Estudo comparativo entre o %VO 2máx, %VO2reserva,%FC máx e %FCreserva em atletas de voleibol do sexo femininoEstudio comparativo entre el %VO2máx, %VO2reserva, %FCmáx y %FCreserva en jugadoras de voleibol |
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Universidade Federal do Paraná, UFPR Centro de Estudos da Performance Física (CEPEFIS) (Brasil) |
Raul Osiecki André Montanholi Fornaziero Luis Felipe Borba Carignano Ednaldo Cordeiro Oliveira Sara Hernandez Paula Tamburi Borges Renata Wassmansdorf Vitor Bertoli Nascimento |
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Resumo O presente estudo teve como intuito verificar se os percentuais do VO2MÁX correspondem às mesmas intensidades percentuais do VO2RESERVA, da FCMÁX e da FCRESERVA em atletas de voleibol. Participaram deste estudo 10 atletas de voleibol do sexo feminino. Foram coletados previamente os dados antropométricos, e para identificar os valores máximos de esforço (VO2MÁX e FCMÁX) e posterior comparação das intensidades, todas as atletas foram submetidas a um teste incremental máximo de esteira. A freqüência cardíaca foi mensurada durante todo o teste com a utilização de freqüencímetro. O %FCRESERVA não possui diferenças estatisticamente significantes em relação ao %VO2MÁX em todas as intensidades, com exceção de 30 e 85%. A utilização do %FCRESERVA é viável como indicador de intensidade de trabalho, pois é correspondente aos percentuais de consumo de oxigênio (exceção de 30 e 85%), no entanto quando utilizado para a prescrição de atividades, pode subestimar a carga de exercício. Unitermos : Consumo de oxigênio. Treinamento. Freqüência cardíaca. Esforço físico.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O American College of Sports Medicine (ACMS) tem recomendado intensidades de treinamento entre 50 e 85% da capacidade funcional com intensidades de condicionamento para adultos sedentários assintomáticos entre 60 e 70%. Embora essa técnica de prescrição de exercícios seja aplicável a um grande número de indivíduos, o uso do percentual da freqüência cardíaca máxima, freqüência cardíaca de reserva e VO2 de pico como um estímulo de treino pode não resultar nas mesmas respostas fisiológicas entre certos grupos de sujeitos. (WELTMAN et al., 1989)
A intensidade de exercícios cardiorrespiratórios pode ser prescrita baseando-se em diferentes tipos de informações, tais como: nível subjetivo de exaustão, freqüência cardíaca, carga de trabalho específica para o modelo de exercício escolhido, unidades metabólicas ou uma combinação destes itens. (SWAIN, 2000; BARBOSA, BIAZOTTO e BOTTARO, 2002; LEHEN e MOTA, 2006). Controles de intensidades que envolvem a freqüência cardíaca (FC) são os mais comuns dos citados devido ao baixo custo e fácil mensuração. Já os controles que envolvem consumo de oxigênio são importantes por terem maior precisão na intensidade do exercício. (LEHEN e MOTA, 2006).
A medida da freqüência cardíaca é rotineiramente usada para avaliar a resposta do coração ao exercício, ou a recuperação do exercício, assim como prescrever intensidades de trabalho. Sabendo que o aumento da freqüência cardíaca durante exercícios progressivos reflete o aumento do débito cardíaco, a freqüência cardíaca máxima é então interpretada como o limite na função cardiovascular central. Em muitas situações a estimativa da freqüência cardíaca máxima é recomendada pelo uso da fórmula: FCmáx = 220 – idade. (LEHEN e MOTA, 2006).
Em 1957, Karvonen descreveu um método para prescrição de exercícios no qual a freqüência cardíaca alvo era determinada em um percentual da diferença entre a freqüência cardíaca máxima e a freqüência cardíaca de repouso. (LEHEN e MOTA, 2006). Isto tem sido conhecido, desde então, como o método do percentual da freqüência cardíaca de reserva (FCR) e muitos dos que o usam assumem que ele resulta em uma intensidade equivalente ao mesmo percentual do consumo máximo de oxigênio, embora isto não tenha sido afirmado por Karvonen. (BARBOSA, BIAZOTTO e BOTTARO, 2002; SWAIN et al, 1998). Este método inclusive se tornou um meio popular de estabelecer a freqüência cardíaca alvo. (BARBOSA, BIAZOTTO e BOTTARO, 2002).
Tem sido comumente assumido que freqüências cardíacas derivadas de determinado percentual da freqüência cardíaca de reserva resultam em intensidades que são equivalentes a cargas calculadas no mesmo percentual de consumo de oxigênio máximo. (BARBOSA, BIAZOTTO e BOTTARO, 2002). Entretanto, estudos envolvendo adultos saudáveis mostraram que, embora a freqüência cardíaca de reserva não equivalha ao VO2MÁX, ela é equivalente, ou mais aproximada, ao VO2 de reserva, existindo uma relação “um por um” entre essas duas variáveis. (BRAWNER, KETENYIAN, EHRMAN, 2002; SWAIN et al., 2004).
Uma pessoa em repouso não possui batimento cardíaco e consumo de oxigênio zero. Assim, se comparados, a variação dos batimentos cardíacos de repouso com o máximo alcançado de VO2 a partir do zero ao máximo, observa-se um erro. Quando estas variações são expressas em percentuais de suas máximas, a magnitude do erro vai depender do valor absoluto do VO2MÁX. (SWAIN e LEUTHOLTZ, 1997)
Em 1998, o ACMS, revisou seu guia de exercícios para adultos saudáveis e adotou o uso da porcentagem do VO2 de reserva no lugar da porcentagem do VO2MÁX para prescrição das intensidades dos exercícios. (COLBERG, SWAIN, VINIK, 2003).
Contudo, as relações entre o %VO2MÁX, %VO2RESERVA, %FCMÁX e %FCRESERVA ainda não estão estabelecidas de maneira conclusiva, de modo que há na literatura muita divergência acerca de qual variável utilizar para a elaboração ideal da prescrição de exercícios físicos.
Dessa maneira, o objetivo do presente trabalho foi verificar se os percentuais do VO2MÁX correspondem às mesmas intensidades percentuais do VO2RESERVA, da FCMÁX e da FCRESERVA em atletas de voleibol do sexo feminino.
Materiais e métodos
Participaram do presente estudo 10 atletas de voleibol do sexo feminino pertencentes à categoria Adulta, selecionadas intencionalmente da equipe de voleibol do Clube Círculo Militar da cidade de Curitiba-Pr. O resumo das características gerais dos sujeitos está apresentado na Tabela 1.
Tabela 1. Características gerais das atletas participantes do estudo
Todas as atletas foram informadas do objetivo do estudo e sobre os procedimentos utilizados, bem como de possíveis benefícios e riscos associados à execução do mesmo. Assim, os sujeitos confirmaram sua participação de modo voluntário através da assinatura do termo de consentimento livre e informado.
Dados antropométricos
Foram coletados previamente os dados antropométricos de todas as atletas. Para a estatura (em cm), utilizou-se um estadiômetro de metal (marca Sanny, modelo Standard, São Bernardo do Campo, Brasil) com precisão de 0,1 cm afixado verticalmente em parede sólida. Para a massa corporal (em kg), utilizou-se uma balança digital marca Toledo (modelo 2096, São Paulo, Brasil). Os procedimentos para a coleta foram os propostos por Lohman, Roche e Martorell (1988). Para a obtenção do percentual de gordura corporal das atletas, utilizou-se uma estimativa da densidade corporal de acordo com a equação proposta por Jackson e Pollock (1982) para ser utilizada em atletas do sexo feminino. As dobras cutâneas (Subescapular, Tricipital, Suprailíaca, Bicipital, Peitoral, Axilar Média, Abdominal, Coxa, Perna Medial) foram coletadas utilizando-se um Adipômetro Científico Lange com precisão de 0,1mm. Os valores de densidade corporal foram então corrigidos para percentual adiposo utilizando-se o modelo de equação proposto por Siri (1961). Visando evitar os erros interavaliadores todas as medidas antropométricas foram obtidas por um mesmo avaliador, previamente treinado em todas as técnicas necessárias para a coleta dos dados.
Teste de Esforço
Os participantes foram submetidos a uma sessão laboratorial objetivando a identificação dos valores máximos de esforço (VO2MÁX e FCMÁX) e posterior comparação das intensidades; para tanto, todas as atletas foram submetidas a um teste incremental de esteira até a exaustão.
Teste de Esteira Incremental
Após a coleta de dados antropométricos, as atletas foram submetidos a uma avaliação de esforço máximo realizado em esteira ergométrica (marca Reebok Fitness Modelo X-fit &, Londres, Reino Unido). O protocolo de esforço consistiu em um teste incremental até a exaustão voluntária. Os sujeitos foram orientados sobre o procedimento do teste. Uma válvula respiratória bidirecional com formato em T (marca Hans Rudolph, modelo 2726, Inc. Kansas City, Missouri, EUA) e um prendedor nasal foram ajustados em cada participante, conectado a um sistema de espirometria monitorado por computador. Na seqüência o teste de esforço era iniciado em uma velocidade de 6 km/h e inclinação constante de 1%. A cada dois minutos (fim do estágio), a velocidade era sempre incrementada em 1km/h. Este procedimento persistia até a exaustão voluntária dos avaliados.
Durante todo o teste os sujeitos tiveram também a sua freqüência cardíaca monitorada mediante utilização de freqüencímetro (marca Polar, modelo S610, Kempele, Finlândia). Os dados da freqüência cardíaca também foram obtidos em repouso, após os sujeitos permanecerem 10 minutos deitados, assim como durante o teste de esforço sendo a FC coletada em intervalos de 15 segundos, desde o início do teste incremental até o momento do seu final (exaustão voluntária), assim como durante os dois minutos de recuperação pós-teste.
O consumo de oxigênio (VO2) foi determinado através de um sistema de espirometria computadorizado de circuito aberto (marca ParvoMedics, modelo TrueMax MM2400, Salt Lake City, Utah, EUA). Este sistema foi calibrado para O2 e CO2, utilizando uma concentração gasosa certificada para O2 e CO2 e para a ventilação por meio de uma seringa de 3 litros (marca Hans Rudolph, modelo 5530, Kansas City, Missouri, EUA), de acordo com as especificações do fabricante.
Análise dos dados
Para cada sujeito avaliado foi utilizado o valor obtido de VO2MÁX (VO2PICO) a fim de se estimar o consumo de oxigênio a cada 5 pontos percentuais em relação ao máximo, com o mínimo de 5% até o máximo de 100%. Para cada valor estimado foi selecionado o valor mais próximo de consumo de oxigênio em relação aos dados obtidos no teste, bem como a freqüência cardíaca correspondente a esses momentos. De posse desses dados, utilizou-se a equação da Intensidade da Freqüência Cardíaca de Reserva para a determinação do percentual dessa variável e do VO2RESERVA em relação às intensidades de consumo de oxigênio (a cada 5%), sendo também calculada o percentual da FCMÁX nesses momentos.
Para a detecção das diferenças entre as variáveis, para cada percentual foi realizada uma ANOVA One-way seguido do Post Hoc de Tukey, comparando o %VO2MÁX com o %VO2RESERVA, o %FCMÁX e o %FCRESERVA. Para todas as análises foi utilizado o software Statistica for Windows 6.0, com nível de significância estabelecido em p<0,05.
Resultados
A Tabela 2 apresenta os resultados máximos do grupo no teste (média e desvio padrão) das seguintes variáveis: VO2MÁX e FCMÁX.
Tabela 2. Estatística descritiva do desempenho geral do grupo
A Tabela 3 e a Figura 1 apresentam os valores descritivos (média e desvio padrão) do %VORESERVA, do %FCRESERVA e do %FCMÁX correspondente a cada %VO2MÁX, bem as diferenças detectadas por meio da aplicação da ANOVA e do Post Hoc.
Tabela 3. Média, desvio-padrão e ANOVA para o %VO2RESERVA, o %FCMÁX e o %FCRESERVA em relação aos percentuais de VO2MÁX
Mediante análise dos dados apresentados nas tabelas e figuras supracitadas, percebe-se que o %FCRESERVA não possui diferenças estatisticamente significantes em relação ao %VO2MÁX em todas as intensidades, com exceção do 30 e 85%.
Discussão
O aumento da prática de exercícios físicos em indivíduos de diversas faixas etárias e a necessidade de obter instrumentos para monitorar e controlar o treinamento tem despertado um grande interesse no desenvolvimento de estudos científicos que investiguem os métodos de prescrição dos treinamentos.
A melhor maneira de se avaliar a intensidade de determinado exercício é por meio da análise do consumo de oxigênio, contudo, esse método é de difícil aplicabilidade, pois demanda equipamentos de alto custo. É nesse contexto que surge a utilização da freqüência cardíaca, pois existe um aumento linear dessa variável em função da intensidade de esforço. É necessário salientar que tal relação deixa de existir quando o exercício atinge intensidades próximas da máxima, pois nesse momento há uma elevação da freqüência cardíaca com redução ou estabilidade do consumo de oxigênio. (COLBERG, SWAIN, VINIK, 2003; ARGRÍMSSON, STEWART, BORRANI, 2003).
Nessa perspectiva, o ACSM postula que o método ideal de prescrição de exercícios aeróbios é por meio da FCRESERVA, pois esta corresponde às intensidades do VO2RESERVA. Essa teoria também foi proposta por diversos outros autores. (WELTMAN et al., 1989; SWAIN et al, 1998; BRAWNER, KETENYIAN, EHRMAN, 2002; SWAIN et al., 2004; SWAIN e LEUTHOLTZ, 1997; COLBERG, SWAIN, VINIK, 2003; HEYWARD, 2004).
Entretanto, os dados encontrados no presente estudo vão de encontro com a relação descrita acima, pois o VO2RESERVA não possui diferenças estatisticamente significantes em relação ao FCRESERVA apenas nas seguintes intensidades relativas ao VO2MÁX: 45, 55, 75, 95 e 100. Dessa maneira, a utilização da relação %VO2RESERVA-%FCRESERVA para a prescrição de exercícios pode subestimar a intensidade nos percentuais descritos acima, pois nesses momentos o %FCRESERVA é maior do que o %VO2RESERVA.
Por outro lado, o principal achado deste trabalho foi à relação de semelhança entre o %VO2MÁX e %FCRESERVA na maioria dos percentuais do VO2MÁX, assim como proposta por outros autores. (LEHEN e MOTA, 2006). Há que se ressaltar que essa relação diferiu nos percentuais de 30 e 85% do VO2MÁX. No caso do 30%, a diferença pode ter ocorrido pelo fato de ser uma intensidade relacionada ao inicio de exercício, onde o organismo ainda está se adaptando ao trabalho, ao equipamento e à velocidade de corrida, o que pode causar respostas fisiológicas diferentes entre os sujeitos. Com relação à diferença obtida em 85% do VO2MÁX, esta pode estar relacionada ao final da transição do metabolismo aeróbio-anaeróbio, onde ocorre um aumento desproporcional do acúmulo de lactato em decorrência do aumento da intensidade de exercício. Pelo fato do %FCRESERVA estar próximo a 90% quando o consumo de oxigênio está a 85% do máximo, caso esse percentual seja utilizado na elaboração de um programa de treinamentos, recomenda-se que a intensidade da FCRESERVA seja um pouco menor, para que não haja superestimação da carga de trabalho.
O %VO2MÁX foi maior estatisticamente do que o %VO2RESERVA em quase todos os percentuais de intensidade, com exceção dos 75, 90, 95 e 100%. A aproximação do máximo esforço pode explicar a igualdade dessas variáveis em intensidades acima de 85%, pois nesse momento as variáveis cardiorrespiratórias passam a se comportar de maneira diferente, onde há um aumento da freqüência cardíaca sem um aumento concomitante do consumo de oxigênio.
É muito comum realizar a prescrição de exercícios físicos com base apenas no %FCMÁX, contudo, nos dados apresentados nesse trabalho encontramos uma diferença dessa variável em relação às outras em todos os percentuais do VO2MÁX, com exceção dos 95 e 100%. Esse fato nos permite concluir que a utilização do %FCMÁX pode subestimar a intensidade de exercício, pois esta se encontra elevada em relação ao VO2MÁX, VO2RESERVA e FCRESERVA.
Figura 3. Média, desvio-padrão e ANOVA para o %VO2RESERVA, o %FCMÁX e o %FCRESERVA em relação aos percentuais de VO2MÁX.
Conclusão
Desse modo, podemos concluir que com relação à prescrição de exercícios aeróbios para a amostra estudada, é viável a utilização do %FCRESERVA como indicador de intensidade de trabalho, pois esta é correspondente aos percentuais de consumo de oxigênio (exceção de 30 e 85%). Ainda nesse contexto, recomenda-se um cuidado especial quando da utilização do %FCMÁX para a prescrição de atividades, pois como mostrado anteriormente, a sua utilização pode subestimar a carga de exercício.
Como limitação principal do presente estudo, se tem o número reduzido da amostra avaliada, e sugere-se a repetição do estudo com um aumento do número de sujeitos avaliados.
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