A participação do aluno obeso nas aulas de Educação Física: um estudo de caso La participación del alumno obeso en las clases de Educación Física: un estudio de caso |
|||
* Discente da graduação em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB/RJ) ** (orientador) Mestre em Ciências da Motricidade Humana Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Castelo Branco |
Amanda Feital* José Mauro de Sá Oliveira** (Brasil) |
|
|
Resumo Este artigo trata da questão da obesidade infantil e suas possíveis influências na participação do aluno obeso nas aulas de Educação Física. O aluno foco do estudo de caso é do sexo masculino, 9 anos e estuda no 5º ano do ensino fundamental de uma instituição particular de Padre Miguel, Rio de Janeiro - RJ onde foi investigado por Amanda Feital Silva, discente da Universidade Castelo Branco do curso de Licenciatura em Educação Física. Unitermos: Obesidade infantil. Educação Física.
Abstract This article addresses the issue of childhood obesity and its possible influence on the student's participation in the obese physical education classes. The student focus of the case study are male, 9 years old and studying in the 5th year of elementary education at a private institution of Padre Miguel, Rio de Janeiro - RJ, where was investigated by Amanda Feital Silva, student, Universidade Castelo Branco Travel Degree in Physical Education. Keywords: Childhood obesity. Physical Education.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
Atualmente o conteúdo escolar nas aulas de Educação Física não está mais voltado para a performance e a competição. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 2000), o objetivo da Educação Física hoje é muito mais amplo, no sentido de contribuir no desenvolvimento do aluno em todos os aspectos sejam eles psicomotores, afetivos ou sociais de forma concomitante através da cultura corporal do movimento na qual se baseia esta disciplina.
Nesta linha de raciocínio, fica difícil pensar que ainda podem existir formas de exclusão de alunos na participação das aulas de Educação Física, porém quando o aluno de uma classe sente-se diferente por algum motivo, geralmente estético, ele próprio se exclui ou é excluído pelos demais alunos ou até mesmo pela atividade proposta, daí a importância do professor estar atento a estas questões e realizar atividades que se encaixem com todos os alunos, visando uma total integração da turma (SILVA, 2010).
No caso de crianças obesas, objeto deste estudo, são inúmeros os fatores que influenciam na falta de interesse durante as aulas de Educação Física a serem verificados (IDEM), portanto o objetivo específico em questão é verificar a relação da obesidade infantil do aluno com o seu desinteresse nas aulas de Educação Física.
Primeiramente, ocorrerá uma abordagem sobre o diagnóstico da obesidade infantil e suas implicações na saúde, bem como suas influências psicológicas e no desenvolvimento motor, para que em um segundo momento faça-se uma relação sobre o comportamento do aluno observado diante deste quadro.
Serão analisados e discutidos os resultados das questões aplicadas ao aluno e ao professor, a fim de verificar como estes lhe dão com a questão da obesidade infantil e a falta de participação nas aulas de Educação Física, identificando possíveis soluções para reverter tal situação.
Características da obesidade infantil
A obesidade refere-se ao acúmulo excessivo de gordura corporal, problema de saúde hoje de ordem mundial sendo considerado uma epidemia (Organização Mundial de Saúde), e a obesidade infantil, por sua vez, é ainda muito mais alarmante, pois refletirá na saúde do indivíduo adulto, daí a preocupação de os hábitos alimentares na infância e estimular para uma vida ativa através das atividades físicas.
Existem três períodos críticos durante a infância para o desenvolvimento da obesidade: o período intra-uterino, o período entre 4-6 anos e a chagada a adolescência, por volta dos 12 anos (BOUCHARD, 2003).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade está relacionada a diversos problemas de saúde e compromete o bem estar dos indivíduos, inclusive, colocando suas vidas em risco. O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de pessoas que sofrem de obesidade mórbida, pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40. No caso de crianças, o IMC elevado vem aumentando, pesquisas mostram que no Brasil foi detectada a obesidade infantil em 4,1% no período de dez anos (MOTTA, SILVA, 2001).
Para a classificação da obesidade a partir do peso corporal a OMS baseia-se no Índice de Massa Corpórea (IMC) que é dado a partir da seguinte forma: o peso em quilogramas, dividido pela altura, em metros, ao quadrado (Kg/m2). Desta forma a obesidade é definida quando o IMC for de 30 Kg/m2 ou mais. Já Viuniski (2000) reformulou o quantitativo do IMC ajustando-o a faixa etária ficando organizado assim: em uma criança de 8 a 10 anos do sexo masculino, conforme o caso estudado é considerada obesa se seu IMC estiver entre 21,6 e 24, ressaltando a diferenciação entre meninos e meninas e, ainda, o autor enfatiza que além dos fatores já citados como o sedentarismo e má alimentação ocorre o fator predisposição genética que deve ser observado e distúrbios endócrinos (hipotireoidismo).
Cada vez mais com o avanço tecnológico tem-se a diminuição do gasto energético diário, um dos fatores que contribui para o aumento da obesidade em países industrializados ou em desenvolvimento. Em contrapartida, o gasto energético em atividades de lazer pode ter aumentado ligeiramente, porém não foi o suficiente para compensar a automação e a urbanização (BOUCHARD, 2003).
A obesidade infantil no contexto escolar
Segundo a Organização Pan-Americana Saúde (2003) o número de crianças obesas entre 6 a 11 anos mais do que dobrou desde a década de 1960. Diante desses dados é importante ressaltar o papel do professor de Educação Física escolar, no sentindo de promoção da saúde e aquisição de hábitos saudáveis, bem como a vontade de praticar atividades físicas através do estímulo através de jogos, exercícios e brincadeiras (VILLARES e colaboradores, 2003). Sendo assim, enfatiza SILVA (2003):
“A Educação Física tem papel fundamental no combate á obesidade infantil, ela pode proporcionar vivências motoras agradáveis aos alunos fazendo com que a atividade física passe a ser vista como algo prazeroso, esse é o princípio para que a pessoa se torne fisicamente ativa”.
Estudos comprovam que há uma baixa atividade física em crianças obesas, quando comparada com crianças magras e que isto pode ser a causa ou a conseqüência da obesidade delas. Deve-se levar em consideração entre o comportamento de sedentários, hábitos que cada vez mais contribuem para o desenvolvimento da obesidade, como ver televisão por muitas horas, ficar ao computador, videogame, etc. o que implica em uma alimentação inadequada com o aumento da quantidade de alimentos ingeridos em lanches, levando a obesidade por esta via (BOUCHARD, 2003). As implicações destes fatores apontam para um problema de saúde pública no qual as indústrias de alimentos e a mídia devem trabalhar em conjunto para que não sejam indutores de ganho de peso.
Dentro do ambiente escolar, em especial nas aulas de Educação Física, é muito comum as outras crianças estereotiparem o aluno obeso, e este por sua vez, se coloca de forma passiva diante dos demais. Quando isto ocorre, a criança cria sua auto-imagem negativa, o que pode levá-la a frustração e desencadear em humor negativo, resignação e recaída. Fator muito ruim para a o desenvolvimento das aulas de Educação Física, pois uma imagem corporal negativa pode criar uma barreira à prática de exercícios, o que pode ser uma das causas que levam à falta de participação do aluno nas atividades, além do receio de se expor aos demais alunos e pela baixa auto-estima sentindo-se incapaz e realizar as tarefas corporais (IDEM).
A Educação Física está entre as disciplinas prediletas das crianças na escola, mas o que remete uma dúvida é entre as crianças obesas, se estes confirmam estes dados. Já que um dos efeitos da obesidade é o isolamento, deverá o professor adequar seus conteúdos de forma que permita que os alunos se socializem e não discriminem os demais. Um grande passo para que o professor atinja com sucesso este objetivo é propor atividades lúdicas de muita movimentação e de cunho não competitivo, já que quando os alunos tendem a formar grupos não querem que o aluno obeso faça parte (SILVA, 2003). Desta forma, ele garantirá aderência desses alunos contribuindo para a minimização do sedentarismo.
Ressaltando a questão da ludicidade em favor da socialização Alves (2003) contribui afirmando que “a atividade física para crianças não pode ser punitiva e nem necessariamente competitiva, mas sempre prazerosa”. Com isso a criança descobrirá que além de saúde física e mental ela pode se relacionar melhor com outras crianças durante as atividades físicas.
Quanto ao desenvolvimento motor, estudos comprovam que crianças obesas sofrem um déficit neste aspecto principalmente nas áreas ligadas a Organização temporal, a Organização espacial e o Equilíbrio (ROSA NETO, 2001), este atraso pode ser causado pela inatividade ligada ao estado de obesidade, dificuldade para realização de atividades, vergonha da exposição de sua aparência corporal.
Relações entre a obesidade e o comportamento do aluno observado
Durante as aulas da turma do 5° ciclo do ensino fundamental da Escola Luarte A Casa do Curumim, Padre Miguel-RJ, foi observado o comportamento do aluno de 9 anos, enquadrado nas características biofísicas, segundo a OMS, de obesidade infantil. Fica evidente que no desenvolvimento das aulas de Educação Física este aluno não participa como os demais alunos, excluindo-se espontaneamente de algumas atividades. Apesar de o aluno parecer sentir-se envergonhado diante de sua exposição corporal em nível de desempenho motor, nunca foi observado pela estagiária nenhum tipo de manifestação de preconceito dos colegas de turma.
As atividades pertinentes às aulas de Educação Física desta turma baseiam-se em jogos pré-desportivos, com algumas competições como contestes ou pequenos jogos. Apesar disso, não são realizadas de forma exacerbada e si possuem um cunho altamente social como trabalhos em equipe, favorecendo a socialização entre os alunos. Mediante isto, o aluno raramente participa de atividades que necessitam de seu desempenho motor como correr, saltar, pular, entre outras habilidades básicas que a maioria das crianças gosta de explorar, quando o faz, realiza sem motivação.
Diante das observações, pode-se concordar com o que diz ROSA NETO (2001) quanto ao comprometimento motor do aluno obeso, pois se vê claramente que há uma diferença no desenvolvimento motor deste quando comparado aos demais alunos da mesma idade.
Para a diagnose das questões abordadas sobre o comportamento do aluno estar relacionado à obesidade, teremos dois questionários que foram adaptados e aplicados ao professor e ao aluno separadamente, onde serão analisados a seguir.
Questionário aplicado ao aluno e ao professor
Para uma mais completa realização deste estudo, o ideal seria que os pais do aluno também respondessem ao questionário, porém isto não foi possível devido à indisponibilidade dos mesmos. Portanto somente o professor e o aluno foram questionados.
O questionário ao aluno tem como objetivo conhecer seus hábitos alimentares, de lazer, relação com a família, genética, relação com os amigos quanto perseguições devido ao peso e sua auto-avaliação de imagem corporal, além de procurar identificar possíveis danos psicológicos (MIRANDA, 2006).
O professor de Educação Física desconhece se o aluno possui algum tipo de distúrbio endócrino que afetaria na questão da obesidade e informa que o aluno está apto a praticar atividades físicas porque os pais nunca apresentaram nenhum atestado que o contradissesse, porém não pode obrigá-lo a participar de todas as atividades.
Discussão
Após a aplicação do questionário, podem-se fazer algumas considerações sobre o aluno observado.
Através das respostas do aluno, percebemos que ele possui vergonha da sua aparência diante dos colegas e antes que estes o excluam das atividades ele mesmo se antecipa quanto ao isso. Relata que na escola sofre com brincadeiras e comentários sobre o seu corpo, mas ele tem consciência de que está acima do peso. Como seus pais trabalham, ele passa muitas horas por dia vendo TV ou no computador, fazendo lanches fora de hora. Além da má alimentação, existe o fator sedentarismo que está ligado ao aumento de peso seja o indivíduo infantil ou não, pois o aluno afirma que não pratica atividade física regular. E por fim, após todas as questões ele conclui que não gosta das aulas de Educação Física, onde ele teria que se colocar seu corpo para agir, porém devido ao receio de comentários ele pouco participa.
O posicionamento do professor apontou para a consciência de que as aulas não são atraentes para o aluno obeso, como sugere Alves (2003) citado acima quanto à ludicidade para atrair o aluno a se socializar, o seu conteúdo não é adaptado para que isto ocorra, mas esboçou vontade de fazer uma mudança para atraí-lo para as aulas por aceitar que a Educação Física contribui no desenvolvimento do aluno, inclusive no aspecto motor que considera no aluno inferior aos demais. Frainer et al (2006) explica porque isso ocorre:
”“Este atraso motor pode ser causado pela inatividade ligada ao estado de obesidade, dificuldade para realização de atividades, vergonha da exposição de sua aparência corporal. Este cuidado para não se expor proporciona ao obeso a escolha de atividades com abaixo gasto calórico
Considerando que a escola faz parte do processo de melhora de comportamento dos indivíduos, o professor concorda que a escola deve chamar os pais do aluno para conversar sobre a saúde do aluno e como a questão da obesidade o tem influenciado no seu desenvolvimento, socialização e interesse.
Considerações finais
Como estagiária, cumpre-se o papel de observador deste aluno que chama muita atenção nas aulas de Educação Física por se destacar desta forma negativa dos demais alunos. Acredito que o caminho seja este, primeiramente a escola e professor conversarem com os pais para rever seus hábitos do dia-a-dia, tendo em vista que a escola não pode atuar sozinha neste processo, já que a família é fundamental para o aluno. Após isso, rever com o professor da disciplina formas de incluir o aluno nas aulas de modo a participar das atividades que o permita uma maior socialização e gradativa movimentação no espaço, considerando que o receio do aluno é expor seu desempenho em tarefas motoras.
Considerando que o professor respondeu no questionário que não tem sido feito nada para reverter esta situação, com o levantamento destas questões dentro da escola, espera-se que realmente ocorram mudanças significativas no contexto das aulas e da própria escola ao lhe dar com este tipo de situação.
Assim, espero poder ter contribuído de alguma forma na vida deste aluno fazendo esta observação e levando-a para debate dentro da escola. Como futura professora de Educação Física, acumulo esta experiência para levar na minha carreira e seguir fazendo a diferença de forma positiva a quem passar por minhas aulas, entendendo que este é o papel do educador.
Referências
ALVES, J.G.B. Atividade física em crianças: promovendo a saúde do adulto. Revista Brasileira Saúde Materno Infantil, Recife, v. 3, nº 1, p. 5-6, 2003.
BOUCHARD, Claude. Atividade Física e Obesidade. Editora Manole, Barueri/SP, 2003.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Ensino de 5ª a 8ª série, Brasília/DF, 2000.
FRAINER, D. E. S., MOREIRA, D. PAZIN, J. Crianças obesas tem atraso no desenvolvimento motor. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 11 - N° 101 - Outubro de 2006. http://www.efdeportes.com/efd101/criancas.htm
MIRANDA, Tatiana C. A incidência da obesidade em crianças de 1ª a 3ª séries em uma escola particular da zona sul de São Paulo. (monografia). 2006, 57 p. Universidade Adventista de São Paulo, São Paulo: 2006.
MOTTA, Maria Eugênia F.A. e SILVA, Gisélia A. P. Desnutrição e obesidade em crianças: delineamento do perfil de uma comunidade de baixa renda, Rio de Janeiro. Ed. Sprint, 2001.
ROSA NETO, Francisco. Manual de Avaliação Motora. Florianópolis, 2001.
SILVA, Alex Batalha M, Obesidade E Obesidade Infantil. Educacaofisica.com.br
VILLARES, S. M. F. e colaboradores. Obesidade Infantil e Exercício. Revista Abeso, Ano IV, nº 13, Abril 2003.
VIUNISKI, N. Pontos de Corte de IMC Para Sobrepeso e Obesidade Em Crianças e Adolescentes. Revista Abeso. 3º Edição, 2001.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 158 | Buenos Aires,
Julio de 2011 |