Periodização tática no futebol: relato das experiências de treinadores de futebol no Rio Grande do Sul Periodización táctica en el fútbol: relatos de las experiencias de entrenadores de fútbol en Río Grande do Sul |
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*Especialista Faculdade Sogipa de Educação Física **Doutor da Escola de Educação Física da UFRGS (Brasil) |
Esp. Ederson Athaydes Medeiros* Dr. Rogério Da Cunha Voser** |
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Resumo É fato que a evolução do futebol é constante e progressiva. A ciência, a tecnologia e a profissionalização estão presentes no cotidiano deste esporte e seus efeitos no treinamento e em suas metodologias, vem gerando uma melhor condição física, técnica, tática e psicológica para equipes na busca dos resultados dentro de campo. Neste estudo pretende-se analisar uma nova vertente ideológica em treinamento de futebol, a periodização tática seus pontos positivos, negativos e as dificuldades encontradas na implantação de um programa de treinamento. Para tanto, optou-se por um estudo de corte qualitativo onde foram entrevistados seis treinadores de futebol de clubes de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul. No que se refere aos resultados deste estudo, foram destacados como pontos positivos pelos entrevistados: o desenvolvimento dos treinamentos de uma forma sistêmica; o conhecimento específico do jogo e a sua nova visão do jogar “do todo”; a definição de um modelo de jogo como norte dos treinamentos; a ruptura com a metodologia analítica/cartesiana convencional; a melhora significativa na velocidade do entendimento, da aprendizagem , do desempenho individual e coletivo dos jogadores e a otimização do período de treinamento. Como pontos negativos e dificuldades encontradas para implantação de um programa de periodização tática destacaram-se: a cultura enraizada das metodologias convencional e integrada no futebol; a falta de conhecimento específico da periodização tática entre dirigentes e demais profissionais do futebol; e o preconceito e a quebra de paradigmas. Unitermos: Futebol. Metodologia de treinamento. Periodização tática.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O futebol é esporte, é educação, é saúde, é socialização e é profissão. O futebol é emoção! O futebol é esporte quando conhecemos suas regras, suas técnicas, suas táticas e aprendemos a jogar dentro de um sistema organizado. Futebol é educação quando estamos ensinando, aprendendo e desenvolvendo aspectos cognitivos, disciplinares e sociais. Futebol é saúde pelo simples fato de estarmos desenvolvendo uma atividade física e mental prazerosa em benefício do corpo e da alma. Futebol é socialização desde a infância, no jogo lúdico entre amigos da rua, do bairrro, desenvolvendo a integração social. O futebol é profissão, hoje não de uma só carreira, a de jogador, mas de diversas carreiras profissionais: o treinador, o médico, o psicólogo, o dirigente, o empresário. Além disso, o futebol ainda tem muitos outros conceitos e está envolvido dentro de muitas outras áreas.
Mas o que é então o futebol? No ponto de vista científico, o futebol pode ser definido como ciência biológica, pois para pensar em futebol há a necessidade da realização de diversos estudos direcionados à biologia humana. O futebol pode ser entendido como ciência exata, pois têm como objetivo principal o resultado, o qual apresenta a análise quantitativa do desempenho individual e coletivo. Pode também ser encarado como uma ciência humana, pois vê o ser humano de forma qualitativa como indivíduo e sua integração com o coletivo. O futebol também pode ser analisado dentro das ciências naturais, pois diversos especialistas apresentam os fenômenos naturais como preponderantes no resultado a ser alcançado em um jogo de futebol.
Encarar o futebol como ciência é entendê-lo como conjunto metódico de conhecimentos obtidos mediante a observação e experiência os quais são fundamentais para o desempenho de diversas atividades relacionadas a ele.
Para Damásio (1994), a ciência lida com problemas e, ao procurar respostas para eles, não raramente faz emergir novas, ou renovadas, questões sobre esse problema ou mesmo novos problemas. Por isso, os resultados científicos são aproximações provisórias para serem saboreadas por um tempo e abandonadas logo que surjam melhores explicações.
No futebol são diversas as visões de jogo e cada uma possui sua relevância e importância dentro do contexto em que estão inseridas. Com o passar dos anos observou-se uma evolução nos processos que desenvolvem o futebol, suas idéias e metodologias. Dentre as evoluções podemos destacar a forma como enxergamos o jogo propiamente dito, assim como as metodologias de treinamento utilizadas em equipes de futebol profissional.
Barbanti (1993) entende o treinamento desportivo como “um processo organizado de aperfeiçoamento desportivo, dirigido por princípios científicos, estimulando modificações funcionais e morfológicas no organismo, influindo sistematicamente na capacidade de rendimento do atleta para atingir altos resultados esportivos.”
No passado o treinamento era empírico, seus métodos e idéias aconteciam ao acaso, em seguida surgiram as primeiras metodologias com uma visão fragmentada do jogo, o que podemos chamar de metodologia convencional. Hoje, muitos treinadores de futebol se utilizam da metodologia integrada onde os aspecos fisicos, técnicos, táticos e psicológicos são trabalhados em conjunto, mas ainda não sob uma mesma ideia de jogo.
Nessas duas concepções metodológicas, no planejamento dos treinos, prevalece a dimensão física como determinante na periodização dos treinamentos. Na Europa surge recentemente a periodização tática, uma nova maneira de treinar, a partir de um modelo de jogo, do desenvolvimento da idéia do jogo no decorrer do processo de forma qualitativa, com uma nova dimensão, uma dimensão tática. O jogo é visto a partir do jogar, sendo o trabalho nos treinos simultâneo, sem divisões. O fisico, o técnico, a tática e o psicológico estão inseridos dentro do treinamento, na forma específica do jogo.
A partir destes conceitos abordaremos a periodização tática, este novo conceito de treinamento que vem sendo aplicado no futebol moderno. Esta pesquisa levanta a seguinte questão: Quais os pontos positivos, negativos e dificuldades encontradas na implantação da periodização tática pelos treinadores de futebol no Rio Grande do Sul?
A presente pesquisa justifica-se para a compreensão e o entendimento desta nova vertente metodológica de treinamento no futebol: a periodização tática. Neste sentido, o objetivo geral deste estudo é analisar as opiniões de treinadores de futebol do RS a partir de sua prática em um programa de treinamento de periodização tática, verificando quais são os pontos positivos e negativos com relação a sua execução, assim como quais dificuldades encontradas na sua implantação.
Metodologias de treinamento
Tendo como princípio o que nos afirma Barbanti (1997), “que treinamento é um processo físico e intelectual determinado pela condição técnica, por tática, pela motivação e pelas características psíquicas”, é possível aprofundar nosso conhecimento com relação à construção de métodos e metodologias de treinamento no futebol.
O treinamento também pode ser considerado a soma de todos os estímulos realizados em um determinado espaço de tempo, levando a modificações funcionais e morfológicas do organismo, ou seja, a uma adaptação objetivando elevar um rendimento (BARBANTI, p.33, 1993).
A partir destes conceitos, e para que seja possível compreender a evolução e construção das metodologias de treinamento é fundamental entendermos o que são métodos de treinamento e quais as principais metodologias desenvolvidas no futebol.
Para Barbanti (1997), métodos de treinamento são todos os métodos que educam o atleta com auxílio de meios específicos que propiciem sua capacidade de movimento e que desenvolvam o máximo possível suas qualidades físicas básicas de força, velocidade, resistência, habilidade e mobilidade, assim como fortalecem suas qualidades psíquicas.
Em ‘O Enigma da Preparação Física no Futebol’, Carreveta (2009) afirma
Nos últimos anos, a visão unidisciplinar, ponto de convergência e de expressão do paradigma mecanicista, produto da conjugação do empirismo e do racionalismo, começa a provocar controvérsias no interior das comissões técnicas. Os treinadores conectados com os especialistas que trabalham ao seu redor, pouco a pouco, estão rompendo as barreiras da unidisciplinaridade. Começam a buscar alternativas metodológicas de maior eficácia. Assumem diferentes pontos de vista e procuram, cada qual a seu modo, discutir, com seus assistentes técnicos, preparadores físicos, fisiologistas e assessores, novas propostas de treinamento.
A metodologia convencional, de Matveev, foi desenvolvida em meados da década de sessenta, para os esportes olímpicos individuais como: natação, atletismo, levantamento de peso. Nela o treinamento foi dividido em partes: a fase de preparação, fase de competição e, a fase de recuperação e seus ciclos de treinamento. Esta, na sua origem, objetivava um programa de treinamento para competições olímpicas de quatro em quatro anos. Outro autor da metodologia convencional como Bompa (2002) afirma que o treinamento físico é desenvolvido primeiramente pelo treinamento físico geral, treinamento físico específico e por fim o aperfeiçoamento das capacidades biomotoras. Fundamentalmente a estrutura e os objetivos dos macrociclos vão ser traçados de acordo com o desporto.
Adaptada para o futebol esta metodologia que prima pela dimensão física aborda os aspectos físicos, técnicos, táticos e psicológicos deforma isolada, numa visão cartesiana, trabalhando as partes para atingir o todo.
Atualmente muitos treinadores e preparadores físicos se utilizam da metodologia do Treinamento Integrado, a qual apresenta seus principais conceitos na integração dos componentes físicos, técnicos e táticos nos exercícios. As capacidades de treinamento a serem consideradas são a resistência especial, força, flexibilidade, velocidade e a técnica e tática, afirma Gomes (2002). Nesta há a inclusão da bola em diversos exercícios, pequenos jogos, exercícios físico/técnicos, técnico/táticos, circuitos de treinamentos. Mas, a concepção do treino não muda, a dimensão física é preponderante e determinante na programação e planejamento dos treinos. Neste método, a fase preparatória (pré-temporada) é recheada de avaliações físicas, a fisiologia está presente diretamente nos treinos físicos, técnicos e táticos. Segundo Gomes e Souza (2008) para se elaborar um programa de treinamento se faz necessário conhecer qual a carga fisiológica requisitada durante o jogo e de que forma essa carga é manifestada.
Seguindo a ordem evolutiva das metodologias de treinamento, hoje temos a periodização tática (Vitor Frade) como um novo conceito de treinamento. Podemos começar a compreender esta metodologia como sendo uma visão de vanguarda que, de certa forma, desmitifica vários conceitos do treinamento no futebol. Esta metodologia foi desenvolvida e projetada para o futebol, por professores e treinadores portugueses e vem sendo aplicada na última década, com resultados positivos. Está embasada nas teorias sistêmicas, onde a ênfase está no todo e não nas partes. Tem como seu principal promotor o treinador de futebol, José Mourinho, o qual já conquistou diversos títulos internacionais nos últimos dez anos aplicando esta teoria.
Na periodização tática os treinamentos são planejados a partir de uma ideia do jogar, não existe divisão entre físico, técnico, tático e psicológico, todos estes componentes estão integrados no treino. Em cada sessão, dia, semana, mês e ano de treinamento o modelo de jogo da equipe tem que estar presente. Não existe espaço para treinos que não objetivam o desenvolvimento da equipe e do seu modo de jogar. A musculação, as corridas, piques, saltos, treinos intervalados, circuitos físicos não fazem parte dos treinamentos na periodização tática. O que se treina é o jogo na sua essência, em especificidade. Os exercícios são preparados para o modelo de jogo da equipe e sua forma de jogar. Em cada sessão de treino, em cada exercício tem de estar expressa a ideia de jogo da equipe, através dos princípios, subprincípios e subprincípios dos subprincípios de jogo. Exemplificando, o princípio da especificidade preconiza que sejam treinados aspectos que se prendem diretamente com o jogo (...) no sentido de viabilizar a maior transferência possível das aquisições conseguidas no treino para o contexto específico do jogo (GARGANTA, 1999).
Oliveira e Frade (1991) salientam que o componente “físico” assume um papel igualmente importante, mas sempre condicionado pelas exigências “tático-técnicas” e de “tática-individual”. Segundo estes autores, o físico surge em paralelo à tática, como por arrastamento, indicando que a estruturação do componente físico está referenciada ao modelo de jogo adotado pelo treinador.
Os princípios de jogo são as ideias estruturantes do jogo da equipe. Numa partida de futebol existem quatro momentos do jogo, muito importantes para a estruturação do modelo de jogo de uma equipe, que são: a defesa, o ataque, a transição do ataque para a defesa e a transição defesa para o ataque. A partir da definição das ideias de jogo para cada um desses momentos é que se criam os princípios, subprincípios e subprincípios dos subprincípios do jogo.
A partir daí os treinamentos são planejados desde o seu primeiro dia na temporada até o último, seguindo o modelo de jogo da equipe.
Seguindo este raciocínio é importante entender que a criação de um modelo de jogo implica na interação entre diversos elementos, tais como: cultura do país/estado/clube; estrutura e objetivos do clube; ideias de jogo do treinador; momento do jogo; organizações estruturais; princípios e subprincípios; capacidade e características dos jogadores. Para tanto, devemos treinar, segundo esta metodologia, padrões de ação individuais e coletivos (nas diferentes escalas), com o objetivo de criar um conjunto de referencias decisionais para que os jogadores saibam o que fazer e possam ser criativos nas diferentes situações de jogo. Sendo assim, equipe técnica e jogadores são elementos ativos de um processo que visa à aquisição de um saber fazer sobre condicionado ao saber sobre esse saber fazer.
Todo esse processo de treino deve ter como objetivo a criação de hábitos. McCrone (2002) afirma de “os hábitos são atalhos criados pelo cérebro através de estruturas especializadas, gânglios basais. Essas estruturas conseguem dar respostas imediatas, perante determinadas situações, assim que determinado tipo de sensações comecem a despertar essas estruturas. Esta forma de funcionamento do cérebro, cujo objetivo principal é poupar tempo, só funciona quando o cérebro já experimentou essa ou semelhante situação e a gravou com hábito.
Damásio (2000) acrescenta que os hábitos resultam de conhecimentos que foram criados através das experiências que ficaram gravadas nas memorias e que vão ser utilizadas pra se decidir e reagir rapidamente perante determinada situação. É justamente em cima da criação de hábitos que a metodologia trabalha, pois quanto mais rápida é a adequação do cérebro para um determinado momento, ou reação maior ou mais rápida será a reação, maior e melhor a capacidade de antecipar um estímulo de elaborar uma resposta/ação. O treinador que consegue fazer com que sua equipe crie hábitos, consegue operacionalizar este modelo de jogo.
Metodologia
Este estudo de corte transversal, de cunho qualitativo e descritivo, teve como objetivo verificar e aprofundar o conhecimento da Periodização Tática no Futebol, através do relato das experiências de treinadores de futebol do Rio Grande do Sul. Quais os pontos positivos e negativos da metodologia de periodização tática e quais as dificuldades de implantação de um programa de treinamento baseado na periodização tática.
Como instrumento de coleta de dados, foi realizada uma entrevista semiestruturada com 06 treinadores, contendo 06 perguntas abertas, dando liberdade aos entrevistados para abordarem aspectos que achavam ser relevantes sobre o tema. A coleta de dados foi realizada no período de 19/11/2010 a 23/12/2010. Inicialmente foram contatados dois treinadores de um clube profissional de Porto Alegre, que atuam no futebol gaúcho de categorias de base, um trabalhando no cargo de treinador principal e o outro no cargo de treinador auxiliar. Os mesmos durante a entrevista cordialmente, indicaram outros nomes de treinadores que conheciam e desenvolviam a periodização tática, em outros clubes da região. Os quais foram entrevistados posteriormente sendo eles um treinador de equipe infantil e dois treinadores de clubes diferentes de porto alegre na categoria júnior, e também dentre os entrevistados tivemos um treinador sum clube naquele período do trabalho.
As entrevistas foram gravadas em um gravador digital LG GM205, sendo depois de transcritas e validadas pelos próprios entrevistados. Com os dados em mãos realizou-se uma análise de conteúdo (BARDIN, 2004).
Apresentação, análise e discussão dos resultados
Neste trabalho abordamos, através do relato de experiências, de 06 treinadores de futebol do RS, entrevistados sobre a implantação de um programa de treinamento baseado na metodologia de periodização tática, nos clubes de futebol de Porto Alegre.
Como e quando conheceram esta metodologia. Quais os pontos positivos, negativos e dificuldades encontradas?
A análise das entrevistas possibilitará identificar tais aspectos, conforme descreve Bardin (2004, p. 33), “a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”.
Segundo o relato dos treinadores entrevistados, em meados da década de 2000, sob a influência do livro “Mourinho: Porquê tantas vitórias?”, tiveram seus primeiros contatos com a periodização tática. Esta foi a principal fonte de informação para despertar os estudos sobre o tema. Logo para sustentação teórica, dos trabalhos desenvolvidos pelos mesmos, na busca por mais informações, a pesquisa de artigos e monografias, oriundas de Portugal, também foi muito importante.
“...vou falar como e quando eu conheci a teoria de periodização tática, é como eu coloquei, através do Mourinho, final de 2005, depois eu tive a oportunidade de sair do São José e ir pro Santos e aí eu tive tempo pra estudar, comprei o livro Porquê tantas vitórias?” (L.E – Treinador)
“...É curiosamente conheci a metodologia num curso de preparação física né, um curso de preparador físico do sindicato e nesse curso, todos os preparadores físicos que estavam palestrando falaram mal do Mourinho, que o Mourinho não faz treino físico, que o Mourinho, só pega atleta pronto, e eu fiquei com aquilo na cabeça, porque o Mourinho tinha resultado eu não conhecia nada do trabalho dele, mas eu sabia que ele tinha resultado. Então de tanto eles falarem mal do Mourinho eu acabei anotando lá, daí eu anotei o nome do Mourinho, e ai lá no Grêmio, um pouco antes ..., um amigo meu veio me comentar que ele tava lendo o livro do Mourinho, que era o Porquê tantas vitórias? E naquele momento eu me lembrei do curso de preparação, pedi o livro emprestado li o livro, gostei muito” (J.T. Treinador Auxiliar)
“...a periodização tática eu conheci em 2004 através do professor J. F., treinador ..., através de um livro que ele comprou e eu também comprei que é o livro do José Mourinho: Porquê tantas vitórias?” (G.F. Treinador)
“...a partir de 2003, 2004 foi quando eu comecei hã.... ter as primeiras leituras em relação ao contexto de periodização tática, e... 2005 que eu tive acesso a mais artigos que falavam a respeito, isso despertou minha curiosidade e de lá para cá eu venho buscando material,...” (J.F. Treinador)
Neste contexto é importante salientar que o intercâmbio, com a Universidade do Porto de Portugal, foi fator relevante para a aquisição dos conhecimentos de dois treinadores entrevistados. Um enquanto aluno da graduação, e o outro como mestrando, fato esse que se justifica nas falas a seguir:
“...eu conheci a periodização tática em 2004, eu morava em Londres e fui a Portugal tentar trocar a universidade eu..., fui tentar ser aluno da Universidade do Porto. Quando eu cheguei lá... descobri que tinha uma cadeira de futebol e fui pra hã...essa aula e assisti como ouvinte, e era aula do Vitor Frade. E ele começou a falar sobre coisas que... eu desconhecia e que pra mim eram novas, então isso me despertou meu desejo de me tornar aluno da UP eee... a partir do meio do ano de 2005, eu me tornei aluno... da graduação da Universidade do Porto...” (F.A. Treinador)
“...Eu na verdade tive a oportunidade de me aproximar... dos conceitos de periodização tática e algumas metodologias que se relacionam com ela, hã... em 2006 quando eu pude iniciar um programa de mestrado na Universidade do Porto, lá eu estive durante dois anos...” (M.K. Treinador Auxiliar)
A análise da pesquisa mostrou que nos pontos positivos, com relação à execução da metodologia de periodização tática, os entrevistados convergem as suas idéias, no desenvolvimento dos treinamentos de uma forma sistêmica, no conhecimento específico do jogo e a sua nova visão do jogar “do todo”, na definição de um modelo de jogo como norte dos treinamentos, na ruptura com a metodologia analítica/cartesiana, convencional; na melhora significativa na velocidade do entendimento, da aprendizagem , do desempenho individual e coletivo dos jogadores e na otimização do período de treinamento.
Com relação a estes aspectos, segundo Mourinho em Oliveira et. al. (2006, p. 122, 123) afirma
A velocidade tem dois aspectos que são completamente diferentes: a velocidade da bola e a velocidade dos jogadores. A velocidade da bola tem a ver com um bom jogo posicional, uma boa leitura de jogo, grande capacidade de utilizar indistintamente os dois pés, um bom primeiro toque, um bom controlo e uma boa qualidade de passe. Isto é fundamental na nossa filosofia. Mais importante do que a velocidade dos jogadores sem bola é a velocidade de circulação da bola. Fazer sete ou oito segundos aos 60 metros é, para mim, pouco importante. Importante é ter velocidade de circulação de bola nesse espaço.
O modo de se operacionalizar esta velocidade da bola não passa por situações analíticas. Eu vou muito mais por um bom jogo posicional, pela segurança que todos os jogadores têm ao saber que em determinada posição há um jogador, que sob o ponto de vista geométrico há algo construído no terreno de jogo que lhes permite antecipar a acção.
Ainda em Oliveira et. al. (2006, p. 123), Mourinho coloca que o importante para uma equipe é encontrar uma velocidade coletiva, onde cada jogador terá de descobrir a sua própria velocidade, sendo que o treinar serve para isso.
Oliveira et. al. (2006, p. 184) afirma que “a metodologia de treino de José Mourinho é o melhor meio pra chegar ao futebol de cada um, pois todos os exercícios do treino visam aprendizagem pela repetição sistemática, de comportamentos específicos do modelo de jogo construído”.
A respeito destes aspectos destaco as falas dos entrevistados:
“...pra ti consegui entrar nesse conhecimento especifico, tem que ser específico, pra se específico, precisa um modelo de jogo, tem que treina esse modelo de jogo. Dentro desse conhecimento específico,...” (L.E. Treinador)
“... E o principal fator é tu ter um modelo de jogo bem definido, e trabalhar esse modelo de jogo, por que ao trabalhar dentro de um modelo de jogo, dentro de uma proposta de jogo tu vai habituando teus atletas através de exercícios, tu cria hábitos,...” (J.T. Treinador Auxiliar).
“...Outro ponto positivo é que tu tendo um norte,... um modelo de jogo, te ajuda a trabalhar no menino a tomada de decisão, ... a lê os princípios que acontecem no jogo, a lê uma situação melhor do jogo...” (G.F .Treinador)
“... se eu utilizar o desenvolvimento dessa valência através do modelo de jogo com um exercício que vai ter um entendimento uma exigência técnico/tática por parte do atleta eu vou ta contribuindo pro aprendizado o aprimoramento desse atleta do ponto de vista técnico tático, vai facilitar conseqüentemente em contra partida, na tomada de decisão, vai facilitar na execução no entendimento que ele tem em relação aos seus companheiros em relação ao setor que ele joga, em relação à posição que ele joga enfim eu vou contribuir pra que esse atleta do ponto de vista do modelo de jogo que eu quero que ele desenvolva, que ele tenha um melhor manancial de possibilidades para poder ter êxito, então esse é um dos pontos que eu acho que eu acho que são muito positivos em relação à periodização tática...” (J.F. Treinador)
“...em termos de pontos positivos, poderia ver como essencial dois aspectos. Primeiro hã ... no treino, que é a otimização, hã do teu período de treino, das questões treino, tu otimiza aquele, aquele período de tempo que tu tem, pra forma de jogar da tua equipe, então eu penso esse como um fator interessante da, do método sistêmico,...” (M.K. Treinador Auxiliar)
“...O segundo ponto positivo seria a exacerbação do modelo de jogo, e em conseqüência disso o desenvolvimento cognitivo e intelectual do jogador em termos de compreensão do jogo, hã.... saber sobre o saber fazer.” (M.K. Treinador Auxiliar)
Na análise dos pontos negativos, também observamos uma convergência de conceitos, a cultura enraizada das metodologias convencional e integrada no futebol, à falta de conhecimento específico da periodização tática entre dirigentes e demais profissionais do futebol, o preconceito e a quebra de paradigma.
Com relação à metodologia convencional, Oliveira et.al. (2006, p 118), em entrevista com José Mourinho, destaca sua opinião a respeito:
Sei que é muito mais fácil treinar segundo os conceitos tradicionais do que desta forma... Porque treinar desta forma obriga a pensar como sistematizar... Por exemplo, este livro vai ser um livro fantástico, mas não vão ser muitos os treinadores de formação tradicional que, mesmo lendo-o cinquenta vezes, vão conseguir extrair dele coisas produtivas para o seu trabalho, porque não conseguem sistematizar a partir daí. É muito mais fácil trabalhar da maneira tradicional: tenho um preparador físico e digo-lhe ‘Tens 45 minutos para trabalhar resistência’, e ele manda os jogadores correr, fazer séries e alongar. Quando dá conta já passaram os 45 minutos e já só falta meia hora... ‘Bem, meia hora, jogamos à bola!’ (José Mourinho)
Entre os treinadores entrevistados percebe-se que há uma concordância de ideias com a opinião de Mourinho, com relação à metodologia de treinamento tradicional. Estes por sua vez destacam:
“... Primeiro ponto negativo é a cultura, a cultura dos jogadores... Ah, um dia da semana tinha que ter um físico, ou seja, um jogador ele tem essa raiz, ele tem esse costume, então, isso é um, uma cultura, né, do país, uma cultura do clube, uma cultura do jogador, e isso é muito difícil de mudar,...” (L.E. Treinador)
“O principal ponto negativo que eu vejo em relação essa metodologia, já respondendo aqui da implementação é a mentalidade do futebol brasileiro, ... . Ano passado ... ninguém aplicava isso, ai tu começa a falar que tu não vai fazer trabalho físico, exclusivamente físico, tu não vai fazer um treino coletivo, ... é acontece um estranhar né, e ai começam a surgir muitas dúvidas, começam a te criticar, falam que estão louco, então esse é um entrave bastante forte que talvez eu vejo pra aplicação desta metodologia, porque a maioria são diretores que não tem o conhecimento específico do futebol, ... e muitas às vezes os diretores das categorias a acham que são donos da categoria e acham que tudo tem que ser como ele quer que seja,... e a maioria dos diretores, ou eles tem só a prática ou eles tem só a arquibancada né, então isso acaba dificultando a implementação da tua metodologia,...” (J.T. Treinador Auxiliar)
“...Eu confesso que quando eu li a primeira vez foi uma quebra de paradigma, porque primeiro fiquei brabo com o Mourinho ele afirmar algumas coisas que eu não defendia. Muito pela falta de conhecimento, por que a periodização tática nem eu me atrevo a dizer que conheço ela profundamente,...” (G.F. Treinador)
“...com relação então aos pontos negativos da execução ou aplicação da periodização tática, ... penso até que muito do que eu vou falar aqui vai ser uma repetição..., mais há algumas coisas que eu apontei aqui, são por exemplo: a dificuldade de valorização e de entendimento por parte daqueles que não conhecem o que é a periodização,...” (F.E. Treinador)
“...portanto eu penso que aqui no Brasil é difícil. Hã... encontrar comissões técnicas que trabalhem junto e pensem da mesma maneira, sendo que a imposição dos profissionais que trabalham dependendo do clube hã... não depende muitas vezes do treinador. Então isso sem dúvida é um fator que influência. E o segundo aspecto hã... com relação a pontos negativos, com relação à execução desta metodologia, vai de encontro também a um certo preconceito, dos jogadores, por que os jogadores eles tão já com essa cultura uma convicção o que é a metodologia de treino. A musculação, tiros de mil, e muitas vezes eles não se sentem bem treinando com conceito diferente, Portanto a aplicação da metodologia sistêmica no futebol, sem dúvida nenhuma é romper paradigmas,...” (M.K. Treinador Auxiliar)
Dentre os entrevistados, um coloca que, o modelo de jogo e sua flexibilização, principalmente nas categorias de base, é visto como um ponto negativo, conforme relato:
“... os pontos negativos, acho que são bem claros, se tu seguir um modelo de jogo e não flexibilizá-lo, tu vira escravo dele e aí tu ganha ou perde da mesma maneira.” (G.F. Treinador)
Para corroborar com a colocação deste treinador, em Oliveira et. al. (2006, p. 186), José Mourinho coloca:
Na minha perspectiva, e cada vez mais, é fundamental que os clubes possuam um modelo de jogo e um modelo de treino perfeitamente definidos. Eu tenho essa preocupação. E perceba-se que uma coisa são os princípios e outra coisa é o sistema. As camadas jovens podem utilizar outros sistemas. O que entendo é que deve haver uma cultura táctica de clube (José Mourinho).
Ao abordarmos os treinadores sobre as dificuldades encontradas com relação à implantação de um programa de treinamento baseado na metodologia de periodização tática, percebe-se que há uma redundância e de certa forma uma repetição dos pontos negativos, conforme os relatos destacados a seguir:
“Maior dificuldade que eu vejo ...... o principal, pessoas, pra trabalha e aplica , por que quando tu trabalha com periodização tática muitas vezes tu fragmenta, fragmenta, exercícios, ... , tu não consegue tá em todos os exercícios ao mesmo tempo, tu precisa de pessoas que estão ali e que eles tenham a mesma capacidade de entendimento que tu tem ou a mesma, que consigam entender os comportamentos que precisam ter, ou seja, não adianta, uma metade do grupo contigo, outra metade com outra pessoa com um contexto totalmente errado, ai tu não vai consegui atingir um conhecimento especifico,...” (L.E. Treinador)
“Hã.... quais as dificuldades encontradas na implementação , eu acho que eu já falei, né, do atleta também tem essa mentalidade, se não fizer treino físico não vai ter pegada pra encarar o jogo, perdeu porque faltou perna, e os diretores também pensam do mesmo modo....Ah uma outra coisa, ... , é difícil implementar essa metodologia por que tu tem que pensar em tudo ... eu acho muito difícil o treinador conseguir pensar porque é... é, são muitos detalhes que tem que levar em conta pra poder trabalhar esta metodologia.” (J.T. Treinador Auxiliar)
“As dificuldades encontradas para implantar a metodologia,... hã... a dificuldade dos profissionais de romperem uma barreira que não conheciam. Eu mesmo, não, no inicio foi complicado entende mesmo o que se queria na periodização tática, segundo, é fazer as pessoas pensarem por elas mesmas. Agente está acostumado muito no futebol a dar as respostas, criar a jogada e o menino tem que criar executar esta jogada da forma que tu planejou senão ele tá errado, éeé. Outra dificuldade é retirar muito do que a gente tinha no treino analítico trazer o treino, diferenciar também o treino integrado, que é o que começaram a fazer no Brasil pra realmente a periodização tática. Isso eu acho que é uma confusão até, hã, o treino integrado as pessoas acham que botar uma bola junto tá treinando, não, a periodização tática fala da realidade do jogo, do próximo adversário, do que tu vai enfrentar no final de semana. E o treino é feito em cima disso. E... então essa é uma dificuldade.” (G.F. Treinador).
“... eu encontrei esse tipo de barreira tive muitas dificuldades porque as pessoas achavam que a gente tava só jogando e não tava treinando, elas não tinham entendimento do processo daquilo que a gente tava tentando desenvolver pra equipe, elas achavam a pô essa cara não tá fazendo treinamento físico, os cara não correm, os cara não fazem musculação, só vejo os cara trabalhar com bola, os cara fazem uma série de exercício com bola, mas não tão treinando, eu to com medo que o nosso time vá mal fisicamente que não vai ter perna pra aguenta o jogo, acabava ouvindo por parte dos dirigentes esse tipo de argumento, por que... por que isso tá muito enraizado também na cultura das pessoas que estão militando, estão na orbita do futebol... hã... consequentemente hã acaba sendo mais uma barreira... hãa... mais um empecilho, que o profissional que tem ai uma ideia... de desenvolver um treinamento através da cultura do método do jogo, ou desenvolver um treinamento baseado no pressuposto da periodização tática, vai enfrenta esse tipo de barreira.” (J.M. Treinador).
“Hoje... a gente desenvolve a periodização tática e o preparador físico que trabalha comigo é um preparador com uma formação normal, de todos os preparadores aqui do Brasil e ele é um preparador analítico é um momento do treino de força, é o momento da academia do circuito de força, potência, o momento do treinamento hã... de resistência especial, é o momento de de resistência especial... é o conceito que tá lá e e tá enraizado naquilo que eles aprenderam no meio acadêmico.” (J.M. Treinador).
“...como agente convive num grupo e em alguns determinados momentos é necessário abrir mão às vezes até de algumas convicções em benefício do grupo eu tenho tido essa postura e também não posso exigir, que as pessoas para trabalhar e querer desenvolver e trabalhar todos os conceitos da periodização tática hã.. eu acredito que prioritariamente elas tem que ter interesse com o assunto, gosta do assunto, incorpora esse assunto que não é muito fácil. A pessoa tem que se despir muitas vezes daquilo que ela aprendeu a vida inteira, da forma como ela aprendeu, hã... é um exercício diário acredito eu pra, pra, pra se buscar isso, não é fácil é difícil na nossa formação ela é muito diferente daquilo como é o pressuposto que não teve a periodização tática, trabalha sobre a metodologia sistêmica, trabalha sobre os conceitos da teoria da complexidade e incorporar esses conceitos no seu cotidiano, então eu acho que é complicado não é um exercício muito simples de ser feito , pra se conseguir isso teriam que ter em uma comissão técnicas pessoas que bebam da mesma água, né.” (J.M. Treinador)
“... a gente tem que fazer aquilo que agente acredita. O... preparador físico acredita, numa metodologia diferente, numa forma de treinar diferente da minha eu tenho que entender essa idéia e eu tenho que aceitar. O que eu preciso, ou que a equipe precisa é que todos integrantes se doem ao máximo, se doar ao máximo significa ele fazer um exercício que eu não acredito, mas que ele acredita e que dá resultado, eu vou aceita que ele faça, assim como ele tem que se despir de determinadas coisas, também eu, eu tenho, muitas vezes entender e aceitar a forma de trabalhar dos outros integrantes, como ele tem que entender e aceitar aminha forma, ...” (F.E. Treinador)
“... vou comentar o seguinte, eu tive uma experiência recente, agora em 2010, como treinador adjunto de uma equipe de Santa Catarina uma equipe de categoria sênior, onde eu trabalhava com um treinador que valorizava muito esses conceitos, mas não tinha o entendimento. Então eu constatei que o trabalho da comissão técnica, e os conceitos metodológicos tem que estar sempre condicionado aos conceitos do treinador, ao treinador é importante que tenha com ele pessoas que pensem no mesmo sentido, ... isso é fundamental que a comissão técnica fale a mesma língua e pense as mesmas coisas e trabalhe da mesma maneira. Então talvez essa seja uma dificuldade ...(M.K. Treinador Auxiliar)
No processo de pesquisa, quando questionados sobre o grau de conhecimento da teoria de periodização tática, bem como o estágio de desenvolvimento desta teoria de treinamento nos clubes brasileiros, os entrevistados apontaram seu conhecimento e entendimento da metodologia como estando em processo de evolução, destacando que a mesma encontra-se em estágio embrionário no contexto futebolístico do Brasil.
“...Eu não sei, eu não sei mensura o grau, ...hã, eu acredito que eu consiga hoje operacionaliza de uma forma, acredito que não era a mesma que eu tinha há dois anos atrás, e não vai ser a mesma daqui a dois anos, eu espero que melhore. Hoje nós temos resultados hã.... no clube que a gente ta, nossa equipe que de longe é a equipe que tem mais vitórias no clube, é a equipe que chegou mais longe na competição que nós estamos disputando, que é o estadual (...)” (L. E. Treinador)
“No meu entendimento a gente está num estágio embrionário, por que por mais aprofundado que o conhecimento das pessoas, pelo menos das pessoas que eu conheço... ainda há dificuldades (...)” (J. F. Treinador)
“... Na minha visão eu penso que, se teríamos que dar uma escala de um a dez, no Brasil a gente tá no um ainda,... numa fase embrionária (...)” (F. E. Treinador).
Sendo assim, entende-se que as praticas da periodização tática devem evoluir potencialmente nas próximas décadas. E que, são necessários o aprofundamento teórico dentre os profissionais do futebol, bem como a maior difusão dessas práticas de treinamento no futebol. Para tanto é necessário que ocorra a quebra de paradigma dos profissionais na ruptura com as metodologias já enraizadas no futebol. A evolução e elevação da qualidade das equipes perpassam pela busca constante de conhecimentos significativos para atingir a vitória.
Conclusões
Este estudo teve como objetivo analisar as opiniões de treinadores de futebol do RS a partir de sua prática em um programa de treinamento de periodização tática, verificando quais são os pontos positivos e negativos com relação a sua execução, assim como quais dificuldades encontradas na sua implantação.
Importante salientar que foi possível também, através desta pesquisa, constatar no grupo pesquisado o domínio e o entendimento do conceito da metodologia de periodização tática, bem como verificar a importância de sua aplicação para estes treinadores.
Com base na análise das entrevistas, conclui-se que para os treinadores entrevistados a principal fonte para iniciar o conhecimento sobre a periodização tática foi o livro “Mourinho: Porquê tantas vitórias?” do qual os mesmos obtiveram os conceitos básicos para iniciar seus trabalhos e que apresentaram um conhecimento teórico qualificado e em evolução, conforme o estágio atual da periodização tática no futebol do RS.
Os pontos positivos salientados pelos entrevistados foram: o desenvolvimento dos treinamentos de uma forma sistêmica; o conhecimento específico do jogo e a sua nova visão do jogar “do todo”; a definição de um modelo de jogo como norte dos treinamentos; a ruptura com a metodologia analítica/cartesiana, convencional; a melhora significativa na velocidade do entendimento, da aprendizagem, do desempenho individual e coletivo dos jogadores e a otimização do período de treinamento. É importante salientarmos aqui que os pontos positivos observados nesta pesquisa representam as características de trabalho do melhor treinador do mundo atualmente e os principais resultados dos maiores clubes do futebol moderno.
Em contraponto a cultura enraizada das metodologias convencional e integrada no futebol, à falta de conhecimento específico da periodização tática entre dirigentes e demais profissionais do futebol, o preconceito e a quebra de paradigma, são os pontos negativos que se repetem redundantemente nas principais dificuldades encontradas para implantação de um programa de periodização tática. Isto nos leva a entender o estágio embrionário da periodização tática apontado pelos entrevistados com relação à implantação desta metodologia.
Logo, seria relevante o desenvolvimento de novas pesquisas com relação às metodologias de treinamento no futebol, mais especificamente as praticas da periodização tática no futebol profissional, na iniciação e na formação dos jogadores de futebol. Outra sugestão de trabalho seria o conhecimento específico do futebol, nas gestões políticas dos clubes profissionais.
Referências
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SILVA, Pedro Miguel; SANTOS, Pedro Manuel de Oliveira; JUNIOR, Nelson Kautzner Marques. Treinar futebol respeitando a essência do jogo: o exemplo do salto como ação tática e não somente técnico-física. Conexões: revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 7, n.2, p.38-63, maio/ago.2009.
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