Ginásio Estadual Nun’Álvares Pereira no início do fim El Gimnasio Estatal Nun’Álvares Pereira en el principio del fin |
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Doutor Honoris Causa - Universidade do Porto, Portugal Pós-Doutorado - University of London Instititute of Education, Inglaterra Doctorat en Education Physique - Université Libre de Bruxelles, Bélgica Professor do Curso de Mestrado em Ciências da Atividade Física Universidade Salgado de Oliveira, Niterói, RJ |
Dr. Alfredo Faria Junior (Brasil) |
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Resumo O objetivo deste artigo é apresentar uma visão de 40 anos atrás do Ginásio Estadual Nun’Álvares Pereira (GENAP). Como qualquer estabelecimento de ensino novo, o GENAP não tinha ainda as condições ideais para funcionamento: faltava um muro cercando o terreno, não havia instalações e material desportivos – vestiários (masculino e feminino), postes para voleibol, gols para handebol e futebol de salão, cestas para basquetebol, uniformes dos alunos, bancos suecos, colchões etc. As aulas de Educação Física eram ministradas separadamente para meninos e meninas, por professores do mesmo sexo. As aulas eram precedidas por um exame biométrico e usava-se o Método Natural Austríaco. Este artigo resgata a história da Educação Física no GENAP. Unitermos: Educação Física. História da Educação Física. Método Natural Austríaco.
Resumen Palabras clave: Educación Física. Historia de la Educación Física. Método Natural de Austria.
Abstract The aim of this article is to offer a forty-year-ago view of Ginásio Estadual Nun’Álvares Pereira (GENAP), a secondary school in Rio de Janeiro (State of Guanabara at the time). Then, as a recently built school GENAP still lacked general material conditions in its structure. The efforts made by teachers and the Board of the school brought some improvement to the facilities available. The Austrian Natural Method was the most frequently adopted in the classes preceded by a biometric examination. Boys and girls attended separate classes and this was formally implemented through separate curricula. This article recalls the history of Physical Education in GENAP. Keywords: Physical Education. History of Physical Education. Austrian Natural Method.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Em janeiro de 2011 recebi um telefonema convidando-me para participar da festa comemorativa dos 40 anos de formatura da turma do Ginásio Estadual Nun’Álvares Pereira. Imediatamente uma série de fatos veio-me à memória e que aqui, para servir de exemplo para professores mais novos, deixo registrada.
Em 1965, habilitado no concurso que prestei para o cargo de Professor de Educação Física do Estado da Guanabara, então governado pelo Embaixador Francisco Negrão de Lima, tomei posse no ano seguinte (ESTADO DA GUANABARA. SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO, 1966). A partir daí passei a procurar uma escola para lecionar que tivesse bastante espaço para as atividades dos alunos. Encontrei um Ginásio recém inaugurado em Vista Alegre, Irajá, o Ginásio Estadual Nun’Álvares Pereira.
Figura 1. Ginásio Estadual Nun’Álvares Pereira em 1967
Lá, fui recebido pela diretora, professora Theresinha P. Mac Culloch e escolhi meu horário, no turno da manhã. Naquela época, por determinação do Departamento de Educação Física, as aulas eram ministradas separando-se os alunos por sexo, cada grupo ficando com um professor, homem ou mulher, segundo o caso. À tarde, em 1968, entrou Jorge Reis advogado e também professor de Futebol da Escola Nacional de Educação Física e Desportos.
Esse Ginásio Estadual estava encravado em um conjunto habitacional que tinha Escolas Primárias e uma fábrica de cimento, bem próximas.
Como um estabelecimento de ensino novo, o Ginásio não tinha muro limitando o terreno, nem instalações e materiais desportivos, e os alunos ainda não tinham uniformes de Educação Física. Entretanto, os alunos compareciam às aulas, sempre bem uniformizados - blusa branca ou camisa caqui com o escudo sobre o bolso do lado esquerdo, saia ou calça comprida, azul marinho, meias, brancas (meninas) e pretas (meninos) e sapatos pretos.
Figura 2. Alunos do GENAP com uniformes completos
Semanas depois, o uniforme de Educação Física foi adquirido, e era composto por: camisas tipo regatas, brancas, calções pretos, tênis e meias brancas (meninos) e blusas brancas, shorts e saiotes pretos, meias e tênis brancos (meninas).
Figura 3. Alunas do GENAP com uniformes de Educação Física
Inicialmente, por falta de professores de algumas disciplinas as aulas de Educação Física reuniam alunos de até três turmas que estavam sem aulas naquele horário. Com este grande número de alunos, sem instalações e material, só nos restava dar aulas de Ginástica, escolhendo-se a Calistenia e se adotando o esquema de Alfred Wood (AMARAL, 1965).
As aulas eram dadas nos amplos espaços do condomínio, que também serviam de estacionamento para os carros dos moradores. Quando estes decidiam sair, interrompiam-se as aulas para dar passagem aos veículos dos condôminos, tudo em perfeita harmonia.
Naquela época a Educação Física era fiscalizada por Inspetores do próprio Departamento que iam periodicamente aos estabelecimentos de ensino verificar o andamento dos trabalhos. Durante nossa permanência no Ginásio eram Inspetores de Educação Física os professores Renato Miguel Gaya Brito Cunha e Paulo Emanuel da Hora Matta. Recebemos como fruto da intervenção daqueles Inspetores, postes para rede de voleibol, tabelas e cestas para basquetebol, gols para handebol e material desportivo variado – bolas, arcos e maças etc., do Departamento de Educação Física. Depois pintamos as linhas demarcatórias das quadras de handebol, basquetebol, voleibol e futebol de salão. Com o tempo, a própria Direção do Ginásio adquiriu alguns materiais – quatro bancos suecos e colchões, fitas coloridas e bastões.
Figura 4. Alunos do GENAP se exercitam em bancos suecos
Com o quadro docente composto e com todos os alunos com o uniforme completo, as aulas de Educação Física entraram na normalidade. Pudemos começar a utilizar métodos considerados mais modernos e atraentes na época, como o Método Natural Austríaco.
Começávamos a aula por uma Introdução com exercícios de aquecimento e vivificantes; com jogos e revezamentos com muita movimentação e movimentos rápidos de corrida e saltos. A seguir vinha a Escola de Movimentos e Postura (ou Formação Corporal e Educação do Movimento) onde os alunos experimentavam os Exercícios Naturais – movimentos globais, ainda que trabalhassem mais determinados segmentos; exercícios de força (empurrar, puxar etc.), agilidade, destreza, equilíbrio etc. Eram exercícios feitos individualmente ou em pequenos grupos, em forma de jogo ou não, com aparelhos, em aparelhos ou sem aparelhos. Tínhamos uma preocupação com o número de repetições, a graduação em dificuldade, intensidade e ritmo. Terminada esta parte, iniciávamos a terceira parte da aula intitulada Habilidade e Aplicação Desportiva (ou Performance e Habilidade Artística). Procurávamos aplicar valores observados na parte anterior da aula. Desenvolvíamos, para a parte masculina, como Unidades Didáticas: Ginástica Olímpica (denominação da época) – solo; Atletismo – corridas, saltos e arremesso de peso; Basquetebol, Futebol de Salão, Handebol e Voleibol. Cada unidade só se iniciava quando a outra tivesse terminado. Encerrávamos as aulas com a Volta à Calma (ou Conclusão). Eram usados jogos calmantes, alegres, sensoriais e mímicos. Também fazíamos, eventualmente, comentários de ordem técnica, tática ou educacional (FARIA JUNIOR, 1969).
Figura 5. Terceira parte de uma aula do método
Natural Austríaco – Habilidade e Aplicação Desportiva
Deste trabalho surgiram as listas de praticantes de Futebol de Salão, maiores de 15 anos, compostas por: Aurélio Saldanha, Jorge Ubirajara de Oliveira, Idair Martins, Mário Rodrigues das Neves, Elias Bittar Filho, Nelson Gomes Valle, Rivaldo Hermes V. de Queirós, Manoel Alves da Silva, Vilde Nilson Araújo Portela, Francisco Carlos Rabello, Cícero Alves Prestes, Sandoval Andrade Calélia, Luiz Carlos Batista Santos e Edgard Robison Ramalho. No handebol, também com mais de 15 anos, os praticantes eram: Aurélio Saldanha, Jorge Ubirajara de Oliveira, Jander França, Aguinaldo Araújo Ramos, Luiz Antônio Thomas, Idair Martins, Nelson Gomes Valle, Vilde Nilson Araújo Portela, Rivaldo Hermes de Queirós, Mário Rodrigues das Neves, Celso Bomfatt do Santo, Gilberto Luiz Cardoso Ávila e José Celestino S. Rodrigues.
Neste período, à noite, o Ginásio ficava entregue às ações de indivíduos do bairro que praticavam atos que visavam dificultar os trabalhos normais como, por exemplo, danificar as fechaduras das portas etc. Logo, a diretora Teresinha Mac Cullach decidiu cercar o terreno com um muro, construído pelo próprio Ginásio. Isto não impediu a ação daqueles vândalos que simplesmente passaram a pular o muro. Decidiu ela adquirir um cachorro de raça, mas foi em vão, pois logo o mataram.
Reunidos para discutir o problema, os professores acataram nossa sugestão e examinamos as fichas de todos os alunos, chegando-se à conclusão que a imensa maioria deles não morava no condomínio de Vista Alegre, havendo mesmo os que vinham até de Jacarepaguá, um bairro situado bem longe. A partir daí, no ano seguinte, o Ginásio esforçou-se para matricular em seus quadros mais alunos da região.
Abriram-se, mais tarde, os portões do Ginásio, cabendo aos professores de Educação Física os contatos com os membros da comunidade que ficariam responsáveis pelo prédio. Acabaram-se então os problemas de invasão do Ginásio por elementos estranhos ao mesmo.
O Ginásio procurava aplicar os mais modernos procedimentos pedagógicos. A professora de Geografia Rosineide Souto Maior, por exemplo, organizava Excursões ao litoral carioca como Atividades Extraclasses. É muito impressionante verificar que grande parte dos alunos nunca tinha saído de Irajá e, portanto, nunca haviam tido contato com o mar. Essa professora precisava de acompanhante e, algumas vezes, dispôs da ajuda de professores de Educação Física que trabalhavam no turno e horário das excursões.
Construiu-se um local para a prática do Judô no lado que aproveitava a sombra, na parte da manhã, do prédio do Ginásio. O Do-Jo era composto por um quadrado de madeira de 9m X 9m a 0,25m do chão, com 0,05m de proteção e uma lona empregada para cobrir um caminhão e cordas para fixá-la no quadrado de madeira. Os alunos, inicialmente, não tinham vestimentas próprias para prática do Judo (Judô-gui). Os alunos da tarde, primeiros brindados com essa atividade extraclasse, faziam inicialmente as aulas com o uniforme de Educação Física (sem tênis, é claro). Fizemos a programação de forma que os alunos pudessem obter a Faixa Amarela (50 KIU). Eram ensinadas: 1. Posturas (Shizei); 2. Deslocamentos (Movimentos no Tatami); 3. Pegadas (Formas Variadas de Pegar o Judô-Gui do Adversário): 4. Educativos de Quedas (para os lados, para frente; de costas); 5. Técnicas de Projeção; 6. Técnicas de Luta no Chão – Imobilizações (LEITÃO, 1967).
Em certa época do ano os alunos traziam sempre petecas para o Ginásio e organizavam disputas e jogos. Um mês depois a febre parecia passar e tudo voltava ao normal. Isto nos preocupava muito até que, conversando com os alunos descobri que eles iam a Festa da Penha e lá compravam as petecas que eram fartamente vendidas.
No fim de 1967 foi escolhido o Coordenador de Educação Física do Ginásio, tendo recaído a escolha sobre o professor Alfredo Faria Junior. Foram preparados alguns questionários distribuídos aos professores. O primeiro deles, visando conhecer melhor o corpo docente, abrangia as seguintes questões. Em que ano formou-se pela Escola Nacional de Educação Física e Desportos? (pergunta feita na época, pois esta era a única Escola que formava professores de Educação Física no Estado da Guanabara). Freqüentou algum curso de especialização ou extensão universitária, no campo da Educação Física? Está matriculado, inscrito ou freqüenta atualmente algum curso? Quantas horas você dedica semanalmente à leitura de livros e artigos relacionados com a Educação Física de um modo geral? O segundo questionário também era dirigido aos professores para saber como a Coordenação de Educação Física poderia facilitar a iniciativa de aprimorar didático-pedagógicamente o corpo docente, e tinha as seguintes questões. Como encara a iniciativa da Coordenação de Educação Física em fornecer periodicamente artigos, traduções, indicações bibliográficas aos professores, posta em prática neste final de ano? Como você vê a tentativa de inclusão, em nossa carga horária semanal, de tempo disponível para reuniões, sessões de estudo, entrevistas, palestras etc, organizadas pela Coordenação de Educação Física? Quais as dificuldades encontradas nas tentativas de aperfeiçoamento, atualização e especialização intentadas pelo professor? De que forma a Coordenação de Educação Física deste Ginásio pode colaborar em suas iniciativas de constante aperfeiçoamento didático-pedagógico? A seu ver quais os dois mais apropriados meios para o aperfeiçoamento do professor de Educação Física? Cursos, palestras, divulgação de bibliografia, organização de bibliotecas especializadas, estudos em conjunto, reuniões e seminários, divulgação de artigos, traduções, orientação pela Coordenação de Educação Física etc. No terceiro questionário, destinado a saber mais sobre o relacionamento com o corpo docente e administrativo do Ginásio, as perguntas eram: que dificuldades têm encontrado em seus contatos, ou tentativas em estabelecê-los, com a Direção, Coordenação Geral, ou Coordenação de Turno deste Ginásio? Que dificuldades têm encontrado em seus contatos com a Coordenação de Educação Física do Ginásio?
Outro aspecto que a Coordenação de Educação Física desejava conhecer era quais os interesses e as necessidades que os alunos tinham em relação à Educação Física. Desenhamos, então, uma “Pesquisa de Interesse” entre os 109 alunos do turno da manhã, do sexo masculino, do primeiro ano ginasial do Ginásio Estadual Nun’Álvares Pereira. Uma segunda pesquisa seria aplicada às alunas da manhã pela professora do turno. O questionário foi aplicado logo após a realização dos Exames Biométricos (FARIA JUNIOR, 1968).
Uma das perguntas era: que faz você nas suas horas livres, isto é, fora do horário das aulas, refeições ou sono?
Pratica Esportes................................................... 42,2 %
Brinca .................................................................. 15,6 %
Outras (assiste televisão, vai ao cinema, lê) ........ 9,1%
Anuladas. Em branco não especificadas .............. 33,1 %
Constatou-se na época ser bastante alentador saber que a maioria, dentre os adolescentes questionados, ocupava suas horas de lazer com a prática de esportes. Entretanto, os entretenimentos, como a leitura, por exemplo, quase não figuram nas respostas. Somente um respondeu que ocupava suas horas livres com leitura.
Como se observou, tivemos um grande número de respostas anuladas devido, talvez, a má interpretação da pergunta ou defeitos de leitura, tendo os jovens, por exemplo, respondido com refeições, sono, que já constavam da pergunta.
A seguir, foi nosso desejo saber quais os desportos que detinham a preferência daqueles adolescentes, tanto no que diz respeito à sua participação ativa, quanto no que se refere aos seus interesses por outras modalidades desportivas.
Quais os Esportes ou Jogos que você mais pratica?
Desportos
Futebol ............................................................... 42,7 %
Natação .............................................................. 10,2 %
Futebol de Salão ................................................ 5,5 %
Voleibol .............................................................. 4,5 %
Ciclismo ................................................................ 3,7 %
Outros (Basquete, Judô, Atletismo etc.) ................ 9,9 %
Jogos
Ping-Pong ............................................................. 6,6 %
Outros (soltar pipas, gude, taco, queimado etc) ... 7,1 %
Anuladas e em Branco ........................................... 15,4 %
O conjunto de respostas revelou-se cheio de surpresas. A primeira foi encontrar a Natação figurando entre dois Desportos mais praticados pelos alunos. Leve-se em consideração a inexistência de piscina na região onde o Ginásio se localiza (Irajá) e regular distância que separa o Ginásio das praias mais próximas: Ramos (onde não existia ainda o “Piscinão de Ramos”) e Ilha do Governador. A pequena preferência pelo futebol de salão pareceu-nos devida à existência de vários campos de futebol na região e porque, de certa forma, aquela modalidade é mais dispendiosa: exigência de tênis e uniforme completo, bola, aluguel de quadra – ao passo que os campos de futebol (association) ficavam vazios durante a semana e se pode jogar descalço, na grama, com relativo conforto.
Depois se seguia a pergunta voltada para o interesse dos alunos.
Quais os dois esportes que você gostaria de praticar?
Futebol ............................................................................. 23,3 %
Judô ..................................................................................16,0 %
Natação ............................................................................ 16,0 %
Basquetebol ...................................................................... 11,1 %
Futebol de Salão ............................................................... 6,7 %
Voleibol .............................................................................. 3,2 %
Tênis de Mesa .................................................................. 2,2 %
A grande preferência pelo judô, que aparece na pesquisa, pode ter sido influenciada pela propaganda das atividades extraclasse que iniciamos naquela época, onde o judô aparece como opção para os alunos do turno da tarde. Os alunos entrevistados, todos do turno da manhã, talvez tivessem sabido e quisessem demonstrar o desejo que a prática do Judô fosse estendida também aos alunos desse primeiro turno.
Lembramos ainda que os questionários foram preenchidos antes do início das aulas, logo após o ingresso no curso Ginasial. Com isso pretendíamos evitar qualquer influência que nossa atividade, como Técnico de Natação pudesse exercer sobre eles.
Depois se procurou saber se os alunos freqüentavam algum estabelecimento voltado para a prática desportiva.
Você freqüenta algum clube ou academia?
Não ........................................................................... 50,5 %
Sim ............................................................................ 43,4 %
Anuladas e em branco ............................................... 6,6 %
Pode-se julgar um erro considerar duas coisas diferentes na mesma questão: clubes e academias. Isto foi feito deliberadamente, pois julgávamos que o crescimento em número destas últimas já começava a se fazer sentir. Sabíamos que em Irajá não havia nenhuma academia disponível e as respostas confirmaram nossa premissa.
A análise das respostas confirmou que 43,7 % dos alunos não freqüentavam nenhum clube. Quando declaram isto, muitas vezes, acrescentam à resposta negativa: “gostaria muito de ser sócio de um”. Isto demonstra ainda a força que os clubes tinham na época. Sugerimos que os dirigentes desportivos facilitassem o ingresso desses jovens criando, por exemplo, uma nova categoria de sócio – freqüentador esportivo, bem diferente da tão nefasta denominada de “sócio atleta”.
Como desejaria que ele fosse?
Amplo, com piscina e quadras ........................................ 71,4 %
Incluísse o judô, tênis de mesas, basquete e futebol ...... 21,4 %
Anuladas e em branco ...................................................... 7,2 %
Os alunos idealizavam o clube com amplas instalações, pois essa questão de espaço era uma preocupação dos jovens que não gostariam de freqüentar um clube que restringisse sua movimentação. A existência de piscina e quadras era um desejo da maioria dos alunos. Outros estavam mais preocupados com os diferentes tipos de modalidades a serem desenvolvidas do que com o problema de espaço e instalações.
Procuramos saber se os alunos dedicavam parte do seu tempo à leitura sobre esportes. Limitamo-nos a jornais e revistas, considerando a quase inexistência de uma “literatura infanto-juvenil” especializada em desportos.
Você lê algum jornal ou revista, especializado em esportes? Qual?
Sim ................................................................................ 66,9 %
Não ................................................................................ 25,7 %
Anuladas ou em branco ................................................. 7,4 %
competições
Jornais
Jornal dos Esportes ........................................................ 61,6 %
Outros (O Globo, Ed. Esportiva, Dia, Última Hora etc......10,9 %
Revistas
Revista do Esporte ........................................................... 27,5 %
A maioria dos alunos declarou-se leitora assídua de jornais e revistas especializados ou mesmo de suplementos esportivos de jornais não especializados em esportes. As respostas mostram a força que o Jornal dos Esportes tinha na época da pesquisa.
Procuramos quais os esportes que nossos alunos mais viam pela televisão.
Quais as competições esportivas ou jogos a que você assistiu ultimamente?
Futebol ....................................................................................... 50,1 %
Natação ..................................................................................... 13,7 %
Basquete .................................................................................... 11,8 %
Outros ........................................................................................ 8,2 %
Anulada e branco ....................................................................... 5,4 %
A preferência recaiu sobre o futebol. O resultado era esperado, pois as emissoras de televisão já dedicavam muito tempo e espaço ao futebol. Por outro lado julgamos que a natação apareceu em segundo lugar devido às transmissões do Campeonato Sul Americano de Natação e da quebra do recorde mundial pelo nadador Fiolo. A grande percentagem relativa ao basquetebol, cremos, deveu-se à aplicação da pesquisa no dia seguinte ao jogo Brasil X Rússia, também transmitido pela televisão. Julgamos importante destacar que o Voleibol ainda não tinha a importância de hoje, o que só começou a ocorrer nos anos 80.
O quesito seguinte revelou-se cheio de surpresas.
Havia aulas de Educação Física na escola em que você estudou no ano passado?
Não .......................................................................................... 73,8 %
Sim ........................................................................................... 21,7 %
Anuladas ou em branco ............................................................ 4,5 %
A maioria dos alunos respondeu que não, entretanto, quase trinta por cento respondeu que sim, o que nos leva a ter que considerar a existência de muitos alunos repetentes, alunos transferidos de outros Ginásios etc.
É interessante notar que certos conceitos já aparecem arraigados nestes alunos de primeiro ginasial no que concerne à prática da Educação Física, senão vejamos algumas respostas a essa questão: “não tinha educação física porque eu estudava na Escola Pública”, “nada, porque eu não sou repetente”, “não, pois eu estava no primário”, “não, porque era primário”, “não havia, pois era primário”. Como vemos, os próprios alunos procuravam justificar a inexistência das aulas de Educação Física alegando que eram alunos do Curso Primário, onde “obviamente” não há aulas desta prática educativa (terminologia da época).
Deu-se, então, a mudança de Direção, cabendo o posto ao professor de Inglês Carlos Diogo. Este Diretor levou para o Ginásio três professores de Ciências que vieram a ser Coordenadores de Turno: Edmar Salgado, Lacordaire da Silva Ramiro e Augusto Bergmann de Figueiredo, que adotaram seus livros didáticos (SALGADO; FIGUEIREDO; RAMIRO, 1971; SALGADO; RAMIRO; FIGUEIREDO, 1971).
Então, os quatro professores decidiram fazer importantes obras no Ginásio: uma sala ambiente para Ciências (primeiro andar) e uma sala de recursos audiovisuais para Inglês (primeiro andar) e um vestiário masculino (com chuveiros) e um vestiário feminino (com chuveiros) e uma sala para guarda de materiais desportivos (no térreo). A obra foi tocada com recursos e mão de obra do próprio Ginásio, principalmente o senhor Manoel, que também era pedreiro.
Figura 6. Alunos de GENAP durante uma aula do turno da manhã
Com a inauguração da obra, os professores de Educação Física ficaram encarregados de supervisionar os vestiários. Assim, os docentes controlavam a troca de uniformes antes das aulas e abriam e fechavam os registros (havia apenas um em cada vestiário) para economizar água e acelerar a troca de roupa. A sala de recursos audiovisuais, quando não havia aula de Inglês, servia aos professores de Educação Física, que devam aulas teóricas projetando slides nos dias de chuva (Jogos Olímpicos, Ginástica Corretiva, etc.).
Com o passar do tempo, a Direção do Ginásio decidiu efetuar mais uma obra relacionada com a Educação Física. Foi construída uma mini-pista (uma reta) e uma caixa de saltos. Com estas instalações foi possível montar uma equipe de maiores de 15 anos assim constituída: Aurélio Saldanha, Cícero Alves Fontes, Francisco Carlos Rebello, Gilberto Luiz Cardoso Ávila, Idair Martins, Mario de Oliveira Menezes, Manoel Pereira dos Santos, Rivaldo Hermes Vieira Queiroz, Sandoval Andrade Caléia, Silvio Marcos da Silva, Vilde Nilson Araújo Portela e Vitor Cezar do S. Pimenta.
Anualmente, era obrigação do Ginásio se apresentar em um desfile cívico para marcar a instalação do Governo da Ditadura Militar. Os professores de Educação Física eram convocados a organizar estes desfiles cívicos.
Em abril de 1972, sendo Governador da Guanabara o senhor Chagas Freitas, foi aceito meu pedido de exoneração do cargo de Professor de Educação Física A, nível 5 (ESTADO DA GUANABARA. 1972).
No dia marcado para a festa comemorativa dos 40 anos de formatura turma do Ginásio fomos ao local marcado (uma Casa de Festas). Antes de lá chegarmos, cruzamos com um jeep do Exército com soldados prontos para ação – era a época da retomada do morro do Alemão. Infelizmente, só reencontramos o professor Aldir José, de História, com quem só tínhamos tido contatos esporádicos no trabalho no Ginásio. Dos alunos encontramos muitas mulheres que não conhecíamos bem por não terem sido nossas alunas.
Levamos algumas fotos da época para ver se alguns alunos se identificavam nelas. As fotos não eram muito comuns na época e causaram bastante surpresa entre os ex-alunos. Estas fotos são parte do acervo documental que acompanha todo o desenvolvimento da minha jornada como professor de Educação Física.
Desta maneira testemunhamos, enquanto trabalhávamos no Ginásio Nun’Álvares Pereira, o início do fim de um sistema educacional que valorizava a Educação Física e buscava bons resultados educacionais. O preenchimento das vagas de professores era feito sempre mediante concurso público. Em Educação Física esses concursos abrangiam uma prova de conhecimentos específicos, um exame que reunia diversas provas físicas (corridas, saltos, arremesso de peso e subida em corda) e uma prova prática de aula. Esta habilitação no concurso de seleção era organizada pela Escola de Serviço Público do Estado da Guanabara (ESPEG), da Secretaria de Administração. Uma vez aprovado, o candidato deveria se submeter a um Exame Médico completo. Para escolher o estabelecimento de ensino em que lecionaria o professor, de acordo com sua classificação no concurso, consultava uma lista com as vagas disponíveis em cada um, devendo completar 16 horas semanais. Os professores possuíam um Quadro de Carreira com seus deveres e direitos, inclusive o direito a licença prêmio. O sistema possuía um corpo de Inspetores de Educação Física não só para fiscalizar como para ajudar os professores. Uma prova disto são os postes para volibol, tabelas para basquete e gols para handebol e materiais que recebemos do Departamento. As determinações que recebíamos eram relativas aos Jogos de que participaríamos e que evitássemos futebol de salão.
As direções do Ginásio recebiam verbas para o estabelecimento as quais incluíam as da Caixa Escolar que ajudavam os alunos a comprar os uniformes escolares etc. Os alunos, então, vinham sempre para as aulas dispostos e com os uniformes completos, inclusive os de educação física, que eram fiscalizados antes da entrada. As direções sempre se interessaram em melhorar as condições de ensino do Ginásio criando sempre novas instalações. Todos os meios, ditos modernos, eram postos à disposição – atividades extraclasse, laboratório de ciências, sala de meios de comunicação audiovisuais etc.
Dizemos início do fim, pois logo a seguir tivemos a reunificação com o Estado do Rio de Janeiro, que implicou na reorganização de todo o sistema escolar.
Referências
AMARAL, Cássio Rothier do. Calistenia no Plano Geral da Educação Física. Guanabara: APEF-GB, 1965.
ESTADO DA GUANABARA. Boletim Oficial, Ano IX, n. O 1.974, p. 2, sexta-feira, 14 de abril de 1972.
ESTADO DA GUANABARA. SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO. Escola de Serviço Público do Estado da Guanabara. Certificado de Habilitação N0 2. Rio de Janeiro: ESPEG, jan. 1966.
FARIA JUNIOR, Alfredo Gomes de. Pesquisa de Interesse. Rio de Janeiro: GENun’Álvares Pereira, 1968.
FARIA JUNIOR, Alfredo Gomes de. Natação e Psicologia. O crescente interesse dos adolescentes pela Natação. Boletim Técnico Informativo Rio de Janeiro, n. 7, p. 25-30, jan./mar. 1969.
FARIA JUNIOR, Alfredo Gomes de. Introdução à Didática de Educação Física. Brasília: MEC/DEF, 1969.
LEITÃO, Vicente. Judô. Conquistas de Faixas. Rio de Janeiro: MEC/DEF, 1967.
SALGADO, Edmar; FIGUEIREDO, Augusto Bergmann de; RAMIRO, Lacordaire da Silva. De Olho no Corpo Humano. Guanabara: Tetra, 1971.
SALGADO, Edmar; RAMIRO, Lacordaire da Silva; FIGUEIREDO, Augusto Bergman de. Iniciação à Ciência. Guanabara: Tetra, 1971.
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