Influência do movimento democrático no Corinthians e os reflexos no futebol e no momento político do Brasil Influencia del movimiento democrático en Corinthians y los reflejos en el fútbol y en el momento político de Brasil |
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*Graduandos do curso de Ciências da Atividade Física Universidade de São Paulo **Orientador Professor Doutor Universidade de São Paulo Escola de Artes Ciências e Humanidades (Brasil) |
Felipe Procópio da Silva* Adriano Vicente Froncillo* Guilherme Ferreira Rossini* Henrique Pimenta* Marco Antonio Bettine de Almeida** |
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Resumo O movimento democrático no Corinthians foi de grande importância na história do clube e ocorreu em um momento político importante do País. O presente estudo buscou através de uma revisão literária por pesquisa documental entender o que esse movimento influenciou no Corinthians e quais foram os reflexos dentro do futebol e no momento político. Como os jogadores mudaram as estruturas do clube e participaram ativamente na democratização do País. Os jogadores atuaram diretamente junto com o diretor de futebol que compactuava com as idéias e mudaram a gestão no Corinthians e uniram forças para a democratização do País. Unitermos: Corinthians. Movimento democrático. Democratização. Brasil.
Financiamento: LUDENS – NAP- USP – BRASIL
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Este trabalho teve por objetivo estudar o movimento democrático ocorrido no Corinthians no início da década de 1980, identificando os precursores e atletas envolvidos, seus perfis e posições políticas, como influenciaram no clube como um todo e no futebol. Outro ponto importante foi identificar os impactos que tal movimento causou no momento político em que passava o país.
Devido à forte influência e visibilidade dos jogadores de futebol e a falta de consciência e posição política perante a sociedade, este estudo pretendeu analisar a importância de um grupo específico de jogadores que se mobilizaram, e envolvidos politicamente criaram um movimento capaz de modificar a estrutura política do clube, com reflexos no futebol e na sociedade.
Antes de explicar o que foi a democracia Corinthiana, é importante fazer um breve resumo da situação política da época. O período correspondente ao movimento (1979-1984) era o de transição do governo de Geisel para Figueiredo.
Nessa época o poder de repressão da ditadura já estava enfraquecido, pois com o aumento da inflação as pessoas começaram a sentir o fim do “milagre econômico”. Foi quando começaram a mobilização dos metalúrgicos do ABC, comandados por Lula. O novo presidente havia começado a transição gradual a democracia, com as eleições diretas para governador em 1982 e dois anos mais tarde ocorreu o início das diretas-já, que faria com que sua reprovação causasse a venda de Sócrates para a Itália.
O inicio da Democracia Corinthiana se deu com a contratação do jovem Sócrates no final de 1978 vindo do Botafogo de Ribeirão Preto e com a ascensão de Casagrande das categorias de base ao time profissional no ano de 1981. Ambos, aliados a Wladimir e Zenon começavam a difundir suas idéias para todo o time. (O. Duarte; J.B. Tureta, 2008)
Ainda em 1981, assume a presidência do clube Waldemar Pires, que sucederia Vicente Matheus. Pires coloca para o cargo de diretor de futebol a figura de Adilson Monteiro Alves, dirigente que simpatizava com os jogadores e concordava com os ideais de Sócrates e dos outros. (O. Duarte; J.B. Tureta, 2008)
A partir disso todas as decisões do clube eram através de voto, onde todos tinham o mesmo peso, desde o roupeiro até o presidente. Nessas votações se decidiam sobre escalações, lugares para concentração, contratações, sendo que alguns jogadores chegaram a se tornar conselheiros do clube.
Esse modelo de gestão logo deu certo e o Corinthians conquistou dois títulos do campeonato paulista, em 1982 e 1983. Durante esses anos os jogadores entravam com mensagens nos uniformes ou em faixas contra a ditadura militar e discursavam para verdadeiras multidões, dificultando a repressão dos militares. (O. Duarte; J.B. Tureta, 2008)
O goleiro Leão, que foi contratado para disputar o campeonato de 1983, não compactuava com as idéias dos demais e por isso foi embora no ano seguinte, gerando um mal-estar no grupo. Para piorar a situação Sócrates fora vendido para a Fiorentina da Itália, fazendo com que a Democracia perdesse seu grande líder. Nos anos seguintes, o time foi se desmanchando, dando um ponto final a Democracia Corinthiana, a qual, em pouco tempo, conseguiu mostrar para o Brasil que era possível lutar contra a repressão militar se todos se unissem. (O. Duarte; J.B. Tureta, 2008)
Este estudo foi realizado através de uma revisão literária por pesquisa documental, que estudou os aspectos políticos no período final do governo Geisel e transição para Figueiredo, último no militarismo, e período do movimento democrático no Corinthians, com abordagem qualitativa e descritiva, sendo esse um estudo de caso.
Cenário
Vivíamos em meio à ditadura militar desde 1964 pós golpe militar e mantida por Als (atos institucionais - medidas para legitimar o golpe). Em 1979 o Brasil transitava do Governo Geisel para Figueiredo, o último do militarismo. Presidente este que encaminhou a transição do regime militar para o democrático. Alguns passos importantes para a democratização do País foram de suma importância, por exemplo, a lei de anistia de 1979 que tinha dois objetivos: permitir a reincorporação à vida política dos exilados, cassados e presos políticos e matar na raiz qualquer tentativa de discussão acerca de punições a autoridades envolvidas em atos de terrorismo de Estado - tortura, assassinatos, etc. (R.S. González, 2002); A reforma Partidária que re-nomeou alguns partidos e deu margem para a criação de novos, dentre eles o PT (partido dos trabalhadores) e PMDB (partido do movimento democrático brasileiro), os quais figuram até os dias atuais no cenário político brasileiro; A crise econômica vivida pós “milagre econômico” e o novo movimento sindical que crescia em Osasco e, principalmente, no Grande ABC liderado por Luiz Inácio da Silva o Lula; Eleições diretas para Governadores em 1982; Movimento “Diretas Já” que previa eleições diretas para presidente, o qual os jogadores corintianos aderiram; tudo indicava que o País estaria em plena mudança.
Foi ai que surgia a Democracia Corinthiana, em meio a um cenário político turbulento e autoritário, porém em plena mudança.
O Corinthians também passava por mudanças e vinha de má campanha em campeonatos anteriores. Saia o presidente Vicente Matheus que, não podendo se reeleger, colocara Waldemar pires na presidência e se tornou vice. Manteve-se, porém, com eminência parda (O. Duarte; J.B. Tureta, 2008). Após algum tempo de mandato Matheus desapareceu do clube, trazendo Orlando Monteiro Alves para o cargo, que descobriu o filho Adilson Monteiro Alves, um sociólogo, figura importante na democracia, o qual trouxera idéias novas à administração.
Democracia Corinthiana
Adilson Monteiro Alves, agora como diretor de futebol, gostava de ouvir os jogadores e logo se entrosou com Sócrates, Zenon, Wladimir, Zé Maria e Casagrande, daí surgia à Democracia Corinthiana.
E o que era a Democracia? Os jogadores opinavam nas palestras do técnico; os casados ficavam fora da concentração, apresentando-se apenas para o almoço; todos tinham liberdade para uma cerveja no Bar da Torre; e Zé Maria, Sócrates e Wladimir tornaram-se conselheiros, contrariando os estatutos do clube. Liberdade era o lema. (O. Duarte; J.B. Tureta, 2008).
As regras internas do clube mudaram e com elas uma nova forma de administrar. Em um cenário político conturbado, um diretor com idéias politizadas e principalmente jogadores insatisfeitos com a forma que era gerida o clube, mudaram para sempre a história.
Após o momento de transição de um presidente para o outro, novas contratações se fizeram necessária e a ascensão de jovens jogadores foi possível. Nesse cenário a democracia se fez presente, tudo era decidido através do voto, e todos tinham o mesmo poder e direito de voto, ou seja, se criava ali a tão sonhada democracia. Num país angustiado e que vivia muitas lutas e conflitos pela democracia nacional surge ai uma resposta, uma resposta à disciplina militar implantada nos clubes e no selecionado nacional. (L.C. Ribeiro, 2003).
Passando além dos limites do clube, os jogadores por diversas vezes traziam escritos na camiseta ou em faixas mensagens políticas de relevância nacional, como “ganhar ou perder, mas sempre com democracia”, “dia 15 vote”, “diretas já”; dando tom ao grito de um povo que não aceitava mais viver com o regime da ditadura. (Memorial do Corinthians, responsável David José Costa)
O movimento democrático realizado no Corinthians mudou as estruturas dentro do clube e repercutiu no futebol. O Corinthians ganhara dois campeonatos paulistas consecutivos e apresentava um belo futebol. Antecedera também outros movimentos como o flamengo que apoiara a candidatura de Tancredo a Presidência em 1984 (W. Caldas, 1986). E deixando um legado para futuras discussões políticas acerca do futebol.
Tal movimento só se fez possível pela forte influência e postura política de peças chaves. Sócrates era um deles e talvez o mais importante nesse processo. Formado em medicina, chegou ao Corinthians em 1978 vindo do Botafogo de Ribeirão Preto e, com genialidade tanto dentro quanto fora de campo, logo se tornou peça chave e influente. Formador de opinião resolveu sair do Corinthians por não serem aprovadas as “Diretas Já” no começo, partindo para jogar pela Fiorentina da Itália.
Outros jogadores que se posicionaram e tiveram parte importante na Democracia Corinthiana foram: Zenon, que atuava como meia e vinha de uma passagem na Arábia; Wladimir, lateral que viera a se tornar recordista em partidas disputadas pelo Corinthians, e considerado um dos maiores ídolos da história do clube; Zé Maria, lateral direito de vigor físico que disputou duas copas do mundo; e Casagrande atacante explosivo revelação do Corinthians.
Jogadores que não compactuavam com as idéias da democracia também foram importantes dentro de campo, sendo Leão e Biro-Biro os mais notáveis. (O. Duarte; J.B. Tureta, 2008)
A união desses jogadores por uma causa, e a postura foi um exemplo para o futebol e para a sociedade. A força e determinação com que esses jogadores se colocavam perante os diversos acontecimentos viraram destaque na sociedade. O futebol, maior e mais influente esporte no cenário nacional, se colocava perante a sociedade diante de uma ditadura. Guiada por jogadores que se posicionaram e usaram de suas imagens de “astros do futebol” e influência por uma causa social.
Fica claro aqui, como dizia Webber, que o sujeito da ação social posicionando-se pode mudar um contexto cultural.
Dentro do país que é intitulado “país do futebol” e que vivia um momento histórico em sua política um clube “grande” demonstra como a força desses jogadores pode influenciar dentro e fora do clube.
Dentro do clube as regras mudaram e tudo era votado, até mesmo o massagista e roupeiro tinham o mesmo poder de voto de todos os outros. Liberdade era o lema, e títulos comprovaram a eficácia de tal regime. (M. GUTERMAN, 2009)
No âmbito nacional, a Democracia Corinthiana participou de diversas manifestações acerca do momento político nacional, posicionando-se e brigando junto com a população pela democracia.
Quis o destino que o Corinthians, clube de massa por nascimento e excelência, fosse o microcosmo desse novo clima. (M. GUTERMAN, 2009)
Dados
Em 1982 começa a Democracia Corinthiana, uma autogestão que dava poder de voto a todos. Lourenço Diaféria apresenta a democracia assim:
Embora não sendo vista nem aceita com os mesmos olhos de simpatia por determinado número de dirigentes, ex-dirigentes, associados e mesmo meros simpatizantes do Corinthians (e de outros clubes do país até...), o movimento que ficou conhecido como democracia Corinthiana empolgou o clube, balançou a pasmaceira geral, atraiu as atenções de todo o mundo esportivo brasileiro, e teve pertinência num determinado momento da vida nacional, em que a democracia, como a liberdade, abria novamente suas asas feridas sobre a cabeça de todos os brasileiros. (DIAFÉRIA, L)
Os jogadores definiam assim:
Wladimir: “É a participação de todos em que quase todos os níveis de decisão do grupo. A maior conquista é que todos se sentem importantes dentro do grupo”.
Ronaldo: “É liberdade de expressão. Liberdade de expor nossos pontos de vista”.
Solito: “Consiste na liberdade de falar e de agir. Com isso, têm-se condições de mostrar o melhor de que você é capaz, como profissional da bola e como cidadão”.
Casagrande: “É liberdade de trabalho com responsabilidade. Liberdade do homem, com a responsabilidade do profissional”.
Sócrates: “Na democracia as decisões são tomadas com a participação de todos. E agente vive bem. Eu, por exemplo, trabalho com prazer no Corinthians. Acho que isso é uma das principais razões que me ajudaram a chegar onde estou”. (DIAFÉRIA, L)
Em notícia publicada pelo Jornal do Brasil em 1982, com assinatura de Solom Campos, intitulada “O novo Corinthians é unido e político”, Adilson Monteiro Alves, o novo diretor de futebol do Corinthians tem os seguintes dizeres:
“Futebol se joga mais com a cabeça do que com os pés.”
“realmente desenvolvemos no Corinthians um trabalho democrático, novo, mais livre, sem autoritarismo, com a participação de todos. Ao contrário do que acontecia na época de Vicente Matheus, procuramos não centralizar o poder. As decisões passaram a ser tomadas por todos, médicos, enfermeiros, roupeiros, técnico, preparadores físicos, massagistas, dirigentes e jogadores.”
“Fazemos reuniões em grupo, tomamos opiniões das bases, ouvimos realmente gente que entende de futebol. Nossa meta é transferir a cada um a responsabilidade do trabalho e acabamos com o paternalismo. O jogador de futebol geralmente é visto por dois extremos: como uma criança, ou como bandido. Para nós, o jogador é um trabalhador comum, mas de um talento diferente, um artista.”
A respeito das participações políticas do clube e atletas o diretor diz:
“Na área da política, também o clube esteve presente, deu a sua contribuição para incentivar o processo democrático. Como fato mais importante, nesse campo, era a redemocratização do país, com as eleições, quando o time jogou poucos dias antes do leito, os jogadores tinham, em suas camisas as inscrições: dia 15 vote.”
O Corinthians inovou e foi o primeiro a colocar dizeres em sua camisa, idéia do publicitário Washington Olivetto (criador do termo “democracia corinthiana”), esses dizeres eram de cunho político e incomodaram os militares, que pediam moderação ao clube.
Em notícia publicada em 1983, intitulada “Democracia em campo”, pela folha de São Paulo, significam a democracia:
“O significado, em todo caso, é que a democracia foi usada por jogadores, dirigentes e pela grande torcida corinthiana para descrever, com uma conotação positiva, esse processo inovador. Sinal de que a idéia democrática vai sendo mais amplamente identificada com formas menos opressivas e mais racionais de convivência, na vida cotidiana e política.”
Outra notícia também da Folha de São Paulo, intitulada “Entre a democracia e o autoritarismo” escrito por Oswaldo Mendes fala sobre a importância da democracia:
“É preciso que o leitor e o torcedor não se iludam. Também no futebol, o autoritarismo é um convite ao arbítrio e a corrupção. Quanto ao primeiro (o arbítrio), suas conseqüências e seqüelas são perceptíveis. Mas quanto à segunda (corrupção), a rede de interesses envolvidos quase sempre impõe o acobertamento e a impunidade “por falta de provas”. Exatamente como em toda a sociedade, também no futebol um regime aberto, de participação (costuma-se chamar a isso de democracia), inibe o arbítrio e desmonta os mecanismos de corrupção. Para que o leitor, ouvinte de rádio e torcedor não se iludam, também é preciso lembrar que muita gente, além dos profissionais naturalmente envolvidos, vive do futebol e de tudo que o cera. E não se pode pretender que todos ajam com igual probidade e correção.”
Ainda nessa coluna, Oswaldo fala da importância da tomada de posição dos atletas:
“O que ocorre hoje, no Corinthians, contraria tudo o que caracteriza até aqui o futebol brasileiro, onde a principal estrela, o atleta, tem sido sistematicamente tratado como objeto de fácil manipulação de interesses que nada têm a ver com o esporte. Verdade que alguns jogadores (e Afonsinho, no início da década de 70, talvez seja um dos primeiros exemplos) conseguiram, pela sua personalidade e inteligência, opor-se a essa manipulação, ainda que pagando o preço da incompreensão e de deslavadas campanhas de intriga. Com o tempo, essas exceções assimiladas pela cartolagem e seus aceclass. Afinal seriam exceções – ainda que difíceis de engolir.”
Vejamos um exemplo de plena participação, os jogadores concorriam para participar do conselho do clube, como noticiado pela Folha de São Paulo em 22 de fevereiro de 1983 na notícia intitulada “Sócrates continua como candidato, garante situação”:
“Esta tudo bem, o Sócrates assim como Vladimir e Zé Maria, é candidato ao conselho e se for eleito, o que não tenho muitas dúvidas, deve assumir. A garantia foi dada ontem à tarde pelo vice-presidente, confirmado para concorrer à reeleição, Orlando Monteiro Alves, que explicou ainda: Ouve somente um mal-entendido.”
Outro exemplo que extrapola as dependências do clube é a participação e consciência da política nacional com posicionamento público, como relatado Pelo Diário de São Paulo em 2002 com a matéria intitulada “Democracia Corintiana comemora vitória petista”:
“Ícones da famosa democracia corintiana do inicio dos anos 80 e simpatizantes do PT, Wladimir e Sócrates tratam com especial carinho a vitoriosa campanha de Lula ao palácio do planalto. Para eles, os novos ares que estarão soprando em Brasília trarão reflexos importantes na qualidade de vida da população, especialmente na área esportiva. ”espero que o esporte ganhe agora o espaço que merece. Todos nós sabemos da importância que ele tem como opção de lazer e oportunidade de vida”, disse o ex jogador Vladimir”.
O movimento democrático no Corinthians também refletiu no futebol, o Corinthians sagrava-se bi campeão paulista, dando mais voz ao movimento. Relatado na revista isto é, matéria intitulada “A democracia vence tabus”:
“A explosão da torcida pelo bicampeonato consagra não só uma equipe de craques mas também um novo modo de tratar o futebol”.
Relatado também pela revista Placar, com a matéria intitulada “Tributo à Liberdade”:
“Inspirado pelo diálogo com a diretoria, o timão conquistou o bicampeonato paulista e provou que a democracia deixava o povo feliz”.
O Corinthians quitara suas dividas e ainda deixou uma reserva de 3.000.000 para os próximos períodos.
Em 1984, com o inicio da articulação para a criação do clube dos treze, onde a figura do presidente seria importante, e amargando resultados ruins, e a nova força para um futebol moderno a democracia corinthiana perdeu força e fora substituída pelo modo tradicional de governar um clube.
Isso foi relatado por diversos canais de comunicação, a revista Isto é publicará uma notícia com o título “Democracia ameaçada – o Corinthians voltará aos tempos de Matheus?”; O jornal folha de São Paulo publicou uma notícia a respeito da divergência entre jogadores e o técnico Travagline, intitulada “Democracia abalada”; A mesma folha de São Paulo Publicou “Dirigentes Corintianos querem vender Casagrande e acabar com a democracia”; O estado de São Paulo publicou “É o fim da Democracia Corintiana?” quando pela primeira vez não havia dizeres no manto corintiano; A folha da tarde publicou “A Democracia Corintiana chegou ao fim”.
Chegara ao fim uma das fases mais marcantes do Corinthians, apesar da resistência de alguns, como o diretor de futebol Adilson Monteiro, relatada em entrevista publicada na matéria “A democracia corintiana sobrevive” do jornal Folha de São Paulo:
“Eu não vou ficar defendendo a democracia sozinho. Ela só sobrevive se for uma aspiração da maioria dos jogadores, dos sócios e dos torcedores”
“No Brasil pouca gente sabe o que é democracia. Por isso acho perfeitamente normal essa discussão. Mas muitos se esquecem que, ao contrário do Brasil, no Corinthians ela já foi conquistada pelas urnas. A chapa democrática Corintiana foi eleita pelo voto direto. E a democracia só pode ser derrubada por um golpe. As pessoas votaram numa idéia, num projeto que não pode acabar por causa do resultado de um jogo”.
Alguns saudosistas tentaram voltar com a democracia, porém não saiu da idéia. Durante o processo de votação para presidente a oposição voltava com a idéia da democracia corintiana, a folha da tarde em dezembro de 1988 publicou “Democracia quer voltar ao timão”, porém não foi possível.
Considerações finais
O futebol é o esporte de maior comoção social no país e é de conhecimento público e consenso a forte influência que o futebol tem na sociedade.
O futebol esta vinculado a todas as mídias e sempre em evidência, seja beneficamente por glórias e vitórias, seja por tragédias ou derrotas. Todos envolvidos nesse esporte estão em evidência, principalmente os jogadores, que em sua maioria são sujeitos de baixo grau de instrução.
O presente estudo teve o objetivo de entender o movimento democrático realizado no Corinthians e suas influências, entendendo também o cenário vivido na época.
O movimento realizado no Corinthians não seria possível se aqueles que fazem o futebol literalmente (jogadores) não tivessem tomado uma posição perante os acontecimentos do clube, assim como se o diretor de futebol da época não desse a chance para eles opinarem. Logo, diretoria e jogadores formaram a Democracia Corinthiana, a qual viria a comover toda uma nação.
Dentro do clube as coisas mudaram e todos tinham a mesma condição independente de cargo ou salário. Todos tinham o mesmo poder de voto, mostrando para a sociedade que a democracia era algo possível e que lutando e se posicionando politicamente as coisas poderiam realmente acontecer.
O Brasil nessa época estava vivendo momento importante. O militarismo já não mais era aceito e as pessoas começaram a se mobilizar para a democratização que no Corinthians era algo real.
A imagem do Corinthians e de seus jogadores alcançaria as multidões e tudo que acontecia às pessoas estavam a par. Os jogadores além de mudar o regime interno também faziam campanhas para a democratização no país, passando a mensagem a milhões de pessoas que acompanhavam o futebol na época.
Partindo da idéia de que as massas sofrem maior influência do futebol, e é quem mais “consome” o futebol, o Corinthians influenciaria diretamente essas pessoas a tomarem uma posição. Não seria essa a causa da democratização do país, porém mais uma forma de alertar a população.
Podemos afirmar que o movimento democrático no Corinthians mudou o clube na época e mostrou como é uma democracia para o publico que tinha acesso, refletindo no futebol e deixando um legado de discussões acerca de um melhor entendimento e gerenciamento dos clubes e federações. Deixou, também, a lição de que para que as coisas caminhem de forma satisfatória, o alto escalão e baixo escalão devem andar juntos.
Não podemos afirmar a real influência do movimento na democratização do país. Sabemos que havia uma posição política a favor e que muitas pessoas acompanharam, porém muitos outros movimentos e pessoas importantes lutaram contra a ditadura, sendo algo que comoveu um país e foi construído com o tempo.
Assim como no Corinthians, na democratização do país as idéias e posições contrárias vinham de baixo, porém maioria, e coube aos governantes entender e se juntar à mudança.
Entendemos que os sujeitos da ação social tiveram a maior importância, pois partia deles as idéias e são eles os que estão sempre em evidência nas mídias, se tornando formadores de opinião. Ao contrário do que se observam nos dias atuais, os jogadores estavam a par dos acontecimentos do país, expressavam isso e lutavam pelas condições de trabalho dentro do clube.
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