Educação básica: aspectos motivacionais nas aulas de Educação Física Educación básica: aspectos motivacionales en las clases de Educación Física |
|||
*Discente de Graduação do curso de Licenciatura em Educação Física da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (ESEF – UFPel/RS) Atualmente é integrante do Grupo de Pesquisa e Estudos Sociológicos em Educação Física e Esporte (GPES - UFPel) e bolsista de extensão do Núcleo de Atividade para a Terceira Idade (NATI) da ESEF – UFPel. **Doutora em Ciências da Saúde e Esporte pela Chukyo University (2001) Atualmente é docente no programa de graduação e Pós-Graduação na Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (ESEF – UFPel/RS). Atua como pesquisadora voluntária do Grupo de Pesquisa e Estudos Sociológicos em Educação Física e Esporte (GPES) da PUC-RS. Coordena o GPES – UFPel e o Núcleo de Atividade para a Terceira Idade (NATI) da ESEF – UFPel |
José Antonio Bicca Ribeiro* Adriana Schüler Cavalli** (Brasil) |
|
|
Resumo A escola como instituição social tem grande importância no processo de formação de indivíduos, na medida em que propicia as ferramentas necessárias para o desenvolvimento dos mesmos. A Educação Física enquanto disciplina que trabalha com a cultura corporal, também participa desse processo na medida em que desenvolve capacidades físicas, intelectuais e psicológicas dos indivíduos. Durante a graduação do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Pelotas/RS, o estágio supervisionado preconiza a prática do discente como docente na escola, auxiliando na sua prática profissional futura. O presente artigo tem por objetivo promover um diálogo com os autores que estudam a motivação e a atuação do professor nas aulas de EF, relacionando a experiência do estágio supervisionado, dentro de uma escola municipal da rede pública de ensino da cidade de Pelotas. A Educação Física, numa dinâmica interdisciplinar, assume a responsabilidade de propiciar a formação de cidadãos conscientes e críticos e, não apenas de indivíduos reprodutores de conhecimento. A motivação para tal dinâmica tanto pode ser extrínseca, ou seja, ser através da intervenção do professor, quanto intrínseca, ou seja, vir do próprio indivíduo e de sua vontade de realizar atividades. Cabe ao professor organizar seu planejamento para aproveitar ao máximo a participação e motivação dos alunos, transformando suas aulas prazerosas e propiciando o desenvolvimento integral dos alunos. Atualmente a educação tem assumido uma concepção um pouco diferente, pois tem formado apenas indivíduos reprodutores de conhecimento, em vez de formar cidadãos conscientes. A motivação tanto pode ser extrínseca, ou seja, vir do professor, por exemplo, quanto intrínseca, ou seja, vir do próprio indivíduo e de sua vontade em realizar algo. Cabe ao professor organizar seu planejamento para aproveitar o máximo essa motivação dos alunos, transformando suas aulas em algo prazeroso e mais do que isso, proporcionando o desenvolvimento integral dos alunos. Unitermos: Educação Física. Motivação. Prática docente.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
A escola tem uma grande importância para a formação dos indivíduos, na medida em que possui as ferramentas para “moldá-los” de acordo com os seus interesses. Desse modo, acreditamos que o principal papel da escola é o de formar cidadãos conscientes, capazes de tomar decisões próprias, conhecer a sua própria realidade e defender os interesses que são favoráveis à sua classe social. Porém, nos dias de hoje não é o que temos vivenciado, pois cada vez mais a escola tem formado jovens incapazes de ter um senso crítico a respeito de suas necessidades e do que acontece na sociedade. O professor tem servido apenas para despejar o seu conhecimento sobre os alunos e os mesmos apenas absorvem o que lhes é narrado, sendo incapazes de fazer uma reflexão acerca do conteúdo aprendido.
Segundo Freire (2005), a educação tem assumido uma concepção bancária, ou seja, é o ato de depositar, transferir e transmitir valores e conhecimento. Nessa concepção o professor é quem sabe, é quem pensa, é o que fala, é o que atua, é o sujeito, e os alunos são apenas objetos que devem absorver o conteúdo, sem questionar, pois não sabem e não pensam. Os alunos vêm se tornando agentes replicadores de conhecimento, pois transmitem apenas o que lhes é passado pelos professores, e não tem a capacidade de selecionar o que é mais importante e o que está de acordo com sua realidade. Para que haja uma mudança nessa concepção de educação e para que a mesma tenha uma função social libertadora (na qual os alunos não sejam apenas telespectadores em sala de aula), se faz necessária a reflexão acerca dos conteúdos trabalhados na escola, pois na medida em que os alunos passarem a questionar e a pensar com senso crítico, seu desenvolvimento enquanto cidadãos será melhor, acabando com a alienação presente nos dias de hoje.
A partir da experiência no estágio supervisionado e da prática de ensino de Educação Física nas séries iniciais até a 4ª série do curso de Licenciatura em Educação Física, da Escola Superior de Educação Física, da Universidade Federal de Pelotas (ESEF/UFPel) é que este artigo foi construído. O estágio supervisionado foi realizado em uma Escola de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino da cidade de Pelotas-RS. As aulas de estágio aconteceram uma vez por semana, no período da tarde em dois períodos de 45 minutos cada, totalizando 20 semanas, durante o segundo semestre de 2010. A disciplina na ESEF era ministrada sob a forma de encontros com o professor responsável pela supervisão de cada região do estágio. Em algumas oportunidades, ocorria algo um pouco diferente, onde todos os estagiários e todos os professores supervisores de estágio se reuniam para discutir as experiências dentro da escola e o esclarecimento de dúvidas referentes aos possíveis problemas encontrados na prática docente. O principal assunto abordado nesse artigo é a motivação dos alunos nas aulas de EF, e como o professor deve se comportar para que seu trabalho seja facilitado pelas formas de envolvimento dos discentes durante as aulas. Sempre acreditando que se um trabalho for feito com qualidade, sob o suporte de um bom planejamento, e uma atitude motivadora por parte do professor, o processo ensino-aprendizagem, vai ser satisfatório para ambas as partes.
O papel da Educação Física na escola
Entendendo que a EF é uma disciplina que trata da cultura corporal, durante as aulas conteúdos que abordem o jogo, a ginástica, o esporte, a dança, etc., devem ser abordados das mais variadas formas possíveis para que o aluno tenha a oportunidade de desenvolver sua criatividade e sua expressividade, sem “podá-los” de alguma forma, para que seu desenvolvimento seja o mais completo possível. Os alunos acabam por aprender ao se interiorizar e ao se relacionar com os outros (Bronfrenbrenner, 1992), e nas aulas de EF através dos jogos e brincadeiras, eles percebem o quanto dependem do outro, e a necessidade de conviver em grupo. Nesse contexto, as aulas de EF, não devem ser apenas de reprodução de movimentos pelos alunos, estes devem pensar, questionar e desenvolver formas próprias e adequadas para a realização das atividades.
A Educação Física, na grande maioria das vezes é a disciplina preferida dos alunos, principalmente nas séries iniciais, e um dos principais motivos, é o fato de que os mesmos ficam horas sentadas dentro da sala de aula, muitas vezes obrigados a ficar imóveis, apenas absorvendo conteúdo, nas aulas de EF, sentem-se “livres”, para se movimentar e conversar. Porém a função da EF não é deixar os alunos “correrem”, pois possui objetivos próprios que atendem ao desenvolvimento biopsicossocial dos indivíduos.
Percebe-se ainda que a educação física deveria ter um caráter motivador, onde o professor atue como mediador e incentivador da prática de atividades físicas individuais ou em grupos visando a adoção de um estilo de vida ativo na busca de autonomia, saúde e bem-estar.
Para Cratty, (1984, citado por Moreno, Dezan, Duarte e Schwartz, 2006) “a motivação é o processo que leva as pessoas a uma ação ou à inércia em diversas situações, sendo ainda o exame das razões pelas quais se escolhe fazer algo, executar algumas tarefas com maior empenho do que outras, ou persistir numa atividade por longo período de tempo”. E mais do que isso, ela varia de acordo com razões internas ou externas ao indivíduo.
Segundo Samulski (2002, citado por Araujo, Mesquita, Araujo e Bastos, 2008) “a motivação é caracterizada como um processo ativo, internacional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos)”. Segundo este modelo, a motivação apresenta uma determinada energia ou nível de ativação direcionada a relação de comportamentos, intenções e interesses. Ou seja, a motivação do aluno, vai depender dos seus interesses em particular, do nível de interesse dos demais colegas, e mais do que isso, na vontade demonstrada pelo professor em ministrar a aula, juntamente com seus objetivos pré-estabelecidos.
A motivação intrínseca, aquela inerente ao próprio indivíduo, é a que possibilita o desenvolvimento e a formação da autonomia e da personalidade do mesmo, pois só ele sabe as suas próprias razões para a realização das atividades, seja sua vontade de aprender, ou vencer desafios próprios e limitações, independente do ambiente em que estejam e a interferência que este provoque. Já a motivação extrínseca é aquela proveniente do ambiente, através de “recompensas” oferecidas pelo professor durante a aula, algo que os alunos gostem e que sirvam para motivá-los a realizar as atividades propostas em aula. Este tipo de motivação, apenas serve para auxiliar no contexto motivacional, e não explica a maior parte do processo de motivação do aluno. Aqueles alunos motivados intrinsecamente têm maior probabilidade de serem mais persistentes, e de terem níveis de desempenho mais elevados, e de realizarem mais tarefas do que aqueles que requerem reforços externos (Gill, 2000; Lázaro, Santos & Fernandes, 2004).
Nérici (1993) ainda diferencia motivação de incentivo, definindo incentivo como: o estímulo exterior que visa despertar no indivíduo vontade ou interesse para algo. Logo, a definição de motivação voltada para a educação pode incluir também o conceito de incentivo, sendo entendida como “o processo de incentivo destinado a predispor os alunos ao aprendizado e à realização de esforços para alcançarem certos objetivos”. Certos tipos de incentivo durante as aulas são válidos para que os alunos alcancem as metas planejadas pelos professores, sejam eles materiais como a possibilidade de realizar alguma atividade que os alunos desejem; ou imateriais, como o feedback positivo, que faz os alunos sentirem-se capazes havendo certa conotação afetiva.
Alguns autores criticam tal alternativa de motivação onde há a associação de incentivos e recompensas ao desempenho do aluno, (Brophy e Rohrkemper, 1981; citados por Eccheli, 2008), onde, o aluno acaba por deixar de lado a motivação intrínseca, se apegando apenas às recompensas, na medida em que o desenvolvimento das tarefas serve apenas para adquirir as recompensas ou prêmio, desconsiderando a aquisição de conhecimento e habilidades. Buscando compreender um pouco mais os determinantes motivacionais, foi desenvolvida a Teoria da Autodeterminação, que segundo Deci e Ryan (2000, citados por Guimarães e Boruchovitch, 2004), conceituam a organização dessa concepção teórica afirmando que, para serem intrinsecamente motivadas, as pessoas necessitariam se sentir competentes e autodeterminadas.
Três necessidades psicológicas inatas, subjacentes à motivação intrínseca, são propostas pela Teoria da Autodeterminação: a necessidade de autonomia, a necessidade de competência e a necessidade de pertencer ou de estabelecer vínculos. A satisfação das três é considerada essencial para um ótimo desenvolvimento e saúde psicológica. Em situações de aprendizagem escolar, as interações em sala de aula e na escola como um todo precisam ser fonte de satisfação dessas três necessidades psicológicas básicas para que a motivação intrínseca e as formas autodeterminadas de motivação extrínseca possam ocorrer. Nesse sentido, a figura do professor tem um papel essencial na promoção de um clima de sala de aula favorável ou não ao desenvolvimento dessas orientações motivacionais (Guimarães, 2004, p.145).
Acreditamos que esta forma de trabalhar a motivação do aluno, é válida, na medida em que ao realizar as atividades propostas, acabam por adquirir o conhecimento e as habilidades propostas pelo professor. Além disso, cada um tem a sua motivação própria e esta se sobressai a qualquer estimulação externa, pois as crianças têm uma grande vontade de superar limites, e quando situações desafiadoras são colocadas dentro da aula, em qualquer tipo de atividade, a sua motivação aparece de forma espontânea. Outro ponto a destacar é a necessidade do elogio durante as aulas quando o aluno consegue alcançar os objetivos, pois isso faz com que este busque sempre seu melhor, contribuindo para a sua motivação intrínseca. Segundo Guimarães (2001, p.53), “o elogio fortalece o sentimento de auto-eficácia e promove a autodeterminação quando sinaliza os progressos obtidos através de uma atividade ou aquisição de um novo conhecimento, sendo capaz de sustentar o interesse do aluno [...]”.
O elogio deve ser apresentado ao aluno individualmente, de forma justa, simples, parcimoniosa, criativa, coerente com o desempenho, buscando salientar suas peculiaridades e promovendo informações que favorecerão a percepção de competência. Além disso, deve-se enfatizar o esforço empreendido, o capricho e a persistência nos trabalhos ou o êxito obtido em tarefas difíceis.
Ao se considerar a motivação no nível da aprendizagem, deve-se verificar inúmeros fatores, como necessidades dos alunos, o contexto social em que estes se enquadram, a realidade enfrentada pela escola, entre outros. Ou seja, deve-se perceber a realidade do ambiente escolar para o planejamento de estratégias de motivação dentro da escola. De forma geral, as tarefas e atividades proporcionadas no ambiente escolar estão relacionadas a processos cognitivos como a capacidade de atenção, concentração, processamento de informações, raciocínios e resolução de problemas. Devido a estas características, acredita-se que aplicar conceitos gerais sobre motivação humana na escola não seria muito apropriado sem a consideração das singularidades deste ambiente (Bzuneck, 2002).
Segundo Gouveia (2007), a motivação pode ser o principal fator a influenciar no comportamento de uma pessoa no processo ensino-aprendizagem, pois ela influi, com muita propriedade, em todos os tipos de comportamentos, permitindo um maior envolvimento ou uma simples participação em atividades que se relacionem com: aprendizagem, desempenho e atenção. Partindo dessa premissa, o professor, como mediador da situação de aprendizagem, pode influenciar o nível de motivação dos alunos através da determinação das atividades e dos métodos avaliativos. Para isso, deve planejar tarefas adequadas as condições dos alunos, incentivando a participação e realização das atividades. O ponto chave para que o aluno continue motivado nas aulas, é o estabelecimento de metas atingíveis que condizem com seu atual desenvolvimento, porém que exijam seu esforço para alcançá-las. Bzuneck (2001, citado por Eccheli, 2008) apresenta algumas estratégias que auxiliam durante a apresentação das atividades aos alunos em aula, contribuindo para a sua motivação:
a) dar tarefas que contenham partes relativamente fáceis para todos e partes mais difíceis, que possam ser atendidas somente pelos melhores; com isso, todos têm desafios e todos têm reais chances de acertos;
b) para aqueles que tiverem concluído por primeiro, dar atividades suplementares, de enriquecimento e interesse;
c) permitir que, por vezes, os alunos possam escolher o tipo de tarefa;
d) permitir que cada um siga seu ritmo próprio, sem qualquer pressão para que todos concluam juntos; e
e) alternar trabalhos individuais com trabalhos em pequenos grupos, desde que estes não se cristalizem e todos recebam a devida assistência. (p.129)
O processo avaliativo na disciplina de EF pode muitas vezes desmotivar o aluno, principalmente quando o avaliado é medido pelo seu alto rendimento e capacidades físicas, assim como, pela freqüência as aulas. De acordo com alguns autores (Deci, Schwartz, Sheinman E Ryan, 1981, citados por Guimarães e Boruchovitch, 2004) existem dois tipos de professores conforme o perfil motivacional: o altamente controlador e o altamente promotor de autonomia. O primeiro deles nutre nos alunos as necessidades psicológicas básicas de autodeterminação, segurança e competência. Promove situações onde os alunos devam pensar e tomar as suas próprias decisões, e ainda identificar as metas de aprendizagem estabelecidas em sala de aula, tornando esse ambiente altamente informativo. Já o segundo tipo de professor, estabelece para os alunos, formas específicas de comportamento e de realização das atividades, oferecendo incentivos extrínsecos e conseqüências para aqueles que se aproximam do padrão esperado.
Segundo a Teoria da Autodeterminação (Ryan e Deci, 2002, citados por Lens, Mattos, Vansteenkiste, 2008), o comportamento dos alunos pode ser regulado e destacam-se cinco tipos principais de regulação, que influenciam diretamente na motivação dos alunos, sendo que um deles age de forma intrínseca e os demais de forma extrínseca. A forma de regulação intrínseca envolve o interesse próprio do indivíduo, seu prazer e satisfação regulam ou controlam a atividade. A primeira forma de regulação extrínseca, também é considerada pelos autores como a pior delas, a regulação externa, que se refere a uma recompensa, castigo extrínseco ameaçador ou uma ordem, e soa de certa forma como “chantagem” para conseguir algo planejado. A segunda forma de regulação extrínseca, também chamada de regulação introjetada, faz com que o indivíduo tome para si a razão externa para realizar a atividade, sem aceitá-la como uma razão pessoal. Como exemplo, um aluno pode estudar o máximo, porque seus pais exigem isso dele e este não quer desobedecer-lhes, porque senão teria sentimentos de culpa. A terceira forma de regulação extrínseca sugere que a razão para fazer alguma coisa é ainda de origem externa, mas em parte já é algo também interno, porque o indivíduo percebe a razão como pessoalmente importante. Como exemplo, um aluno que estuda muito para ir para a faculdade e se tornar médico. Nesse caso, a meta tem valor, relevância e importância pessoais. A última forma de regulação extrínseca, segundo os autores, é a melhor de ser estimulada, a regulação integrada, onde a razão externa para a atividade é percebida totalmente coerente com o autoconceito, ou seja, apesar de ser extrínseca, a percepção local de controle é totalmente interna.
De acordo, com os tipos de regulação propostos pela Teoria da Autodeterminação é possível planejar atividades que estimulem os indivíduos da melhor maneira possível, de acordo com suas características próprias, fazendo com que estes, adquiram autonomia, necessária para o decorrer de sua vida.
A realidade do estágio
Durante as aulas do estágio obrigatório supervisionado nas séries iniciais, dentro de uma escola pública da rede municipal de ensino de Pelotas, percebemos o quanto é importante a motivação nas aulas de educação física, tanto da parte do professor, quanto da parte dos alunos. A turma de 3ª série com a qual trabalhamos, era composta por vinte alunos com idade entre 9 e 10 anos, sendo que haviam mais meninos do que meninas. A escola possuía uma infra-estrutura muito favorável para a prática de atividade física, com quadra de cimento e grande variedade de materiais. Era localizada na periferia da cidade, em um bairro tradicional, onde seus moradores eram oriundos da zona rural na sua grande maioria e possuíam renda familiar baixa. A turma era bem homogênea quanto o desenvolvimento motor e cognitivo, o que facilitou o planejamento de trabalho.
No que tange especificamente às aulas, a grande maioria dos alunos era extremamente participativa, com raras exceções. Para tanto o planejamento foi desenvolvido com o objetivo de atender às necessidades e características do grupo de alunos, mas com certo grau de exigência e empenho dos mesmos. Percebemos que o desempenho dos alunos era melhor quando os desafios eram maiores, e nessas situações sua motivação aumentava. Alguns alunos que não participavam ativamente das aulas de EF, demonstraram interesse nos desafios propostos e se alguma atividade não era aceita pelo grupo, ou se percebíamos que estava muito fácil de ser realizada, tratávamos logo de dificultar um pouco, ou alterar as regras, para que a atenção dos mesmos se mantivesse na aula. Procurava explicar as atividades para o grupo como um todo, tentando minimizar as diferenças entre os alunos. Segundo Bzuneck (2001, citado por Eccheli, 2008), “[...] o ideal é distribuir a comunicação de forma a abranger o maior número possível de estudantes, e se comunicar evitando todas as formas de comparação entre os alunos, pois essa atitude pode ser danosa às crenças de auto-eficácia dos alunos, uma vez que ao serem comparados se julgam menos capazes do que os demais”.
Com o objetivo de aumentar a participação dos alunos em aula, no planejamento, deixamos estabelecido, que durante uma aula por mês seria realizado o “dia do futebol”, onde os alunos poderiam praticar o desporto, já que o mesmo era uma das atividades que as crianças mais gostavam. Ficou estabelecido também que em cada aula um aluno ficaria responsável por desenvolver uma atividade que gostasse, com os colegas. Tal alternativa foi bem aceita pelo grupo, pois os alunos participavam efetivamente das aulas, na medida em que realizavam atividades de seu interesse.
Outro aspecto importante que aumentava a participação dos alunos em sala de aula era o incentivo verbal dado durante a realização das atividades, onde era possível perceber claramente aumentar o nível de motivação de cada um. Durante algumas atividades realizadas em aula, participamos como se fossemos um aluno, e isso também fazia com que as crianças se envolvessem ainda mais na aula, talvez pelo fato de tentar superar o professor (“um desafio a mais”) ou por fazer com eles percebessem a importância de realizar tais tarefas (“... já que o professor faz, devo fazer também...”).
Com relação à postura enquanto professor, procuramos ser extremamente motivadores e questionador, fazendo com que os alunos pensassem em suas próprias formas de realizar as atividades e superar seus limites. Por se tratar do primeiro estágio obrigatório do curso, estávamos muito motivados em preparar aulas prazerosas para os alunos, possibilitando um maior aprendizado aos mesmos. Além disso, um agente facilitador das aulas foi a questão da infra-estrutura fornecida pela escola, com diversos materiais, o que dava muita autonomia para a elaboração das atividades, facilitando muito o trabalho. Percebemos ainda que a motivação está intimamente ligada à relação aluno-professor junto com os aspectos emocionais e psicológicos que a envolvem, pois apesar do pouco tempo de trabalho, me apeguei aos alunos e percebo o mesmo por parte deles, e isso contribuiu para o bom andamento das aulas juntamente com sua participação e motivação durante as mesmas.
Conclusão
É preciso modificar o atual panorama da EF, onde a reprodução de movimentos é priorizada, independente das características do grupo de alunos. Faz-se necessária uma reflexão acerca dos conteúdos trabalhados, adequando-os às necessidades dos discentes, levando em conta seu nível de desenvolvimento motor, suas condições sociais e as características do ambiente em que se inserem.
Por fim, a partir da análise feita na literatura e a experiência no estágio supervisionado, a motivação dos alunos nas aulas de EF, dois principais fatores devem ser considerados: o tipo de planejamento proposto pelo professor, com metas alcançáveis, mas desafiador ao aluno (promovendo uma motivação intrínseca). E, a postura do professor perante os alunos, procurando questionar, e promover a interiorização dos mesmos para a realização das atividades e resolução de problemas. Sendo assim, percebe-se que o processo de ensino-aprendizagem se torna mais efetivo contando com a participação ativa dos alunos nas aulas de EF.
Referências bibliográficas
ARAUJO, S. S. D.; MESQUITA, T. R. T.; ARAUJO A. C. D.; BASTOS, A. A. Motivação nas aulas de Educação Física: Um estudo comparativo entre gêneros. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008. http://www.efdeportes.com/efd127/motivacao-nas-aulas-de-educacao-fisica.htm
ECCHELI, S. D. A motivação como prevenção da indisciplina. Educar, Curitiba, n. 32, p. 199-213, 2008. Editora UFPR.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 12a edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. p. 176
GOUVEIA, F. C. Motivação e Prática da Educação Física. Campinas: Papirus, 2007.
GUIMARÃES, S. E. R.; BORUCHOVITCH, E. O Estilo Motivacional do Professor e a Motivação Intrínseca dos Estudantes: Uma Perspectiva da Teoria da Autodeterminação. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2004, 17(2), pp.143-150
KOBAL, M.C. Motivação intrínseca e extrínseca nas aulas de educação física. Dissertação (Mestrado em Educação Física), Campinas, UNICAMP, 1996.
KREBS, R. J.; COPETTI, F. & BELTRAME, Thais S. Uma Releitura da Obra de Urie Bronfenbrenner: a Teoria dos Sistemas Ecológicos. In: KREBS, Ruy J. Teoria dos Sistemas Ecológicos: Um Novo Paradigma para a Educação Infantil. Santa Maria, RS: Kinesis, pp. 17-40, 1997.
LENS, W.; MATTOS, L.; MAARTEN, V. Professores como fontes de motivação dos alunos: O quê e o porquê da aprendizagem do aluno. Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 17-20, jan./abr. 2008.
MORENO, R. M.; DEZAN F.; DUARTE, L. R.; SCWARTZ, G. M. Persuasão e motivação: interveniências na atividade física e no esporte. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 11 - N° 103 - Diciembre de 2006. http://www.efdeportes.com/efd103/motivacao.htm
NÉRICI, Imídeo Giuseppe. Didática: uma introdução. São Paulo: Atlas, 1993.
STAVISKI, G.; CRUZ, W. M. D. Aspectos motivadores e desmotivadores e a atratividade das aulas de Educação Física na percepção de alunos e alunas. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 13 - N° 119 - Abril de 2008. http://www.efdeportes.com/efd119/aspectos-motivadores-e-desmotivadores-das-aulas-de-educacao-fisica.htm
TRESCA, R. P.; ROSE JUNIOR, D. Estudo comparativo da motivação intrínseca em escolares praticantes e não praticantes de dança. Revista Brasileira Ciência e Movimento v. 8, n.1, p. 9-13, Brasília, 2000.
VEIGAS, J.; CATALÃO, F.; FERREIRA, M.; BOTO, S. Motivação para a prática e não-prática no desporto escolar. Disponível em: http://www.psicologia.com.pt/artigos/
WINTERSTEIN, P. J. Motivação, educação física e esporte. Revista Paulista de Educação Física, v. 6, n. 1, p. 53-61, jan./jul. 1992.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 158 | Buenos Aires,
Julio de 2011 |