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Avaliação do estado nutricional e estilo de vida dos alunos 

da disciplina de Condicionamento Físico da Universidade

 Federal de Santa Catarina (UFSC)

Evaluación del estado nutricional y estilo de vida de los estudiantes de la materia 

Acondicionamiento Físico de la Universidad Federal de Santa Catarina (UFSC)

Evaluation of nutritional status and quality of life of university students of 

physical training discipline of the Federal University of Santa Catarina, Brazil

 

*Bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de 

Graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. CEP 88040-970.

**Bolsista do Programa de Apoio a Projetos Institucionais com 

a Participação de Recém-Doutores - Prodoc. 

Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Universidade 

Federal de Santa Catarina. Trindade. Florianópolis, Santa Catarina

(Brasil)

Martha Luísa Machado*

Thayane Schweitzer*

Cinthia Cabral Maciel*

Hellin dos Santos*

Juliana de Abreu Gonçalves*

Claudia Flemming Colussi**

marthalmachado@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve por objetivo avaliar e relacionar os componentes do Pentáculo do Bem-Estar, assim como o percentual de gordura corporal (%GC) e o Índice de Massa Corporal (IMC) em alunos de Condicionamento Físico da UFSC. O estudo foi transversal, com análise bivariada utilizando o qui-quadrado de Pearson e teste t de student, considerando-se significante p<0,05. A amostra foi composta de 98 universitários, os quais responderam o Pentáculo do Bem-Estar, instrumento de 15 perguntas. Para a antropometria foram coletados peso, estatura e dobras cutâneas. Os dados obtidos foram analisados no software EpiInfo versão3.5.1. Mulheres demonstraram maiores chances de ter comportamento adequado para comportamento preventivo (p=0,001). Homens demonstraram maior adequação referente à prática de atividade física (p=0,022). No sexo masculino, 84,2% estavam com IMC eutrófico, e no sexo feminino, 84,9%. Quanto ao (%GC), 55,3% dos homens apresentavam %GC “adequado”, enquanto nas mulheres, 25%. Essa diferença mostrou-se estatisticamente significativa (p<0,05), tendo as mulheres uma chance 3,4 vezes maior de ter o percentual de gordura corporal “inadequado”. A relação entre os fatores que afetam o estilo de vida, bem como a influência do sexo deve ser compreendida pelos profissionais de saúde para que estes possam aplicar este conhecimento na sua prática profissional, promovendo um melhor estilo de vida.

          Unitermos: Estilo de vida. Estado nutricional. Universitários. Nutrição. Pentáculo do Bem-Estar. Atividade física.

 

Abstract

          This work aims at evaluating and relating the components of the Pentacle Welfare, the determination of body fat (%BF) and body mass index (BMI) in students of Physical Training discipline of the Federal University of Santa Catarina, Brazil. This is a cross-sectional study; the statistical methods used were bivariate analysis (Pearson's chi-square) and Student t test, being significant p<0.05. The sample consisted of 99 students, who answered the Pentacle Welfare, an instrument consisting of 15 questions. For anthropometry were collected weight, height and skin folds. The data were analyzed in EpiInfo version 3.5.1. Women showed significantly greater risk of having appropriate behavior to preventive behavior (p=0,001). Men showed significantly greater chance of adequacy in physical activity. Linking the components of Pentacle, there were statistically significant when stress control item was used as outcome variables with "physical activity" and "social networking", whereby people who practice physical activity properly and have a good social relationships have better control stress (p <0.05). For the BMI, 84.2% of the males were eutrofic, and female, 84,9%. For the BF%, 55.3% of men had% BF "adequate", while in women, 25%. This difference was significant (p <0.05) and women had a 3.4 times greater risk of having an "inappropriate" body fat. The relationship between the factors affecting lifestyle, as the influence of gender should be understood by nutritionists so they can use this knowledge in their professional practice, promoting a better lifestyle.

          Keywords: Lifestyle. Nutritional status. University students. Nutrition. Pentacle Welfare. Physical activity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Brasil passa por um momento de transição epidemiológica, demográfica e nutricional importante, com evidências quanto a padrões de atividade física apontando para um baixo gasto energético e para o crescimento do sedentarismo, e com uma evolução do estado nutricional indicativa de um importante aumento do sobrepeso, especialmente preocupante entre as crianças em idade escolar e os adolescentes. O aumento do consumo de alimentos industrializados e o declínio do gasto energético associado ao desenvolvimento tecnológico são alguns dos fatores envolvidos nessa mudança, que têm levado a um aumento na prevalência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) em todo o mundo1.

    Dentre as diversas ações necessárias para a reversão desse cenário epidemiológico estão as de promoção de hábitos saudáveis, vinculados a um conjunto de comportamentos e atitudes, que “são expressões socioculturais de vida, traduzidas nos hábitos alimentares, no gasto energético do trabalho diário, nas atividades de lazer, entre outros hábitos, vinculados aos processos de adoecimento, especialmente, quando relacionados às DCNT”2. Esse conjunto de comportamentos e atitudes caracteriza o “estilo de vida”3.

    A atividade física e a dieta balanceada tem sido cada vez mais alguns dos fatores decisivos no estilo de vida, tanto geral quanto relacionado à saúde, das pessoas em todas as idades e condições. Para o mesmo autor, a atividade física está associada à maior capacidade de trabalho físico e mental, mais entusiasmo para a vida e positiva sensação de bem-estar. Já a nutrição apropriada constitui o alicerce para o desempenho físico, proporcionando combustível para o trabalho biológico e as substâncias químicas pra extrair e utilizar a energia potencial existente dentro deste combustível4.

    Aliando uma dieta saudável à prática de atividade física, é possível aumentar o impacto sobre o autoconceito, que envolve auto-estima, percepções e comportamento do indivíduo, representando a influência da vida ativa na saúde física e mental5. Nos últimos anos, estão tomando grande importância na área da saúde, estudos epidemiológicos e clínicos, dos efeitos benéficos exercidos pela prática de atividade física. Entre eles, pode-se destacar a diminuição tanto na freqüência de aparição, quanto na rapidez de progressão de doenças ligadas ao coração, diabetes e osteoporose. Além disso, há melhoria de funções psíquicas, como maior otimismo, menor ansiedade e melhora do sono noturno. Seja qual forem, essas mudanças ligadas à atividade física, propiciam em qualquer idade, uma melhor qualidade de vida6.

    Em virtude da importância da atividade física, alimentação saudável e dos outros componentes necessários para o bem-estar dos indivíduos, bem como o aumento da expectativa de vida da população e o aumento da prevalência de obesidade e co-morbidades, o presente estudo tem por objetivo reconhecer a aplicação de conceitos (ou elementos) de estilo de vida e bem-estar na população universitária, através da avaliação do estilo de vida e do estado nutricional, a fim de subsidiar futuras estratégias de orientação que visem à promoção da saúde.

Métodos

    Foi realizado um estudo transversal com amostra de conveniência, a qual foi constituída de 99 alunos regularmente matriculados na disciplina de Condicionamento Físico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), durante o segundo semestre de 2009. Essa disciplina é oferecida pelo curso de Educação Física, sendo optativa para todos os cursos da UFSC. As aulas acontecem duas vezes por semana, com a duração de uma hora e quarenta minutos. São realizadas atividades de musculação e condicionamento físico, como corrida e caminhada. Indivíduos enfermos, gestantes, lactantes e aqueles que faziam uso de medicamentos de forma contínua foram excluídos da amostra.

    O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da UFSC. Todos os participantes concordaram em participar da pesquisa após a apresentação da proposta do estudo, tendo os mesmos assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido elaborado para este estudo.

    A avaliação do estado nutricional foi realizada a partir dos dados do Índice de Massa Corporal (IMC) e percentual de gordura corporal (%GC)

    Para mensuração do peso foi utilizada uma balança digital da marca Plenna, modelo Sport e para a estatura um estadiômetro marca Alturexata. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi obtido e os indivíduos foram classificados conforme os pontos de corte previstos pela Organização Mundial de Saúde7.

    Para obtenção das dobras cutâneas foi utilizado o adipômetro clínico da marca Sanny. Para determinação da densidade corporal foi adotado o protocolo de Guedes8 para universitários brasileiros, sendo este aplicado na Fórmula de Siri9 para o estabelecimento do percentual de gordura corporal (%GC). Para a classificação deste percentual foi adotado o protocolo de Heyward e Stolarczyk10.

    Para avaliação do estilo de vida, foi utilizado o questionário desenvolvido por Nahas3, intitulado Pentáculo do Bem-Estar. O instrumento é composto de 15 perguntas auto-aplicáveis distribuídas em cinco categorias (pentáculo): atividade física, nutrição, comportamento preventivo, controle do estresse e relacionamento social. Cada pergunta possui quatro alternativas de escolha, relacionadas à freqüência do comportamento frente àquele aspecto, gerando um valor em escores que varia de 0 a 3 (“NUNCA” = 0, “ÀS VEZES” = 1, “QUASE SEMPRE” = 2 e “SEMPRE” = 3). Para interpretação dos resultados, optou-se por categorizar cada pergunta e cada categoria do pentáculo em “adequado” e “inadequado”. Para as perguntas, os escores 0 e 1 indicavam inadequação, e os escores 2 e 3, adequação. As categorias, compostas cada uma por três perguntas, foram classificadas conforme a quantidade de perguntas adequadas e inadequadas. Se das três perguntas, duas ou mais fossem adequadas, a categoria era classificada como adequada, caso contrário, era classificada como inadequada. Para a classificação final do pentáculo em adequado e inadequado, o critério foi o mesmo. Se das 5 categorias três ou mais fossem adequadas, a classificação final seria adequada, caso contrário, inadequada.

    A organização e o registro dos dados foram realizados no programa Excel® 2000. Para análise estatística foram utilizados os softwares EpiInfo 3.5.1. e SPSS 17.0. Foi realizada análise bivariada (teste Qui-quadrado de Pearson e teste t de student) considerando-se um intervalo de confiança de 95%. A variável sexo foi utilizada como variável independente, e os componentes do pentáculo, assim como o IMC e %GC foram as variáveis dependentes. Para tal análise, o %GC foi transformado em variável binária (adequado/inadequado) a partir do valor médio de referência10. Esta classificação foi feita a fim de permitir a análise bivariada, considerando-se como inadequados os valores acima da média, e adequados os valores iguais ou abaixo da média. Como o IMC não foi categorizado, para verificar sua associação com o sexo foi utilizado o teste t de student.

Resultados

    A distribuição dos universitários por sexo, quanto ao IMC e ao percentual de gordura corporal está demonstrada na Tabela 1. Os resultados relativos à análise bivariada dos componentes do Pentáculo do Bem-Estar e o Percentual de Gordura estão relacionados na Tabela 2. Para o Pentáculo do Bem-Estar, encontrou-se um escore médio de 1,91±0,38. Os valores para cada componente no sexo masculino e feminino encontram-se na figura 1.

Tabela 1. Distribuição dos universitários por sexo, quanto ao IMC e ao percentual de gordura corporal

    Foram analisados 98 indivíduos com média de 24,6±5,17 anos, sendo 38 do sexo masculino e 60 do sexo feminino. A média de IMC encontrada foi de 22,6±2,9kg/m², o que é classificado como eutrofia. Quanto ao percentual de gordura corporal (%GC), a média encontrada para homens foi de 16,4% e 26,7% para mulheres, estando os valores acima da média.

Tabela 2. Análise de adequação ou inadequação do Pentáculo do Bem-Estar e seus componentes, IMC e percentual de gordura corporal, segundo o sexo.

    O escore final do Pentáculo do Bem-Estar não apresentou relação estatisticamente significativa com o sexo dos universitários, embora 76,9% dos que apresentaram inadequação neste item fossem mulheres.

    No quesito “comportamento preventivo”, que considera hábitos como consumir álcool, dirigir após beber, usar cinto de segurança, e controlar os níveis de colesterol e a pressão arterial, as mulheres apresentaram uma chance 2,4 vezes maior de comportamento adequado (p<0,05).

    O item controle de estresse incluiu questões sobre ao menos 5 minutos diários para relaxamento, manutenção de uma discussão sem se alterar e equilíbrio entre o tempo dedicado ao trabalho com o dedicado ao lazer. No presente estudo, 68,4% dos estudantes foram avaliados como tendo um controle adequado do estresse.

    O item relacionamento social considera se o indivíduo procura cultivar amigos, se inclui atividades com os amigos no lazer, se participa de associações e procura ser ativo na comunidade, sentindo-se útil. Neste trabalho, 49% dos entrevistados apresentaram este item adequado. Em relação ao gênero, não houve diferença estatisticamente significativa (p>0,05).

    O item atividade física abrangeu a realização de pelo menos 30 minutos de exercícios físicos (moderados/intensos) no mínimo 5 vezes na semana, exercícios que envolvam força e alongamento muscular ao menos 2 vezes na semana e a realização de caminhadas ou pedaladas como forma transporte. Este quesito apresentou relação estatisticamente significativa (p<0,05) com o sexo dos participantes, sendo que 92,1% dos homens relataram um nível de atividade física adequado e 73,3% das mulheres apresentaram um grau de exercícios físicos satisfatórios.

    Quanto ao componente “nutrição” do Pentáculo do Bem-Estar, são considerados itens como a ingestão de pelo menos cinco porções de frutas e verduras diariamente, a não ingestão de alimentos gordurosos e a realização de 4 ou 5 refeições variadas ao dia incluindo café da manhã completo. Este quesito não teve relação estatisticamente significativa com os sexos (p>0,05). Dentre os estudantes envolvidos na pesquisa, 46,9% apresentaram inadequação nesse componente. Quando analisados os sexos, 44,3% das mulheres e 31,6% dos homens apresentaram adequação quanto à nutrição.

    Através da análise antropométrica, obteve-se o valor do IMC dos participantes e a porcentagem de gordura corporal. Pode-se destacar que no sexo masculino, 84,2% dos envolvidos estavam com IMC eutrófico, 13,2% estavam com IMC indicando sobrepeso e 2,6% obesidade; e no sexo feminino, por sua vez, 84,9% em eutrofia e 1,7% com magreza grau II.

    Em relação à porcentagem de gordura, 55,3% dos homens estavam com a porcentagem de gordura corporal adequada, sendo a média de 16,6%, enquanto nas mulheres, apenas 25% estavam adequadas, sendo a média de 26,7%. Essa diferença mostrou-se estatisticamente significativa (p<0,05), de modo que as mulheres apresentaram uma chance 3,4 vezes maior ter o percentual de gordura corporal inadequado.

    Quanto ao IMC, o sexo masculino apresentou uma média de 23,1 ± 3,2 kg/m² e o sexo feminino 22,3±2,8 kg/m², sendo que essa diferença não se mostrou estatisticamente significativa (p=0,117).

Discussão

    O estudo do estilo de vida e dos fatores que nele interferem é de particular importância em se tratando de universitários, uma vez que o ingresso na faculdade, para muitos, implica em mudanças na moradia e alimentação. A alta prevalência do consumo de álcool e tabaco, e a inadequação nutricional das refeições, são resultados preocupantes encontrados em estudos realizados com universitários11,12 , pois muitos hábitos adquiridos por estudantes durante os anos cursados nas universidades podem continuar na idade adulta, culminando no aumento da incidência e severidade das doenças crônicas na população.

    O Pentáculo do Bem-Estar não apresentou relação estatisticamente significativa quando relacionado com o sexo. As relações individuais com seus componentes fornecem indicativos desse resultado, uma vez que o sexo feminino relaciona-se de maneira positiva ao comportamento preventivo e de forma negativa a pratica de atividade física, causando um possível “equilíbrio”, refletido no valor final do escore do pentáculo.

    No presente estudo, as mulheres apresentaram maiores chances de adequação no quesito “Comportamento preventivo”. Esta relação é confirmada por outros estudos como o de Colares, Franca e Gonzalez11, que analisou 382 estudantes em duas universidades de Pernambuco, e encontrou o consumo de bebidas alcoólicas e tabaco mais elevado entre os homens. Também o estudo de Phillipi13 corrobora esses resultados, ao encontrar uma prevalência duas vezes maior em relação aos hábitos de não beber e não fumar entre as mulheres. Uma maior proporção de envolvimento em acidentes e de transgressões no trânsito também tem sido associada a universitários do sexo masculino14. O comportamento preventivo também é avaliado pela preocupação com a saúde, que assim como encontrado no estudo de Marinho15 em universitários da cidade de Lages-SC, foi maior no sexo feminino.

    Quanto ao item “controle de estresse”, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os sexos, o que difere de outros estudos realizados com universitários, que apontaram maior prevalência de estresse entre as mulheres15,16. No estudo de Marinho15, 65,7% dos entrevistados relataram conseguir administrar bem o estresse, porcentagem semelhante à encontrada neste trabalho (68,4%). Santos e Alves Junior16 encontraram um percentual de 59,3%, inferior ao encontrado neste trabalho.

    No item “atividade física”, o presente estudo encontrou relação estatisticamente significativa entre sexos, sendo a maior chance de adequação no sexo masculino. O mesmo resultado foi encontrado por Marcondelli, Costa e Schmitz17. Também no estudo de Marinho15, os homens aparecem com maiores proporções de atividade física do que as mulheres. Outro fator que influencia a prática de atividade física é a idade, sendo que o declínio da atividade física ocorre durante a adolescência e em jovens adultos, provavelmente devido à mudança no estilo de vida dos jovens, com uma maior independência em suas escolhas17.

    Considerando-se que um dos itens do Pentáculo relativo à atividade física é a prática de exercícios de força e alongamento ao menos duas vezes por semana, e que a disciplina na qual os alunos estavam matriculados incluía estes exercícios, isso pode ter influenciado os percentuais de adequação encontrados.

    Bielemann et al.18, com o objetivo de investigar o nível de atividade física no lazer e fatores associados entre acadêmicos de Educação Física, mostrou que a prevalência de nível suficiente (>150 min/semana) de prática de atividade física no lazer foi de 74,2% entre os acadêmicos, e os homens mostraram-se significativamente mais ativos que as mulheres, o que é semelhante aos achados deste trabalho referentes à prática de atividade física”.

    Nogueira19 relatou um estudo comparativo com 150 homens e 150 mulheres pertencentes a três grupos etários, sobre o tamanho, a natureza e as funções da rede de relações sociais, assim como sobre a satisfação com ela. Como no presente trabalho, não houve diferença estatisticamente significativa no quesito satisfação de relações sociais, que se assemelha ao item “Relacionamento social” do Pentáculo do Bem-Estar, entre homens e mulheres de todos os grupos.

    Quanto ao quesito “Nutrição”, não houve diferença estatisticamente significativa, assim como o estudo de Colares, Franca e Gonzalez11. Em outros estudos realizados com universitários, foram encontrados valores por volta de 79% em relação à alimentação inadequada17,20. Enquanto estão na universidade, os jovens tem um alto consumo de doces, alimentos gordurosos, baixa ingestão de frutas e verduras, ocorre a omissão de refeições e um alto consumo de lanches rápidos, o que mostra uma alimentação inadequada. Os hábitos alimentares adquiridos pelos estudantes muitas vezes permanecem com o passar dos anos, por isso é importante realizar a caracterização da dieta de universitários para realização de intervenções nutricionais que os auxiliem na adoção de hábitos alimentares mais saudáveis, diminuindo o aparecimento de problemas relacionados a uma alimentação inadequada11,17,21.

    Em estudo realizado por Monteiro et al.22 com estudantes de uma universidade pública brasileira foi observada a preocupação das mulheres com a alimentação, já que 61,7% das estudantes optavam por produtos lights, diets e integrais, considerados alimentos saudáveis pelo autor. Vieira et al.12 verificaram que 37% dos universitários estudados omitiam o desjejum e 46,5% consumiam muitos alimentos do grupo das gorduras e doces durante a semana, fatores estes que quando relacionados ao quesito nutrição, influenciam-no negativamente. Por outro lado, 72% dos universitários citaram ingerir hortaliças 5 ou mais vezes na semana, o que por sua vez, vem a influenciar positivamente este quesito.

    A análise dos dados obtidos com o Índice de Massa Corporal (IMC), permite fazer comparações com outros resultados encontrados em pesquisas semelhantes. Os resultados aqui encontrados assemelham-se aos encontrados por Philippi13, em que a maioria dos participantes estava em estado eutrófico tanto no sexo masculino quanto no feminino, sendo de 85,6% e 89,4%, respectivamente. Entretanto, o mesmo autor encontrou uma menor prevalência de sobrepeso e ausência de obesidade no sexo feminino. No estudo de Madureira et al23, a prevalência de sobrepeso e obesidade encontrada nos universitários foi de 12,4% e 1,7%, respectivamente. Esses percentuais são semelhantes aos 11,7% e 1,7% aqui encontrados.

    No estudo de Petribu, Cabral e Arruda21, apesar de praticar menos atividade física, mesmo sendo um importante fator que auxilia na perda e no controle do peso corpóreo, as mulheres apresentaram um valor médio de IMC inferior ao encontrado para os homens. No presente estudo essa contradição também foi observada, uma vez que os homens apresentaram maior prevalência de sobrepeso e obesidade ao mesmo tempo em que apresentaram maior percentual de adequação no quesito “atividade física”.

    Quanto ao baixo peso, os resultados encontrados por Matias24 diferem desse estudo, pois o autor encontrou que 3,25% dos participantes do sexo masculino tinham baixo peso, e 16,53% das mulheres apresentavam a mesma condição.

    Outro indicador antropométrico analisado foi a gordura corporal, em que 80% das mulheres apresentaram valores acima da média, ao passo que 57,9%. dos homens estavam nessa condição (p<0,05). Vieira et al.12 encontrou 77,2% dos homens e 17% das mulheres com percentual de gordura corporal adequado. O estudo de Fascineto e Sá25 difere desses resultados, uma vez que não encontrou diferença estatisticamente significativa entre os sexos.

Considerações finais

    Alguns estudos têm demonstrado que o estilo de vida adotado pelas pessoas pode ser fator codeterminante tanto no agravamento de enfermidades quanto na prevenção e no tratamento das mesmas. Portanto, um estilo de vida saudável, incluindo a prática regular de atividade física e alimentação adequada, é um fator importante na prevenção e no controle de doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, dislipidemias, diabetes, entre outras23.

    Observam-se diferenças entre os gêneros nos comportamentos relacionados à saúde, enquanto os homens relatam praticar mais freqüentemente exercícios físicos, as mulheres demonstram significativamente maior preocupação com a dieta alimentar11. A relação de dependência desses fatores que afetam o estilo de vida bem como as diferenças comportamentais entre os gêneros, devem ser compreendidas pelos profissionais de saúde, para que possam aplicar este conhecimento na sua prática diária profissional, auxiliando numa melhoria do estilo de vida.

    Uma vez que a nutrição foi o item de menor pontuação na análise, sugerem-se ações de educação nutricional voltadas para este público a fim de normalizar os percentuais de gordura corporal e melhorar o estilo de vida.

    Outros estudos em universitários devem ser realizados para melhor compreensão dos fatores que envolvem a relação entre as medidas antropométricas e os componentes “atividade física” e “nutrição”.

Agradecimentos

    À Professora Yana da Costa Gil pela orientação durante a elaboração do projeto de pesquisa e da coleta de dados.

    Ao Grupo PET Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina por disponibilizar os recursos eletrônicos e de escritório necessários para o desenvolvimento deste trabalho.

Contribuições dos autores

    MACHADO, M. L., SCHWEITZER, T., CABRAL, C., SANTOS, H. e GONCALVES, J.A. desenvolveram o projeto, realizaram a coleta e a compilação de dados, e escreveram o texto. COLUSSI, C.F. aplicou os testes estatísticos e revisou o texto.

Referências

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