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Apontamentos acerca da influência 

do exercício físico na cronobiologia

Apuntes sobre la influencia del ejercicio físico en la cronobiología

The influence of physical exercise in chronobiology

 

Acadêmica de Educação Física em Licenciatura

na Universidade Estadual de Maringá (UEM-PR)

Participante do grupo de estudos e pesquisas Marxistas – MARXLUTTE

Membro do Grupo de Estudos em Educação Física, Educação

e Marxismo (EDUFESC/DEF/UEM)

Ana Karine Alves Vieira

anakarine.vieira@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Baseando – se em estudos da cronobiologia, esta pesquisa bibliográfica busca mostrar a importância da compreensão dessa ciência, como a prática regular de exercício físico pode afetá-la, sua influência, seus benefícios o como afetará diretamente no rendimento do praticante. Quando se conhece seu horário cronobiológico é possível conciliá-lo com o exercício, o que faz com que a prática se torne mais prazerosa atuando a favor do maior rendimento e na melhora da qualidade de vida. Também serão discutidas questões como os hormônios secretados durante a atividade física e suas conseqüências e as vantagens do exercício matinal.

          Unitermos: Cronobiologia. Exercício. Educação Física.

 

Abstract

          Building - in studies of chronobiology, this literature seeks to show the importance of understanding this science, as the practice of regular physical exercise may affect it, his influence, as its benefits will directly affect the income of the practitioner. When you know your time is chronobiology can reconcile it with the exercise, which makes the practice becomes more pleasant working in favor of higher yield and improved quality of life. Also discussed issues such as the hormones secreted during physical activity and its consequences and benefits of morning exercise.

          Keywords: Chronobiology. Exercice. Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Cronobiologia: a ciência do tempo

    Nos dias atuais é complicado até pensar como seriam as nossas vidas se não houvesse o “tempo”, nem mesmo relógios e horários. Toda nossa rotina e atividades são regidas pelo tempo e com o corpo humano não poderia ser diferente. O ser humano possui internamente uma série de mecanismos capazes de controlar todas as atividades do organismo, ditando ritmos, relógios biológicos e periodicidades. Tais atividades são de extrema importância para a sobrevivência humana e a cronobiologia é a responsável por estudar todos esses fenômenos. A cronobiologia é uma ciência relativamente nova, seus estudos se consolidaram por volta da década de 60. Em levantamento bibliográfico realizado, “a cronobiologia pode ser entendida como o estudo sistemático da organização temporal da matéria viva” (BARRETO; FORTUNATO, 1988). Estudos apontam que todos esses mecanismos são de origem genética, o chamado cronotipo ou tipo cronobiológico que diz respeito às diferenças individuais em relação à escolha dos ciclos vigília-sono¹. Os ritmos diários, que controlam muitas das nossas funções fisiológicas, assim como o desempenho, são conhecidos como ritmos circadianos, ciclando em cerca de um dia ou de 24 horas. Várias funções orgânicas exibem ritmicidade circadiana, com valores máximos e mínimos ocorrendo em horários diferentes ao longo do dia. Esses ritmos diários são altamente influenciados pelo exercício físico, como, por exemplo, as alterações hormonais e o ciclo sono-vigília1. A população humana pode ser dividida em quatro tipos básicos: matutinos; são pessoas que possuem preferência por dormir e acordar cedo. Vespertinos: despertam tarde e dormem tarde e o seu melhor desempenho para o trabalho se dá no período da tarde ou à noite. Notívagas: atingem seus picos de energia no período da madrugada. A nível de curiosidade, uma ampla pesquisa de Satoshi Kanazawa  e seus colegas da Escola de Economia e Ciência Política de Londres descobriram diferenças significativas nas preferências do sono entre as pessoas dependendo de seu coeficiente intelectual. As pessoas com maior coeficiente intelectual são mais propensas a ser notívagos. E Indiferentes: não há preferência de horário para dormir e acordar e estes são mais tolerantes aos estados de privação de sono e constituem a maior parte da população. Sendo assim, sabemos que nosso ritmo poderá estar mais elevado em determinado horário do dia, fazendo com que nossas atividades sejam melhores desempenhadas. O que pode ser aplicado às atividades físicas, pois sabendo quais horários do dia nossa energia atinge seu pico, é possível associar esse horário cronobiológico com os exercícios físicos o que pode aumentar seu rendimento, havendo uma melhora nos resultados obtidos.

O exercício físico e as questões temporais

    Uma das questões mais abordadas em tal assunto é se existe um melhor período do dia para a prática de exercícios físicos. Como já abordado, o horário ideal pode variar de pessoa para pessoa, pois cada um possui seu relógio biológico. Mas o grande questionamento é se exercícios pela manhã podem queimar mais calorias do que em qualquer outro horário. Isso porque nesse período do dia, o metabolismo está em alta, ou seja, a velocidade com que seu organismo transforma as calorias em energia está elevada, fazendo com que seu organismo funcione melhor do que á tarde ou à noite. Segundo Freitas, nutricionista do Conselho Regional de Nutricionistas do Rio de Janeiro, após as horas de sono, quando o corpo está profundamente relaxado, os músculos e o organismo, em geral, precisam de uma dose extra de energia para ficar de pé e fazer exercícios. Por isso, a taxa metabólica é mais alta pela manhã. Além de gastar mais energias, fazer exercícios pela manhã tem uma série de benefícios. A nutricionista destaca que movimentar o corpo no início do dia garante mais disposição e bom humor, já que atividades físicas estimulam a produção de endorfina e serotonina, substâncias liberadas pelo cérebro que proporcionam a sensação de bem-estar. 

    Vários fatores influenciam para que os treinos sejam mais prazerosos nesse período, o sol está mais fraco e a temperatura mais agradável principalmente se praticado ao ar livre, nesse período, o indivíduo ainda não está sobrecarregado do estresse e do cansaço do dia-a-dia, o que muitas vezes diminui a disposição para o exercício físico. Mas é preciso estar alerta apenas para a importância do aquecimento e do alongamento antes das atividades pela manhã, pois os músculos estiveram relaxados por um longo tempo, fazer exercícios sem uma preparação anterior pode causar desconforto e até mesmo pequenas lesões.

Benefícios que a cronobiologia pode oferecer para o treinamento e a vida cotidiana

    Embasado em estudos da cronobiologia é possível realizar suas práticas desportivas em um período condizente com seu ciclo vigília-sono, isto é, o período em que seu corpo se encontra com metabolismo alto, fazendo com que seu corpo esteja mais disposto para o treino. Assim, quando estes dois fatores são associados é possível perceber os resultados com mais rapidez, o rendimento acaba sendo maior e a prática mais prazerosa. No artigo “Conhecimento cronobiológico de acadêmicos do curso de educação física da Faculdade Assis Gurgacz e sua relação com a aprendizagem”, os autores fazem uma consideração importante sobre tal assunto:

    A cronobiologia, apesar de ser uma ciência muito nova, provou ser muito importante, pois através dela se podem elucidar várias dúvidas a respeito do maior ou menor rendimento de um indivíduo em diferentes momentos do dia. Quando um indivíduo realiza suas atividades em horários contrários ao seu cronotipo, além de não alcançar o rendimento esperado, provoca implicações em sua qualidade de vida, como problemas de memorização, humor, distúrbios de sono e distúrbios psicológicos, entre outros. Em situações muito parecidas, os estudantes podem apresentar dificuldades de atenção, apatia ou agitação psicomotora, déficit de memória, instabilidade afetiva e dificuldades para pensar, causando muitas implicações negativas para a aprendizagem. Portanto, a cronobiologia deve ser levada para os mais diferentes ambientes, sejam eles de trabalho, escolares ou médicos (GOMES; PEREIRA, 2008 p. 255).

    O efeito do exercício realizado em diferentes horas do dia pode influenciar no aumento da temperatura corporal e na a liberação de hormônios, o que pode acarretar uma série de conseqüências para o organismo como, variação de humor, alterações nas horas e qualidade do sono.

    Assim, o exercício pode acelerar o deslocamento de fase de alguns marcadores biológicos, como a liberação do hormônio melatonina, demonstrando assim uma relação direta com marcadores relacionados ao ciclo sono-vigília. Já o exercício físico noturno pode atrasar a curva circadiana de TSH e melatonina em humanos, sendo que o deslocamento de fase pode ser determinado pela duração e pela intensidade do exercício físico de forma compatível com a variação individual, levando-se em consideração se a pessoa é ativa ou sedentária (MELLO et al., 2005, p. 204).

    Para melhor entendimento destas alterações causadas pelo exercício físico, é necessário conhecer um pouco mais sobre esses hormônios. O TSH (hormônio tíreo-estimulante) faz aumentar o metabolismo do indivíduo (GUYTON; HALL, 1997). Os níveis deste hormônio sobem com o exercício, talvez como meio de o corpo aumentar o metabolismo, que influenciará no gasto energético, essa adaptação é necessária para as maiores necessidades do corpo em atividade.

    Quanto às alterações no sono, foram realizados estudos onde foi observado que o horário de realização dos exercícios pode representar um importante fator nas respostas de sono. A falta de padronização no exercício aplicado e o período do dia em que se realizava a atividade levaram Horne e Porter (1975) a estudar a relação entre a fadiga produzida pelo exercício e o padrão de sono de oito homens saudáveis. O exercício consistia de 85 minutos de exercícios com 15 minutos de descanso na metade do período. O registro polissonográfico, registro complexo da atividade elétrica cerebral, da respiração e de sinais indicativos de relaxamento muscular, movimentos oculares, oxigenação sanguínea, batimento cardíaco e outros, que foi realizado durante duas noites consecutivas; sem exercícios, após exercícios pela manhã e após exercícios à tarde. Os resultados de mostraram que após o exercício à tarde houve um aumento significativo do estágio três do sono na primeira metade do registro. Além disso, parece que houve um aumento na latência para o sono, mas, assim como os outros parâmetros, não foram significativos. Vários outros estudos mostraram que exercícios próximos ao horário de dormir podem levar a um aumento na latência para o sono e um aumento no sono de ondas lentas, enquanto exercícios realizados pela manhã não o fazem.

Considerações finais

    Pesquisas sobre cronobiologia são de extrema importância para intervenções da área da saúde, tendo em vista que nosso organismo possui uma grande organização temporal e que pode ser alterada conforme nossos hábitos diários. Um dos fatores que podem alterar essa organização temporal é o exercício físico, como por exemplo, com o exercício são liberados hormônios que atuam como estimulantes do sono e o aumentam o metabolismo. Sendo assim, quando praticado de maneira correta e em horário condizente com seu cronotipo, a prática desportiva poderá favorecer a saúde, os resultados poderão ser obtidos mais rapidamente e prazerosamente, influenciando positivamente no bem estar do praticante.

Notas

  1. Ciclo sono-vigília é um ritmo circadiano, isto é, em condições naturais este ritmo apresenta sincronização com fatores ambientais e oscila com um período de 24 horas. A alternância do dia-noite (claro-escuro), os horários escolares, os horários de trabalho, horários de lazer, as atividades familiares, todos são fatores exógenos que sincronizam o ciclo sono-vigília.

Referências

  • ALMONDES, K. M.; ARAÚJO J. F. Padrão do ciclo sono-vigília e sua relação com a ansiedade em estudantes universitários. Rev. Estudos de psicologia, Rio Grande do Norte, v.8, n.1, p. 37-43, 2003. 

  • ASCHOFF, J. Circadian rhythms: general features and endocrinological aspects. In: KRIEGGER D. T. (Org.) Endocrine rhythms. Nova York: Raven Press, 1979. p. 1- 12.

  • BARRETO, L. M.; FORTUNATO G.E. O que é cronobiologia? In: CIPOLLA J. N., MARQUES N., BARRETO, L. M, Introdução ao estudo da cronobiologia. São Paulo: Ícone/ EDUSP, 1988. p. 9-15.

  • CAMPOS, M. L. P. C., MARTINO, M. M. F. Aspectos cronobiológicos do ciclo vigília-sono e níveis de ansiedade dos enfermeiros nos diferentes turnos de trabalho. Rev. Esc. Enfermagem, São Paulo, v. 38, p. 415-421, 2004.

  • CANALI, E. S.; KRUEL, L. F. M. Respostas hormonais ao exercício. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v. 20, p. 144 – 145, 2001

  • GOMES, A. M.; MELO, F. C. S. A.; PEREIRA, K. F. Conhecimento cronobiológico de acadêmicos do curso de educação física da Faculdade Assis Gurgacz e sua relação com a aprendizagem. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, v. 12, n. 3, p. 249-256, set./dez, 2008.

  • GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de fisiologia médica. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.

  • HORNE, J. A.; PORTER J. M. Exercise and human sleep. Nature: Leicestershire, 1975.

  • PIHLAJAMAA-GLIMMERVEEN, L. Relógios Biológicos: Cruzando as fronteiras entre as ciências naturais e humanas. Disponível em: http://www.glimmerveen.n/LE/biological_clock.html. Acesso em: 19 set. 2010

  • PINHEIRO, W. M. ; MELLO, L. C. Fundamentos da Cronobiologia. In: CARDOSO, G. P. (Org.). Introdução à Pesquisa Científica em Medicina. Rio de Janeiro: Editora de Publicações Biomédicas - EPUB, 2001, v. , p. 67-82.

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