Protagonistas que facultam as manifestações de esporte e lazer da Região Central do Estado do Rio Grande do Sul Los responsables por el desarrollo del deporte y ocio en la Región Central del Estado de Río Grande do Sul |
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*Doutor em Educação Física, UNICAMP Profº Associado do CEFD/UFSM **Doutora em Ciências da Comunicação, UNISINOS Profª Adjunta do CEFD/UFSM ***Graduanda em Educação Física na
UFSM |
João Francisco Magno Ribas* Elizara Carolina Marin** Sabrine Damian da Silva*** Andressa Ferreira da Silva*** |
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Resumo Este artigo visa apresentar algumas caracterizações dos profissionais que propõem e mediam as manifestações de esporte e lazer dos municípios da Região Central do RS, resultante de uma pesquisa financiada pelo Ministério do Esporte/Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer/Centro de Desenvolvimento do Esporte e Recreativo e de Lazer que lançou mão de um conjunto de procedimentos metodológicos de coleta, análise e construção de resultados. Os primeiros dados evidenciam que apesar da inexistência de setores especializados na organização das manifestações de esporte e lazer e do inexpressivo número de profissionais de Educação Física responsáveis pelas ações, as prefeituras são as principais gestoras, seguidas das Instituições de Ensino e Centro de Tradições Gaúchas. Unitermos: Lazer. Esporte. Gestores de esporte e lazer
Resumen Palabras clave: Gestión. Tiempo libre. Deporte. Deporte. Recreación
Texto básico apresentado no XXI Encontro Nacional de Recreação e Lazer (ENAREL), novembro de 2009, Florianópolis, SC, Brasil
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Considerações iniciais
O projeto “Diagnóstico das Manifestações de Esporte e Lazer do Campo e da Cidade da Região Central do RS” 1realizado pelo GPELF/CEFD/UFSM nos anos de 2008 e 2009 deu o primeiro passo para construir um panorama das manifestações dos municípios da Região Central do Rio Grande do Sul, considerando a caracterização, as diferentes faixas etárias, gêneros e etnias. Os resultados desta pesquisa estão sendo divulgados junto à base de dados on-line (será de livre acesso), denominada “Mapa das Manifestações de Esporte e Lazer da Região Central do Rio Grande do Sul”. Neste projeto, as manifestações dos povos são compreendidas “como patrimônio cultural da humanidade que precisam ser conhecidas, preservadas, transmitidas, recriadas e garantidas, cabendo as Instituições Científicas, as Instituições de Gestão Pública, entre outras, a produção de pesquisas e o desenvolvimento de políticas culturais” (MARIN E COLABORADORES, 2008).
A pesquisa foi desenvolvida na Região Central do Estado do Rio Grande do Sul segundo divisão do Conselho Regional de Desenvolvimento (FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER, 2008), e engloba os seguintes municípios: Agudo, Dilermando de Aguiar, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Formigueiro, Itaara, Ivorá, Jarí, Júlio de Castilhos, Nova Palma, Pinhal Grande, Quevedos, São João do Polêsine, Santa Maria, São Martinho da Serra, São Pedro do Sul, Silveira Martins, Toropi e Tupanciretã. O estudo partiu do princípio que “... as manifestações esportivas, de lazer e lúdicas são dimensões humanas que compõem a identidade sociocultural dos povos e estão intimamente ligados com as condições materiais de existência” (MARIN E COLABORADORES, 2008, p.4).
O presente texto visa organizar as informações e realizar o primeiro nível de discussão referente aos protagonistas que mediam e facultam as manifestações de esporte e lazer na Região Central do RS.2 Algumas instituições brasileiras e pesquisadores têm se preocupado com o levantamento e discussões sobre as manifestações no Brasil. São exemplos: o convênio celebrado entre o IBGE e o Ministério de Esportes que resultou no relatório denominado “Perfil dos Municípios Brasileiros: Esporte 2003”; o recente trabalho organizado por Lamartine P. DaCosta (2005) em que apresenta um levantamento das modalidades esportivas praticadas no Brasil, o mapa geográfico dessas práticas e o impacto econômico gerado pelo esporte; e a pesquisa do sociólogo Eduardo Dias Manhães (2002) sobre a política de esportes no Brasil; Observatório de Políticas de Educação Física, Esporte e Lazer – constituído em 1999 (OBSERVATÓRIO DO ESPORTE, 2009).
Procedimentos metodológicos
Trata-se de uma pesquisa qualitativa e quantitativa que utiliza como fonte de dados os sites que contemplam informações sobre o contexto econômico, social e cultural dos municípios pesquisados; os documentos oficiais das Secretarias dos Municípios; os sujeitos sociais envolvidos na organização e desenvolvimento das manifestações de esporte e lazer. Como instrumentos de coleta de dados, adotamos roteiros para buscas nos sites, nos documentos oficiais e na mídia impressa; bem como, formulários e entrevistas3. As entrevistas nesta pesquisa foram realizadas com os organizadores e mediadores das manifestações de esporte e lazer.
Os elementos que irão nortear o entendimento dos sentidos e leis que regem a lógica das manifestações de esporte e lazer na Região Central do Estado do RS partindo da caracterização dos protagonistas são: instituição, formação, gênero, idade e tipologia.
Análises prévias sobre os protagonistas das manifestações de esporte e lazer
Segundo dados do COREDES referente ao ano de 2008 (FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER, 2008), a Região Central do Rio Grande do Sul comporta uma população total de 400.150 habitantes, distribuídos em 19 municípios, são eles: Agudo (17.020 hab.), Dilermando de Aguiar (3.222 hab.), Dona Francisca (3.627 hab.), Faxinal do Soturno (6.459 hab.), Formigueiro (7.238 hab.), Itaara (4.717 hab.), Ivorá (2.423 hab.), Jarí (3.805 hab.), Júlio de Castilhos (19.978 hab.), Nova Palma (6.495 hab.), Pinhal Grande (4.556 hab.), Quevedos (2.753 hab.), São João do Polêsine (2.751 hab.), Santa Maria (266.209 hab.), São Martinho da Serra (3.483 hab.), São Pedro do Sul (16.859 hab.), Silveira Martins (5.996 hab.), Toropi (3.137 hab.) e Tupanciretã (22.904 hab.).
Os dados levantados indicam que um grande número de manifestações de esporte e lazer são organizados pelas prefeituras municipais, contudo em sua maioria elas não possuem um setor específico responsável para desenvolver tais políticas de ações ficando estes vinculados a secretarias de outros setores, exceto a cidade de Santa Maria que conta com a Secretaria de Município da Juventude, Esportes, Lazer, Idoso e Criança.
As Prefeituras Municipais, segundo Amaral (2004), são as instituições com maior capacidade de influenciar pela persuasão ou pela negociação, e, até mesmo, de estabelecer mecanismos de tomada de decisão final, sendo atribuída a esta Instituição a principal influência e orientação da sociedade atual. Os dados encontrados até o momento sobre as manifestações de esporte e lazer na região central reafirmam tal perspectiva, pois indicam que a gestão municipal é responsável pela promoção da maioria dos eventos.
Gráfico 1. Instituições que organizam eventos
Dentre as instituições pesquisadas e expressas no gráfico acima (escolas, prefeituras municipais, instituições religiosas, Centros de Tradições Gaúchas/CTGs, Grupos e Associações) houve um levantamento de 376 manifestações de esporte e lazer4, sendo que praticamente 1/3 dessas manifestações são propostas pelos municípios.
O Estado, sobretudo, tem sido encarregado para garantir o acesso ao esporte e ao lazer a todos os cidadãos, tendo em vista ser um direito social garantido pela constituição. Atualmente, o órgão político administrativo federal gestor das políticas públicas de esporte e de lazer é o Ministério do Esporte, criado em 2003. Entretanto, resta saber, que tipo de eventos são priorizados por cada uma das Instituições, os recursos envolvidos, a política que orienta as ações, para compreender se a política de esporte e lazer proposta possui viés educativo, emancipatório ou funcionalista.
O diagnóstico revelou que os Centros de Tradições Gaúchas (CTG), juntamente com as escolas, se constituem no segundo âmbito responsável pelas manifestações de Esporte e Lazer nesta região. Há fortes evidências de que esta Instituição não se constitui somente num espaço de preservação da cultura local, mas, também, de produção de manifestações que tem provocado mudanças nas vivências de esporte e lazer na região (este é um aspecto que necessita ser aprofundado em outros estudos).
Quanto à formação dos protagonistas que organizam as manifestações de esporte e lazer, pode-se dizer que 39% possuem formação em Educação Física, porém, destes, a maioria estão vinculados as instituições escolares. Quando se analisa com mais profundidade os protagonistas das secretarias municipais, identifica-se que poucas prefeituras contam com profissionais da área da Educação Física na condução de tais ações.
Gráfico 2. Formação dos Organizadores
Proni (2004) destaca que em relação aos serviços de lazer no contexto brasileiro, a maioria dos envolvidos possuem baixa qualificação profissional. Ainda que o campo do lazer seja multidisciplinar, ou seja, possibilita a intervenção de profissionais com diferentes formações, se faz necessário formação específica e aprofundada sobre o tema.
Como podemos identificar, e o gráfico abaixo ilustra, os protagonistas das manifestações em sua grande maioria pertencem ao gênero masculino e possuem em média 41,51 anos. Grande percentual das manifestações propostas e mediadas por eles são direcionadas ao mesmo gênero, tais como: campeonatos de futebol e futsal, rodeios (provas de pialo, rédea, tiro de laço, gineteada), jogo de bocha, entre outros.
Para as mulheres são proposta atividades tipicamente femininas como chás das senhoras, jantar das mulheres, atividades religiosas, festas de santo, datas comemorativas, etc.
Gráfico 3. Gênero dos organizadores dos eventos
Para fins de análise as manifestações de esporte desenvolvidas na Região Central forma agrupadas nas seguintes tipologias: manifestações da escola: trata-se das diversas manifestações orientadas pelo projeto pedagógico dos sistemas de ensino; esporte institucionalizado: práticas que adotam os sistemas de regras e códigos nacionais e internacionais, representados por Confederações Internacionais e que visam resultados; lazer e jogos populares: trata-se das práticas desenvolvidas com diferentes fins (diversão, busca de prazer, religiosidade...), organizadas por instituições locais (Igreja, CTG...) desenvolvidas de forma sistemática.
Constatamos, a partir dos resultados da pesquisa, que a maioria das manifestações de esporte e lazer desenvolvidas nos municípios em foco, podem ser classificadas como lazer e jogos populares (215 eventos), seguido pelas manifestações da escola (102) e pelo esporte institucionalizado (59 eventos), perfazendo um total de 376 manifestações.
O alto índice de manifestações classificadas como lazer e jogos populares atribui-se as características culturais da região. São fortemente influenciadas pela colonização (Italianos e Alemães), pela religiosidade, pelo cultivo das tradições gaúchas realizando diversos tipos de festas e eventos comemorativos.
Gráfico 4. Tipologia dos eventos e manifestações
Considerações finais
Há que se dizer que o conhecimento dos mediadores que facultam a ocorrência das manifestações de esporte e lazer é um caminho necessário para empreender políticas de democratização do esporte e do lazer, que garantam a auto-gestão, ou seja, a emancipação humana e social, aqui entendido como:
"processo de libertação dos homens em relação ao seu estado de sujeição ao sistema e aos imperativos econômicos oriundos do modo de produção. Uma sociedade cujos membros são emancipados é uma sociedade que possibilita o livre desenvolvimento dos mesmos sem que eles tenham que sacrificar as próprias vidas em função de interesses que não são as necessidades humanas, coletivas e sociais" (PADILHA, 2000, p.16).
Numa sociedade desigual como a brasileira pensar, organizar e mediar a democratização do esporte e do lazer por meio de políticas públicas passa, necessariamente, pelo conhecimento da ocorrência destes elementos da cultura humana nos diferentes espaços sociais, para que as decisões estratégicas sobre o que propor e como propor tenham como eixo balizador as necessidades concretas dos municípios e das regiões, bem como, a preservação da identidade e particularidades locais e o estímulo à autonomia dos indivíduos.
Um dos aspectos que dificultou o diagnóstico das manifestações de Esporte e Lazer da Região Central do Estado do RS diz respeito à ausência de registro dessas ações tanto nas prefeituras municipais quanto nas instituições de ensino. Partindo do pressuposto de que a história explica o presente, entendemos que o patrimônio cultural produzido pela sociedade deve ser registrado e preservado para auxiliar na compreensão dos rumos tomados por ela. Por isso, uma das propostas deste trabalho que culminou na criação da base de dados denominada “Mapa do Esporte e Lazer no RS”, é contribuir com os municípios a fim de que incorporem em suas ações a continuidade e manutenção da base de dados.
Outro ponto bastante relevante que a priori constatamos no diagnóstico se refere à falta de apoio para os jogos tradicionais da região em detrimento do Esporte. As prefeituras municipais vêm priorizando a organização e sistematização de eventos esportivos e não vem apoiando manifestações de jogos populares como, por exemplo, a Bocha. Ao mesmo tempo em que constatamos que a região apresenta uma riqueza de Jogos Tradicionais, inclusive de eventos Rurais (diferentes municípios organizam as Olimpíadas Rurais), constatamos que os mesmos não estão contemplados nas ações das políticas dos municípios da região.
Também não foram detectadas políticas que visem à continuidade e regularidade de ações de esporte e lazer. O que identificamos foi uma grande variedade de ações pontuais, os quais não garantem a incorporação das práticas realizadas no dia a dia dos indivíduos. Esta conclusão também acena para a necessidade de investimentos de políticas públicas que visem possibilitar aos cidadãos a regularidade das práticas de esporte e lazer no seu tempo livre diário. Ou seja, políticas que garantam a construção e manutenção de espaços públicos suficientes e adequados para a realização de jogos, de atividades esportivas e de lazer, associada à documentação e a historicidade da cultura de esporte e lazer promovida e realizada nestes municípios.
O fato dos profissionais que tem atuado nas instituições promotoras dos eventos de esporte e lazer não terem formação em Educação Física pode ser um importante elemento para análise da falta de políticas mais estáveis e duradouras.
Notas
Trata-se da pesquisa financiada pelo Ministério do Esporte/Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer/Centro de Desenvolvimento do Esporte e Recreativo e de Lazer (ME/SNDE/REDE CEDE), aprovada no edital da Chamada Pública – Rede CEDES, Portaria n°15, de 31 de dezembro de 2007 (D.O.U. nº 23 de 01/02/2008, seção 1, pg.94), sob a coordenação dos pesquisadores Elizara Carolina Marin e João Francisco Magno Ribas, responsáveis pelo Grupo de Pesquisa em Lazer e Formação de Professores (GPELF) do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
A pesquisa “Protagonistas das Manifestações de Esporte e Lazer do Campo e da Cidade da Região Central do Estado do RS”, está sendo financiada pelo Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIPE) da Universidade Federal de Santa Maria.
Os instrumentos de pesquisa foram construídos pelo Grupo de Pesquisa em Lazer e Formação de Professores (GPELF).
Esclarecemos que o total das manifestações destacadas não representa a totalidade do que foi desenvolvido no ano de 2008, na região em foco, pois foi utilizado critérios metodológicos para delimitar o universo da pesquisa.
Referências
AMARAL, Silvia Cristina Franco. Políticas Publicas. In: GOMES, Christianne Luce. Dicionário Critico do Lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p. 181-185.
DACOSTA, L. Pereira da (Org.). Atlas do esporte no Brasil: atlas do esporte, educação física e atividades física de saúde e de lazer no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005.
FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER. Conselho Regional de Desenvolvimento (COREDES) do RS. http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/resumo/pg_coredes.php. (consultado dia 06 de maio de 2008).
MANHÃES, Eduardo D. Política de esportes no Brasil. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Graal, 2002.
MARIN, Elizara Carolina e colaboradores. Diagnóstico das Manifestações de Esporte e Lazer do Campo e da Cidade, 2008 (projeto de pesquisa aprovado no edital Rede CEDES, 2007)
OBSERVATÓRIO DO ESPORTE. Observatório de Políticas de Educação Física, Esporte e Lazer. http://observatoriodoesporte.org.br/ (consultado dia 12 de setembro de 2009).
PADILHA, Valquíria. Tempo Livre e Capitalismo: um par imperfeito. Campinas: Alínea, 2000.
PRONI, Marcelo Weishaupt. Mercado de Trabalho. In: GOMES, Christianne Luce. Dicionário Crítico do Lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p. 158-161.
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