Esportes radicais: uma abordagem histórica e antropológica Deportes extremos: un abordaje histórico y antropológico |
|||
*Graduando em Ciências da Atividade Física **Prof. Dr. Universidade de São Paulo ***Graduando em Ciências da Atividade Física ****Graduando em Ciências da Atividade Física NAP – Núcleo de Pesquisa Pró-Reitoria de Pesquisa USP – LUDENS (Brasil) |
Eduardo Mosna Xavier* Marco Antonio Bettine de Almeida** William Galhardo*** Felipe Paris Barbosa**** |
|
|
Resumo Uma análise dos Esportes de Aventura como uma importante alternativa de restabelecer o já afastado contato do Ser Humano com a Natureza. Através da pesquisa bibliográfica de autores e obras do gênero, situar um estudo sobre os efeitos dos Esportes de Aventura na Formação das Tribos e como um mecanismo de escape ao Processo Civilizador. Unitermos: Esportes. Aventura. Natureza. Tribos. Processo civilizador.
Abstract An analysis about the Adventure Sports like a important alternative to reestablish the already apart contact between The Nature and the Human Being. Above bibliographic research of authors and works, to place a study about the effects of the Sports Adventures in the “Tribes” Formation and how a mechanism of escape in Civilization Process. Keywords: Sports. Adventure. Nature. Tribes. Civilization process.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
O Ser Humano é um animal social. Desde os primórdios se diferenciou dos demais seres vivos não apenas por suas habilidades manuais, mas também por sua capacidade de estabelecer contatos e vínculos com os demais seres de sua raça.
Os primeiros vínculos relações sociais se estabeleceram num cenário extremamente favorável, qual seja, em contato com a Natureza. Os primórdios da evolução humana ocorreram num cenário introjetados no seio do mundo natural, em contato direto com outros animais (inclusive disputando espaço para a sobrevivência).
Com o passar dos anos e o transcorrer da evolução, os relacionamentos sociais produziram uma evolução que tendeu á afastar o Homem do convívio com a Natureza. A complexa teia de relacionamentos elaborados pelo ser humano conduziu a Humanidade a se tornar extremamente dependente, segundo Emile Durkheim (1973, p. 124), do chamado “Fato Social” (maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo e dotadas de um poder coercitivo em virtude do qual se impõe como uma espécie de obrigação).
Este tipo de evolução, denominado por Norbert Elias como “Processo Civilizador”, gerou uma acelerada etapa de urbanização, principalmente nos 03 últimos séculos, afastando vertiginosamente o Homem do convívio mais próximo da Natureza. Realmente, o impulso em diversas camadas evolutivas alcançadas em nossa sociedade atual é considerável: crescimento constante no padrão de vida, revolução no campo da medicina, conhecimentos inumeráveis em diversas áreas são provas dos benefícios da sociedade urbanizada.
Entretanto, os problemas atuais decorrentes deste processo evolutivo também atingem uma magnitude considerável. Doenças de todo gênero surgem em velocidade alarmante, a desigualdade econômica entre as inter e intra Nações também merecem destaque. Porém, do ponto de vista sociológico, um dos principais problemas encontrados em nossa Sociedade tecnológica seja o Isolacionismo (ausência de contatos sociais): a rotina e a exigência de nosso mundo globalizada forçam o homem a se afastar do convívio com outros seres humanos, perdendo a principal característica que propiciou todas suas conquistas. Nas palavras do sociólogo Karl Mannheim, “a timidez, o preconceito e a desconfiança são capazes de produzir um isolamento social semelhante ao ocasionado pelos defeitos físicos”.
O Isolacionismo deve ser combatido através do estabelecimento dos chamados “Contatos Sociais”, base de toda e qualquer associação humana. Segundo OLIVEIRA (1997, p.117), estas espécies de relações se hierarquirizam conforme o estreitamento ocasionando pela convivência no momento da prática: “Os contatos sociais podem ser primários (estabelecimento de vínculos, com é o caso das famílias) ou secundário (mera torça de informações ou de fatos (como um conversa entre passageiros de um ônibus)”.
Este trabalho tem como escopo analisar os benefícios proporcionados pelos Esportes de Aventura no estabelecimento de contatos sociais, proporcionando uma importante Atividade de Lazer nesta sociedade altamente urbanizada. Entretanto, ficará evidente a interferência cada vez mais crescente do “Processo Civilizador”, deturpando os objetivos mais profícuos do desenvolvimento destas atividades, qual seja, o redescobrimento do próprio homem através do contato direto com a Natureza, surgindo os chamados “Esportes de Aventura”, onde a presença da natureza funcionaria como pano de fundo para que o ser humano, num ambiente propício, descarrega-se todas as tensões provenientes do exaustivo “Processo Civilizador”.
Entretanto, como veremos neste trabalho, os Esportes de Aventura sofrem uma barreira significativa para sua expansão: não possuem modalidades olímpicas que englobem todas suas práticas. Com exceção do bicicross (modalidade olímpica desde as Olimpíadas de Atenas, em 2000), os outros Esportes de Aventura dependem de Comitês e Associações específicas para organizar competições, restringindo conseqüentemente a visibilidade midiática, apesar de UVINHA (2001, p.67) estabelecer que os tipos de grupos sociais formados pela prática dos Esportes Radicais contribuírem sobremaneira para propiciar um mercado lucrativo, de alta visibilidade mercadológica.
O surgimento dos esportes de aventura
No Brasil, os Esportes de Aventura, conhecidos comumente como Esportes Radicais, começaram a ganhar força de participação e visibilidade midiática a partir da década de 1980 e, segundo UVINHA (2001, p. 13) este estilo de prática esportiva se encontra em franca expansão, pois “desde a segunda metade do século XX, os Esportes Radicais, vem recebendo um considerável incremento no número de adeptos”.
Em busca de restabelecer os contatos sociais, o Ser Humano resolveu retornar de volta em suas origens, buscando entender novamente a importância do convívio social para uma evolução mais benéfica á humanidade. Nesta tentativa de retorno ao início, destacou-se novamente uma peça chave doravante esquecida: a Natureza. Diversos segmentos de nossa sociedade buscam o restabelecimento do contato com a Natureza como uma forma de se garantir uma melhor qualidade de vida e melhores vínculos sociais. Cito como exemplo a Área de Lazer e Turismo, onde os Hotéis, Pousadas e Resorts localizados imersos em Matas são cada vez mais procurados.
Este importante processo de busca da natureza também causou um importante reflexo na Área Esportiva. O crescimento vertiginoso dos Esportes e Atividades Físicas de contato com a Natureza, conhecidos comumente como “Esportes de Aventura”, apresentou um importante crescimento a partir da década de 1970. Esta impulsão gerou, inclusive, regulamentações de procedimentos através da Criação de Associações Internacionais, organização de jogos e eventos, além de exploração de mercado; demonstrando uma preocupante interferência direta do já citado “Processo Civilizador” nesta área.
Cabe salientar que os Esportes de Aventura possuem um grande número de adeptos na fase etária da juventude (dos 18 aos 30 anos). A busca pela emoção e o fenômeno da popularização da temática “Radical” na prática dos Esportes possui um significativo crescimento nas últimas décadas, gerando repercussões para esta faixa etária que merecem reflexão do ponto de vista antropológico. Entretanto, este espírito jovial dos esportes de aventura não corresponde necessariamente com a idade biológica do indivíduo. Segundo BOURDIEU (1983, p. 56), as diferenças entre os tipos de idade são as mais diversas e significativas possíveis: “As relações entre a idade social e a idade biológica são muito complexas, onde a idade é um dado biológico socialmente manipulado e manipulável”.
A velocidade de criação de novos Esportes Radicais no mundo gera um mercado extremamente lucrativo para este tipo de atividade. Neste capítulo, serão analisados os Esportes de Aventura mais praticados no Brasil, sob sua perspectiva histórica, forma de prática e, conseqüentemente, suas inserções sociológicas e antropológicas no contexto de nossa sociedade atual
Podemos citar os seguintes esportes radicais: Escalada (é um esporte que engloba caminhada e escalada em montanhas), Surfe (um dos esportes radicais mais antigos, surgiu no Havaí/EUA no início do século XX), Rapel (do francês: rappel, é uma atividade vertical praticada com uso de cordas e equipamentos adequados para a descida de paredões e vãos livres bem como outras edificações), Skate (pronuncia-se “skêit”, é um desporto inventado na Califórnia que consiste em deslizar sobre o solo e obstáculos equilibrando-se numa prancha, dotada de quatro pequenas rodas e dois eixos), Corrida de Aventura (também denominada de competições multi esportivas, são práticas que envolvem várias modalidades de esportes de aventura. em geral são realizadas em ambiente natural e têm como característica uma logística complexa, tanto na organização dos eventos como na formação e preparação das equipes de atletas), entre outras modalidades.
A interferência do processo civilizador nos esportes de aventura: o espírito competitivo e o afastamento da ludicidade.
Os Esportes de Aventura evoluíram sobremaneira nos últimos 30 anos de nossa História, sendo considerados como “modernos”. Segundo GUTTMANN (1978), os Esportes modernos possuem como várias características que o afastam de seus objetivos lúdicos: “O secularismo, a igualdade de oportunidades na competição e em suas condições, a especialização de regras, a racionalização possibilitando sua internacionalização, a organização burocrática, o impulso para a quantificação e a busca de recordes”.
Esta visão recente sobre a abordagem interpretativa do Esporte segue a chamada Escola de Frankfurt. Sobre esta sistemática de entendimento do Esporte, INGHAM (1979, p. 23) preconiza uma cisão sobre as modalidades esportivas, com ênfase na mudança de seus objetivos e propósitos, pois “um modelo de tipo ideal do esporte organizado, pensado em dois momentos históricos distintos, um denominado pré-moderno e o outro moderno”.
As características apresentadas anteriormente demonstram uma interferência direta e evidente do chamado “Processo Civilizador” na realização dos Esportes Modernos. A racionalização de sua prática buscando a disseminação de seus princípios simboliza a introspecção das modalidades esportivas (entre elas as de Aventura) na formação de uma “padronização” dos princípios de práticas típicas do preconizado por NORBERT ELIAS em sua teoria, que acredita que o esporte moderno se desenvolveu como partes deste Processo.
As atividades praticadas em contato direto com a Natureza não são encaradas meramente como atividades lúdicas, realizadas apenas nos momentos de tempo livre destinados ao afastamento do “Processo Civilizador”, tempo este a que denominamos de Lazer. Segundo MARCELLINO (1998, p. 47), o lazer, mas do que uma reação ás exigências da vida em sociedade, exterioriza uma evidente motivação de extravasar uma gama de emoções reprimidas pela exigente rotina diária: “O lazer apareceu na sociedade urbano industrial como uma esfera isolada, contraposta ao trabalho, no interior da vida social, como uma necessidade humana de diversão e confraternização”.
No mundo contemporâneo, as atividades radicais ou de aventura foram inseridas na contextualização do que denominamos de Esporte. As modalidades esportivas congregam diversos fatores positivos, favorecendo o estreitamento de vínculos sociais necessários á própria existência humana. Segundo MARCHI JÚNIOR (2006, pag. 12), o esporte pode ser entendido como um micro espaço que simboliza as tensões e sentimentos envolvidos na vida social. Para ele, o Esporte constitui “um fenômeno social em processo de constituição, ou seja,as práticas esportivas refletem no seu contexto histórico, continuidades e rupturas que caracterizam a expansão de suas fronteiras”.
Entretanto, os benefícios de toda e qualquer modalidade esportiva são questionados através da forma como se materializa a disputa e o enfrentamento, ou seja, através da competição. Segundo MARTENS (1976, p. 19), a competição existirá na medida em que o ser humano deseje compara sua performance com um outro resultado próprio ou, em sua maioria, de outro desportista. Para o autor, competição é um “processo em que a comparação de performance de um indivíduo é feita com algum padrão na presença de no mínimo uma outra pessoa que seja conhecedora do critério para comparação e possa avaliar o processo”.
A necessidade primária da competição exige que os atletas executem sempre uma performance ótima ou máxima em busca dos resultados. Segundo BROHM (1982, p. 77), a competição, com a evolução dos anos, tornou-se fator primordial na prática esportiva, apresentando-se como principal objetivo formador, não só dos mecanismos de treinamento, como da própria personalidade do atleta: “o princípio do rendimento nos Esportes Modernos surge como o motor do sistema esportivo, uma espécie de centro de gravidade em torno do qual se situam os demais elementos, um princípio pelo qual se guiam as mudanças estruturais.”
O estado competitivo determina, no final da contenda, a situação de vitória ou derrota, afastando o aspecto de ludicidade, interação com a natureza e autoconhecimento, pilares mestres da criação dos Esportes de Aventura. Para GO TANI et al (1996, p. 25), o resultado esportivo contrasta sentimentos de vitória e de derrota, refletindo diretamente na forma como o atleta irá se portar com estas sensações tão contrastantes, pois “O resultado final de uma competição implica, muitas vezes, poucas pessoas terem experimentado sucesso e muitas pessoas terem experimentado insucessos(....) sendo esta uma conseqüência natural da competição.
Ainda, segundo DIAS et al (1996, p. 45), o objetivo do Esporte sempre será o da competitividade e do rendimento, afastando a necessidade do convívio com o lúdico, tão necessário á uma melhor qualidade de vida neste mundo urbanizado.
Algumas modalidades de Esporte de Aventura possuem campeonatos estruturados, pertencendo á Associações e Federações que regulamentam a prática daquela atividade. No Brasil, o Skate é o Esporte de Aventura que possui a maior organização, realizando competições de âmbito nacional e internacional, atraindo uma grande atenção pública, principalmente pelo apelo midiático. O Modo de vida adolescente e o espírito jovial da prática de skate encontram afinidades e simpatizantes em todas as faixas etárias da população, motivando o bombardeamento dos veículos de mídia e de seus patrocinadores nesta modalidade. UVINHA (2001, p. 89) relata que a visibilidade dos Esportes radicais para o público mais jovem constitui num interessante atrativo para os veículos de mídia e de comunicação. Conforme relato de sua obra, “os Esportes Radicais (aí inserido o skate), associados geralmente com os hábitos e modo de vida do adolescente, parecem cada vez mais na programação das mídias (...) gerando, inclusive, programas especializados em Esportes Radicais”.
A sociedade passa por um processo evolutivo e de mudança, classificada por Auguste Comte como “dinâmica social”, ou seja, a forma como as sociedades caminham na busca de seu desenvolvimento. A formação de um mercado consumista especializado pode refletir como um resultado da dinâmica social de surgimento de agrupamentos sociais que consomem os produtos destinados aos “Esportes de Aventura”. Entretanto, para DURHAM (1977, p. 32), o consumismo não é explicado meramente por influência da Mídia, mas por uma identificação profunda com os conceitos neles representados: “há que se eliminar a concepção simplista que opõe os consumidores aos produtores de cultura em termos de uma aceitação puramente passiva por parte do público, de um material que lhe é impingido de fora”.
A dinâmica social da formação das “tribos”: sua relação com a juventude e o surgimento de um promissor mercado consumidor
Os Esportes de Aventura se caracterizam pela formação de grupos, que compartilha a mesma identidade tanto moral quanto física. Estes agrupamentos são costumeiramente denominados de “Tribos”.
MAFESSOLI (1988, p. 28) entende que as tribos se materializam na sociedade moderna em diversos tipos de segmentos, através do sincretismos e da somatória de diversos estilos de vida e de pensamento, formando um novo grupo totalmente singular no contexto das cidades.
As cidades contemporâneas são povoadas por tribos, o que implica que, na sua pluralidade de origens e comportamentos, as sociedades não nascem na redução da diversidade á um elemento centralizador único, mas da conjunção de elementos díspares(....) Esta sociedade tribalista sente necessidade de consolidar o sentimento de união coletiva e de restauração daquilo que constitui o fundamento de “ser / estar-junto-com.
Segundo BRUNHS (2009, p. 39), a formação das Tribos tem uma vinculação maior com os Esportes da Natureza, onde a busca pelo afastamento da rotina imposta pela sociedade potencializa a formação de grupos de pessoas com características similares, materializadas na rotina de vidas destas pessoas. Diferentemente do preconizado por MAFESSOLI, a autora acredita que a formação das tribos, principalmente de suas características ideológicas, gera um afastamento natural do consumismo, já que a maioria destes grupos ojeriza tal comportamento, por afastar o homem de seu aspecto natural.
As tribos, formadas principalmente pela proximidades com fatores “extra” urbanos, se materializa pela busca do lazer pelas pessoas impregnadas pelas rotinas, forçando-as á buscar a natureza como um mecanismo de fuga. Peregrinação ao movimento hippie, ocorridas na década de 1960 nos Estados Unidos, materializam esta idéia de como a busca pela natureza representava uma contestação destes grupos em relação aos valores á determinada forma de produção e de consumo
MAGNANI (1992, p. 58) observa que as tribos são constituídas de uma espécie de pessoas que se unem por um objetivo comum, normalmente, formada de um evento que ocorre na sociedade, produzindo um estilo de pensamento compartilhado por uma série de pessoas, criando uma espécie de identidade.
Quando se fala em “tribos” é preciso não esquecer que na realidade está se usando uma metáfora, não uma categoria: a diferença é que enquanto aquela é formada de outro domínio, e empregada em sua totalidade, “categoria” é construída para recortar, descrever e explicar algum fenômeno a partir de um esquema conceitual previamente escolhido; pode até vir emprestada de outra área, mas neste caso deverá passar por um processo de reconstrução.
Estas “Tribos” de praticantes de Esportes de Aventura se comportam e se vestem de forma características e peculiares. Este exemplo fica bem evidenciado na chamada “Tribo do Skate”, onde jovens do sexo masculino e feminino apresentam o mesmo estilo de vestimentas (bermudas folgadas, tênis típicos, camisões e bonés), além de utilizar ao mesmo linguajar específicos para se comunicar, com a utilização excessiva de gírias.
No Brasil, o Skate e o Surfe são mercados lucrativos em decorrência do grande número de adeptos ás “Tribos” destas modalidades. Lojas com artigos especializados, revistas específicas e a proliferação de sites para adeptos são exemplos do poderio econômico que pode ser gerado com a comercialização de produtos específicos.
O constante processo de globalização, o que preconiza a formação, segundo SÁ & BRANDÃO (2009, p. 02) de uma “Sociedade Internacional”, faz com que a disponibilidade de veículos de comunicação em massa potencialize a disseminação de aspectos culturais e, conseqüentemente, mercadológicos.
A Juventude (e as pessoas que como tal se consideram) normalmente denominam os Esportes de Aventura como Esportes Radicais. Tradicionalmente, a juventude representa o aspecto de mudança dentro da retrocitada teoria da dinâmica social, já que ela é responsável pelo aspecto de mobilidade de pensamento e de atitude que equilibram a balança da evolução social com as camadas mais tradicionais e estanques. Este espírito de jovialidade está intrinsecamente presente na radicalidade dos esportes praticados em contato com a natureza, já que, conforme ensina UVINHA (2001, p. 09), a interpretação do conceito de radical suplanta o aspecto físico, atingindo as esferas ideológicas: “A palavra radical geralmente sugere dois entendimentos: extremismo, quando aplicada ao campo da política; raiz, quando se busca a origem de algo, freqüentemente utilizado, por exemplo, no campo da filosofia”.
Entretanto, no tocante á prática de esportes, o termo “radical” está voltado á uma atividade que gere uma excitação diferenciada, devido aos riscos controlados em que a pessoa “física e mentalmente jovem” está sujeita á aceitar na prática de tal atividade. Ainda segundo UVINHA (2001, p. 13), os esportes radicais têm em comum o gosto pelo risco e pela aventura, muitos com a proposta de se engajar também em causas de preservação ecológica.
Esta procura por sentimentos catárticos de êxtase e excitação, características da juventude e contagiadas para todas as faixas etárias, são um fenômeno recente em nossa História. Segundo TAHARA & SCHWARTZ (2006, p. 39), a constante procura do ser humano com a natureza propicia experiências que refletem também no estilo de vida das pessoas que vivenciam tais práticas.
A busca pela aventura, pelo desconhecido, longe dos padrões urbanos, tem se mostrado mais freqüente ultimamente, quando se percebe o aumento de vivências naturais, presente nas atividades físicas de aventura em contato direto com o meio ambiente natural, no sentido de buscar condições favoráveis à possibilidade de imprimir mais qualidade à vida
Esta procura constante de expandir eventuais emoções reprimidas por um sentimento de excitação foi previsto dentro da própria “Teoria do Processo Civilizador”. Segundo ELIAS, os momentos de lazer são essenciais para proporcionar ao ser humano uma fuga das regras e regulamentos que regem a sociedade urbanizada. Os Esportes Radicais poderiam ser considerados como a atividade de lazer máxima, onde o indivíduo busca ao máximo o sentimento de excitação em prol de aliviar as tensões proporcionadas por nossa sociedade.
Considerações finais
A prática dos Esportes, apesar de apresentar uma caráter de alta performance e rendimento em decorrência da competição envolvida em sua prática, afastam uma série de benéficos e de experiências sociais que poderiam ser proporcionadas em decorrência da convivência e do estabelecimento de vínculos sociais
Os Esportes de Aventura possibilitam a interação da ludicidade proveniente de um menor espírito competitivo aliado ao necessário contato com a natureza, propiciando ao ser humano um momento o necessário afastamento da rotina das cidades em busca de um contato maior com seu “habitat” de origem. Estas experiências catárticas, propiciadas por estas modalidades esportivas, tem atingido diretamente grupos sociais com tendências a buscar novas experiências, caracterizadas por um espírito de jovialidade e de empreendedorismo importantes para garantir um equilíbrio na evolução das dinâmicas socais necessárias em nossa sociedade.
Os benefícios dos Esportes de Aventura (também conhecidos como Esportes Radicais) são variados: além de permitir uma maior aproximação com a Natureza, incita o extravasamento de emoções reprimidas que poderiam ser materializadas de forma imoral (como a prática de violência, por exemplo), direcionado positivamente a Busca da Excitação (preconizada por ELIAS e DUNNING em suas Teorias). O evidente aumento no número de praticantes destas espécies de modalidades, que afastam o caráter competitivo, representam uma readaptação da prática esportiva, que não se limita apenas á competição, mas também apresenta um caráter introspectivo (onde o indivíduo conhece e avalia sua condição) com “extra” perspectivo (como forma de se estabelecer os vínculos sociais, necessários em qualquer sociedade)
A diversa variedade de modalidades de Esportes de Aventura, encontradas em Terra, Ar e Água, permitem ao desportista, além da Busca da Excitação, a interação positiva com outras pessoas que compartilham dos mesmos gostos, proporcionado a formação das chamadas “Tribos”, que exteriorizam o gosto por aquele Esporte de Aventura em seu modo de ida (linguajar, vestimentas, comportamentos, entre outros).
Apesar da maioria dos Esportes de Aventura não possuírem visibilidade midiática, , o grande número de “Tribos” de praticantes, aliada ao alto mercado lucrativo da venda de artigos relacionados, propicia a formação de algumas Associações e Confederações (principalmente as ligadas ao Skate e ao Surfe), que organizam Torneios de alta visibilidade, envolvendo um poderio financeiro considerável, funcionando como um círculo virtuoso na divulgação destes esportes, aumentando ainda mais o número de seus praticantes.
Ademais, os Esportes de Aventura eliminam as barreiras sociais entre os sexos, pois propiciam (em algumas modalidades, como a Corrida de Aventura), eu homens e mulheres participem em igualdade de condições executando as mesmas atividades. O espírito jovem da prática destas modalidades também contagia pessoas de todas as idades á executarem suas modalidades, favorecendo uma maior qualidade de vida á todas as faixas etárias da população.
A participação cada vez maior de adeptos ás modalidades de Esportes Radicais, entretanto, aumenta a interferência cada vez maior do “Processo Civilizador” em suas práticas, a exigência de regulamentos, equipamentos e treinamentos específicos geram uma barreira social perceptível, afastando as camadas menos abastadas da prática destas Atividades (com exceção do Skate, do Surfe e do “Bicicross”, cujos equipamentos possuem um menor valor monetário).
Os Esportes de Aventura propiciam atividades de lazer significativas, em sua maioria em interação com a natureza, funcionando como uma válvula necessária ao estresse gerado por nossa Civilização Moderna. Portanto, é necessária a existência de Políticas Públicas que regulamentem e disseminem a prática destas modalidades, excluindo a barreira social existente, permitindo que todas as esferas sociais se favoreçam com os inúmeros benefícios provenientes de sua consecução. Para garantir a continuidade da propagação dos fatores positivos destas espécies de esporte, é de fundamental importância que a profissionalização crescente de alguns tipos de esportes radicais não restrinjam a ludicidade e o espírito de jovialidade e de aventura que norteiam estas práticas.
A crescente institucionalização dos Esportes Radicais, influenciada diretamente pelo apelo midiático e mercadológico em decorrência dos potenciais e promissores esferas de consumidores (Tribos) devem constituir um importante fator de preocupação de Associações de desportistas destas modalidades, de forma a evitar que o espírito das práticas destes esportes se transforme numa acirrada competição por resultados.
Referências bibliográficas
ARISTÓTELES. Política. São Paulo, Abril Cultural, 2º Edição, 1973 (Coleção Os Pensadores).
BOURDIEU, P.A. A juventude é apenas uma palavra. In: Questões de sociologia. Rio de Janeiro, Editora Marco Zero, 1983.
BROHM, J.M. Sociologia política del deporte. Cidade do México. Fundo CE Cultura Econômica, 1982
BRUHNS, H.T. A busca pela natureza: turismo e aventura. Barueri. Editora Manole, 2009.
DIAS, C.A.G. & MELO, V.A. & JUNIOR, E.D.A. Os Estudos dos esportes na natureza: desafios teóricos e conceituais. Artigo Científico publicado na Revista Portuguesa de Ciência Desportiva, pág. 358 a 367.
DURHAM, E. A dinâmica cultural na sociedade moderna. Rio de Janeiro. Editora Ensaios de opinião 2+2, 1977.
DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo, Abril Cultural, 1973 (Coleção Os Pensadores).
GUTTMANN, Allen. From ritual to Record – the nature of modern sports. In PRONI, Marcelo & LUCCENA, Ricardo. Esporte: História e Sociedade. Campinas. Editora Autores Associados, 2006.
INGHAM, A.G. Methodology in the sociology of sports: from symptoms of malaise to Weber for a cure. In PRONI, Marcelo & LUCCENA, Ricardo. Esporte: História e Sociedade. Campinas. Editora Autores Associados, 2006.
LUCENA. Ricardo de Figueiredo. O Esporte na Cidade. Campinas. Editora Autores Associados, 2001.
MAFESSOLI, Michel. O Tempo das Tribos. Rio de Janeiro. Editora Forense Universitária, 1988
MAGNANI, J.G. Festa no pedaço. São Paulo. Editora Brasiliense, 1984.
MARCELLINO, Nelson. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas. Editora Autores Associados, 1998.
MARTENS, R. Competitions: in need of theory. In TANI, GO et al. Competição no Esporte e Educação Física Escolar. Texto científico produzido no livro Saúde Escolar – A criança, a vida e a escola, 1997.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução á Sociologia. São Paulo, Editora Ática, 18ª Edição, 1997.
PRONI, Marcelo & LUCCENA, Ricardo. Esporte: História e Sociedade. Campinas. Editora Autores Associados, 2006.
SÁ, Mário & BRANDÃO, Leonardo. Esportes Radicais: Indícios de uma nova sociedade internacional em um mundo globalizado? Revista Esporte e Sociedade, ano 4, n.11, 25 - 41.
TAHARA, Alexander Klein & SCHAWRTZ, Gisele Klein. Atividades de Aventura na Natureza: investindo na Qualidade de Vida. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 58, 2003. http://www.efdeportes.com/efd58/avent.htm
UVINHA, Ricardo Ricci. Juventude, Lazer e Esportes Radicais. Barueri/SP, Editora Manole, 1ª Edição, 2001.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 158 | Buenos Aires,
Julio de 2011 |