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Nível de percepção sobre preparação física dos 

atletas profissionais de futebol de Santa Maria

Nivel de percepción sobre la preparación física de los jugadores profesionales de fútbol de Santa María

 

*Profº Educação Física Bacharelado, Especializando

em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde

**Profª Drª Educação Física Licenciatura Plena

Universidade Federal de Santa Maria

(Brasil)

Mateus Corrêa Silveira*

mm.biomec@gmail.com

Luciane Sanchotene Etchepare Daronco**

luetchepare@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Verificar o nível de percepção e de entendimento sobre preparação física dos jogadores profissionais de futebol de Santa Maria em 2008. Materiais e métodos: Participaram do estudo 12 dos profissionais do Riograndense Futebol Clube. Aplicou-se um questionário para os atletas sobre o que estes entendiam ser trabalhado no treinamento, além de outro para o preparador físico para correlacionar as respostas. Resultados: Os percentuais relativos a cuidados com o físico, percepção relativa à efetuação de avaliações e interação entre preparador e jogadores foram elevados. As respostas relacionadas às variáveis trabalhadas durante os treinos mostraram certa dispersão entre os atletas, apontando maior concordância com as respostas do preparador na questão estrutural da preparação. Conclusão: O nível de percepção dos jogadores profissionais relativo à preparação física foi bom quando relacionado com os objetivos do preparador físico, porém ainda é possível aprimorar o conhecimento dos atletas a respeito das qualidades físicas desenvolvidas.

          Unitermos: Atletas. Preparador físico. Treinamento. Preparação física. Futebol.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A preparação física é parte fundamental para o trabalho de qualquer profissional de alto nível nos dias de hoje. É possível observar que com o treinamento o corpo busca adaptações de diversos tipos de variáveis em diferentes magnitudes, depois várias sessões (GHORAYEB et al., 2005) ou até mesmo apenas uma sessão de treino (PAZIKAS, CURI, AOKI, 2005) dependendo da intensidade trabalhada.

    Algumas vezes, torna-se de fundamental importância avaliar o atleta de diferentes formas. A sensação de dor através de escalas numéricas (GEMMELL, HAYES, CONWAY, 2005) e questionários avaliando as limitações causadas por lesões (MAQUIRRIAIN, MEGEY, 2006) são algumas formas de se levar em conta o depoimento do atleta sobre as sensações do próprio corpo, podendo então evoluir no treinamento.

    Preocupações a respeito do conhecimento dos atletas com a própria nutrição (NICASTRO et al., 2008) expõem a importância que estas informações podem ter para o desempenho esportivo. O preparador físico no futebol também deve estar ciente do trabalho que irá ser realizado com os jogadores, pois no futebol há a necessidade da prescrição de treinos planejados e de avaliações para os jogadores (SILVA, 2000), sendo em algumas vezes específicos devido ao posicionamento tático dos atletas (BALIKIAN et al., 2002).

    Logo, o conhecimento sobre como e quais tipos de variáveis estão sendo treinadas se torna importante à medida que, se estas não forem bem trabalhadas, os resultados a nível competitivo podem ser prejudicados. Com isso, o objetivo do estudo foi analisar a percepção de como é trabalhada a preparação física dos atletas profissionais de futebol da cidade de Santa Maria, considerando os relatos dos jogadores e do preparador físico.

Materiais e métodos

Amostra

    Para busca dos atletas e preparadores físicos que participariam da pesquisa, foram visitados os dois clubes profissionais de futebol de Santa Maria no ano de 2008: Riograndense Futebol Clube e Esporte Clube Internacional de Santa Maria. Porém, apenas os profissionais do Riograndense Futebol Clube retornaram o instrumento de coleta. Com isso, foram obtidos 12 questionários dos profissionais do clube, sendo 11 de atletas e um do preparador físico. A média e desvio-padrão das idades e percentuais relativos à posição dos jogadores estão dispostos na Tabela 1.

Tabela 1. Médias (X) e desvios padrão (S) de idade e percentual relativo às posições dos jogadores

Instrumento

    A pesquisa foi realizada através de questionários específicos aplicados aos atletas e ao preparador físico. Os atletas participantes responderam um questionário (Figura 1) que avaliava inicialmente o nível e frequência de prática, as qualidades físicas que entendiam ser trabalhadas nos treinamentos, além do seu entendimento sobre a importância da preparação física e cuidados especiais com o corpo. O preparador respondeu um questionário diferenciado (Figura 2) que abordava questões relativas à experiência do preparador físico, análise do método do treinamento, relacionamento com os atletas e outros cuidados ou orientações que passava aos próprios atletas.

Procedimento

    Os questionários foram entregues aos participantes, sendo respondidos individualmente. Foram analisados inicialmente os questionários dos atletas, verificando as suas respostas sem dependência das respostas do preparador físico. Logo, foram rebatidas as respostas dos atletas às respostas do questionário do preparador físico para comparação dos resultados.

Estatística

    Foi realizada estatística descritiva para análise de médias, desvios-padrão e percentuais dos resultados através do programa Microsoft Excel.

Resultados

    Os resultados relativos à carga horária de treinamento e de experiência no futebol estão dispostos na Tabela 2. Quanto à prática em categorias de base, 100% dos atletas afirmaram ter participado em pelo menos algum clube.

Tabela 2. Média (X) e desvio-padrão (S) da carga horária de treinamento e de experiência profissional no futebol

    A Tabela 3 apresenta o percentual sobre a dedicação dos atletas ser exclusiva ou não a modalidade, cuidados com a nutrição e sobre a presença ou não de período de férias. Os atletas em sua maioria se dedicam exclusivamente à prática do futebol, recebendo no mínimo uma vez por ano o benefício de férias. Quanto a recomendações nutricionais, poucos atletas admitiram receber instruções para a alimentação, tendo o próprio preparador físico e nutricionistas como responsáveis pela orientação.

Tabela 3. Percentuais sobre dedicação exclusiva ao futebol, recomendações nutricionais e férias

    O percentual relativo à percepção dos atletas a respeito das qualidades físicas trabalhadas nos treinamentos está exposto na Tabela 4. Apenas um dos atletas acrescentou um item além das variáveis consideradas no questionário.

Tabela 4. Percentuais acima das qualidades físicas treinadas na percepção dos atletas. RML – resistência muscular localizada. RCR – resistência cardiorrespiratória

    A percepção dos atletas a respeito de como acontece a divisão dos treinamentos durante o período de trabalho, preocupação a respeito da preparação física e cuidados com o corpo e interação entre preparador e atletas também constituíram o questionário. O percentual das respostas dos atletas está descrito na Tabela 5. 

Tabela 5. Percentual de percepção do atleta a respeito da divisão do treinamento, conversas com preparador,

 importância da preparação física, da realização de avaliações físicas e indicação de cuidados pelo preparador.

    Todos os atletas afirmaram ter um bom relacionamento com o preparador físico, tendo assim possibilidade de interagir com o mesmo buscando informações a respeito do treino.

    Por fim, na Tabela 6 estão rebatidos os dados referentes às respostas do preparador físico e dos atletas.

Tabela 6. Comparação entre as respostas do preparador físico e dos atletas

    O preparador físico afirmou realizar instruções nutricionais, porém destaca que só o faz em conjunto com nutricionistas. Como os resultados apontam um baixo percentual de cuidados relativos à nutrição, muito provavelmente este acompanhamento reportado não seja de responsabilidade do clube.

Discussão

    A avaliação do conhecimento do preparador físico através dos métodos utilizados para desenvolver o treinamento é fundamental. OLIVEIRA et al. (2010) relatam que o entendimento de como funcionam as respostas fisiológicas do corpo é essencial para a elaboração de um treino. Os mecanismos da fadiga, trabalhados em treinamentos de diferentes tipos de modalidade, devem ser cuidadosamente analisados para prescrição de um treino segundo os autores. Segundo MONTEIRO e FARO (2006) a percepção relativa do que representa e significa a atividade física de um profissional que lida com a saúde pode apontar em que estágio este se encontra. Em seu estudo com acadêmicos de enfermagem, os autores concluíram que os mesmos têm uma concepção correta a respeito de atividade física, o que é extremamente necessário para trabalhar em conjunto com outros profissionais da saúde. Esta afirmação corrobora com o estudo de SILVA (2000) que afirma que o preparador físico deve trabalhar em conjunto com outros profissionais como, por exemplo, um fisiologista.

    O presente estudo demonstrou que, na totalidade da opinião dos jogadores, o treinamento tem grande importância para prática de alto nível no esporte, além de grande parte reportar recomendação do preparador para cuidados com a forma física. Isso pode ter relação com o interesse dos atletas em conversar com o preparador. O fato dos jogadores em totalidade ter efetuado categorias de base também deve ser observado. O elevado tempo de prática pode também trazer o interesse na busca de informações, à medida que autores relatam que a experiência dentro do esporte pode aperfeiçoar o desempenho esportivo (YOSHITOMI et al., 2006). Porém, segundo TEIXEIRA et al. (2010) muitas vezes o interesse e a importância dada aos treinos pode gerar excessiva dependência do atleta na prática da modalidade. Em seu estudo com canoístas da seleção brasileira, os autores relatam que tal dependência pelo treino pode afetar negativamente a saúde e o desempenho dos atletas.

    O baixo percentual relativo à recomendação nutricional se relaciona com os achados de NICASTRO et al. (2008). Os autores relatam em seu estudo que os atletas profissionais e amadores têm moderado conhecimento nutricional, avaliado através de uma escala específica. NICASTRO et al. (2008) ainda afirmam que os atletas amadores apresentam uma pontuação significativamente maior que os atletas profissionais (p<0,001), justificando ao fato de os atletas objetivarem primeiramente o rendimento nos treinos e competições. A dispersão encontrada a respeito das variáveis trabalhadas durante o treino pelos jogadores pode ter relação com a posição em campo (SILVA, 2000). BALIKIAN et al. (2002) destacam em seu estudo que o nível de condicionamento aeróbio de difere de acordo com o diferente posicionamento. Jogadores de meio campo e laterais têm significativamente melhor desempenho que zagueiros e atacantes (p<0,05), que por sua vez apresentam melhor rendimento significativo que goleiros (p<0,05). Esse achado torna possível questionar a percepção dos jogadores quanto ao treino físico, já que determinadas variáveis tem diferentes exigências de acordo com a função tática em campo.

Figura 1. Questionário avaliativo do atleta

Conclusão

    Os atletas participantes da pesquisa e o preparador físico da equipe obtiveram relação entre algumas das respostas, porém com alguma dispersão entre os atletas relação à percepção das variáveis físicas trabalhadas nos treinamento. Os atletas se mostraram conscientes principalmente em relação aos cuidados indicados pelo preparador com a forma física, às avaliações físicas realizadas e à presença de treinos em pré-temporada. Tal resultado pode ser justificado devido ao alto percentual da interação entre preparador físico e atletas.

Figura 2. Questionário avaliativo do preparador físico

Referências

  • Balikian P, Lourenção A, Ribeiro LFP, Festuccia WTL, Neiva CM. Consumo máximo de oxigênio e limiar anaeróbio de jogadores de futebol: comparação entre as diferentes posições. Rev Bras Med Esporte, 8(2): 32-36, 2002.

  • Gemmell H, Hayes B, Conway M. A theoretical model for treatment of soft tissue injuries: treatment of an ankle sprain in a college tennis player. J Manip Physiol Ther, 28(4): 285-288, 2005.

  • Ghorayeb N, Batlouni M, Pinto IMF, Dioguardi GS. Hipertrofia ventricular esquerda do atleta. Resposta adaptativa fisiológica do coração. Arq. Bras. Cardiol, 85(3): 191-197, 2005.

  • Maquirriain, J, Megey PJ. Tennis specific limitations in players with an ACL deficient knee. Br J Sports Med, 40(5): 451-453, 2006.

  • Monteiro CR, Faro ACM. Physical exercise according to nursing students’ perceptions. Rev Latino-am Enfermagem, 14(6): 843-848, 2006.

  • Nicastro H et al. Aplicação da Escala de Conhecimento Nutricional em Atletas Profissionais e Amadores de Atletismo. Rev Bras Med Esporte, 14(3): 205-208, 2008

  • Oliveira MFM, Caputo F, Greco CC, Denadai BS. Aspectos relacionados com a otimização do treinamento aeróbio para o alto rendimento. Rev Bras Med Esporte, 16(1): 61-66, 2010.

  • Pazikas MGA, Curi A, Aoki MS. Comportamento de variáveis fisiológicas em atletas de nado sincronizado durante uma sessão de treinamento na fase de preparação para as Olimpíadas de Atenas 2004. Rev Bras Med Esporte, 11(6): 357-362, 2005.

  • Silva PRS. O papel do fisiologista desportivo no futebol – Para quê & por quê? Rev Bras Med Esporte, 6(4): 165-169, 2000.

  • Teixeira CS, Lemos LFC, Pereira EF, Merino EAD. Alto rendimento: dependência do esporte em atletas de canoagem. Revista de Educação Física; 150: 3-11, 2010.

  • Yoshitomi SK, Tanaka C, Duarte M, Lima F, Morya E, Hazime F. Respostas posturais à perturbação externa inesperada em judocas de diferentes níveis de habilidade. Rev Bras Med Esporte, 12(3): 159-163, 2006.

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