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Relação de DC e IMC entre escolares 

hipertensos, limítrofes e normotensos

Relación de pliegues cutáneos e índice de masa corporal en escolares hipertensos, fronterizos y normotensos

 

*Licenciada em Educação Física. Ulbra Torres/RS

**Professora Ulbra Torres/RS

Mestre em Ciências do Movimento Humano: Fisiologia. Udesc/SC

(Brasil)

Quéli Feron*

Carla Pinheiro Lopes**

lopescarla.p@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O excesso de peso, o sedentarismo e o aumento no número de crianças e adolescentes que apresentam hipertensão arterial vem crescendo dentre a população mundial no decorrer dos últimos anos. Este estudo tem por intenção focar o componente lipídico infanto juvenil em relação à PA de indivíduos normotensos, limítrofes e hipertensos referenciados em estudo anterior com mesma população escolar. Assim sendo, o objetivo desta pesquisa é verificar o componente lipídico e relacioná-lo a outras características de referência do grupo de estudo, tais como, Índice de Massa Corpórea (IMC) e Índices Pressóricos de Perfusão (PAM). Trata-se de um estudo longitudinal, composto por um total de 30 escolares, sendo 15 do sexo masculino e 15 do sexo feminino com idades entre 11 e 16 anos pertencentes a uma Escola do município de Cambará do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul. Para o tratamento estatístico dos dados utilizou-se a média e desvio padrão dos valores de IMC, Percentual de Dobras Cutâneas (DC) e PAM dos grupos normotenso, limítrofe e hipertenso. Na Análise de significância utilizou-se Teste T - Student e na correlação das variáveis, a correlação de Pearson. Observamos nos três grupos que a média do %GC, do IMC e da PAM aumentou gradativamente conforme a classificação em que os indivíduos se encontram. Observamos também correlação forte entre IMC e % lipídico, média entre IMC e PAM e fraca entre %GC e PAM. A partir dos resultados do teste T – Student pode-se dizer que há associação significativa entre o percentual de gordura e a PAM e entre o IMC e a PAM do total do grupo estudado.

          Unitermos: Escolares. Hipertensão arterial. Índice de Massa Corpórea.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A hipertensão arterial (HA) é prevalente na população brasileira, influenciando na gênese e co-morbidades cerebrovasculares, coronarianas, em doença de retina, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica e nas doenças vasculares1.

    A HA parece seguir características semelhantes tanto em adultos como em crianças afetadas pelo problema, tais como: maior frequência de casos na forma primária e comportamento assintomático, o que dificulta o diagnóstico na presença da doença2.

    Estudos longitudinais têm reportado maior probabilidade de crianças com níveis de pressão arterial elevados tornarem-se, quando adultos, portadores de hipertensão arterial3,4.

    Um crescente e preocupante aumento no número de casos de obesidade na população mundial, inclusive entre a população mais jovem, tem sido descrito em estudos epidemiológicos5,6.

    A obesidade pode resultar de fatores endógenos ou exógenos. A endógena representa 5% ou menos dos casos na atualidade, e apresenta origem hereditária/congênita, psicogênica, medicamentosa, neurológica e endócrina. Por sua vez, a exógena pode representar 95% ou mais dos casos, com origem relacionada a fatores ambientais, culturais, sociais e emocionais e, principalmente, à hipoatividade (sedentarismo) e a inadequação alimentar entre qualidade, quantidade e alto consumo de fast-food7.

    O contexto social e as alterações no estilo de vida da população incentivam a permanência de crianças e adolescentes a um crescente sedentarismo. Ao mesmo tempo, essas mesmas crianças e adolescentes têm acesso facilitado a uma alimentação hipercalórica, priorizando lipídios e carboidratos8.

    Este estudo tem por intenção focar o componente lipídico infanto juvenil em relação à PA de indivíduos normotensos, limítrofes e hipertensos referenciados em estudo anterior com mesma população escolar.

    Justifica-se pelas evidências referenciadas bibliograficamente e pela tentativa de abordar diretamente se há relação entre a composição lipídica destas crianças e adolescentes e as pressões sanguíneas registradas, temas este, abordado quantitativamente, valores de pressão arterial em crianças e adolescentes segundo tabela de referência em idade e percentis do sexo masculino e feminino9 conforme os percentis adotados pela MAPA10.

    Assim sendo, o objetivo desta pesquisa é verificar o componente lipídico e relacioná-lo a outras características de referência do grupo de estudo, tais como, Índice de Massa Corpórea (IMC) e Índices Pressóricos de Perfusão (PAM).

Métodos

Caracterização do estudo

    Trata-se de um estudo longitudinal, composto por um total de 30 escolares, sendo 15 do sexo masculino e 15 do sexo feminino com idades entre 11 e 16 anos pertencentes a uma Escola do município de Cambará do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul. Os alunos foram convidados a participar do estudo e os pais ou responsáveis legais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a participação de seus filhos.

Procedimentos de coleta

    O Índice de Massa Corpórea (IMC) foi calculado pela razão peso (kg)/altura² (m) e classificado de acordo com o protocolo de Conde e Monteiro¹¹ e Gaya e Silva¹².

    A composição corporal foi obtida através das medidas das dobras cutâneas Tricipital (Tric) e Subescapular (Sub), sendo realizadas três medidas em cada ponto anatômico, no hemicorpo direito, sendo calculadas suas médias. O percentual de gordura corporal (%GC) foi estimado elas equações de Slaughter et al¹³ de acordo com o sexo e o somatório das dobras, assim sendo:

    De acordo com Francisco14 (2009, p. 32) recorremos à fórmula de Slaughter et al (1988) para meninos de diferentes faixas etárias com somatório das dobras inferior a 35mm, nomeadamente:

  • %GC: 1,21 (Tric + Sub) – 0.008 (Tric + Sub)² – 3.4

    Para meninas de todas as idades, segundo Slaughter et al (1988) quando o somatório das dobras for inferior a 35mm:

  • %GC: 1,33 (Tric + Sub) – 0,013 (Tric + Sub)² - 2,5

    Porém, quando o somatório das dobras for maior que 35mm, segundo Slaughter et al (1988), devemos utilizar as seguintes fórmulas:

  • para meninos (todas as idades): %GC: 0,783 (Tric + Sub) + 1,6

  • para meninas (todas as idades): %GC: 0,546 (Tric + Sub) + 9,7

    Os valores de PA foram extraídos de pesquisa ao banco de dados de estudo anterior realizado por Silva e Lopes15 com os mesmos escolares, sendo por estes classificados como normotensos, limítrofes e hipertensos. Aos valores de pressão arterial diastólica e sistólica foi aplicada a fórmula para obtenção da PAM, a seguir:

  • PAM: PAS + 2PAD/3

    Para o tratamento estatístico dos dados utilizou-se a média e desvio padrão dos valores de IMC, %GC e PAM dos grupos normotenso, limítrofe e hipertenso. Na Análise de significância utilizou-se Teste T - Student e na correlação das variáveis, a correlação de Pearson.

Resultados e discussão

    A amostra deste estudo foi constituída de 30 escolares, sendo 15 do sexo feminino (50%) e 15 do sexo masculino (50%) com idade de 11 a 16 anos, média de 13 e desvio padrão de ± 1,3 anos.

    Os valores de média e desvio padrão das variáveis (%GC, IMC e PAM) nos três grupos (normotenso, limítrofe e hipertenso) e valores totais encontram-se na tabela 1.

Tabela 1. Valores de média e desvio padrão das variáveis estudadas

    Os resultados encontrados para a média do percentual de gordura corpórea da amostra (%GC) nos três grupos demonstram que estes valores aumentam conforme a classificação dos escolares, sendo que os normotensos apresentam média de 17,48%, os limítrofes 19,99% e os hipertensos de 27,93%. Estes dados estão presentes na figura 1.

    Um estudo realizado na cidade de Campo Grande, MS, na qual foram avaliadas 129 crianças e adolescentes que procuravam atendimento para tratamento da obesidade no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, constatou que, tanto o IMC como o percentual de gordura (%GC) apresentam diferença entre indivíduos normotensos e hipertensos, sendo o segundo grupo aquele no qual foram encontrados valores mais altos16.

Figura 1. Média do %GC do grupo normotenso, limítrofe e hipertenso

    Com relação ao IMC dos grupos observamos que seus valores também sofrem aumento conforme a classificação em que se encontram. O grupo normotenso apresenta média de 18,12 kg/m². O grupo limítrofe demonstra média de 20, 95 kg/m² e o grupo hipertenso, média de 23 kg/m², sendo observados estes valores na figura 2.

    Em Delaware, nos Estados Unidos, um estudo com crianças e adolescentes obesas diagnosticou que 34,7% desses jovens apresentavam pressão elevada. Desses, 27,9% apresentam pré-hipertensão, e 6,8%, hipertensão17. Outro estudo, também originário dos Estados Unidos, demonstrou associação entre IMC e pressão arterial em crianças e adolescentes: concluiu-se que, quando a classe do IMC aumentava, PAS e PAD também aumentavam18.

    No Brasil, diversos estudos realizados com crianças e adolescentes, constataram que o IMC, a circunferência da cintura e as pregas cutâneas, têm forte influência sobre os valores da pressão arterial19-22.

Figura 2. Média do IMC do grupo normotenso, limítrofe e hipertenso

    Quanto à análise da PAM dos indivíduos é possível observar, por meio da figura 3, que estes valores aumentam significativamente conforme o grupo em que se encontram. Os escolares classificados como normotensos apresentam média de 80,21; os limítrofes de 89,04 e os hipertensos de 93,74.

Figura 3. Média da PAM do grupo normotenso, limítrofe e hipertenso

    No gráfico de dispersão (Fig.4) pode ser observada a correlação de forte evidência (0,85) entre as variáveis IMC e % lipídico, do total de crianças e adolescentes do estudo.

Figura 4. Dispersão Gráfica entre Correlação dos dados de % de Gordura Subcutânea (x) e IMC (y)

    Na correlação entre os fatores de percentual de compartimento lipídeo e pressão de perfusão (PAM) (Fig.5), houve dispersão de fraca evidência (0,29) na distribuição dos valores entre estas variáveis, quando observadas no total de dados registrados no grupo de estudo.

Figura 5. Dispersão Gráfica entre Correlação dos dados % Gordura Subcutânea (x) e Pressão Arterial Média - PAM (y)

    Na figura 6 está representada a correlação (0,40) entre as variáveis de Índice de Massa Corpórea (IMC) e PAM com dispersão média entre os dados registrados no total de estudantes observados neste estudo.

Figura 6. Dispersão Gráfica entre Correlação dos dados IMC (x) e Pressão Arterial Média - PAM (y)

    A partir da análise dos resultados do teste T – Student pode-se dizer que há associação significativa (1,38468E-23) entre o percentual de gordura e a PAM do total de escolares deste estudo. Também há grande associação (6,92978E-27) entre o IMC e a PAM do total do grupo estudado.

    Estudos têm demonstrado resultado semelhante. Ribeiro e cols.21 avaliaram 1.450 estudantes de 6 a 18 anos e comprovaram que os que apresentaram IMC elevado apresentam 3,6 vezes mais risco de ter pressão arterial sistólica (PAS) e 2,7 vezes mais risco de ter pressão arterial diastólica (PAD) elevadas.

    Quanto às análises realizadas separadamente dentre os três grupos, verificamos que, no grupo dos normotensos, obteve-se associação significativa entre as variáveis %GC e PAM (5,38149E-12) e entre as variáveis PAM e IMC (7,58015E-13).

    No grupo limítrofe encontramos significância entre as variáveis PAM e IMC (7,88184E-08) e entre %GC e PAM (6,28384E-06).

    O grupo dos escolares hipertensos também apresentou associação significativa entre %GC e PAM (9,57118E-07) e entre as variáveis PAM e IMC (1,81702E-08). Portanto, podemos afirmar que no total do grupo estudado e nos três grupos distintamente, encontramos significância entre as variáveis %GC e PAM e entre PAM e IMC.

    Monego e Jardim23 constataram significante associação entre excesso de peso corpóreo e HAS ao estudarem 3.169 escolares. Ao observarem dados de pressão arterial e IMC de 536 adolescentes de 11 a 18 anos, Guimarães e cols.19, verificaram que o aumento percentual de PAS e PAD elevadas acompanhou o aumento do IMC e que cada elevação no IMC aumentaria a PAS em 1,198 mmHg.

Conclusão

    A partir do presente estudo conclui-se que se faz necessária maior atenção à manutenção da saúde e da qualidade de vida de crianças e adolescentes em idade escolar. Os resultados obtidos nos mostram que a alteração na pressão arterial está relacionada com o aumento de IMC e o percentual elevado de gordura corpórea dos estudantes. Com isso, sabemos que, aumenta-se o risco destes indivíduos adquirirem doenças na idade adulta. Para que isto não venha a ocorrer, precisa-se que seja dada ênfase a melhorias do estilo de vida destas crianças e adolescentes, principalmente aqueles que apresentaram valores considerados altos para sua faixa etária, tanto em PAM, como em IMC e %GC, considerando que estes fatores, apresentaram significante associação entre os escolares estudados.

    Para tanto, o controle das variáveis analisadas (%GC, IMC e PAM) deve estar diretamente associado à prática regular de atividades físicas, e, portanto, a escola e as aulas de Educação Física podem se tornar grandes contribuintes na promoção da saúde destes estudantes.

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