Investigação sobre a percepção de alunos do Ensino Médio sobre a Educação Física escolar em escola pública estadual na cidade de Atibaia, SP: perspectiva sobre aplicação da Proposta Curricular da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo Investigación sobre la percepción de alumnos de Escuela Media sobre la Educación Física escolar en la escuela pública estatal en la ciudad de Atibaia, SP: perspectiva sobre la aplicación de la Propuesta Curricular de la Secretaría de Educación del Estado de Sao Paulo |
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*Licenciada em Educação Física – Fundação Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista/FESB **Doutor em Educação Física – Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP – Docente da Fundação Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista/FESB e Centro Universitário Amparense/UNIFIA ***Mestre em Educação Física - Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP – Docente da Fundação Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista/FESB |
Celiane Pereira Lima* Renato Francisco Rodrigues Marques** Elaine Cristina Simões*** (Brasil) |
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Resumo A Educação Física escolar brasileira encontra-se num processo de transformação histórica ligada tanto aos seus conteúdos quanto ao papel social e processos de intervenção. Com base em obras de cientistas da área, essa disciplina vem se re-inventando num sentido de consolidação acadêmica e de processo de formação de cidadãos. Esse trabalho investigou, numa escola pública estadual na cidade de Atibaia/SP, qual é a percepção atual de 99 alunos das três séries do ensino médio, sobre os conteúdos e importância da Educação Física escolar no processo educacional. O objetivo foi tanto avaliar a posição dos discentes frente às transformações e propostas oferecidas, quanto analisar como está ocorrendo a aplicação da Proposta Curricular do Estado de São Paulo. Em linhas gerais, tem-se que esse instrumento está sendo utilizado na escola em questão, porém não em sua totalidade. Além disso, tem-se que os alunos valorizam a Educação Física como disciplina, porém sentem a necessidade de maior amplitude de conteúdos e relação das atividades com seu dia-a-dia, algo já previsto na proposta da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Unitermos: Educação Física. Currículo. Ensino Médio.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Educação Física Escolar está passando por certa reformulação no Brasil, tanto conceitual, com início entre as décadas de 1980 e 1990, quanto procedimental, através de propostas de atuação de professores e escolha de conteúdos, como por exemplo, a Proposta Curricular da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo/Brasil.
Com base nesse panorama, este trabalho tem como objetivo geral analisar um exemplo de como a Proposta citada está sendo oferecida aos alunos de Ensino Médio, e a percepção, por parte desses sujeitos, quanto à disciplina escolar de Educação Física. Seus resultados podem oferecer dados para professores e gestores escolares para possíveis reflexões e reformulações quanto à atuação docente e oferecimento de atividades e conteúdos aos alunos, colaborando para o processo histórico de crescimento e reformulação da Educação Física, principalmente na escola pública brasileira.
O objetivo específico deste trabalho é identificar a percepção que os alunos do Ensino Médio de uma escola pública de Atibaia, interior do estado de São Paulo, têm em relação às aulas de Educação Física.
Participaram desta pesquisa 99 alunos do Ensino Médio com idades entre 15 e 18 anos, de ambos o sexo de uma escola pública da cidade de Atibaia/SP. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário semi-estruturado, respondido pelos alunos por escrito.
Este artigo se estrutura com análise de referencial teórico sobre a história da Educação Física Escolar no Brasil e sobre perspectivas de conteúdos próprios dessa disciplina, e num segundo momento, a exposição dos dados coletados em campo e referente reflexão sobre os mesmos.
Caracterização histórica da Educação Física escolar no Brasil
Para descrever um processo histórico para a Educação Física escolar no Brasil, é preciso considerar suas diversas abordagens e perspectivas. Esse exercício se faz de grande complexidade, pois todo professor conscientemente se apóia em determinada concepção, ou seja, ele busca encaixar-se à linguagem e ao perfil do aluno (RANGEL; DARIDO, 2008). Além disso, a Educação Física é um objeto social que sofreu e sofre influência do ambiente social à sua volta, o que justifica algumas transformações e caracterizações ao longo de sua existência.
Souza (2000) aponta que, no mundo todo, o século XIX teve por característica o intenso debate acerca da questão da Educação Popular. Neste período acreditava-se que investir na escola traria progresso, modernização etc. Para tanto, era de suma importância que fosse criada uma escola dentro dos padrões exigidos pelo progresso de urbanização e industrialização da época.
Para alcançar os objetivos necessários foram incluídas as disciplinas como ciência, desenho e Educação Física - Ginástica, que serviram para orientarem novos homens para uma nova sociedade. O Colégio D. Pedro II surgiu no Brasil em 1835, com objetivo de agregar todas as disciplinas num só colégio. Em seu currículo havia aulas de movimento humano, com base em padrões europeus de ginástica, seguindo recomendações das revistas médicas, com temas que abrangiam forças do corpo e mente. Embora a Educação Física, com o nome de ginástica, estivesse presente no currículo desse colégio, o instrutor responsável por tal atividade não detinha o título de professor, devido à natureza prática da atividade (ARANTES, 2008).
Em reforma realizada por Rui Barbosa em 1882, a ginástica foi recomendada como disciplina obrigatória para ambos os sexos em escolas normais. Além disso, a Educação Física recebeu igualdade de tratamento com as demais disciplinas, seguidas de melhorias de condições físicas para as aulas, a prática da Ginástica segundo preceitos médicos e recomendações guiadas pela concepção de gênero, além também de remuneração adequada aos docentes (ARANTES, 2008).
Apesar de ter estado sempre presente na lei, a Educação Física demorou muito para atingir seu status de disciplina escolar, uma vez que a lei demorou muito para ser cumprida. Dentre as inúmeras tendências da Educação Física, começaremos citando as concepções “Higienista e Militarista”. Sendo a primeira preocupada com os hábitos de higiene e saúde, valorizando o desenvolvimento do físico e moral a partir do exercício, e no segundo modelo, o militarista, os objetivos eram ligados à formação de indivíduos capazes de suportar o combate, a luta. Nestas duas concepções a Educação Física era considerada como disciplina essencialmente prática, ou seja, não havia necessidade de um fundamento teórico, apenas ter sido ex–praticante já era o suficiente para um sujeito atuar como professor (SOARES, 1996).
Na trajetória de crescimento da aula de Educação Física vale citar a promulgação da 1° Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1961. As aulas de Educação Física passaram a ser denominadas “Atividade”, sendo que neste caso o aluno poderia ser reprovado por faltas. Nesta época, também passaram a ser exigida documentação das atividades.
Quebrando os moldes da concepção anterior, o “esportivismo” surge superando a ginástica calistênica e introduzindo práticas esportivas nas aulas de Educação Física na segunda metade do século XX. O governo de 1964 investiu seriamente no esporte como forma de propaganda política, fazendo da Educação Física um sustentáculo ideológico no qual apontava o Brasil como potencia e que possuía a idéia principal de eliminar crítica interna e transparecer clima de desenvolvimento e prosperidade.
O modelo esportivista utilizava a seleção dos alunos mais habilidosos e centrava-se na competição e busca por novos atletas que defendessem a nação em eventos internacionais. O professor centralizava a prática na repetição e a mecanização dos gestos técnicos esportivos. Esse modelo recebe também nomes como mecanicista, tecnicista e tradicional, pois firmavam repetições de movimentos, enalteciam os mais habilidosos e deixavam de lado os menos favorecidos em habilidades motoras. Pode-se observar que essa concepção ainda é utilizada nos dias de hoje (DARIDO & SANCHES NETO, 2008).
A concepção “Recreacionista”, por sua vez, surgiu devido a críticas com relação ao caráter segregacionista do esporte e sua seleção de talentos durante o final do século XX. Nessa concepção quem decidia o que haveria nas aulas eram os próprios alunos, ficando como função do professor marcar o tempo e fornecer o material. Essa concepção até hoje causa polêmicas, pois a função da Educação Física é fornecer ao discente uma educação completa, tanto afetiva, social, cognitivo e motor, e nada disso ocorria (SOARES et. al, 1992). Os alunos faziam o que bem entendiam e o professor não podia interferir.
Hoje nas escolas ainda estamos sujeitos a encontrar tal concepção na ativa, infelizmente a diversos professores descompromissados com a educação de seus alunos, que acabam utilizando desse método durante as suas aulas, não contribuindo da melhor forma com o desenvolvimento discente, que deveria sair da escola carregando consigo um repertorio não só motor, mas também cognitivo, afetivo e social (DARIDO; SANCHES NETO, 2008).
A partir de 1996 o currículo vigente das aulas de Educação Física passa a ser organizado pela terceira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LBD n° 9394, completando assim o processo de escolarização, iniciando na educação infantil e terminando formalmente no ensino superior. Como característica pode apontar as propostas e os conteúdos que se preocuparam em entender, incluir e integrar todos os estudantes no Projeto Escolar.
Ao contrario de épocas passadas, hoje as aulas de Educação Física devem estar integradas à proposta pedagógica da escola, como componente curricular da Educação Básica, devendo ajustar-se às faixas etárias e condições da população escolar, embora seja ainda facultativa nos cursos noturnos (ARANTES, 2008).
Foi a partir desta lei, de 1996, que o currículo passou a ser entendido como um todo. Portanto, a visão da escola deve ser de um local de conhecimento e o total desenvolvimento de todos os estudantes. Para tanto, todos os profissionais envolvidos devem comprometer-se com o desenvolvimento de todos os seus educandos (ARANTES, 2008).
Durante o final do século XX e início do XXI a Educação Física vem passando por uma transformação conceitual importante. Com a criação do conceito de Cultura Corporal ou Cultura de Movimento (SOARES et. al, 1992), uma nova perspectiva se abre. Com base nesse conceito, tem-se que o ato de se movimentar do ser humano tem uma vertente sociocultural fundamental, ligada aos significados e simbologias do ato motor, desvinculando a Educação Física de um caráter utilitarista, oferecendo-lhe um conteúdo e papel próprios na sociedade.
Compreende-se, dessa forma, que o ato de Se-movimentar (KUNZ, 1994) diz respeito às formas culturais de produção e transmissão de conhecimento e de formas dos sujeitos se relacionar com a sociedade à sua volta através do uso de seu corpo.
Durante esse período, muitas propostas e perspectivas surgiram principalmente num sentido de humanizar a Educação Física, com base tanto numa preocupação de valorizar seu conteúdo específico (conteúdos da cultura corporal) e de contribuição dessa disciplina para a formação de sujeitos capazes de compreender, apreciar, consumir e utilizar de forma crítica e autônoma as diferentes formas culturais de movimento para relacionarem-se com o todo social (BETTI; ZULIANI, 2002).
Com base nessa perspectiva, no ano de 2008 a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, na tentativa de uniformizar e direcionar o currículo da escola básica sistematizou a Proposta Curricular do Estado de São Paulo, na qual propõe uma forma linear de trabalho para todas as disciplinas escolares, que deve ser aplicada em todas as escolas de sua rede.
No caso da Educação Física, essa ação representa um avanço no sentido de sistematizar seu ensino e oferecer ao docente um embasamento teórico que sustente sua prática, através de livros, apostilas e formações via internet e presenciais.
A Proposta Curricular se estrutura em quatro bimestres letivos, por série escolar, nos quais os conteúdos propostos devem ser trabalhados de modo a promover nos alunos o interesse pelas práticas corporais e maior conhecimento sobre seus significados e símbolos ligados à cultura da sociedade contemporânea (SÃO PAULO, 2008).
Os conteúdos ligados à cultura corporal (jogos, esporte, dança, ginástica, lutas) e temas contemporâneos como estética e saúde, mídia, entre outros, são tratados durante os bimestres do 6º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio. Existe uma grande variedade de temas e estratégias de trabalho, sempre vinculados à formação para a discussão, reflexão e vivência prática sobre os temas abordados.
Conteúdos curriculares próprios para a Educação Física no ensino médio no século XXI
Devido às constantes transformações pela qual a Educação Física vem passando, nos deparamos com dúvidas em relação aos conteúdos que devam ser trabalhados nas escolas.
Percebemos que são enormes os conteúdos que a Educação Física tem obrigação de ensinar aos alunos, segundo a LDB, além de promover, em todos os níveis, trabalho com desporto e programa de saúde ainda tem que abranger conteúdos como educação ambiental, iniciação a tecnologia e historia do Brasil (cultura, raça enfim formação do povo brasileiro), o que faz a Educação Física a estar presente na proposta pedagógica das escolas. O que acaba dificultando o trabalho de profissionais dessa área é o número reduzido de aulas semanais, principalmente quando se trata do ensino no período noturno, pois a grande maioria dos alunos já está inserida no mercado de trabalho e são dispensados das aulas desta disciplina.
A LDB aponta que a fase onde deve ocorrer o aprofundamento dos conhecimentos já adquiridos no Ensino Fundamental é no Ensino Médio, tendo que esse ciclo faz parte da Educação Básica e, por tratar-se da última etapa desta, ele não tem apenas a finalidade de dar continuidade ao que já foi visto nas series anteriores, mas também de preparar o aluno para o trabalho e a cidadania, fazer com que ele consiga adaptar-se às novas condições sociais, despertar em cada indivíduo o pensamento crítico e relacionar com facilidade teoria e prática. Porém, muitas escolas estão deixando de cumprir essas metas e visam apenas alcançar dois objetivos nessa fase escolar, que são: o de preparar o jovem para o vestibular ou para o mercado de trabalho, assim deixando de “criar” um discente critico, que seria seu principal objetivo (GUIMARÃES et al., 2007).
Para que esses objetivos sejam alcançados Soares et al. (1992) afirma que há uma distribuição de horários, séries e demais formas de criar etapas onde os conteúdos serão passados em uma seqüência em que cada etapa terá um conteúdo diferente, assim até a formação total do aluno onde só acontecerá quando o mesmo passar por todas as etapas.
Para que essas etapas sejam alcançadas, é necessário que tenha a participação de um professor que irá apresentar, conduzir, intermediar e facilitar a aprendizagem do conteúdo pelo aluno. Para que o docente alcance esse objetivo é necessário que o mesmo consiga diagnosticar a realidade onde o aluno esta inserido, julgar essa realidade com ética para perceber os principais interesses dessa classe social, para enfim achar um objetivo a ser trabalhado para manter ou transformar essa realidade (SOARES et al., 1992).
A Educação Física no Ensino Médio tem como objetivos, segundo a Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2008), que haja a compreensão por parte dos alunos sobre jogo, esporte, lutas, ginástica, atividade rítmica, levando em conta a realidade onde o aluno esta inserido, assim ampliando o conhecimento que o mesmo já possui em relação à cultura de movimento, unindo esses cinco conteúdos. Além disso, prevê que sejam trabalhados temas como saúde, beleza corporal, contemporaneidade, mídias e por fim, lazer e trabalho. Enfim, o currículo da Educação Física deve sim ter uma gama de opções para ser trabalhados nessa fase escolar, não apenas ficando baseado em modalidades esportivas coletivas, mas abordando temas como preconceito racial, discriminação de portadores de deficiência física, mostrando também aos alunos os padrões que hoje a mídia da ao corpo utilizando como objeto de venda, de consumo, mostrar a importância do exercício físico e do lazer no cotidiano.
Contudo, para que os professores trabalhem com seus alunos temas citados acima, o Governo do Estado de São Paulo implantou no ano de 2008 uma Proposta na qual indica conteúdos a serem trabalhados e suas divisões, ou seja, uma organização através de bimestres onde esses conteúdos sejam oferecidos aos alunos. Tal material é oferecido tanto a docentes quanto discentes gratuitamente por meio de livros e apostilas.
Fazendo uma comparação com a relação de conteúdos sugeridos por essa Proposta entre o ensino fundamental e o ciclo médio, percebe-se que a grande maioria dos conteúdos aparece nas duas etapas, porém diferenciando-se, sendo explorados de forma mais aprofundada no ensino médio. Desse modo, a grande maioria dos conteúdos já é conhecida dos alunos do último ciclo escolar, como esportes coletivos/individuais, atividade rítmica. Contudo, sendo apresentados com base em reflexões e caracterizações ligadas ao cotidiano e conteúdos socioculturais da sociedade nos dias de hoje.
Como exemplos desse tipo de contextualização têm-se discussões sobre estereótipos de beleza corporal, a influência da mídia sobre a beleza corporal, melhora de quadros de saúde, obesidade, entre outros temas, propostos no 1º ano do Ensino Médio. O tema que se torna novo para os alunos nessa fase é com relação a medidas e avaliações que os alunos durante o ciclo fundamental II não haviam tido contato e que será apresentado para eles durante o 1° bimestre do 1° ano do Ensino Médio.
De acordo com a Proposta Curricular do Estado de São Paulo, (2008), durante o 2° ano do Ensino Médio os alunos ainda terão contato com temas como esportes coletivos e individuais, ginásticas, discussões relacionadas a corpo, saúde e beleza, mídia, entre outros. Mas por tratar-se de assuntos bastante amplos, é primordial que o professor trabalhe de forma a levar o aluno a notar a diferença entre a prática de esportes e a busca pela beleza, pois este é assunto muito importante nesta faixa etária, uma vez que a mídia tanto pode contribuir para que o aluno busque a saúde como pode torná-lo escravo da estética. Cabe então ao professor de Educação Física nesta fase ajudá-los a refletir sobre esse processo de alteração corporal que a própria idade oferece.
Já no 3º ano do Ensino Médio o aluno, além de reforçar as modalidades anteriores, irá trabalhar, segundo a proposta e questão, temas como luta e atividades rítmicas. Neste período o professor não poderá deixar de destacar a importância das técnicas e táticas no desempenho esportivo lembrando sempre ao aluno ele pode desenvolver a apreciação dos diversos espetáculos proporcionados pelo esporte. Neste período também são também tratados temas como lazer e o trabalho, uma vez que a maioria desses alunos logo será inserida no mercado de trabalho.
Vale ressaltar que o trabalho do profissional de educação física é importante em todo o decorrer da vida escolar dos alunos, mas é principalmente no Ensino Médio que este profissional não deve se restringir apenas ao corpo, mas deve estender todo o seu conhecimento em formar pessoas melhores com opiniões próprias e não apenas reprodutores de técnicas corporais.
Outro aspecto que o profissional de educação física pode trabalhar com os alunos nesta fase é o fato de que muitos desses alunos estão preocupados com o vestibular e quando estão propensos a seguir cursos que não são voltados para a o setor de esportes e saúde, acabam não dando tanta atenção a esta matéria (SÃO PAULO, 2008).
Objetivos do estudo
O objetivo geral deste trabalho avaliou como alunos do Ensino Médio compreendem e avaliam a Educação Física escolar de acordo com a estrutura e conteúdos apresentados em aula. Como objetivo específico tem-se a análise referente à aplicação da Proposta Curricular do Estado de São Paulo na escola avaliada.
Materiais e métodos
Sujeitos participantes
Participaram desta pesquisa 99 alunos do Ensino Médio com idades entre 15 e 17 anos, de ambos os sexos em uma escola pública da cidade de Atibaia/SP.
Material
Entrevista semi-estruturada, entregue para os alunos em forma de questionário, onde os mesmos responderam por escrito no mesmo momento da aplicação, que ocorreu na escola, durante a aula de Educação Física, sem a presença do professor no local.
Procedimentos
A escola foi visitada para o consentimento de autorização para a coleta de dados. Foi aplicado um questionário semi-estruturado para os alunos do Ensino Médio. Estas entrevistas foram respondidas por escrito pelos próprios sujeitos para posterior análise das informações. A análise dos dados ocorreu com base no método “Discurso do Sujeito Coletivo” de Lefévre e Lefévre (2005). O resultado será apresentado por meio de tabelas e gráficos e os mesmos foram analisados e discutidos.
Resultados e discussão
Questão 1: O que é Educação Física?: 30 alunos responderam que a Educação Física é Atividade Física, 23 alunos responderam esporte, 11 prática e teoria, 7 saúde, 6 responderam movimento do corpo, 5 matéria escolar, 5 preparação física, 4 corpo humano, 4 alunos não responderam, 3 educar o corpo, 2 qualidade de vida, 2 condicionamento, 1 respondeu aula para nota, 1 descontração, 1 respondeu sair da sala e 1 aprendizado na escola.
Figura 1. O que é Educação Física
Segundo a Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2008), a Educação Física deve tratar da cultura relacionada aos aspectos corporais, expressados de diversas formas. Percebemos nesses dados que o grupo entrevistado tem essa cultura que foi proposta, pois nesses resultados percebe-se a diversidade de respostas em relação ao conceito de Educação Física. Embora tenha havido grande predominância do esporte, talvez por questões históricas e culturais, ou por maior oferta deste conteúdo por parte dos professores, e ausência de alguns conteúdos como dança e lutas ou capoeira.
Questão 2: “Qual a percepção que os alunos têm em relação ao número de aulas semanais de Educação Física?”: 53 alunos responderam que são poucas, 42 responderam que são ideais e 4 alunos responderam que são muitas.
Figura 2. Percepção ao numero de aulas
Questão 3: “Como os alunos percebem o tempo de uma aula de Educação Física”?: 50 alunos responderam que é pouco tempo, 47 responderam que é ideal o tempo de aula e 2 alunos responderam que é muito tempo.
Figura 3. Percepção ao tempo de aula
Observando os dados das duas questões acima, vemos que os alunos percebem que a quantidade e o tempo de aulas semanais são poucos. Percebe-se o interesse dos alunos para que exista mais de duas aulas por semana de Educação Física .
A questão 4: “Quais são os conteúdos presentes nas aulas de Educação Física?”: 43 alunos responderam esportes, 19 responderam jogos coletivos, 20 responderam “apostila”, 8 vários conteúdos, 5 teoria e prática, 4 saúde, 3 aula livre, 2 alunos não responderam, 1 “conteúdo ruim”, 1 aluno respondeu “conteúdo ideal” e 1 aluno respondeu “prática de exercícios”.
Figura 4. Conteúdos presentes nas aulas
Soares (1996) diz que o currículo das fases escolares deva ser amplo, abrangendo temas diversificados, trazendo para o aluno o aperfeiçoamento do que ele já sabe e também conteúdos novos e atualizados para que ele, após essa fase escolar, seja capaz de encarar a sociedade. Assim comparando o gráfico com a afirmação de Soares, observa-se que os alunos estão tendo uma vivência em diversos conteúdos, percebe-se a prevalência de esportes e o uso da apostila. Embora esse material, que envolve o currículo proposto pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, abrange diversos conteúdos próprios a essa fase escolar como mídia, contemporaneidade, entre outros. E isso demonstra que a proposta curricular está sendo aplicada na escola analisada, através, pelo menos, do uso da apostila.
Questão 5: “Qual o conteúdo mais presente nas aulas de Educação Física”?: 50 alunos responderam futebol, 30 alunos responderam esportes, 9 responderam apostila, 7 voleibol, 3 alunos não responderam, 2 conteúdos variados, 2 responderam aula livre, 2 atividade física e 1 respondeu aula prática.
Figura 5. Conteúdo mais presente nas aulas
Com o dado acima se percebe que o 1° lugar no quesito conteúdo ainda é o Futebol e em 2° lugar aparece a apostila. Assim podemos entender que a apostila referente à proposta é trabalhada. A Proposta Curricular do Estado de São Paulo aponta que o Futebol pode ser trabalhado, assim como outra modalidade coletiva já conhecida do grupo. Porém, só é indicado no 1° bimestre do 1° ano do Ensino Médio. Então, observa-se que a proposta não está sendo cumprida em sua totalidade e sim havendo uma ênfase na prática do Futebol.
Questão 6: “Quais conteúdos faltam na Educação Física?”: 62 alunos responderam que não faltam conteúdos e 37 responderam que faltam conteúdos. Ainda na mesma questão foi colocado se caso positivo quais conteúdos faltam, 16 alunos responderam esportes diferentes, 5 não responderam, 4 responderam falta teoria, 2 corpo humano, 2 aula fora da escola, 2 nutrição, 2 futebol, 1 respondeu saúde, 1 aluno respondeu alongamento e 1 respondeu que não sabe.
Figura 6. Falta conteúdo nas aulas
Figura 7. Quais conteúdos faltam
Nestes dois gráficos pode-se analisar que, grande parte dos alunos está satisfeita com os conteúdos que esta sendo passado a eles, mas 37 alunos nos disseram que não estão satisfeitos. Dizem que faltam conteúdos e relataram quais conteúdos que faltavam, assim surgindo com o maior número de indicações os esportes diferentes, pouco convencionais. Então se pode dizer, assim como na questão anterior, que a Proposta Curricular do Estado de São Paulo tem em seu conteúdo esses chamados pelos alunos de esportes diferentes, porém essa proposta não está sendo totalmente cumprida. Percebemos que há um espaço vago entre o que está sendo trabalhado e o que deveria ser incluído também nesse caminho de conhecimento.
Questão 7: “Você utiliza o material didático oferecido pela Secretaria de Educação (apostila)?”: 92 alunos responderam sim e 7 alunos que não utiliza a apostila. Na mesma questão em caso positivo quantas vezes por semana são utilizadas a apostila? 83 alunos responderam que utilizam uma vez por semana, 14 responderam que utiliza 2 vezes por semana e 2 alunos não utilizam a apostila.
Figura 8. Utilização da apostila
Questão 8: “Como você avalia esse material? Justifique”: 52 alunos disseram médio, 28 alunos responderam ruim e 19 alunos bom, na justificativa obtivemos 77 alunos não justificaram, 20 responderam que falta conteúdo na apostila, 1 respondeu fraco e 1 aluno respondeu mal elaborado.
Figura 9. Avaliação da apostila
Analisando os dois últimos dados, percebe-se que os alunos utilizam as apostilas oferecidas pelo governo, porém não estão satisfeitos com os conteúdos nelas existentes, reclamam de falta de conteúdo. Assim como nas análises anteriores, isso se dá pelo fato de que a Proposta Curricular encaixa em seu conteúdo um foco maior para modalidades já conhecidas, já bastante exploradas pela mídia. Assim, conclui-se que os alunos querem aprender coisas novas. Modalidades que a mídia não dá muito foco, e dizem também que a apostila é mal elaborada, que possui uma linguagem de difícil entendimento. Então cabe ao professor fazer esse intermédio em relação a interpretação da apostila, e como sendo uma proposta, o professor deve sim intervir se achar necessidade de trazer outros temas de interesse dos alunos o deverá fazer.
Questão 9: “O que você espera aprender com a Educação Física no Ensino Médio?” 16 alunos responderam Esportes diferente, 16 esportes, 14 alunos não responderam, 7 corpo humano, 6 atividade física, 6 apostila, 9 qualidade de vida, 5 respondeu conhecimento teórico e pratico, 5 não sabe, 5 muitos conteúdos, 3 respondeu saúde, 3 alem da apostila, 2 preparação física, 1 limite do corpo e 1 dança e historia da Educação Física.
Figura 10. O que espera aprender com a Educação Física no Ensino Médio
Nestes dados notamos que o esperado pelos alunos esta incluído na Proposta Curricular, porém novamente observamos uma grande lacuna no cumprimento deste material.
Questão 10: “Defina em duas palavras o que você pensa sobre Educação Física Escolar”: 20 alunos responderam muito bom, 10 pratica de esporte, 8 muito importante, 5 boa saúde, 5 alunos não responderam, 4 pouco importante, 4 saúde e lazer, 4 atividade física, 3 esporte e educação, 3 pratico e teórico, 3 corpo e mente, 2 muito sensacional, 2 é ideal, 2 interessante e bom, 2 corpo humano, 2 preparo físico, 3 alua pratica, 2 corpo e esporte, 2 perda de tempo, 1 mal exercida, 1 bom e ruim, 1 vazia e inutilizada, 1 não gosto, 1 esporte e brincadeira, 1 matéria importante, 1 melhor área, 1 fuga divertida, 1 pouco tempo, 1 futuro próximo, 1 distração dos alunos e 1 arte do movimento.
Figura 11. Definição em duas palavras do que é Educação Física
Quanto ao último dado, referente à definição de Educação Física para os alunos aqui entrevistados, pode-se perceber que significa algo bom para muitos, mesmo sabendo dos déficits encontrados no cumprimento da Proposta. Pode-se concluir que eles estão satisfeitos com o que está sendo passado para eles durante a vida escolar. Porém nós professores não podemos desanimar e achar que a missão está cumprida, pelo contrário devemos ampliar nossos conhecimentos, e fornecer aos nossos educando conteúdos cada vez mais completos e que tenham sentido para eles não apenas na escola, mas para toda sua vida.
Considerações finais
Apresentados os resultados, é possível concluir que as aulas de Educação Física estão ocorrendo na escola analisada e que os alunos estão participando destas aulas nos seus dois dias semanais assim propostos pela Matriz Curricular. Entretanto, os alunos relatam que as aulas são de pouca duração e poucas vezes na semana, assim percebe-se que os alunos querem aulas, querem aprender e que valorizam a disciplina.
A Proposta Curricular do Estado de São Paulo está sendo utilizada, mas não em sua totalidade, fato este representado pelo déficit que o professor coloca a seus alunos em relação a conteúdos. Pois como as aulas são de pouca duração e poucas vezes na semana, os professores se encontram em uma situação difícil para conseguir trabalhar com todo o conteúdo presente na Proposta. Sem contar com a necessidade que o professor tem para manter uma formação continuada. Pois para que a Proposta seja cumprida existe a necessidade do professor estar atualizado para saber lidar com os temas propostos pelo governo e transmitir esses conteúdos de forma clara com total segurança de seus ensinamentos para que seu aluno absorva esses conteúdos da melhor maneira possível.
A maioria dos educandos afirma que o conteúdo da Proposta é ideal, mas devemos ficar atentos ao fato de que uma porcentagem afirma que o conteúdo é fraco, relatam ainda que os conteúdos mais presentes sejam Futebol e a utilização da apostila, sendo que deve ficar claro que o Futebol está presente como conteúdo na Proposta, porém, só deverá ser trabalhado no 1° bimestre do 1° ano, onde a Proposta utiliza em seu subitem “Esporte” que seja trabalhado essa modalidade coletiva.
Analisando os dados, percebemos que a grande maioria dos entrevistados aponta o Futebol como o conteúdo mais presente em todas as séries, ficando a impressão de que a Proposta não está sendo cumprida em sua totalidade nessa escola, assim colocando que faltam alguns conteúdos ainda não conhecidos por eles. Os alunos sentem a necessidade de conhecer modalidades novas. Não apenas os esportes tão trabalhados durante a vida escolar, e sim apresentar a eles conteúdos diferentes e pouco trabalhados pela mídia e também refletir sobre outras formas de cultura corporal que eles se deparam no seu cotidiano e nem sempre estão preparados para se relacionar com elas.
Referências
ARANTES, A. C. A Historia da Educação Física Escolar no Brasil. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, v.13 n 124, p.1-13, Setembro, 2008 . http://www.efdeportes.com/efd124/a-historia-da-educacao-fisica-escolar-no-brasil.htm
BETTI, M.; ZULIANI, L. R. Educação Física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 1(1):73-81, 2002.
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SOUZA, R. F. Inovação Educacional no Século XIX: A Construção do Currículo da Escola Primaria no Brasil. Caderno Cedes. v.20, n.51, Novembro, 2000.
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