja, como toda forma de atividade física que contribua para a aptidão física, o bem-estar mental, a interação, a inclusão social e o exercício da cidadania.
Conseqüentemente assume como elementos indissociáveis de seu propósito pedagógico as atividades de lazer, recreação, práticas esportivas sistemáticas e/ou assistemáticas, modalidades esportivas e jogos ou práticas corporais lúdicas da cultura brasileira, de forma a possibilitar ampla vivência e formação humana e de cidadania, sobretudo em crianças, adolescentes e jovens.
Dessa forma, o esporte educacional deve promover o desenvolvimento da cultura esportiva, cultivar e incrementar atividades que satisfaçam às necessidades lúdica, estéticas, artísticas, combativas e competitivas de nossas crianças e adolescentes, tendo como prioridade educá-los em níveis mais elevados de conhecimento e de ação para o exercício pleno da cidadania. (GAYA E TORRES, 2008)
O processo de ensino-aprendizagem deve estar voltado para estimular a compreensão da convivência em grupo, das regras necessárias à organização das atividades, da partilha de decisões e deveres para uma boa convivência social.
Assim, projetos sociais como o PST podem contribuir de forma eficaz para minimizar problemas relacionados às desigualdades uma vez que oferece “às crianças e aos jovens oportunidades de Desenvolvimento Humano por meio da Educação”. (INSTITUTO AYRTON SENNA, 2008, p. 34).
Considerando a importância do Programa Segundo Tempo, por meio de atividades esportivas e de lazer, dentro de uma perspectiva de inclusão social para crianças e adolescentes é que se justifica sua implementação no município de Santa Rosa – RS.
Os Objetivos do Programa Segundo Tempo em Santa Rosa-RS e a definição dos conteúdos
O objetivo geral do programa no municipio de Santa Rosa, RS, é proporcionar através da prática de atividades físicas, esportivas, recreativas e culturais, a reversão no quadro de vulnerabilidade social de crianças, adolescentes e jovens do munícipio. Também, promover o desenvolvimento físico, afetivo e social de crianças e jovens; proporcionar o acesso ao esporte educaconal e lazer de qualidade; promover a favorecer o processo inclusivo; conscientizar para o estilo de vida ativo e saudável, promovendo os benefícios da atividade física e diminuir a exposição dos beneficiados em situações de risco social.
Estes objetivos respeitam a proposta do Programa em consonância com o Ministério dos Esportes e o Estado Brasileiro, especialmente no que diz respeito às políticas públicas de esporte e lazer como assinala o Ministério (BRASIL, M. E. 2009): “O Programa Orçamentário “Vivência e Iniciação Esportiva Educacional – Segundo Tempo”, mais conhecido como Segundo Tempo, é um dos principais projetos em execução pela Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEED) do Ministério do Esporte (ME) desde 2005.
Ainda, segundo dados do Ministério: ”O Segundo Tempo conta em 2009 com mais de R$ 320 milhões de orçamento” (BRASIL, M. E. 2009) desta forma, se percebe um grande investimento por parte do Estado Brasileiro no Programa, visto a sua abrangência e importância.
Os conteúdos que foram selecionados para atingir os objetivos propostos fundamentam-se segundo os critérios de Pilleti (1997) citados por Oliveira e Moreira (2008). Conforme as orientações do autor a seleção e organização dos conteúdos estão diretamente relacionadas ao diagnosticado e ao perspectivado para o Núcleo. Os conteúdos selecionados devem refletir profundamente os interesses dos beneficiados, para que dessa forma seja significativo para o beneficiado, atendendo às suas necessidades, às suas aspirações e aos seus verdadeiros objetivos. Ainda, devem-se selecionar os conteúdos para que possam ser aprendidos dentro das limitações de tempo e recursos disponíveis, tendo a possibilidade de serem alterados e reestruturados, sempre que for necessário, de acordo com as novas urgências e as novas situações que surgem no dia-a-dia do beneficiado e dos núcleos.
Assim, de acordo com as orientações, a escolha das atividades considerou as diretrizes do Programa Segundo Tempo, ou seja, o oferecimento de modalidades coletivas e individuais. Após isso, foi analisada e considerada a disponibilidade e a estrutura física atual dos espaços destinados à prática de atividades físicas de cada núcleo do convênio.
As estratégias metodológicas e os processos avaliativos do Programa em Santa Rosa, RS
As estratégias metodológicas que serão vivenciadas no PST – Santa Rosa, RS, se baseiam em alguns aspectos fundamentais para o pleno desenvolvimento do Esporte Educacional, como: A construção coletiva (co-educação); a capacidade de organização grupal (cooperação e respeito), a reflexão crítica (emancipação), o posicionamento do educando como sujeito (totalidade) o educando como agente de sua aprendizagem (participação), e o pensamento crítico da realidade na qual está inserido (conscientização).
Todos estes princípios serão desenvolvidos de forma que se respeite e compreenda as diferenças, limitações e potencialidades de cada beneficiado. Assim corroborando com os princípios norteadores do programa, buscando desenvolver as atividades de forma que a ludicidade, inclusão social, diversidade humana, consciência cidadã e ainda o exercício da democracia, estejam presentes no desenvolvimento das atividades ofertadas
As avaliações do Programa estarão voltadas para o desenvolvimento das capacidades (afetivo-social, cognitiva e motora) dos beneficiados de forma que se contemple com os objetivos que foram propostos no planejamento. Serão utilizados alguns instrumentos (listados abaixo) e em períodos pré-estabelecidos pela coordenação do programa.
Os instrumentos de avaliação serão qualitativos e quantitativos no sentido de identificar o impacto do programa na vida dos beneficiários, a percepção dos pais e/ou responsáveis, a percepção dos Professores Coordenadores e monitores.
Considerações finais
O Programa Segundo Tempo deve ter caráter educacional, tendo como objetivo o desenvolvimento integral da criança e do adolescente, de forma a favorecer a consciência de seu próprio corpo, explorar seus limites, aumentar as suas potencialidades, desenvolver seu espírito de solidariedade, de cooperação mútua e de respeito pelo coletivo.
Estes objetivos parecem estar sendo contemplados no Planejamento das atividades que serão desenvolvidas no município em estudo. Ao se estabelecer as estratégias metodológicas pode-se considerar que elas contemplam os objetivos do programa e as possibilidades de realização nos núcleos. Os critérios avaliativos e a abordagem empregada na elaboração do referencial teórico estão interelacionadas, o que parece evidenciar um contexto interdisciplinar que evita a fragmentação.
Para o Ministério dos Esportes os resultados esperados do Segundo Tempo, em todas suas ações, são os seguintes em relação aos impactos diretos: “maior interação entre os participantes e destes com a sua realidade local; incremento da autoestima, das capacidades e habilidades motoras”(BRASIL, ME. 2009). Ainda o Programa busca de acordo com o Ministério o aumento do número de praticantes de atividades esportivas; e melhoria da qualificação de professores e estagiários de educação física.
No que se relaciona aos impactos indeiretos o programa visa de acordo com o Ministério: a diminuição no enfrentamento de riscos sociais pelos participantes, a melhoria no rendimento escolar dos alunos envolvidos e redução da evasão escolar e, a geração de novos empregos no setor de educação física e esporte nos locais de abrangência do programa (BRASIL, ME, 2009).
Em Santa Rosa estes propósitos podem ser verificados nos planos elaborados e estão evidenciados ainda no próprio convênio estabelecido entre o município e o Ministério. No referido convênio pode se ver por exemplo, a participação de várias secretarias municipais e de outras instituições que estão junto com o Município na busca de condições de cidadania para as crianças, jovens e adolescentes envolvidos no programa.
Assim espera-se que o PST Santa Rosa-RS, através das atividades físicas, esportivas e educacionais proporcione o pleno desenvolvimento de seus beneficiados. Também contribuindo para a aptidão física, bem-estar mental, interação, inclusão social e exercício da cidadania. Além de tudo, espera-se que o planejamento se constitua no referencial que efetivamente conduza a prática do programa.
Referências bibliográficas
BÖHME, M. T. S. Relações entre aptidão física, esporte e treinamento esportivo. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. v.11, n.3, p. 97-104. 2003.
BRASIL. MINISTÉRIO DOS ESPORTES. Comissão de Educação, Cultura e Esporte – CE Subcomissão Permanente do Esporte – CESE Linhas de ação do esporte nacional. Disponível em: http://www.senado.gov.br/sf/comissoes/CE/documentos/AP20091015_EstudoProgramasAcoesMinEsporte.pdf. Acesso dia: 17/05/2011, às 21h.
GAYA, A. C.; MARQUES, A. T.; TANI, G. Desporto para crianças e jovens. Razões e finalidades. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2004.
GAYA, A.: TORRES, L. A Cultura corporal do movimento humano e o Esporte Educacional. In: OLIVEIRA, A. A. B.; PERIM, G. L. (Orgs.). Fundamentos pedagógicos para o programa segundo tempo. 2. ed. Brasília, DF: Ministério do Esporte; Maringá, PR: Eduem, 2008.
INSTITUTO AYRTON SENNA. Educação para o desenvolvimento humano pelo esporte. In: OLIVEIRA, A. A. B.; PERIM, G. L. (Orgs.). Fundamentos pedagógicos para o programa segundo tempo. 2. ed. Brasília, DF: Ministério do Esporte; Maringá, PR: Eduem, 2008.
KORSAKAS, P.; DE ROSE Jr., D. Os encontros e desencontros entre esporte e educação: Uma discussão filosófico-pedagógica. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. V.1. n.1, p. 83-93. 2002.
OLIVEIRA, A. A. B.; MOREIRA, E. C. Planejamento e organização para o programa segundo tempo. In: OLIVEIRA, A. A. B.; PERIM, G. L. (Orgs.). Fundamentos pedagógicos para o programa segundo tempo. 2. ed. Brasília, DF: Ministério do Esporte; Maringá, PR: Eduem, 2008.
OLIVEIRA, Amauri B.; PERIM, Gianna L. (Orgs.). Fundamentos pedagógicos do Programa Segundo Tempo: da reflexão á prática. Maringá: Eduem, 2009.
TANI, G. Desporto e escola: que diálogo ainda é possível? In: BENTO J.O.; CONSTANTINO, J. M. (Org.). Em defesa do desporto: mutações e valores em conflito. Coimbra: Almedina, 2007.
TUBINO, M. J. G. O que é o Esporte. São Paulo. Brasiliense. 2006.
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