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Lesões na articulação do ombro em atletas de voleibol

Lesiones en la articulación de hombro en jugadores de voleibol

 

*Acadêmico do curso de Educação

Física da UNC – Concórdia

**Professor do Curso de Graduação

em Educação Física da UNC – Concórdia

Professor do Curso de Graduação em Educação Física

da Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas

Doutorando em Ciência da Educação Física

e Esporte – UCCFD – Havana – Cuba

Adilson Luis Spagnol*

adilson_volei@hotmail.com

Eduardo Zanatta*

eduardozanatta01@hotmail.com

Ivan Carlos Bagnara**

ivanbagnara@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo tem o objetivo de abordar algumas considerações gerais sobre a estrutura anatômica e funcional da articulação do ombro: seus movimentos e as principais lesões sofridas por atletas de voleibol ao longo da carreira esportiva. Também, procura apresentar uma sugestão de procedimentos ou providências a serem tomadas pelos envolvidos com o esporte no momento em que ocorre a lesão ou suspeita da mesma. Tais procedimentos vão desde a conversa com o indivíduo lesado até a aplicação de simples e pequenos testes para identificação do tipo e se ocorreu lesão.

          Unitermos: Anatomia do ombro. Funcionalidade. Tipos de lesões. Movimentos do ombro.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Voleibol está entre os esportes mais praticados no Brasil, seja ele em escolas, no lazer ou em alto nível e, vem crescendo cada dia mais. Este crescimento pode ser explicado pelas inúmeras conquistas que a seleção brasileira masculina e feminina tem conseguido nas competições mundiais. Outro fator que auxilia a explicar o crescimento do voleibol poderia estar relacionado aos espaços e oportunidades que o esporte vem abrindo, sejam eles para atletas profissionais, amadores ou profissionais envolvidos com o treinamento do esporte em todos os níveis, desde a escola formal, passando por escolinhas pré-desportivas chegando até o esporte de rendimento.

    O Voleibol exige muito de seus atletas, principalmente quando se trata do alto nível de exigência física, técnica e tática. E por isso, apresenta um índice de lesões muito significativo. Porém, a origem destas lesões, é proveniente de fatores que estão ligados na maioria das vezes ao movimento repetitivo do próprio jogo ou treinamento. E, por ser constantemente utilizada, a articulação do ombro está suscetível a ser afetada por estas lesões.

    Por ser um esporte em que praticamente não exista contato físico direto entre os atletas como outros esportes, futebol, futsal, handebol, basquetebol, dentre outros, as lesões provenientes desse contato inexistem ou ocorrem ocasionalmente. Ocorre em algumas situações o contato indireto. Este contato é causado ocasionalmente entre os companheiros por desconcentração ou indecisão na definição de algum lance, ou por jogadas específicas em disputas na rede.

    Devido a este breve contexto apresentado anteriormente, julga-se de extrema importância que atletas, professores e treinadores conheçam os mecanismos de lesões que estão presentes dentro dessa prática esportiva especificamente.

    O voleibol apresenta aspectos com repetições de gestos, acelerações e desacelerações, deslocamentos e saltos e, muitas vezes os atletas devido a certa displicência ou falta de orientação, não se preocupam em manter sua condição física acabando por prejudicar suas performances esportivas e conseqüentemente em muitos casos abreviando sua capacidade de praticar o esporte, seja ele de alto nível ou com fins recreativos.

    Antes de abordarmos diretamente a questão dos tipos de lesões da articulação glenoumeral, ou articulação do ombro, vamos tratar de sua anatomia e cinesiologia.

Estrutura anatomica do ombro

    O Ombro é a articulação que possui maior amplitude de movimentos (BLANDINE, 2002) e, se falando de voleibol, esta é a articulação que mais é utilizada e que está mais suscetível a lesões.

    A Articulação do Ombro também é conhecida com Articulação Glenoumeral. Ela é esferoidal, e depende dos músculos, ligamentos e outros tecidos moles para sustentação, esta articulação se divide em dois grupos, que por sua vez são subdivididos, totalizando cinco articulações.

Primeiro grupo de articulações

Articulação Escápulo-umeral

    Esta articulação é verdadeira e principal do ponto de vista anatômico. É formada pela junção da escápula com o úmero e sua superfície de contato é cartilaginosa e permite o deslizamento.

Articulação Subdeltóide

    Articulação falsa e acessória, chamada de segunda articulação do ombro do ponto de vista fisiológico e não anatômico, pois possui duas superfícies que deslizam uma sobre a outra. Esta articulação está mecanicamente unida à articulação escápulo-umeral e qualquer movimento da articulação escápulo-umeral provoca um movimento na subdeltóide.

Segundo grupo de articulações

Articulação Esternoclavicular

    Esta articulação é verdadeira e acessória e, é a única articulação onde ocorre fixação do membro superior com o tronco. Nesta articulação a clavícula se une com o manúbrio do esterno (HAMILL; KNUTZEN, 2008).

    Os movimentos da clavícula na articulação esternoclavicular podem ocorrer em três direções: Movimento de elevação e depressão entre a clavícula e o menisco; anterior e posterior ou avanço e recuo entre o esterno e o menisco e, rotação ao longo do seu eixo longitudinal (BLANDINE, 2002).

    A articulação esternoclavicular é, “robusta e bem reforçada que permite movimentos em três planos. Os movimentos são elevação e depressão, pronação e retração e rotação” (HAMILL; KNUTZEN, 2008, p.136).

Articulação Acrômioclavicular

    A articulação acrômioclavicular é uma pequena articulação que permite o movimento da escápula sobre a clavícula. Essa articulação é vulnerável a lesões quando as forças avançam pelo braço e pelo ombro (HAMILL; KNUTZEN, 2008). Também é uma articulação verdadeira e acessória.

    Esta articulação é sinovial deslizante e não está presente em todos os indivíduos, nela ocorre maioria dos movimentos da escápula com relação á clavícula (HAMILL; KNUTZEN, 2008).

    Na articulação acrômioclavicular se unem o acrômio e a extremidade acromial da clavícula (BLANDINE, 2002), esta fica acima do úmero e por isso pode impedir movimentos dos braços acima da cabeça.

    Nesta articulação os movimentos são característicos da escápula, e ocorrem em três direções: Sentido Anterior e Posterior com relação a um eixo vertical realizando movimentos de abdução e adução quando o acrômio se movimenta sobre o menisco e quando a escápula realiza rotação em torno do ligamento córaco-clavicular medial; Rotação quando a base da escápula oscila no sentido lateral e medial no plano frontal, ocorrendo quando a clavícula se movimenta sobre o menisco e quando a escápula realiza rotação em torno da parte trapezóide do ligamento córaco-clavicular lateral e, o terceiro movimento é para cima e para baixo, chamado elevação de depressão e que não é influenciado por rotações em torno do ligamento córaco-clavicular (HAMILL; KNUTZEN, 2008).

Articulação Escápulotorácica

    É uma articulação fisiológica e não anatômica, também é uma articulação falsa e principal e não conecta osso com osso. É uma das mais importantes articulações e sua amplitude total de movimento resulta do conjunto do acrômioclavicular e do esterno-clavicular (HAMILL; KNUTZEN, 2008).

Movimentos da articulação do ombro

    A articulação do ombro é a mais móvel de todas as articulações do corpo humano. A seguir serão apresentados os tipos de movimentos possíveis de serem executados pela articulação glenoumeral ou articulação do ombro.

  • Extensão: Consiste em deixar o cotovelo estendido ao lado do corpo e elevá-lo posteriormente.

  • Flexão: Para o movimento de flexão deve se estender o cotovelo ao lado do corpo e elevá-lo anteriormente.

  • Adução: Este movimento é feito com o cotovelo estendido ao lado do corpo. O movimento a ser realizado é de aproximar ao máximo o braço da parte medial do corpo.

  • Abdução: Consiste em elevar o braço com o cotovelo estendido ao lado do corpo.

  • Rotação: Para este movimento deve-se flexionar o cotovelo. Existem dois tipos de rotação, interna onde se aproxima a mão da linha medial do corpo, e a externa, onde a mão realiza o movimento contrário a linha medial do corpo, direcionando-a para a lateral.

  • Circundução: Neste movimento são executados todos os movimentos citados anteriormente em seqüência.

    Todos estes movimentos de uma forma ou outra, com grande ou pouca incidência, com maior ou menor amplitude são executados durante a prática do voleibol.

Tipos de lesão

    Existem vários tipos de lesões que podem ser causadas nos atletas de voleibol. As mais comumente encontradas são as contraturas, os estiramentos e contusões. Porém, todas as outras lesões abordadas estão presentes e podem ser provocadas se o atleta não tiver consciência ou orientação de como preveni-las.

Contusão

    Causadas por choque direto podendo ser violenta ou não, em contato com outra pessoa ou sobre uma superfície rígida.

    É freqüente que a pele não se rasgue, ocorrendo extravasamento de sangue para o tecido subcutâneo devido á lesão dos capilares, do que o contrário.o fluxo sanguíneo normal é afetado devido á oclusão dos capilares e pressão por causa do edema eventual. A nutrição normal do tecido esta comprometida. Há rigidez da região por causa da dor, edema e espasmo muscular (Apple et al., apud Chiappa, 2001, p. 125).

    No voleibol, as contusões mais comuns são provenientes do contato com a quadra, rígida e dura, ou em alguns casos com o contato físico entre companheiros ou com adversários em situações de jogo próximas à rede.

Distensão

    Todo músculo tem uma capacidade elástica limitada, quando esse limite for ultrapassado acontece à distensão muscular, onde as fibras dos músculos se rompem. Fato mais comum do que as contusões, mas que não causam luxação nem fratura da articulação, não acontecendo apenas entre atletas de alto nível, mas também com iniciantes.

Estiramento

    O estiramento acontece quando você estende, alonga ou rompe um ligamento, um tendão ou um músculo, rompendo assim as fibras musculares ou tendinosas. No voleibol, isso se sucede devido ao uso repetitivo ou continuo da articulação do ombro nos vários movimentos do esporte.

    O que se sente quando isso acontece é uma dor súbita que pode até ser intensa dependendo do grau da lesão.

Bursite

    A Bursite acontece divido a uma lesão na estrutura articular do ombro. Geralmente é causada por uso indevido da articulação do ombro em alguma atividade, ocasionando uma inflamação na bursa. A bursa são bolsas que estão entre os tendões e os tecidos subjacentes para movimentar livremente a articulação, levando assim a uma irritação no ombro toda vez que o individuo movimentar o mesmo.

Luxação

    Luxação se caracteriza quando um osso de uma articulação saiu de suas estruturas de fixação gerando muita dor, deformação e incapacidade de movimento.

    Em se tratando de voleibol isso fica um pouco raro de acontecer. Mas muitos atletas para dar o seu máximo, acabam forçando a articulação do ombro podendo levar a uma luxação, até mesmo em contato com a bola no movimento de ataque (cortada), sem haver o contato com algo rígido.

Tendinite

    Tendinite significa uma inflamação em algum tendão, referindo-se a qualquer processo doloso que não apresenta alteração óssea. Suas causas são variadas, indo de esforço repetitivo intenso até processos degenerativos das articulações.

Contratura

    Uma contratura muscular ocorre quando o músculo contrai-se de maneira incorreta e não volta a seu estado normal de relaxamento. A contratura por ser sentida quando se coloca a mão sobre o músculo e nota-se uma parte mais dolorida e dura como um nódulo.

Avaliação das lesões do ombro

    No momento que ocorre um indício de lesão, seja ela de qualquer natureza, a primeira preocupação é verificar se realmente ocorreu a lesão o a gravidade da mesma. A seguir, serão abordadas algumas orientações e procedimentos que podem ser executados por treinadores, preparadores físicos, professores ou fisioterapeutas para identificar uma possível lesão.

  • O que aconteceu: Identificar através do relato do indivíduo, pelos detalhes fornecidos, qual a causa da lesão e determinar a estrutura e local que foi atingido.

  • Onde dói: A melhor forma é que o atleta indique com o seu dedo onde esta sentindo a dor, isso pode ser difícil quando a área dolosa for profunda. (PETERSON; RENSTROM, 2002)

  • Qual a natureza da dor: Dor e queimação na região distal, pode indicar neuralgia. Dor pulsátil pode ser origem vascular. Dores breves podem ser por problema mecânicos com atritos entre os tecidos ou bloqueios. Dor entorpecente está indicando problemas crônicos de uso repetitivo. (PETERSON; RENSTROM, 2002)

  • Fatores que melhoram ou pioram: O diagnóstico pode ser beneficiado com atividades que mudem o curso da dor como por exemplo, fraturas causadas por estresse que pioram com atividades prolongadas.

  • O atleta já sofreu esta lesão antes: As lesões podem ocorrer devido a algum problema continuo, ou relacionadas a mudanças de treinamentos ou atividades.

    Também podem ser realizados testes que ajudam a identificar qual o tipo de lesão que ocorreu. Segue abaixo dois testes específicos e de fácil aplicação para a possível identificação de lesões na articulação do ombro.

Teste de amplitude de movimento

    Este é um teste onde aborda a amplitude máxima de movimento do ombro e sua dor ocasionada, bem como o ritmo de movimentação. Para aplicá-lo deve-se realizar o movimento de abdução do braço lateralmente analisando a elevação ativa total e medindo o angulo entre o braço e o peito. (PETERSON; RENSTROM; 2002)

Teste de força

    São testados os movimentos de adução, abdução, flexão e rotação interna e externa do ombro. Diminuição da força na abdução e na rotação externa significa problema no manguito rotador.

    Segundo Peterson; Renstrom (2002, p. 116)

    A verificação específica do supra-espinhal se dá pela abdução do braço do atleta até 90º, seguida por uma flexão de 20º, e então, pela rotação interna do braço até que o antebraço aponte para baixo. A força muscular nessa posição é um teste para supra-espinhal e uma pequena porção do deltóide em sua face medial. É um teste importante pois a ruptura do manguito rotador geralmente envolve o músculo supra-espinhal”.

    Problemas na rotação interna é sinal de lesão subescapular.

    A literatura apresenta uma série de testes que podem auxiliar a identificar as lesões: origem, local afetado, grau, dentre outros fatores. Porém, é necessário fazer uma ressalva importante: ninguém melhor do que um médico especialista para determinar o tipo de lesão e a forma de tratamento. E, os exames de imagem podem fornecer exatamente o perfil da lesão ocorrida e dar o melhor caminho a ser seguido para o tratamento e recuperação.

Considerações finais

    A prática do voleibol se manifesta através de uma série de movimentos complexos, solicitados e executados de forma rápida e com explosão muscular. Portanto trata-se de um esporte no qual é necessário aperfeiçoar as várias capacidades físicas envolvidas na sua prática de forma satisfatória, a fim de preservar a integridade física de seus praticantes evitando conseqüentemente uma série de lesões como as expostas no desenvolvimento deste texto.

    A preocupação maior, muitas vezes não está relacionada com as lesões dos atletas de alto rendimento, ou seja, atletas profissionais que defendem os grandes clubes de voleibol do Brasil e do mundo. Estes atletas possuem uma estrutura de treinamento, de profissionais envolvidos nas variáveis que envolvem a prática esportiva que otimiza ao máximo o seu rendimento esportivo com um controle sobre a possibilidade de lesões. E, quando ocorrem as lesões, o departamento médico e de fisioterapia é especializado, tratando de forma correta e eficaz a lesão, promovendo a recuperação em pouco tempo e de maneira correta.

    A atenção está direcionada sim, aos atletas amadores e principalmente as crianças e adolescentes, que muitas vezes por falta de orientação ou supervisão estão realizando atividades e movimentos que colocam em risco sua integridade física e conseqüentemente seu desenvolvimento físico e motor como um todo.

    A prática esportiva e de exercícios físicos está em uma constante crescente na sociedade, e acredita-se que cada vez mais essa tendência se confirmará. Então, devido a esse contexto necessita-se cada vez mais de profissionais preparados e qualificados para atender as necessidades deste público, seja ele de qualquer idade, que procura a prática esportiva e de exercícios para a prática recreativa, de lazer, de saúde, estética ou outros objetivos.

Referencias

  • Calais-Germain, Blandine. Anatomia para o movimento: Introdução à análise das técnicas corporais. Barueri, Manole, 2002.

  • Carr, Gerry. Biomecânica dos esportes: um guia prático. São Paulo, Manole, 1998.

  • Chiappa, Gaspar R. Fisioterapia nas lesões do voleibol: abordagem das principais lesões, seus tipos, fatores biomecânicos. São Paulo, Robe, 2001.

  • Grisogono, Vivian. Lesões no esporte. São Paulo, Martins Fontes, 1989.

  • Hamill, Joseph; Knutzen, Kathleen M. Bases biomecânicas do movimento humano. 2.ed. São Paulo, Manole, 2008.

  • Lucena, Marlla C. G et al. Incidência de lesões esportivas em atletas de voleibol profissional. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 152, 2011. http://www.efdeportes.com/efd152/lesoes-esportivas-em-voleibol-profissional.htm

  • Marques Junior; Nelson K. Principais leões no atleta de voleibol. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 68, 2004. http://www.efdeportes.com/efd68/volei.htm.

  • Menezes, Fábio S; Menezes, Roberta B. P. X; Santos, Gilmar M. Análise das lesões mais freqüentes nos atletas de voleibol de praia masculino de elite. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 116, 2008. http://www.efdeportes.com/efd116/lesoes-mais-frequentes-nos-atletas-de-voleibol-de-praia.htm.

  • Peterson, Lars; Renström, Per. Lesões do esporte: prevenção e tratamento. 3.ed. São Paulo, Manole, 2002.

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