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Ineficácia de exercícios abdominais realizados com a coluna paralela

ao solo para fortalecimento do músculo reto abdominal. Parte II

Ineficacia de los ejercicios abdominales realizados con la columna 

paralela al suelo para fortalecer del músculo recto abdominal. Parte II

The inefficiency of the abdominal exercises realized with the trunk parallel 

to the floor in order to strengthen the rectus muscle of abdomen. Part II

 

Professor de Educação Física

Licenciado pelo Centro Universitário Claretiano

da cidade de Batatais, estado de São Paulo

Roberto Guimarães Radaelli

biomecanica@professor.sp.gov.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Embora seja um dos exercícios mais usados no mundo, por praticantes de atividades físicas, os exercícios abdominais realizados com a coluna paralela ao solo ou o mais próximo disto quanto possível, segundo análises biomecânicas, são ineficazes para o fortalecimento dos músculos envolvidos na flexão da coluna. A razão disto é a variação inadequada da resistência que ocorre quando o atleta está na posição deitado.

          Unitermos: Exercícios abdominais. Biomecânica. Resistência dinâmica variada. Sistema CAM. Equipamentos de musculação.

 

Abstract

          Although being one of the most used exercises in the world, abdominal exercises done with the trunk parallel to the floor, according to the biomechanics analyzes, are ineffective for the strengthening of the muscles involved in the trunk flexion. The reason is the inadequate resistance variation which occurs when an athlete is in the lying position.

          Keywords: Abdominal exercise. Biomechanics. Dynamic variable resistance. CAM System. Strength training equipments.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Ineficácia de exercícios abdominais realizados com a coluna paralela ao solo para fortalecimento do músculo reto abdominal. Parte I

Introdução

    A variação da capacidade de produção de força dos músculos esqueléticos conforme se altera a amplitude de movimento articular é realidade.

    Segundo Aquino et al (2007), músculos esqueléticos alteram a sua capacidade de produzir torque ao longo da amplitude de movimento articular. Enoka (1994), afirma que músculos esqueléticos variam a capacidade de produzir força devido à conseqüência dos efeitos da arquitetura da fibra, do número de articulações que um músculo alcança e da influência do ângulo articular no braço de momento e que a técnica de variar a resistência promove exercícios mais eficientes porque a sobrecarga nos músculos é mais uniforme. Na mesma linha, Silva et al (2005), afirma que a variação do torque resistivo é um fator de grande influencia na adaptação do músculo ao treinamento resistido.

    Conforme Enoka (1994) e Silva et al (2005), que mencionam sobre as vantagens de se variar a resistência, para um melhor trabalho de fortalecimento muscular, a resistência oferecida pelos exercícios, realmente deve variar conforme a variação da capacidade de produção de força dos músculos abdominais. Foi considerado neste estudo como músculo alvo somente o músculo reto abdominal e os abdominais convencionais para este músculo, e não abdominais para os oblíquos.

Discussão

    A curva de força ou potência de um músculo indica entre os diferentes ângulos de trabalho articular, onde o músculo envolvido no exercício aumenta ou diminui sua capacidade de produzir força. Existem três tipos de curvas de força representativas. A primeira é a curva ascendente que indica que a capacidade de produzir força do músculo é mínima no início do movimento e aumenta conforme o movimento prossegue. A segunda é a curva em forma de sino, “Bell Shaped”, que indica que o músculo aumenta sua capacidade de produzir força aproximadamente na metade da amplitude articular e a terceira é a curva descendente, que indica que a maior capacidade de produção de força do músculo ocorre no início do movimento e regride conforme o movimento prossegue. Não usei a frase “conforme o músculo aumenta ou diminui a amplitude articular” por não dar certo para todos os músculos inclusive no caso dos músculos abdominais

    A curva que melhor representa a capacidade de produção de força dos músculos abdominais em minha opinião, é a ascendente devido à posição de inserção das fibras do músculo reto abdominal e segundo esta curva os músculos abdominais aumentam a capacidade de produzir força conforme a coluna flexiona.

    A resistência promovida pelos equipamentos ou exercícios em geral são representadas também por uma curva, só que com outro nome. O termo usado agora é curva de resistência, que representa entre os ângulos da amplitude articular em que ângulo o equipamento aumenta ou diminui a resistência. As curvas de resistência são apresentadas também em três tipos exatamente como as curvas de força: Ascendentes (resistência aumenta conforme ao movimento prossegue), descendentes (maior resistência no início do movimento que regride conforme o movimento prossegue) e em forma de sino (resistência menor no início e fim do movimento, e maior resistência aproximadamente na metade da amplitude articular). Estas curvas representam o aumento ou a diminuição da resistência oferecida aos músculos, que varia conforme os músculos variam a capacidade de produzir força.

    Há uma outra linha de pesquisa que entende que todos os músculos esqueléticos possuem uma curva (de força) do tipo “Sino”, ou seja, que todos os músculos esqueléticos humanos são fracos no início e fim da amplitude articular e sua máxima capacidade de produzir força ocorre aproximadamente na metade da amplitude articular.

    Não concordo com isso, pois é nítido que muitos músculos esqueléticos possuem curva de força ascendente e descendente, mas prefiro concordar que os músculos abdominais possuem uma curva de potência em forma “de sino” do que “descendente”, pois é nítido que no comprimento de repouso os músculos abdominais são extremamente fracos.

    Exercícios abdominais realizados em posição com a coluna paralela ao solo só seriam eficientes quanto ao fortalecimento muscular se a curva de força do músculo reto abdominal fosse “descendente”, o que em minha opinião, definitivamente não ocorre.

    Este artigo se refere somente a exercícios deitados no solo e feitos sem ajuda de equipamentos com polias ou alavancas. Como mencionado um equipamento com uma correta polia (CAM), ou com uma alavanca colocada no ângulo certo, pode variar a resistência de acordo com a variação da capacidade de produção de força dos músculos abdominais.

    Relembrando que os músculos abdominais realizam flexão da coluna e não do quadril. Desta forma qualquer tipo de exercícios prescritos para a região abdominal deve proporcionar uma curva de resistência ascendente, ou seja, o exercício com ou sem equipamento, deve proporcionar uma resistência menor no início da flexão da coluna com aumento progressivo até que essa resistência se torne máxima do final da flexão da coluna.

    A imagem seguinte mostra como seria um equipamento com uma polia (CAM) colocada no ângulo certo, para gerar uma resistência ascendente aos músculos abdominais. A regra para esse tipo de equipamento é: Quanto mais você distância o cabo de aço do eixo da polia do equipamento (distância esta perpendicular), mais resistência você gera ao músculo alvo. Então fica fácil, quando o atleta está com a coluna na posição de repouso, o raio da polia deve estar menor, e conforme a coluna flexiona o raio da polia deve aumentar gradativamente até chegar ao raio máximo no final da flexão da coluna, conforme ilustra imagem seguinte.

    Imagem apenas ilustrativa: A posição do atleta no desenho tornaria impossível manter-se nesta posição por muito tempo, com conforto para concentra-se no exercício. O importante é notar o raio da polia, mais aberto, neste ângulo final da flexão da coluna.

Curva de resistência normalmente proporcionada aos músculos abdominais nos exercícios realizados com a coluna vertebral paralela ao solo

    Nos exercícios abdominais realizados sobre o solo ou sobre bolas a resistência promovida é descendente, ou seja, é máxima quando a flexão da coluna está no início e diminui conforme a coluna flexiona.

    Na figura 1.4, a distancia horizontal entre o eixo da coluna (Ponto verde) e o ultimo contato da cabeça, é maior que na figura 1.5, o que indica que a resistência oferecida no início do movimento é a maior levando em conta toda a amplitude articular.

    A figura 1.5 indica que conforme a coluna flexiona a distância horizontal entre o eixo da coluna (ponto verde) e o último contato da cabeça, diminui, diminuindo assim, conforme a coluna flexiona a resistência promovida aos músculos abdominais.

EMG e Produção de Força Muscular

    Para quem se baseia em testes de eletro miografia para saber se um exercício é mais ou menos eficiente lembro que a EMG mede o estimulo elétrico que chega aos músculos e isto em minha opinião realmente não serve de base para garantir que o exercício é mais ou menos eficiente. Outro esclarecimento é que EMG não mede a força que este músculo é capaz de produzir conforme se altera a amplitude de movimento articular. Em minha opinião, é preciso tomar cuidado em mencionar que como testes de EMG em atletas realizando abdominais em pranchas inclinadas acusam algumas vezes, baixa atividade elétrica, e por isto estes exercícios produzem um menor estimulo aos músculos abdominais, pelas seguintes razões:

  1. Poucos testes (EMG), de atletas fazendo abdominais em pranchas inclinadas que tive a oportunidade de ler e ver fotos, os mesmos realizavam flexão do quadril e não somente da coluna, como deveria ser.

  2. Suspeito que quando um músculo entra em insuficiência muscular devido a uma alta resistência proporcionada em um ângulo articular que este músculo esteja em grande desvantagem mecânica pra produzir força, que o eletromiógrafo acusará uma alta atividade elétrica. Pergunta, será que isto não ocorre porque devido ao músculo estar em um ângulo articular desfavorável com relação à produção de força, ele tentará recrutar o máximo de unidades motoras quanto possível, mas em vão, porque devido a sua insuficiência não conseguirá mais nehuma unidade motora e estará próximo a sofre uma lesão por sobrecarga. Obviamente durante uma contração muscular, quanto mais unidades motoras recrutadas melhor, mas não, se para isto o músculo está chegando a ponto de sofrer uma lesão por sobrecarga.

  3. É preciso que se testem os músculos abdominais usando EMG seguindo um protocolo a risca, primeiro realizando somente flexão da coluna e variando a resistência oferecida a eles corretamente, lembrando, oferecer a eles uma resistência ascendente (menor resistência no início da flexão da coluna com aumento progressivo até que esta resistência se torne máxima no final da flexão da coluna).

Relação força x comprimento e a relação ângulo x torque

    A relação “Força X Comprimento” afirma que um músculo aumenta sua capacidade de produzir força contrátil com o comprimento do mesmo e é máxima quando o músculo está no comprimento de repouso, ponto onde existe a maior sobreposição dos filamentos de actina e miosina. Já relação “Ângulo X Torque” diz que existem três tipos de curva de força, como já dito, ascendente, descendente e em forma de sino, ou seja, que existem músculos que possuem maior capacidade de produzir força no início do movimento, outros no final do movimento e outros ainda na metade da amplitude articular aproximadamente. Estas duas relações se contradizem e em minha opinião a relação força X comprimento está errada, pois é nítido, que alguns músculos definitivamente não possuem maior capacidade de produzir força no comprimento de repouso, cito os músculos bíceps braquial e femoral, que apresentam maior capacidade de produção de força a 90º de flexão do cotovelo e joelho respectivamente, e ainda o músculo reto abdominal que apresenta no comprimento de repouso a menor capacidade de produção de força, levando em conta toda a amplitude articular.

Resistência gerada em pranchas inclinadas

Resistência gerada com cabos de aço

    Trabalhando o reto abdominal no cabo de uma forma que no final da flexão da coluna o cabo esteja exatamente perpendicular à parte cervical da coluna vertebral a resistência será variada como deve ser e o exercício será totalmente eficiente conforme ilustra imagem seguinte.

    Quando o atleta (imagem acima) flexionar a coluna totalmente, o cabo de aço estará exatamente perpendicular a sua parte cervical da coluna vertebral e isto gerará uma resistência ascendente aos músculos abdominais, como deve ser.

Conclusão

    Conforme mencionam Enoka (1994) e Silva et al (2005), para melhor fortalecer um músculo, a resistência oferecida pelos exercícios deve variar conforme varia a capacidade de produção de força dos músculos e como isto não ocorre em exercícios abdominais realizados com a coluna paralela ao solo, concluo que para um melhor fortalecimento muscular do músculo reto abdominal é melhor realizar a flexão da coluna em equipamentos com polias CAM, que variem a resistência como deve ser, ou usar cabos e pranchas inclinadas, sempre fornecendo aos músculos uma resistência ascendente. Mesmo que houver dúvidas se a curva de força dos músculos abdominais é “ascendente” ou em “forma de sino”, a resistência proporcionada por uma prancha inclinada e cabos aproxima bastante a curva de resistência do exercício à curva de força dos músculos abdominais, considerando ambas as curvas.

    Agora, o que fica claro é que definitivamente, a curva de força dos músculos abdominais não é descendente e, portanto, exercícios abdominais realizados com a coluna paralela ao solo não são efetivos no fortalecimento abdominal.

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Ineficácia de exercícios abdominais realizados com a coluna paralela ao solo para fortalecimento do músculo reto abdominal. Parte I

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