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Concentração de lactato e avaliação da performance na recuperação

passiva e ativa após exercício de alta intensidade e curta duração

Concentración de lactato y evaluación de la performance en la recuperación

pasiva y activa post ejercicio de alta intensidad y corta duración

 

*Curso de Educação Física, CCBS. Universidade Presbiteriana Mackenzie

LACEF – Laboratório do Curso de Educação Física

GEBEA – Grupo de Estudos em Biodinâmica Experimental e Aplicada

**Curso de Educação Física - UNISA e do Curso de Educação Física

Faculdade Nossa Cidade de Carapicuíba

***Curso de Educação Física – Universidade São Judas Tadeu

Anderson Teles da Silva*

Luciana Takahashi Carvalho Ribeiro**

Érico Caperuto* ***

Marcela Meneguello-Coutinho*

marcela.mc@mackenzie.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Ao se praticar exercício físico extenuante, o metabolismo energético anaeróbio lático se torna mais ativo, contribuindo para o aumento da acidez intramuscular, resultando em uma maior produção de lactato muscular e, portanto, aumentando a concentração de lactato sanguíneo. Conseqüentemente o acúmulo de lactato no sangue é reconhecido por muitos autores como sendo um dos marcadores de fadiga, pois sabe-se que este acúmulo está associado a uma redução na performance. Dessa forma, este estudo teve como objetivo verificar a influência da recuperação passiva e ativa na concentração de lactato sanguíneo e avaliar a performance após exercício de alta intensidade e curta duração. Para isso 5 atletas foram submetidos a uma bateria de 4 testes de Wingate para simular uma situação de exercício de alta intensidade e curta duração. Após esta bateria de testes, em 2 momentos distintos, foram submetidos por 20 minutos a recuperação passiva (em repouso) e ativa, realizada pela prática de exercício no cicloergômetro a uma intensidade equivalente ao score 12 da Escala da Borg. Após os 2 tipos de recuperação, um novo Teste de Wingate foi realizado para avaliar a performance. Foi avaliado antes, durante e após o período de recuperação as concentrações de lactato sanguíneo, a potência anaeróbia de pico e média, e o índice de fadiga. Os resultados encontrados não demonstraram haver uma diferença significativa na concentração de lactato dos atletas submetidos aos testes de Wingate seguido de um período de 20 minutos de recuperação passiva e ativa (respectivamente, 12,08 ± 2,66 vs. 10,54 ± 2,65 mmol x l,). Além disso, não houve diferença na performance, avaliada pelo cálculo do pico de potência, potência média e índice de fadiga após os 20 minutos da recuperação passiva vs. ativa

          Unitermos: Lactato. Recuperação ativa e passiva. Fadiga. Performance. Teste de Wingate.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O desempenho esportivo (performance) está intimamente relacionado ao processo de treinamento, que deve estar adequado a condição do atleta por meio de periodizações planejadas e específicas (Bompa, 2002; Platonov, 2005). Para que o atleta se adapte gradativamente às exigências físicas impostas pela modalidade esportiva, a recuperação entre as sessões de treinamento, bem como a forma como esta é realizada, acaba sendo de extrema importância para a melhora do rendimento do atleta (PEREIRA e SOUZA, 2005; PLATONOV, 2005).

    Por este motivo se torna necessário o conhecimento de marcadores fisiológicos que determinam o estado de recuperação do organismo após o período de treinamento E dentre estes marcadores há a medida do lactato sanguíneo, que aumenta em decorrência da produção pelo músculo esquelético ativo proporcionalmente à intensidade do exercício, condição física de um indivíduo e a recuperação de uma sessão de exercícios (MACHADO, 2008, MOREIRA et al., 2009; VILLAR e DENADAI, 1998).

    Atualmente é questionável a associação do lactato sanguíneo como agente causador de fadiga, pois a sua formação ocorre junto a outras modificações celulares como o acúmulo de íons de hidrogênio (H+) e, conseqüentemente, a diminuição no pH intramuscular (Ascenção, 2002; Machado, 2008, Maughan, 2000; Villar e Denadai, 1998). E sabe-se que estes dois fatores são essenciais para a formação do lactato muscular, dessa forma, o lactato pode não ser um agente que leva a fadiga (Machado, 2008), mas pode ser considerado como seu principal indicador, já que é formado na célula muscular, em condições que levam a fadiga, e é facilmente avaliado, pois após sua formação no músculo é direcionado à corrente sanguínea.

    McArdle, Katch e Katch (2003) afirma que o lactato é uma fonte de energia muito valiosa que se acumula ao longo do exercício intenso, pois logo após a recuperação, o lactato é oxidado, a fim de formar ATP. Maughan (2000) afirma que o lactato tem dois destinos principais, primeiro a oxidação para CO2 e H2O no músculo esquelético inativo e no miocárdio; e, segundo, gliconeogênese hepática. Neste último processo, as moléculas de piruvato formadas a partir do lactato podem ser reconvertidas em glicose no Ciclo de Cori, que não tem somente o papel de remover o lactato, mas também, reabastecer as concentrações de glicose no sangue e que podem ser utilizados durante o exercício.

    A remoção de lactato pós exercício pode ser considerada fator importante para atletas que necessitam atingir níveis de performance elevados em um curto período de tempo (Franchini et al., 2004; Ribeiro et al., 2002), pois necessitam de uma recuperação muscular rápida para que passam suportar a realização de diversas provas seqüenciais. Este fato é observado com atletas do atletismo, que participam de diversas provas em um curto período de tempo, como ocorre nas provas combinadas, como por exemplo no decatlo que agrega em apenas 2 dias, 10 provas distintas. Dessa forma, potencializar a remoção de lactato na fase pós exercício (recuperação) pode ser uma estratégia para melhorar o desempenho dos atletas.

    Existem vários métodos para a realização da recuperação após a prática do exercício, dentre elas tem-se a recuperação totalmente passiva, caracterizada pelo descanso e repouso após o exercício, e recuperação ativa que, segundo Oliveira et al. (2002), é realizada com a prática de exercício aeróbio leve ou moderado após a atividade extenuante, sendo considerada mais eficaz para a remoção de lactato sanguíneo do que a recuperação totalmente passiva.

    Sendo assim, este estudo teve como objetivo verificar a influência da recuperação passiva e ativa na concentração de lactato sanguíneo e na performance após exercício de alta intensidade e curta duração.

Metodologia

Sujeitos

    Foram selecionados para esta pesquisa, 5 sujeitos do gênero masculino, integrantes de uma equipe de atletismo que competem em nível profissional adulto, e que participam de sessões treinamento com 3 horas de duração, 6 dias por semana, há, pelo menos, 4 anos.

    Os atletas foram informados dos riscos envolvidos na realização do estudo, e participaram voluntariamente após ler, concordar e assinar o termo de consentimento informado. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, processo CEP/UPM no. 1013/11/07 e CAAE – 0064.0.272.000-07, em consonância com a resolução do Conselho Nacional de Saúde do Brasil - CNS no.196/6, e de acordo com a Declaração de Helsinque.

Protocolos utilizados

    Teste de WINGATE – Consiste em pedalar na maior velocidade possível, durante 30 seg., em um cicloergômetro com uma carga fixa equivalente a 5% do peso corporal do avaliado (Franchini, 2002).

    Para análise da performance levou-se em conta a Potência de pico (PP) correspondente a máxima potência encontrada no teste; a Potência Média (PM), potência gerada durante os 30 segundos do teste; e o Índice de fadiga, calculado pela equação:

    Coleta de sangue - A coleta consistiu na punção com lanceta descartável do lóbulo da orelha direita, após assepsia com álcool 70º, para a obtenção de 25 ul (microlitros) de sangue para análise do lactato.

    Análise da Concentração de Lactato - Utilizou-se o equipamento Yellow Springs 1500 Sport (Yellow Springs, USA) para a quantificação do lactato presente no sangue coletado. As amostras foram conservadas em solução a 1% de Fluoreto de Sódio e analisadas, tendo como referência um padrão conhecido equivalente a 5 mmol x l-1 (fornecido pelo fabricante) e a calibração do equipamento foi realizada a cada 10 análises.

Procedimento experimental

    Todo o procedimento experimental foi realizado no Laboratório do Curso de Educação Física – Mackenzie (LACEF), sendo os sujeitos avaliados em 2 momentos distintos caracterizados a seguir.

1ª Momento: Foi coletado o peso e altura dos sujeitos que em seguida foram submetidos a uma bateria de 4 Testes de WINGATE, com intervalos de 1 minuto entre cada repetição, para simular atividades intermitentes de curta duração e alta intensidade

    Imediatamente ao término de cada teste foi coletada uma amostra de sangue para a dosagem de Lactato sanguíneo, para caracterizar a intensidade do exercício. Após a execução do 4º teste, o sujeito permaneceu 20 minutos em repouso (Recuperação passiva), sendo a coleta de sangue realizada a cada 5 minutos, mais precisamente aos 5, 10, 15 e 20 minutos da recuperação. Ao final do vigésimo minuto, realizou-se novamente um teste de Wingate, para avaliação da performance, e posteriormente, mais uma coleta de Lactato.

2ª Momento: Idem a 1ª avaliação, diferindo apenas na fase de recuperação. Neste caso, a recuperação foi ativa, caracterizada pela realização do exercício em cicloergômetro com intensidade leve a moderada, determinada pelo score 12 da Escala de Borg (MENDONÇA e PEREIRA, 2007).

    Os atletas foram orientados a não fazerem esforços físicos no dia do teste, bem como realizar a ingestão de alimentos 3 horas antes dos testes. Entre cada momento foi respeitado um período mínimo de 48 horas para houvesse a total recuperação do exercício realizado.

Tratamento de dados

    Os resultados foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA), seguido do teste de ‘Tukey’, e o nível de significância fixado à p < 0,05.

Resultados e discussão

    Os atletas do grupo avaliado possuíam a média de idade em 22,8 ± 11,6 anos, altura 174,6 ± 7,64 cm e peso 69,0 ± 6,1 kg.

    Em relação à execução consecutiva de 4 Testes de Wingate como forma de simular uma atividade de curta duração e alta intensidade, pode-se perceber que o objetivo foi atingido, pois as concentrações de lactato aumentaram em média cerca de 15 vezes em relação às concentrações de repouso, como é possível observar na Tabela 1.

Tabela 1. Concentração de Lactato (mmol x l-1) no repouso, durante a realização consecutiva de 4 Testes de Wingate

durante 20 minutos de recuperação Passiva e Ativa, e o Teste final de Wingate, em praticantes de atletismo (n=5).

    Após a realização consecutiva dos 4 Testes de Wingate foi avaliado a concentração de lactato sanguíneo durante o período de recuperação. Como ilustrado da Tabela 1, houve uma alteração da concentração do lactato sanguíneo após os 20 minutos de recuperação, havendo uma redução significante em torno de 26% em relação às concentrações realizadas após o 4o. Teste de Wingate. Mas esta redução não foi diferente entre os protocolos adotados para a Recuperação Passiva e Ativa, diferindo dos resultados encontrados nos trabalhos de Franchini et al. (2004), Toubekis et al. (2006); que mostraram concentrações da lactato mais baixas na recuperação ativa versus passiva.

    Muitos estudos mostram que a recuperação ativa tem uma maior influência na remoção do lactato sanguíneo. Spencer et al. (2006) mostram que a recuperação ativa realizada com intensidade em torno de 20% a 40% do VO2máx. acelera a retirada do lactato sanguínea, ou seja, mostra-se muito eficaz, mas isso apenas quando o exercício tem duração entre 15 segundos a 2 minutos de duração, e a recuperação é realizada por um período de 3 a 20 minutos. Os mesmos autores descrevem o estudo realizado em cicloergômetro, com a execução de tiros (exercício realizado na velocidade máxima) de 6 segundos de duração, com 25 segundos de recuperação no qual a recuperação ativa aumentou a concentração de lactato em relação à passiva.

    Apesar de a literatura demonstrar que a recuperação ativa pode ser melhor para a remoção do lactato do que a passiva, em nosso trabalho não foi possível perceber esta diferença, como também foi demonstrado anteriormente por Spencer et al. (2006) e por Villar e Denadai (1998). Muito provavelmente, isto se dá por dois aspectos, o primeiro, relacionado ao protocolo para simular a atividade de curta duração e alta intensidade, que no caso foi extremamente intenso, como pode-se observar pelos altos valores do lactato (Tabela 1). Com isso, é provável que há a necessidade de um maior tempo de recuperação para reduzir as concentrações de lactato aumentadas pelo exercício, e portanto, identificar uma possível diferença entre os tipos de recuperação. Isso porque a taxa de remoção do lactato sangüíneo é tempo dependente, sendo necessário em média 10 minutos para remover o equivalente a 25% do excesso de lactato, 25 minutos para remover 50% e 1 hora e 15 minutos para eliminar 95%, sendo que essa remoção pode ser facilitada, em torno de 15 a 20% durante a recuperação ativa, realizada na esteira ou no ciclo ergômetro (FOSS e KETEYIAN, 2002).

    O segundo aspecto, está associado à intensidade da recuperação passiva, que não deve ter sido adequada para estimular a remoção do lactato pela musculatura, sinalizando que há a necessidade de se estabelecer uma intensidade ótima para promover os benefícios da recuperação ativa, como descreve Moreira et al. (2009) e Oliveira et al. (2002).

    Mesmo após a execução do 5o. Teste (após o período das recuperações), não houve diferença na concentração de lactato quando se compara os 2 protocolos de recuperação, muito provavelmente em decorrência a alta intensidade do tipo de exercício realizado.

    Segundo Ribeiro et al. (2002) a remoção de lactato pós exercício pode ser importante para diminuir o tempo de recuperação e favorecer a melhora da performance em atividade realizadas repetidamente em um curto período de tempo. Para avaliar a performance do exercício após a recuperação passiva e ativa, avaliamos a Potência de Pico, Potência Média e Índice de Fadiga dos atletas durante todo o procedimento experimental, como forma de perceber a ação dos 2 protocolos de recuperação sobre a realização do trabalho muscular (Franquini, 2002; Matsushigue et al., 2007).

    Como era de se esperar, após a execução repetida do exercício, houve uma deflexão na curva da Potência de Pico, conforme ilustrado na Figura 1, principalmente ao final do 4º teste. Este comportamento também foi encontrado na avaliação da Potência Média (Figura 2), e no Índice de Fadiga (Figura 3).

Figura 1. Potência de Pico (W/kg) dos 5 testes de Wingate realizados em praticantes de atletismo, 

sendo o 5º Teste realizado após Recuperação Passiva e Ativa de 20 minutos (n=5).

* p<0,05 para comparação com os valores de Repouso, dentro do mesmo grupo.

 

Figura 2. Potência Média (W/kg) dos 5 testes de Wingate realizados em praticantes de atletismo, 

sendo o 5º Teste realizado após Recuperação Passiva e Ativa de 20 minutos (n=5).

* p<0,05 para comparação com os valores de Repouso, dentro do mesmo grupo.

# p<0,05 para comparação com os valores Pós 4º teste, dentro do mesmo grupo.

 

Figura 3. Índice de Fadiga (%) dos 5 testes de Wingate realizados em praticantes de atletismo, 

sendo o 5º Teste realizado após Recuperação Passiva e Ativa de 20 minutos (n=5).

* p<0,05 para comparação com os valores de Repouso, dentro do mesmo grupo.

    Analisando a performance apenas pela realização do Teste de Wingate após os 20 minutos de recuperação ativa e passiva, não foi possível encontrar uma alteração na potência gerada pelos atletas após os 2 tipos de protocolo para a recuperação, bem como diferenciar o índice de fadiga. Mas observou-se uma tendência em aumentar a Potência de Pico após a recuperação ativa de 20 minutos, indicando uma possível melhora de performance após este tipo de recuperação. Isso pode ser um reflexo de uma maior utilização do Sistema ATP-CP para gerar mais potência no trabalho muscular, como sugerido por Matsushigue et al. (2007), já que o Sistema Glicolítico (responsável pela formação de lactato) está prejudicado em decorrência das altas concentrações de lactato, que inibe esta via por meio da inibição da atividade da enzima phospofrutoquinase (PFK) (MAUGHAN, 2000).

Conclusão

    Dessa forma, os resultados encontrados não demonstraram haver uma diferença significativa na concentração de lactato após 20 minutos de recuperação passiva e ativa realizados seqüencialmente a uma série de exercícios intensos (seqüência de 4 Testes de Wingate com intervalo de 1 minuto cada).

    Também não ouve melhora na performance do exercício avaliada pela execução de mais um teste de Wingate realizado após os 20 minutos de recuperação ativa ou passiva.

    Mas ainda, longe do colocar um ponto final nessa discussão, é importante considerar que o lactato deverá ser estudado mais afundo junto com a mensuração de outros metabólitos musculares produzidos no exercício intenso, para que seja possível um maior conhecimento científico de todas as reações que acontecem em conjunto durante e após o exercício predominantemente anaeróbio lático, sendo assim, será possível elucidar os processos envolvidos na fadiga muscular, e conseqüentemente, identificar as melhores intervenções para minimizá-la.

Referências bibliográficas

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