Estudo de parâmetros fisiológicos dos bebês na natação Estudio de los parámetros fisiológicos de los bebés en la natación |
|||
*Prof. Dr. das Disciplinas Natação I eII da EEFEUSP Prof. Títular da disciplina de Natação no UniItalo **Mestre em Biodinâmica do movimento Humano pela USP. Docente do Centro Universitário Ítalo Brasileiro EEFEUSP – UniItalo |
Antonio Carlos Mansoldo* Caio Graco Simoni da Silva** (Brasil) |
|
|
Resumo A natação para bebês vem se caracterizando como uma atividade em grande desenvolvimento. O problema é que no desenvolvimento dessa atividade em nosso país tem mostrado pouca ênfase nos aspectos científicos fundamentais, particularmente nos aspectos relativos à Fisiologia, a estruturação das aulas em si e ao desenvolvimento motor da criança. A preocupação do presente estudo foi de ordem funcional, ou seja, verificar se os aspectos relacionados ao metabolismo do bebê são alterados com a prática do exercício físico. Foram mensuradas, durante a aula, as variáveis: pressão arterial, freqüência cardíaca e freqüência respiratória, assim como a temperatura do bebê. Participaram desse estudo 20 bebês com idade média de 17 meses (± 6,19 meses). Os responsáveis assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Os sujeitos freqüentavam aulas regulares de natação para bebês na cidade de Santos. A idade inicial, as condições da piscina, vantagens e desvantagens nesse novo cenário, precisam de mais pesquisas para não chegar-se a conclusões precipitadas. Pode-se concluir que a natação para bebês, com imersão, não é um fator que compromete a saúde e o desenvolvimento do bebê, já que os resultados mostraram que não houve alterações significativas nas variáveis estudadas, com exceção da temperatura corporal. Unitermos: Natação para bebês. Aspectos fisiológicos. Fisiologia.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
Sabemos que a prática de nadar, seja para bebês ou crianças, é tão antiga quanto às atividades naturais como correr, saltar, arremessar e brincar. Assim como os Polinésios que desde os primeiros dias de vida inseriam e circundavam seus bebês dentro da água já em séculos passados, hoje em dia cada vez mais essa prática torna-se sobressalente em clubes e academias. Isso tem levado a muitas dúvidas e críticas quanto a condutas e planos de aula. Antigamente as práticas não estavam estabelecidas por aspectos fisiológicos e sim de acordo com o ambiente, no caso dos polinésios, inserirem seus filhos na água na mais tenra idade estaria ligado à preocupação de suas mães com a possibilidade de afogamento e com o aspecto cultural do país.
As primeiras pesquisas realizadas sobre o ambiente aquático foram descritas por Watson (1919) e, posteriormente, por McGraw (1939). Estes autores procuravam explicações para o comportamento motor aquático em bebês e crianças. Watson defendia que essa aquisição seria condicionada pelo ambiente, enquanto McGraw atribuía essa aquisição a maturação do organismo. Watson só encontrou movimentos desorganizados do bebê na água, segundo este autor os bebês se debatiam na água sem demonstrar qualquer comportamento adaptativo no meio líquido. McGraw, por outro lado, registrou padrões de coordenação motora aquática bem-definidos, mostrando que os bebês conseguiram se deslocar mostrando um padrão de movimento de braços bem coordenados com os de pernas e tronco. Vale ressaltar que esses resultados estavam associados à forma com que cada bebê foi levado a interagir no meio aquático. Watson introduziu os bebês em decúbito dorsal, uma posição incômoda para inúmeros bebês, enquanto que McGraw os introduziu em decúbito ventral. Apesar desses resultados, ainda predomina a visão de que a aquisição da habilidade nadar é exclusivamente dependente do ambiente externo. Vários estudos foram feitos no âmbito do comportamento motor de bebês sem a preocupação das alterações fisiológicas, portanto é preciso uma investigação mais clara destas alterações que ainda não são conhecidas e/ou estudadas no meio aquático, principalmente quando se trata de recém-nascidos. Tais considerações, mais atuais, são importantes no sentido de controlar riscos, bem como a efetividade dos exercícios propostos.
O ato de nadar significa deslocar-se no meio líquido com propulsão própria em auto-sustentação. Partindo dessa importante definição, outro ponto para destaque em relação à Natação para bebês, é a questão de quando começar, ou por que “ensinar” a nadar tão cedo e ainda quais benefícios seriam conquistados.
Entende-se que após as vacinas (Poliomielite, Difteria, Coqueluche, Tétano) o bebê torna-se mais rico em anticorpos, proporcionando uma melhor defesa para o seu organismo. Além disso, os seguintes cuidados com o ambiente devem ser seguidos: a) Recomenda-se o tratamento da piscina à base de sal (Acquamaid®) e não o uso de cloro em piscinas fechadas (Bernard, Carbonnelle, Burbure, Michel e Nickmilder, 2006), este cuidado diminui a irritação da pele do bebê e mesmo da mãe, dessa forma os mesmos não ficariam em contato com altas dosagens de cloro da piscina. Segundo os estudos de LAGERKVIST, B.J.; BERNARD, A.; BLOMBERG, A.; BERGSTROM, E.; FORSBERG, B.; HOLMSTROM, K.; KARP, K.; LUNDSTROM, N.; SEGERSTEDT, B.; SVENSSON, M.; NORDBERG, G. (2004), crianças submetidas à ambientes de piscina fechada e tratada com muito cloro apresentam alterações no epitélio pulmonar enquanto aquelas que freqüentaram piscinas tratadas com ozônio não apresentaram alteração significante. Além disso, BERNARD, A.; CARBONNELLE, S.; BURBURE, C.;MICHEL, O.; NICKMILDER, M. Há ainda a possibilidade do bebê engolir água e se esta água não tiver tanto cloro será melhor. Acredita-se que estes sejam alguns dos empecilhos que os médicos levantam e acabam desencorajando esta prática. Nesse sentido, se realmente não houver uma piscina exclusiva para tal, não seria indicado colocar os bebês após o nascimento (dois meses) dentro da água. b) Com relação ao local, é indicado de preferência um lugar pequeno, acolhedor, que o bebê e a mãe sintam-se bem, seguros e protegidos. Se possível uma piscina exclusiva para prática com bebês, com pequenas dimensões para não assustá-lo, restrito ao professor e aos pais, evitando deixar entrar no recinto outras pessoas para tirar foto, chamá-lo, tirar a sua atenção durante a seqüência da aula. Se houver materiais, guardá-los e utilizá-los na hora certa, pois os mesmos, devido a suas cores formatos e texturas, acabariam também dispersando a atenção dos bebês. c) A temperatura da água deve atender as necessidades fisiológicas e metabólicas do bebê. A temperatura corpórea interna do bebê nos primeiros dois meses varia de 35 oC a 37,8 ºC, e segundo Parys (1967), seria recomendado uma temperatura na piscina entre 30oC à 32oC. Essa temperatura poderia variar de acordo com a temperatura do dia, e de acordo com a programação, dessa forma o aparelho termorregulador do bebê estaria sendo estimulado também. Estas considerações são importantes para o início das atividades com bebês a partir dos dois meses de vida.
É de grande importância, no primeiro trimestre, as relações mãe e filho e obviamente no psiquismo infantil, ajustes como a rotina alimentar e do sono. Neste período, portanto, a presença dos pais durante as aulas é de suma importância. Outra vantagem de se iniciar a prática na mais tenra idade reside no progresso do tônus muscular, principalmente da região cervical, possibilitando uma melhor sustentação da cabeça. A não-adaptação ainda a posição ereta, leva o bebê a aceitar de forma mais natural as posições horizontais, dorsais e ventrais, e assim inserir e estimular essas posições dentro do programa aquático é de grande relevância. A presença de alguns reflexos, ainda que em fase de extinção, coloca esta etapa de desenvolvimento como a mais propícia para a aprendizagem, assim como o resgate de memória da sua vida fetal (intra-uterina), pode ser responsável pelo bem-estar do bebê na água. Estudos na área de exercícios para bebês são escassos, principalmente em idade precoce como o proposto por este trabalho. Nos estudos de Soares, Silva, Costa e Cunha (1999) foi analisada a alteração da freqüência cardíaca em bebês de um ano de vida em “situação estranha”. Esta “situação estranha” é definida como um procedimento laboratorial onde o bebê é submetido a fatores seqüenciais e fixos. O procedimento dura vinte minutos é iniciado com a entrada em um contexto onde há um contato com uma pessoa estranha e duas separações da figura de vínculo. Este contexto é caracterizado como uma situação crescente de estresse. Neste trabalho os autores estudaram a reação dos bebês diante do estresse e para medi-lo foi mensurada a variação da freqüência cardíaca, usando, portanto um parâmetro fisiológico. Ainda segundo estes autores a variação da freqüência cardíaca pode ser uma medida de avaliação exógena como variações ambientais, mudança de postura e efeitos mecânicos da respiração, que ocorre na Natação. E, naturalmente fatores endógenos como alterações nos estímulos de baroceptores, alteração da resistência vascular periférica etc.
Neste contexto poder-se-ia supor que para alguns bebês a situação de entrar em contato com a piscina poderia ser causadora de estresse.
Outro parâmetro importante é pressão arterial em recém-nascidos e é um ótimo indicador da função cardiovascular, sendo importante sua correta mensuração (Ribeiro, Garcia & Fiori 2007).
Portanto, é importante para o profissional dessa área tão específica entender e estudar todos esses processos que envolvem a segurança e o bem estar do bebê durante as aulas.
Deste modo, o objetivo do presente estudo foi controlar por meio de avaliações as alterações dos fatores funcionais através de indicadores como: pressão arterial, freqüência cardíaca, freqüência respiratória e a temperatura corporal.
Materiais e métodos
Amostra
Participaram desse estudo 20 bebês com idade média de 17± 6 meses. Os responsáveis assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
Procedimentos experimentais
Para este estudo foi utilizada uma piscina de 5m x 5m, com profundidade de 1m, tratada com sistema Aquamaid (sistema australiano de purificação da água), um esfigmomanômetro Glicomed (de coluna de mercúrio, com precisão de milímetros de mercúrio mmHg) específico para bebês, um relógio Casio digital (precisão centésimos), termômetro digital G-tech branco, glicomed, (precisão meio grau). Todos estes equipamentos aprovados pelo INMETRO. A temperatura da água da piscina foi controlado em 30ºC.
Foram avaliados os sujeitos que participaram de aulas regulares de Natação para bebês na cidade de Santos. A coleta de dados foi realizada em apenas uma aula durante o semestre. A aula de Natação para bebês teve duração de 40 minutos e as variáveis dependentes foram mensuradas 10 minutos antes da aula, 15 minutos após o início da aula e ao término da aula (após imersão).
Análise dos dados
Os sujeitos foram mensurados (variáveis independentes) em relação à pressão arterial (mmHg), temperatura corporal (°C), freqüência cardíaca (BPM) e freqüência respiratória (FRM).
A pressão arterial (PA) foi aferida por medida indireta através esfigmomanômetro, específico para bebês, colocado no braço direito do sujeito.
A temperatura corporal foi aferida por medida indireta, através de um termômetro digital, colocado na axila direita do sujeito.
A freqüência cardíaca foi aferida por medida indireta, através de um relógio digital, no punho direito.
A freqüência respiratória (FRM) foi aferida por medida indireta, com o auxilio de um relógio digital, onde se aferia via observação dos números de respirações por minuto .
Análise estatística
Foi analisada a normalidade dos dados e utilizou-se o teste ANOVA one-way. O post hoc foi utilizado o teste de Tukey HSD. Foi utilizado nas análises um nível de significância menor que 0,05.
Resultados
Em relação à pressão arterial, pode-se observar que os sujeitos a mantiveram estável, já que nos três momentos de mensuração, a pressão arterial apresentou-se com valores muito similares (Figura 1).
Figura 1. Gráfico representativo da media e desvio padrão da pressão arterial antes, durante e após a aula de Natação
Em relação à temperatura corporal, pode-se observar que os sujeitos apresentaram uma temperatura mais elevada antes do início da aula (1ª mensuração) e que no decorrer da aula de Natação e após a mesma, a temperatura corporal apresentou uma diminuição .
O teste de post hoc (Tukey HSD) indicou que a diferença apresentada foi em relação à primeira mensuração quando comparada com as demais Valores de (p<0,016) valor ajustado, ou seja, a temperatura do corpo dos sujeitos diminuiu durante a aula de Natação.
Figura 2. Gráfico representativo da media e desvio padrão da temperatura corporal antes, durante e após a aula de Natação
Em relação à freqüência cardíaca, pode-se observar que os sujeitos a mantiveram estável, já que nos três momentos de mensuração, a freqüência cardíaca apresentou-se com valores muito similares (Figura 3). Esse resultado foi confirmado pelo teste de Anova one-way (p>0,05).
Figura 3. Gráfico representativo da media e desvio padrão da freqüência cardíaca antes, durante e após a aula de Natação
Em relação à freqüência respiratória, pode-se observar que os sujeitos a mantiveram estável, já que nos três momentos de mensuração, a freqüência respiratória apresentou-se com valores muito similares (Figura 4).
Figura 4. Gráfico representativo da media e desvio padrão da freqüência respiratória antes, durante e após a aula de Natação
Discussão
A pressão arterial aferida em todas as três etapas do experimento não sofreu alterações, fato este que comprova a não interferência da atividade nos parâmetros que envolvem sístole e diástole dos bebês, sugerindo que a Natação para bebês é para eles agradável relaxante e confortável.
Em relação à temperatura corporal notamos um ligeiro declínio quando os bebês entram em contacto com a água, fato este esperado, uma vez que a termorregulação age ajustando a temperatura interna com a externa, como a atividade metabólica do bebê nos exercícios aquáticos é baixa, é esperada uma pequena diminuição em sua temperatura, corporal porem sem maiores conseqüências , uma vez que as aulas têm duração limitada entre 20 a 40 minutos.
No artigo pesquisado sobre freqüência cardíaca e bebês, Soares, Silva, Costa e Cunha (1999), utilizam uma metodologia onde os bebês são submetidos a uma “situação estranha”, baseados na metodologia no sistema de análise e classificação da situação estranha, de Ainsworth e cols. (1978). Neste experimento foi observado que alguns bebês ao serem colocados em situação de estresse apresentaram alteração de freqüência cardíaca. Os resultados obtidos por este experimento mostraram uma homogeneidade e manutenção da freqüência cardíaca dos bebês, o que pode ser analisado como uma situação não estressante. Assim, se a Natação para bebês for criticada quanto ao estresse que poderia causar; diante destes dados observados podemos dizer que as evidencias não comprovariam tais afirmações, principalmente ao levarmos em consideração que todos os dados foram coletados na água em condições normais, simulando-se uma aula normal com todos os elementos que a compõem.
Quanto à freqüência respiratória, acreditamos que pela descontração, satisfação e identificação com o ambiente da aula, os bebês a mantiveram estável igualando-a a situações em terra, demonstrando que a atividade também não interfere neste parâmetro.
Conclusões
Pode se concluir que a Natação para bebês, com imersão, que é parte integrante nas aulas, não é um fator que compromete a saúde e o desenvolvimento do bebê, já que os resultados mostraram que não houve alterações significativas nas variáveis estudadas, com exceção da temperatura corporal, mas essa pode ter tido diferença por motivos de troca de calor do bebê com o meio líquido, fato este já esperado.
Referências bibliográficas
ANTICO, B.P. ¿Qué es aprender a nadar? Buenos Aires, 1991.
BEE, H. A criança em desenvolvimento. São Paulo: Harba, 1998.
BRESGES, S. Natação para o meu nenén. Rio de Janeiro: Ao livro Técnico, 1980.
CATTEAU, R. & GAROFF, G. Ensino da Natação. São Paulo: Manole, 1988.
DAMASCENO, Leonard G. Natação para bebês dos conceitos fundamentais á prática sistematizada.
FONTANELLI, J. & FONTANELLI, M. S. Natação para bebês (entre o prazer e a técnica). São Paulo.
SOARES, I.; SILVA,M.C.; COSTA, O. & CUNHA, J.P.S. Avaliação da vinculação e da freqüência cardíaca em bebês de 12 meses na situação estranha. Revista Portuguesa de Psicossomática, vol 1 número 0001. pp101-114. 1999. Porto, Portugal.
RIBEIRO, M.A.S.;GARCIA, P.C.R.; FIORI, R.M. Determinação da pressão arterial em recém-nascidos. Scientia Medica, Porto Alegre, v. 17, n. 3, p. 156-167, jul./set. 2007.
LAGERKVIST, B.J.; BERNARD,A.; BLOMBERG,A.; BERGSTROM, E.; FORSBERG, B.; HOLMSTROM, K.; KARP, K.; LUNDSTROM, N.; SEGERSTEDT,B.; SVENSSON, M.; NORDBERG, G.; Pulmonary Epithelial Integrity in Children: Relationship to Ambient Ozone Exposure and Swimming Pool Attendance. Environmental Health Perspectives, Volume 112, Number 17, December 2004.
BERNARD, A.; CARBONNELLE, S.; BURBURE, C.; MICHEL, O.; NICKMILDER, M. Chlorinated Pool Attendance, Atopy, and the Risk of Asthma during Childhood. Environmental Health Perspectives, Volume 114, Number 10, October 2006.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 158 | Buenos Aires,
Julio de 2011 |