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Efeitos da demonstração e da associação da demonstração 

mais instrução verbal no desempenho do saque no voleibol

Efectos de la demostración y de la vinculación de la demostración más instrucción verbal en el rendimiento en el saque de voleibol

The effects of demonstration and association of demonstration plus verbal instruction in serve volleyball performance

 

*GEDAM/ UFMG - Grupo de Estudos em Desenvolvimento

e Aprendizagem Motora - Universidade Federal de Minas Gerais

**Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte (FESBH)

(Brasil)

Bárbara Helena Nunes de Novais**

Débora Cardoso de Freitas**

Felipe Oliveira de Souza**

Auro Freire**

Márcio Mário Vieira* **

barbaranovaisbh@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo investigar os efeitos da demonstração e da associação da demonstração mais instrução verbal no desempenho do saque no voleibol. Foi utilizada uma versão adaptada do teste de precisão do saque no voleibol da AAHPER, com sessenta tentativas de execução do saque por baixo. A amostra foi composta de 20 indivíduos de ambos os sexos com faixa etária entre 19 a 28 anos, (X=22,7 + 2,69 anos), inexperientes na tarefa em questão. Os resultados indicaram superioridade do grupo de demonstração associada com instrução verbal. O teste não-paramétrico de Wilcoxon foi aplicado determinando diferença significativa para o pré teste e pós teste para os grupos GD (p = 0,000089) e GDI (p = 0,0002). Na análise intergrupos o teste não-paramétrico de Mann-Whitney não revelou diferença significante entre os grupos GD e GDI (P = 0,24). Os resultados indicaram que a associação entre demonstração e instrução verbal não se mostrou mais efetiva para a aquisição de habilidades motoras.

          Unitermos: Demonstração. Instrução verbal. Saque do voleibol.

 

Abstract

          The present study had as objective investigates the effects of the demonstration and of the association of the demonstration plus verbal instruction in the acting of the serve in the volleyball. An adapted version of the test of precision of the serve was used in the volleyball of AAHPER, with sixty trials of execution of the serve down. The sample was composed of 20 individuals of both sexes with age group among 19 to 28 years, (X= 22,7 + 2,69 years) inexperienced in the task. The results indicated superiority of the demonstration group associated with verbal instruction. The no-parametric test of Wilcoxon was applied determining significant difference for the pre test and post test for the groups GD (p = 0.000089) and GDI (p = 0.0002). In the analysis inter groups the no-parametric test of Mann-Whitney didn't reveal significant difference among the groups GD and GDI (P = 0.24).The results indicated that the association between demonstration and verbal instruction hasn’t shown more effectiveness for motor skill acquisition

          Keywords: Demonstration. Verbal instruction. Serve volleyball.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Em diversas áreas da ciência a informação consiste na comunicação do conhecimento. Pode ser caracterizada como uma medida de organização física (ou sua diminuição na entropia), um padrão de comunicação entre fonte e receptor, forma de controle, probabilidade de uma mensagem a ser transmitida por um canal de comunicação, o conteúdo de um estado cognitivo ou o significado de uma forma lingüística (CAPURRO; HJORLAND, 2003). Na aprendizagem motora a informação é utilizada para planejar, corrigir e regular as ações diminuindo os níveis de incerteza na aquisição e desempenho de habilidades motoras (CAPURRO; HJORLAND, 2003), sendo diretamente responsável pela produção de movimentos habilidosos (SCHMIDT; WRISBERG, 2004).

    A aquisição de habilidades motoras envolve a coordenação e controle dos membros ou do próprio corpo em relação às restrições impostas pelo tempo - espaço no alcance do objetivo da habilidade. Nesse processo o aprendiz se apropria de soluções para resolver os problemas na aprendizagem de uma tarefa (MAGILL, 1993; MAGILL; SCHOENFELFER-ZODHI, 1996). Essas soluções consideradas adequadas são influenciadas pelas formas de informação que são fornecidas ao indivíduo. Assim, para se entender como o processo de aprendizagem de uma habilidade motora pode ser facilitado é importante determinar quais informações estão sendo utilizadas e sua relação no processo de aquisição de habilidades motoras (MAGILL; SCHOENFELFER-ZODHI, 1996; NEWELL, 1991).

    Dentre as formas de informação disponíveis no processo de aprendizagem a instrução verbal consiste nas informações gerais sobre os aspectos fundamentais de uma habilidade a ser realizada (SCHMIDT, 1988). A instrução verbal engloba informações sobre a meta da tarefa, a especificação da tarefa (o que fazer) e modo da execução da tarefa (como fazer) (TANI, 1989). Ainda, a instrução verbal pode ser considerada a informação que transmite a seqüência que deve ser seguida para se alcançar à meta (DARIDO, 1991). Estudos como Sawada, Mori e Ishii (2002) fornecem subsídios a favor da instrução verbal, pois todos os grupos que receberam instrução verbal apresentaram melhores resultados. Contudo, fatores como a qualidade da instrução e a qualidade e quantidade de prática são fatores determinantes para atingir os estágios mais avançados da aprendizagem. Dessa forma a instrução tem o potencial de auxiliar tanto na orientação da atenção às informações mais relevantes, assim como na elaboração do programa de ação e a sua subseqüente execução (SCHMIDT; WRISBERG, 2004; BEEK; VAN SANTVOORD, 1992). Contudo, grandes quantidades de informação podem gerar esquecimento de partes da tarefa, devido à capacidade limitada de armazenamento da memória de curto prazo, assim, possibilitando a interferência de outros estímulos (ATKINSON; SHIFFRIN, 1971). Ainda, o nível de familiarização com a tarefa inibe a necessidade de grandes quantidades de informações as quais nem sempre são claramente entendidas (WULF; WEIGELT, 1997).

    Uma das formas do uso da instrução verbal é caracterizada como dicas ou pistas verbais, uma forma de guiar e motivar a ação motora (VALENTINI; TOIGO, 2004). As dicas são palavras ou frases curtas utilizadas para transmitir ao aprendiz a habilidade motora ou ainda como alcançar uma meta. As dicas verbais são usadas para antecipar o conhecimento da habilidade o que pode influenciar diretamente o desempenho. Assim, torna-se necessária clareza no discurso explicativo e conhecimento da tarefa a ser ensinada para a seleção dos pontos mais relevantes da habilidade a ser executada (PAYNES; ISAACS, 2002). As dicas verbais têm se mostrado efetivas no processo de aprendizagem, principalmente quando associada às outras variáveis, como exemplo a prática mental, atuando de forma complementar no processamento da informação (FONSCECA; SIQUEIRA; FIALHO; UGRINOWITSCH; BENDA, 2008). Todavia, a instrução verbal não tem se mostrado efetiva na aquisição de habilidades motoras quando comparada à demonstração (ENNES, 2004).

    A demonstração consiste nas informações que auxiliam na organização e execução de habilidades motoras por elaborar o plano motor inicial, através de uma idéia clara tanto do objetivo a ser atingido como das estratégias necessárias para alcançá-lo. Os estudos sobre a demonstração surgiram a partir da proposta de Bandura (1977), associados à teoria da aprendizagem social e sua relação com a informação fornecida pelo modelo. Nessa teoria o modelo fornece um quadro de referência tanto para criação como para avaliação das ações decorrentes. Dessa forma, a demonstração seria eficaz no processo de aquisição de habilidades motoras (MAGILL, 2000). Resultados favoráveis têm sido encontrados na utilização da demonstração na aquisição de habilidades motoras (ADAMS, 1986; CARROLL; BANDURA, 1982, 1985; FELTZ; LANDERS, 1978; LANDERS; LANDERS, 1973; LEE; WHITE, 1990; MCCULLAGH; WEISS; ROSS, 1989; NEWELL; MORRIS; SCULLY, 1985; WEIR; LEAVITT, 1990).

    O estudo de Tonello e Pellegrini (1998) confirma esses achados ao avaliarem 24 aulas de diferentes modalidades da educação física, as disciplinas analisadas foram dança de salão, futebol, ginástica artística, voleibol. O objetivo do estudo era avaliar o efeito da demonstração em situação real de ensino aprendizagem. O resultado indicou que a demonstração foi mais efetiva nas habilidades motoras fechadas.

    Uma forma de manipulação diferente das demais a qual poderia se mostrar superior seria a associação dessas variáveis (ENNES, 2004). O estudo de Públio, Tani e Manoel (1995) avaliou o efeito da demonstração, da instrução verbal e da associação dessas variáveis no aprendizado de habilidades motoras da ginástica olímpica (hoje artística). Foram formados três grupos experimentais; primeiro grupo recebeu demonstração, segundo grupo recebeu instrução verbal e o terceiro grupo recebeu demonstração e instrução. Os resultados mostraram superioridade do grupo demonstração, ainda o grupo que recebeu demonstração mais instrução foi melhor que o grupo instrução verbal. Os resultados encontrados sugeriram que a imagem mental do movimento a ser realizado, era obtida através da observação, podendo ser importantes quando as informações verbais não são claras. O presente resultado pode ser limitado devido à amostra utilizada se caracterizar por crianças. Dessa forma, ainda torna-se necessário compreender o efeito da associação entre a demonstração e a instrução verbal na aquisição de habilidades motoras. Assim, o presente estudo teve como objetivo analisar os efeitos da demonstração e da associação da demonstração mais instrução verbal no desempenho do saque no voleibol.

Método

Amostra

    Participaram do experimento 20 indivíduos de ambos os sexos na faixa etária de 19 a 28 anos, (X= 22,7 SD 2,69 anos), graduandos no curso de Educação Física da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte e inexperientes na prática do voleibol. O estudo foi registrado e aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Estácio de Sá em Belo Horizonte, pelo protocolo 019/2010.

Instrumento e tarefa

    A tarefa utilizada foi o saque por baixo do voleibol. Consistiu em lançar a bola de um lado da quadra sobre a rede sem tocá-la, em direção a um alvo posicionado no solo do lado contrário, através de golpe com a mão dominante visando alcançar o centro do alvo. A presente tarefa foi adaptada do teste de precisão do saque no voleibol da AAHPER (1969).

    A habilidade consistiu do padrão pés paralelos, antepostos, em boa base, joelhos flexionados, tronco flexionado, mão oposta a que iria realizar o saque segurando a bola na frente da mesma e na altura do joelho. O toque na bola deveria ser feito com o carpo e o braço que executou a ação deveria parar na direção que deseja lançar a bola conforme (figura 1).

    Essa descrição foi baseada na técnica apresentada por expert da área, professor da disciplina voleibol em entidade de ensino superior e técnico de equipes que disputam campeonato nacional brasileiro. O material gravado como demonstração e instrução verbal sobre a habilidade a ser aprendida foi avaliado pelo mesmo expert e considerado satisfatório para a utilização no teste.

    Ainda, foram utilizadas 6 bolas de 18 gomos, com peso aproximado de 280 gramas, circunferência 67 cm. Uma quadra de voleibol com as dimensões de 19m x 8m com a rede a 2,43 m de altura. Rede e par de antenas oficial. Uma televisão 24 polegadas e um DVD player para fornecimento da demonstração e instrução verbal.

Figura 1. Ilustração da técnica do saque

Fonte: Aulas FREIRE (2010)

    O alvo foi colocado num plano horizontal num dos lados da quadra de voleibol em forma de um círculo, possuindo quatro círculos circunscritos com pontuação de 100 pontos para o centro do alvo e 40 pontos para o circulo mais externo. Cada círculo possuía raio de 30 cm. Duas linhas foram posicionadas a partir das extremidades laterais do alvo de forma obliqua, formando um cone em direção a rede; iniciava próximo ao círculo e se estendia até a rede do lado oposto ao do saque. Essas linhas limitam a pontuação de 20 pontos. Para os demais locais fora da demarcação, porém, ainda dentro da quadra, a pontuação adotada foi de 10 pontos, os saques que ficarão fora da demarcação ou fora da quadra receberão pontuação zero. As tentativas que não ultrapassavam a rede ou que tocavam as antenas recebiam a mesma pontuação que as que não atingiam a área delimitada pelo alvo 0 (zero) ponto (figura 2).

Figura 2. Teste de precisão do saque no voleibol (Adaptado da AAHPER, 1969)

Delineamento e procedimentos experimentais

    Os 20 indivíduos foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos experimentais (n=10) grupo de demonstração (GD) e grupo da demonstração mais instrução verbal (GDI). O grupo GD recebeu a informação três vezes através de um vídeo sem áudio, e sem qualquer instrução adicional sobre a tarefa a ser realizada. O grupo GDI também recebeu a informação através do mesmo vídeo por três vezes, porém com a instrução verbal fornecida pelo áudio. O experimento constou de pré teste com dez tentativas, fase de aquisição com 40 tentativas com a variável experimental referente a cada grupo e pós teste com dez tentativas.

    A coleta de dados foi realizada de forma individual de forma que os indivíduos não recebiam nenhuma informação adicional possibilitando beneficio a algum dos grupos experimentais. Os indivíduos eram sorteados e após o consentimento livre esclarecido eram informados das condições da informação e tarefa de acordo com seu grupo experimental. A cada 20 tentativas os indivíduos realizavam uma pausa de três minutos para evitar possíveis interferências do aspecto físico.

Resultados

    Na análise do desempenho dos grupos o resultado do teste inicial registrou que o grupo GD apresentou maior resultado que o grupo GDI. O grupo GD registrou escore médio de 9,3 pontos enquanto o grupo GDI alcançou a escore médio de 14,5 (Figura 3). No teste final os grupos GD e do GDI melhoraram seus desempenhos obtendo médias 15,4 e 19,8 respectivamente, mantendo a tendência de superioridade do grupo GDI (Figura 4).

    O teste não-paramétrico de Wilcoxon foi à análise estatística inferêncial utilizada para avaliar a diferença intra grupos a qual determinou diferença significativa entre o pré teste e pós teste do grupo GD (p = 0, 000089) e GDI (p = 0, 000196).

    Para análise intergrupos foi aplicado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney o qual não registrou diferença significante entre GD e GDI no pré teste e pós teste (p>0,05).

Discussão

    O presente estudo teve como objetivo investigar os efeitos da demonstração e da associação da demonstração e instrução verbal no desempenho do saque no voleibol. Não foram encontradas diferenças significantes entre os grupos corroborando com os achados de Públio et. al. (1995) e Ennes (2004). Os resultados do pré teste e pós-teste mostraram que ambos os grupos foram iguais mesmo com o desempenho superior de GDI, não comprovando a superioridade do grupo de demonstração associada à instrução verbal. Esses achados podem ser inicialmente explicados pela superioridade das variáveis demonstração e instrução verbal no processo de aprendizagem frente ao uso da instrução verbal (ADAMS, 1986; BANDURA, 1982, 1985). Contudo, indícios do melhor efeito da associação entre a demonstração e a instrução verbal podem ser notados pelo desempenho do grupo GDI nos testes.

    Um fator que pode ter influenciado a igualdade entre os grupos foi o baixo nível de dificuldade da tarefa proposta, visto que os indivíduos já apresentavam algum conhecimento prévio do saque por baixo do voleibol, fator que poderia explicar a possível igualdade entre os grupos.

    Outro aspecto que pode ter levado ao presente resultado foi à falta de uma análise da técnica do saque. Os grupos apresentaram comportamentos similares no desempenho do pré teste e do pós teste, com superioridade para o grupo de demonstração associada à instrução verbal. Esse ponto parece reforçar a necessidade de uma análise complementar para a estrutura do saque como uma medida complementar ao desempenho o que poderia destacar essas possíveis diferenças.

    Em suma, o presente estudo não encontrou diferenças entre os grupos, dessa forma sugerem-se mais estudos que comprovem a eficácia das variáveis apresentadas, além da inclusão de medidas complementares para a análise da estrutura da técnica que forneçam informações complementares ao desempenho do saque do voleibol. Ainda, sugere-se a escolha de uma habilidade com maior nível de complexidade as quais não sejam influenciadas por conhecimento prévio ou pelo baixo nível de processamento de informação.

Referências

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