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Olimpíadas e Copa do Mundo de Futebol no 

Brasil: implicações para a sociedade brasileira

Los Juegos Olímpicos y la Copa del Mundo de Fútbol en Brasil: implicancias para la sociedad brasileña

Olympics and World Cup of Soccer in Brazil: implications for the Brazilian society

 

Graduação em Educação Física

Universidade Estadual do Centro - Oeste - UNICENTRO

Irati - Paraná
(Brasil)

Dante Luís Pereira

Rafael Lupes

dantepelego@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Nos últimos anos o Brasil vem acumulando diversas conquistas no cenário nacional e internacional. A frase que mais se escuta em todo território nacional é “O Brasil é o país do futuro”, essa é uma frase que durante décadas todos os brasileiros escutam e transmitem a seus descendentes. O Brasil vem se destacando e apresentando uma série de resultados econômicos e politicamente estratégicos, que refletem uma grande crença no potencial do país em relação ao mundo, e de eficientes políticas de Estado baseadas em ações anticíclicas que promovem e estimulam o consumo e a produção, sem a necessidade de um protecionismo irresponsável, o resultado de todos estes processos econômicos e o fato da grande crise mundial, principalmente no continente europeu, o Brasil surge como o país responsável por abrigar a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016.

          Unitermos: Sociedade. Olimpíadas. Copa do Mundo.

 

Abstract

          In recent years Brazil has accumulated many achievements in national and international scene. The phrase you hear most around the country is "Brazil is the country's future" this is a phrase that for decades all Brazilians listen and transmit to their descendants. Brazil has been increasing and presenting a series of strategic political and economic results, which reflect an abiding belief in the potential of the country over the world, and efficient government policies based on counter-cyclical actions that promote and encourage the consumption and production, without the need for an irresponsible protectionism, the result of all these processes and the fact of great economic crisis, especially in Europe, Brazil has emerged as the country responsible for hosting the World Cup Soccer and Olympic Games in 2014 in Rio de Janeiro in 2016.

          Keywords: Society. Olympics. World Cup.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Copa do Mundo de 2014

    A realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil tem sido motivo de grande polêmica na sociedade. De um lado há os que são a favor do empreendimento, apostando em grandes investimentos em infra-estrutura e desenvolvimento interno. Já outros desacreditam os projetos do governo e dizem que o evento trará grandes gastos públicos, e que o montante deveria ser investido em setores mais carentes, como saúde e educação.

    Em função do fanatismo acima da média mundial dos brasileiros pelo esporte, é de se esperar que a realização desse evento tenha forte apelo popular. As diferenças sociais, políticas e econômicas, tão marcantes no dia-a-dia do país diluem-se quando a equipe verde-amarela entra em campo. De alguma forma, a nação brasileira somente se vê inteira durante as Copas do Mundo de Futebol. Porém quais são as vantagens sócio-econômicas, e o retorno social do país que sedia um megaevento esportivo, está é a pergunta de maior importância que deverá ser respondida.

    Para tanto se devem analisar friamente os investimentos públicos realizados durante o pré-evento e mesmo durante o evento, onde instituições internacionais, no caso a FIFA, abordam inúmeros fatores que devem ser corrigidos, para que o evento se torne uma ocasião mundial, onde as pessoas do mundo inteiro tenham acesso aos locais de jogos, que possam gozar de segurança e conforto durante todo o evento.

    Portanto cremos que para o Brasil, a Copa de 2014 é a oportunidade de o país dar um salto de modernização e apresentar não só sua capacidade de organização, como também força econômica para captar investimentos e os muitos atrativos que podem transformar o país em um dos mais importantes destinos turísticos do mundo a partir de um futuro próximo.

    O evento pode não ser o acontecimento esportivo de maior porte do planeta, mas com certeza é o que tem maior apelo midiático e maior capacidade de gerar recursos para os setores direta e indiretamente envolvidos em sua realização. Para qualquer país onde seja realizado, o evento tem o apelo de uma vitrine capaz de mostrar a milhões de telespectadores de todos os cantos do planeta aspectos que vão muito além de estádios e disputas esportivas.

    Diante da oportunidade, o planejamento pautado por objetivos claros e pelas demandas locais não pode ficar em segundo plano, sob pena de a vitrine que queremos mostrar ao mundo seja transformada em uma frágil vidraça que evidencia os problemas do país e afasta tanto o turista estrangeiro como o investidor internacional que queremos atrair. O que está em jogo não é apenas o futebol, mas a oportunidade de o país atrair bilhões de reais em investimentos para seu desenvolvimento. O que interessa, de fato, é aproveitar o evento para construir a infra-estrutura que ficará a disposição da população.

    Os fatos estilizados do passado mostram que, no ano do evento, o PIB cresce menos do que nos anos anteriores, em função de fatores como: redução do ritmo de investimentos associados ao evento; redução do número de horas trabalhadas pela população em geral durante o período da Copa; e uma redução do influxo de turistas não aqueles que vêm para presenciar o evento, mas os demais, afastados pelos preços mais elevados de passagem/hospedagem praticados no ano do evento. Não obstante, nos anos seguintes o crescimento do PIB nos países que sediaram a Copa do Mundo voltou a acelerar, avançando em um ritmo maior do que o observado antes da realização do evento.

    O primeiro estudo para se avaliar o impacto socioeconômico da realização de megaeventos esportivos foi feito para os Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, tendo como motivação reportagens que apontaram que os jogos de 1976 em Montreal geraram perdas financeiras significativas, esses estudos costumam levar em consideração uma série de fatores diretamente ligados à realização do evento, como os investimentos em infra-estrutura desportiva e urbana, incremento no fluxo de turismo, atração de novos negócios/empresas, geração de empregos adicionais.

    Mas muitas vezes os impactos positivos socioeconômicos são subestimados por considerar custos como benefícios e, principalmente, por ignorar os chamados custos de oportunidade, isto é, se os recursos que estão sendo utilizados para sediar aquele evento não seriam de mais valia para a sociedade se fossem utilizados em outros fins alternativos.

    Os principais casos de sucesso de cidades/países que sediaram megaeventos esportivos são Barcelona-92 e Sydney-2000. Os denominadores comuns entre ambos apontam como elementos cruciais desse sucesso: O planejamento prévio para reduzir a construção de obras a toque de caixa, a custo significativamente mais elevado; Investimentos muito mais focados em infra-estrutura urbana do que desportiva; Revitalização de áreas urbanas degradadas; e promoção turística da cidade/país no exterior, ou seja, esses eventos foram utilizados como um meio de transformar essas cidades e não foram vistos como um fim em si.

    No entanto uma avaliação do Brasil ainda prévia, pois o evento acontecerá apenas em 2014 mostra que dificilmente vamos entrar para a história como um caso de sucesso. Pois não houve planejamento prévio, a maior parte das obras ainda nem foi iniciada. Além disso, o percentual do total de investimentos anunciados a ser gasto em infra-estrutura desportiva está em torno de 25%, significativamente acima dos cerca de 10% gastos em Barcelona-92, Sydney-2000 e mesmo Alemanha-2006, ou seja, proporcionalmente gastaremos menos em infra-estrutura urbana, que é o principal legado desses eventos para a sociedade no médio e longo prazo. E, por fim, não há uma preocupação explícita em recuperar áreas urbanas degradadas nas cidades-sede.

    No entanto, antes mesmo de levantar críticas sobre o planejamento da Copa do Mundo no Brasil, deve-se pensar que se o evento viesse a não acontecer, nenhum benefício em infra-estrutura seria realizado, ao menos compreender que sem o evento nada seria realizado é o ponto chave do sucesso do evento. Deve-se entender que o Brasil vive em constante crescimento, porém um crescimento lento, onde recursos públicos são desviados para benefícios particulares, o fato de gastar com infra-estrutura em um megaevento é uma decisão acertada.

    A infra-estrutura a ser pensada e instalada vai além dos estádios. Como teremos uma Copa baseada em tecnologias de mobilidade, várias questões devem ser resolvidas, pois, a Copa do Mundo em 2014 demandará uma pesada infra-estrutura de tecnologias de informação e comunicação (TIC). Em 2014, o maior evento midiático do planeta terá o desafio de transmitir a partir das cidades brasileiras som e imagem em alta definição para televisores, computadores e dispositivos móveis espalhados por todo o mundo.

    O fato é que esta pesada infra-estrutura de TIC terá que suportar o tráfego de conteúdo multimídia em banda realmente larga e dar vazão a imensa base de usuários conectados via redes sociais, que estarão compartilhando informações, vídeos e mensagens. Para suportar todo este aparato tecnológico, uma massiva rede de computadores atuando no modelo de computação em nuvem deverá estar operando na retaguarda. Este modelo é mais adequado, pois existe um pico de demanda no período dos jogos, caindo dramaticamente após seu encerramento.

    A internet será um dos meios midiáticos mais usados em 2014, no entanto ainda hoje no Brasil a qualidade da transmissão em banda larga é considerada de baixa qualidade. Hoje são cerca de onze milhões de assinantes banda larga no país, com uma densidade de apenas seis conexões velozes para cada grupo de 100 habitantes. Nossa banda larga é uma das piores do mundo, sendo cara, lenta e mal distribuída. Em um ranking de 42 países, ficamos em 38º lugar. Nas cidades-sede existem ainda gargalos, em Manaus, por exemplo, não tem opções de rota alternativa, caso ocorra algum problema na rede.

    No entanto, algumas medidas positivas estão sendo tomadas. Pode-se citar, como exemplo, a propositura pelo presidente do Conselho Nacional de Justiça, Gilmar Mendes Ferreira, de um acordo de cooperação técnica com o Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014, com o objetivo de oferecer a ex-detentos vagas de trabalho nas obras realizadas para a competição. Tal medida figuraria como forma de ressocialização, através de parcerias com empresas que ofereceriam postos de trabalho a estas pessoas extremamente marginalizadas pela sociedade e vítimas de preconceito, pois insertas em um sistema penitenciário falido, dissociado de seu escopo legal de re-inserção na sociedade. Se o projeto realmente sair do papel, será uma verdadeira conquista e resgate da dignidade humana destas pessoas que já pagaram sua dívida para com a sociedade.

    Certo é que a economia do país passará por um efeito alavanca, em que todas as áreas terão ganhos. As cidades que sediarão os jogos serão as primeiras beneficiadas com grandes projetos de infra-estrutura, como a preparação dos estádios, ora recuperando os já existentes, ou pela construção de novos prédios, além da reformulação do sistema de transporte público, melhoria no sistema de segurança e até mesmo na movimentação da iniciativa privada na infra-estrutura de turismo, com a construção de novos hotéis, restaurantes, o que inevitavelmente acarretará a geração de empregos em diversos setores da economia.

    Porém, a maior preocupação no cenário traçado é sobre qual a melhor maneira de fazer com que todo esse investimento efetivamente ocorra, sem que ninguém se prejudique, ou seja, que seja bom para o investidor privado e público.

    Neste sentido, a Parceria Público Privada aparece como um caminho para o investimento, desde que o Governo trabalhe de acordo com os limites impostos por lei. No entanto, essa alternativa deve ser cautelosamente avaliada, visto que acarretaria um endividamento governamental, diante da obrigatoriedade de o governo oferecer garantias aos entes privados, o que poderá não ser a melhor opção para a ainda instável e frágil conjuntura econômica global atual.

    Assim, da gama de possibilidades que a Copa de 2014 traz para a economia brasileira, a idéia da utilização de benefícios tributários para determinados setores da economia torna-se um dos incentivos mais interessantes. Há que se cuidar apenas, com a experiência vivida nos Jogos Pan-Americanos de 2007, que a Copa não seja mais um motivo para escândalos envolvendo o Governo, com desvio de dinheiro público e acertos ilegais.

    Fato é que a economia tem chances de crescimento em todos os setores. Independentemente do que ocorra ou da maneira como esse projeto monumental seja gerenciado, haverá espaço para o profissional da área jurídica. Diretamente, como já está acontecendo, há oportunidade de consultorias, com elaboração de pareceres jurídicos, principalmente sobre as maneiras de levantamento do dinheiro que será usado. Há ainda uma grande demanda trabalhista, pois onde há grandes obras, há uma enorme quantidade de contratações, tanto de mão-de-obra para a efetiva construção e reformas, como também para todo o mercado fornecedor de matéria-prima e serviços.

    Em resumo, o Brasil, de uma maneira geral, só tem a ganhar com a vinda de um grande evento mundial como a Copa. Muitos turistas virão ao país, muitas obras públicas e privadas serão realizadas e muito trabalho será gerado. Assim, com uma boa gestão desta oportunidade e com a participação de todos os setores da economia, a sociedade toda ganha.

2.     Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016

    Em 02 de outubro de 2009, a festa brasileira em Copenhagen, diante do anúncio da cidade do Rio de Janeiro como anfitriã dos Jogos Olímpicos de 2016, sintetizou o consenso estabelecido entre os grupos hegemônicos no Brasil em torno da tentativa de inserir a cidade no circuito mundial de produção do espetáculo esportivo. A ênfase conferida à candidatura carioca não se trata de fato isolado. A disputa por megaeventos tem se tornado cada vez mais acirrada no mundo contemporâneo onde, a partir de um diagnóstico de inexorabilidade da globalização, uma agenda determinada pela lógica do mercado tem dominado as teorias e as práticas do planejamento de cidades.

    Na condição de sede dos Jogos Olímpicos de 2016 a cidade do Rio de Janeiro está no centro da produção global do espetáculo esportivo. A utilização dos megaeventos como elemento catalisador da transformação urbana e alavanca para o desenvolvimento econômico, tem sido o principal argumento para que cidades se lancem numa acirrada disputa pelo direito de sediá-los.

    A iminência de realização de dois eventos esportivos na cidade do Rio de Janeiro, nos próximos seis anos, convida-nos a refletir se podemos esperar desses eventos o mesmo poder transformador que o exercido nas outras cidades sede anteriormente. A partir da observação de alguns dados referentes aos Jogos Olímpicos de 2016, que dentre esses eventos se destaca como aquele com maior potencial de mobilização de capitais econômicos, políticos e simbólicos.

    No Rio de Janeiro a mobilização para o projeto olímpico se encontra o modelo de gestão empresarial competitivo. A flexibilidade regulatória, as Parcerias Público-Privadas (PPPs), as intervenções urbanas pontuais em áreas com alto potencial de valorização, os projetos de revitalização de áreas centrais e portuárias e a construção de um pacto consensual em torno da busca do desenvolvimento econômico, são apenas algumas estratégias alavancadas pelos investidores. O sentimento de crise como condição necessária para a criação de tal consenso, também se fez presente na cidade do Rio de Janeiro.

    No Rio de Janeiro o planejamento da cidade e a prioridade dos investimentos públicos é que passam a ser determinados pelo projeto do evento. Com ênfase exacerbada ao mercado, o conjunto de intervenções proposto no projeto Rio-2016 não apresenta um objetivo claro de reestruturação global e articulada da cidade nem contempla a possibilidade do uso racional dos recursos públicos para o benefício do conjunto de seus habitantes. A Barra da Tijuca, área de expansão destinada à classe-média alta, objeto de forte especulação imobiliária e historicamente privilegiada pelos investimentos públicos, será também a grande beneficiária dos investimentos previstos nesse projeto. Quanto aos subúrbios, que concentram a maior parte da população e carências da cidade, continuarão esquecidos pelo poder público nos próximos anos, quando todos os recursos serão canalizados para preparação para os Jogos Olímpicos de 2016.

    Na cidade de Barcelona as PPPs representaram forte investimento da iniciativa privada nos projetos de reestruturação urbana, no Rio de Janeiro elas têm representado a quase exclusiva participação dos recursos públicos nas inversões e a apropriação sempre privada dos benefícios produzidos. Além disso, a progressiva espetacularização dos Jogos Olímpicos tem estabelecido um padrão que incrementa os custos de sua preparação a cada nova edição, criando um grande abismo entre a ordem de grandeza dos recursos exigidos para a organização do evento nas duas cidades.

    No projeto olímpico brasileiro destaca-se o autoritarismo na preparação e condução do projeto Rio 2016, à revelia das necessidades do conjunto da sociedade, bem como, o grande poder de decisão conferido às instituições não-governamentais responsáveis pela organização do evento, no caso o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o International Olympic Committe (IOC). Enquanto em outras cidades sede a condução do projeto olímpico foi confiada a urbanistas e planejadores, na cidade do Rio de Janeiro a coordenação dessa tarefa foi delegada ao presidente do COB.

    Por outro lado, o consenso gerado em torno do discurso de “única via para o desenvolvimento” anula a possibilidade de discussão política de qualquer assunto que se relacione ao projeto olímpico. Desse modo, com o objetivo de driblar as estruturas tradicionais de planejamento e em nome da urgência imposta por um cronograma de obras que têm data exata para terminar, as estruturas excepcionais de gestão entram em cena. Além dos poderes conferidos ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos (COJO), legislações são criadas, parâmetros urbanísticos são modificados sem atender às disposições constitucionais, secretarias especiais e força-tarefa são estabelecidas nos três níveis de governo e formas particulares de exercício no poder e realizações de serviços são instituídas, como a Autoridade Pública Olímpica (APO) e a Empresa Brasil 2016.

    Em torno do projeto de desenvolvimento econômico que tem justificado os altos custos sociais relacionados à produção de grandes eventos na cidade do Rio de Janeiro. Sob a retórica de acabar com uma alardeada desordem urbana e com a intenção de vender ao mundo a imagem de uma cidade asséptica e sem conflitos, despejos são autorizados, vendedores ambulantes e moradores de rua são perseguidos, pobreza e marginalidade são tratadas como sinônimos quando a violência policial é acionada contra comunidades carentes durante a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora e muros são construídos na produção de uma cidade cada vez mais dividida e menos democrática.

    Os fatos observados revelam os riscos implicados nas tentativas de reprodução de modelos. Eles alertam para a impossibilidade de promover uma verdadeira transformação em uma cidade sem levar em consideração suas especificidades geográficas, sociais, econômicas e políticas, ainda que esta constatação não anule a importância da busca do aprendizado a partir de experiências já vividas. Embora justificadas no argumento do desenvolvimento e melhoria de vida de sua população, as transformações vinculadas à realização dos grandes eventos esportivos na cidade do Rio de Janeiro, até o presente momento, só têm promovido o encolhimento radical do espaço público da discussão política e ampliado as distâncias sociais entre os habitantes de uma cidade que já é tão desigual.

    O modelo empresarial de gestão de cidades não representa, contudo, a única lição que podemos tirar de outras cidades sede. Outros aprendizados podem ser perseguidos. A grande capacidade de mobilização de seus cidadãos em defesa dos interesses da coletividade. Adotados como arena ou objeto de conflito, os Jogos Pan-Americanos de 2007 que serviram como oportunidade para o surgimento de uma ampla rede de movimentos e lutas na cidade do Rio de Janeiro. A iminência de realização de novos grandes eventos nessa cidade se constitui como um dos principais eixos que levaram a mesma rede a uma nova mobilização no processo de construção do Fórum Social Urbano. Algumas recentes articulações em torno da construção de espaços de discussão política que, de algum modo, se relaciona à temática, como da Rede dos Megaeventos Esportivos (REME), o Grupo de Trabalho da Área Portuária e o grupo que estuda a necessidade de políticas habitacionais em áreas centrais, têm sido alguns indicativos da possibilidade de mobilização da sociedade para acompanhar, reagir e propor alternativas às ações do poder público, instituições não-governamentais e iniciativa privada relacionadas à realização de megaeventos na cidade do Rio de Janeiro. Talvez seja esse o maior legado que podemos esperar do sonho olímpico carioca, o avanço na organização dos movimentos sociais na luta pela construção de uma cidade justa e democrática.

    Porém as duvidas referentes à realização destes eventos de grande repercussão surgem a partir do momento em que políticos brasileiros e nesse caso, vindo da pessoa pública que exerce o poder maior, que em seu auge de sabedoria discursou dizendo que “O governo brasileiro vai distribuir ingressos de graça para os trabalhadores e os jovens de classe baixa...”. Mas não houve nenhum pensamento sobre o impacto disso nas projeções de receitas de bilheteria e na segurança. E decretou que “... o Brasil vai ganhar mais medalhas nos Jogos do Rio do que no passado...”, mas não existe nenhum programa para reforçar o desenvolvimento de atletas de elite. O governo brasileiro idealizou que seriam baseados na cultura da América do Sul. No entanto, embora o planejamento estadual e municipal estejam avançando de forma constante, tem havido pouco planejamento prático em nível federal para a implementação desta visão grandiosa.

Conclusão

    A política esportiva brasileira se somou a um acúmulo de políticas estratégicas que tendem a fazer do Brasil, um jogador global na arena internacional. A este respeito, dois fenômenos se destacam, um relacionado com os organismos internacionais de créditos, e outro com seu rol nas Nações Unidas. Em definitivo, todos estes fatores confluíram na política esportiva brasileira, e seguramente vem sendo levados em conta na hora de eleger o país, pela primeira vez na história, como sede de uma copa do mundo em 2014 e logo em seguida, para organizar os Jogos Olímpicos em 2016.

Referências

  • BRASIL. Lei nº 12.035, de 1º de outubro de 2009. Institui o Ato Olímpico, no âmbito da administração pública federal com a finalidade de assegurar garantias à candidatura da cidade do Rio de Janeiro a sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 e de estabelecer regras especiais para a sua realização, condicionada a aplicação desta Lei à confirmação da escolha da referida cidade pelo Comitê Olímpico. Edição extra do Diário Oficial da União de 01 de outubro de 2009. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12035.htm [20 de abril de 2011].

  • BROUDEHOUX, Anne-Marie. Spectacular Beijing: the conspicuous construction of an Olympic Metropolis. Journal of urban affairs, volume 29, number 4, 2007. p. 383–399.

  • CO-RIO 2016 – COMITÊ DE CANDIDATURA RIO 2016. Candidature file for Rio de Janeiro to host the 2016 Olympic and Paralympics Games Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2009. 3 v. http://www.rio2016.org.br/sumarioexecutivo/default_en.asp. [20 de abril de 2011].

  • SILVA, Mauro Osório. A crise do rio e suas especificidades.In: IE - Série Seminários de Pesquisa: 2006. Rio de Janeiro, UFRJ, 2006. http://www.ie.ufrj.br/publicacoes/serie_seminarios_de_pesquisa/tssp06_05_09.pdf, [20 de abril 2011].

  • VAINER, Carlos. Pátria, empresa e mercadoria: notas sobre a estratégia discursiva do Planejamento Estratégico Urbano. Petrópolis: Vozes, 2000a p. 75-103.

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