Estresse psicólogico pré-competitivo em atletas de voleibol do Estado do Paraná El estrés psicológico precompetitivo en jugadores de voleibol del Estado de Paraná Psychological pre-competitive stress in volleyball athletes of the State of Parana |
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*Mestrandos do Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física UEM/UEL **Professora Dra do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá Grupo Pró-Esporte (CNPq/UEM) |
Guilherme Moraes Balbim* José Roberto Andrade do Nascimento Junior* Lenamar Fiorese Vieira** (Brasil) |
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Resumo Este estudo descritivo teve como objetivo analisar o nível de estresse psicológico pré-competitivo de atletas adultos de voleibol. Foram sujeitos 155 atletas do gênero masculino e feminino do Estado do Paraná. Como instrumento foi utilizado o Teste de Estresse para o Voleibol. Para análise dos dados, aplicou-se o alfa de Cronbach e teste Kolmogorov-Smirnov. Os resultados demonstraram que algumas situações foram consideradas como estressantes e influenciam negativamente no desempenho dos atletas: “Errar jogadas no início do jogo”, “Errar jogadas no fim do jogo”, “Cobrança de si mesmo para ganhar”, “Preparação técnico-tática inadequada”, “Falta de preparação psicológica”, “Conflitos com o treinador”, “Conflitos com os companheiros”, “Mau rendimento nos treinamentos”, “Ser prejudicado pelos juízes”, “Instalações e condições de jogo inadequadas”, “Entrar no jogo machucado”, “Machucar-se durante o jogo” e “Nervosismo excessivo”, destaca-se que os fatores e condições que influenciaram mais negativamente foram físico-técnicos, seguido de fatores pessoais e interpessoais. Conclui-se: para os atletas de voleibol do Paraná os fatores e condições de estresse pré-competitivo que mais afetam o desempenho são a preparação técnico-tática inadequada e machucar-se durante o jogo. Unitermos: Desempenho. Estresse pré-competitivo. Voleibol.
Abstract This descriptive study aimed to analyze the level of pre-competition psychological stress of adult volleyball athletes. The subjects were 155 male and female athletes of the State of Parana. The instruments used were the Volleyball Stress Test. For data analysis, it was applied the Cronbach's alpha and Kolmogorov-Smirnov test. The results showed that some situations was considered like stressfull and influenced negatively the performance of these athletes: "missing in the beginning of the game", "missing on the end of the game", “collecting himself to win”, "inadequate technical-tactical preparation", "lack of psychological preparation", "conflict with the coach", , "conflict with partners",”bad performance on trainers”, “facilities and play conditions inadequate”, "being harmed by the referee", "enter in the game hurt", "injuring during the game" and "excessive nervousness". It was concluded that the studies that was did about the theme has to be knowledge of the techniques and involved institutions with the performance sports, for the athletes are able to have the desired performance in games. Keywords: Performance. Pre-competitive stress. Volleyball.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
No contexto do esporte de alto-rendimento pode-se observar, freqüentemente, que os atletas são submetidos a diversos tipos de pressão (torcida, resultado, tempo, cobrança do técnico e companheiros, entre outras) e que o seu rendimento está relacionado com a sua capacidade de superação destas situações (NOCE; SAMULSKI, 2002). Relacionado a isto, De Rose Junior (2002) afirma que competir significa enfrentar desafios e demandas que podem, de acordo com muitos aspectos individuais e situacionais, representar uma considerável fonte de estresse para os atletas, dependendo de seus atributos físicos, técnicos e psicológicos.
O estresse pode ser definido como um processo pelo qual um indivíduo percebe e responde a determinados eventos estressores, que podem ser percebidos como danosos, ameaçadores ou desafiadores (LAZARUS, 1991). De acordo com o modelo transacional de estresse de Lazarus (1993), uma experiência de estresse depende da avaliação cognitiva do indivíduo, do impacto do agente estressor potencial e do próprio evento ou situação (FOLKAMN et al., 1986), na qual cada indivíduo deve ajustar-se de forma contínua aos desafios cotidianos (LAZARUS; FOLKMAN, 1987).
O modelo transacional afirma que o estresse é um processo desencadeado sempre que os agentes estressores excedem os recursos pessoais e sociais que o sujeito é capaz de mobilizar para enfrentar o estresse (LAZARUS, 1993). Dessa forma, o estresse é conseqüência das interações e transações entre o ambiente e os recursos de enfrentamento de cada indivíduo, que podem ser chamadas de avaliações cognitivas (STRAUB, 2005).
Destarte, o impacto de um estressor depende de um processo de três etapas de avaliação cognitiva. A primeira etapa é a avaliação primária, momento em que os eventos são percebidos pelos indivíduos como irrelevantes, positivos ou desafiadores. A segunda etapa trata-se da avaliação secundária, fase em que o indivíduo identifica seus recursos e capacidades para enfrentar o desafio gerado pelo agente estressor. A última etapa é a reavaliação cognitiva, ou seja, é o processo pelo qual os eventos estressantes são reavaliados de forma constante pelo sujeito (LAZARUS, 1991; STRAUB, 2005).
No esporte de alto-rendimento existe uma variedade de situações que pode-se considerar como agentes estressores que podem influenciar negativamente o desempenho dos atletas. Entretanto, as situações elencadas em alguns estudos são em geral competitivas como cita De Rose Junior (2002), não considerando situações pré-competitivas que podem afetar o desempenho. Desta forma, o presente estuda busca considerar também agentes pré-competitivos que influenciam no desempenho de equipes de voleibol.
De acordo com De Rose Junior et. al (1996) o stress competitivo, em qualquer fase da competição, pode ser gerado por situações direta ou indiretamente relacionadas a situação. As situações inerentes ao processo competitivo são aquelas que fazem parte diretamente do processo, podendo estar relacionadas ao próprio indivíduo e/ou ao meio ambiente. Face ao exposto, o presente estudo teve como objetivo analisar o nível de estresse psicológico pré-competitivo de atletas de voleibol do Estado do Paraná.
Metodologia
Participantes
Foram convidadas a participar do estudo todas as equipes adultas do gênero masculino e feminino de voleibol classificadas para a fase final dos Jogos Abertos do Paraná 2010, totalizando 240 atletas. No entanto, fizeram parte do estudo atletas de 12 equipes do Estado do Paraná, totalizando 155 atletas do gênero masculino e feminino, que consentiram voluntariamente em participar do estudo, por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Instrumentos
Para verificar o nível de estresse psicológico pré-competitivo dos atletas, foi utilizado o Teste de Estresse Psíquico para o Voleibol (TEP-V) que aborda questões sobre as situações e condições que podem representar uma carga psíquica em competições. O instrumento foi elaborado e adaptado por Noce (1999) a partir do teste de carga psíquica de Frester (1972), do teste da carga psíquica de Teipel (1992) e do Teste de Estresse no Futebol (CHAGAS, 1995). O teste é composto por 30 itens que se referem às situações que podem interferir no rendimento dos atletas Os participantes deveriam registrar as suas respostas de acordo com o grau de influência negativa ou positiva do estímulo estressor (-3 até +3).
A estimativa de consistência interna foi computada para cada item do Teste de Estresse Psíquico para o Voleibol (TEP-V) em relação aos indivíduos avaliados. Os valores do alfa de Cronbach para todos os itens do questionário foram considerados aceitáveis de acordo com as recomendações psicométricas (NUNALLY, 1978), uma vez que o alfa de Cronbach variou de α = 0,87 a α = 0,92.
Procedimentos
A pesquisa está integrada ao projeto institucional sob parecer do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos nº 175/2007. Inicialmente, foi solicitada a autorização do diretor e da comissão técnica das equipes de voleibol. A coleta de dados foi realizada durante a fase final dos Jogos Abertos do Paraná, de acordo com a disponibilidade das equipes, e agendamento dos técnicos. Os dados foram coletados no segundo semestre de 2010.
Análise dos dados
Para a avaliação da consistência interna dos itens do Teste de Estresse Psíquico para o Voleibol (TEP-V) efetuou-se o alfa de Cronbach e para a verificação da distribuição dos dados utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov. Como os dados não apresentaram distribuição normal, foram utilizados Mediana (Md) e Quartis (Q1; Q3).
Resultados
Os resultados consistem nas situações que podem influenciar positiva ou negativamente o desempenho dos atletas em competições. A Tabela 1 apresenta as medianas e quartis das situações que podem influenciar o rendimento dos atletas.
Tabela 1. Fatores e condições que podem influenciar o rendimento dos atletas de voleibol do Estado do Paraná
Pode-se observar na Tabela 1 que as situações que se apresentaram como estressantes negativamente para os atletas foram: “Errar jogadas no início do jogo”, “Errar jogadas no fim do jogo”, “Cobrança de si mesmo para ganhar”, “Preparação técnico-tática inadequada”, “Falta de preparação psicológica”, “Conflitos com o treinador”, “Conflitos com os companheiros”, “Mau rendimento nos treinamentos”, “Ser prejudicado pelos juízes”, “Instalações e condições de jogo inadequadas”, “Entrar no jogo machucado”, “Machucar-se durante o jogo” e “Nervosismo excessivo”. Enquanto as outras situações não foram consideradas como desencadeadoras de estresse positivo ou negativo.
Para analisar quais são os fatores e condições que mais influenciam no desempenho dos atletas, estes foram estratificados em três grupos: físico-técnicos, pessoais e interpessoais, e adversário. A Tabela 2 apresenta a comparação entre os fatores e condições físico-técnicos.
Tabela 2. Comparação entre fatores e condições de estresse físico-técnico
Nota-se que houve diferença significativa entre os fatores “Preparação técnico-tática inadequada” e “Dormir mal na noite anterior ao jogo” (p=0,007); “Preparação técnico-tática inadequada” e “Jogar após o 25º ponto em desvantagem no placar” (p=0,019) e “Machucar-se durante o jogo” e “Jogar após o 25º ponto em desvantagem no placar” (p=0,034).
Em seguida, a Tabela 3 demonstra a comparação entre os fatores e condições pessoais e interpessoais.
Tabela 3. Comparação entre fatores e condições de estresse pessoais e interpessoais
Observa-se que houve diferença significativa entre os fatores “Cobrança de si mesmo para ganhar”, “Conflitos com o treinador”, “Conflitos com os companheiros”, “Nervosismo excessivo”, “Pressão de outras pessoas para ganhar”, “Conflitos com os familiares” e “Comportamento da torcida no jogo em casa” (p<0,05); “Nervosismo excessivo”, Conflitos com o treinador”, “Conflitos com os companheiros”, “Conflitos com os familiares” e “Comportamento dos jornalistas e repórteres” (p<0,05).
Por último, a Tabela 4 apresenta a comparação entre os fatores e condições de estresse relacionados com o adversário.
Tabela 4. Comparação entre os fatores e condições de estresse relacionados com o adversário
Pode-se notar que houve diferença significativa entre dois fatores, “Ser o favorito” e “Derrotas anteriores” (p=0,025). Entretanto não é possível afirmar que as situações relacionadas ao adversário influenciem no desempenho dos atletas devido aos valores das medianas apresentadas.
Discussão
Na análise das situações em que agentes estressores podem influenciar negativamente o rendimento dos atletas de voleibol se observa que as mais suscetíveis a tal efeito são as de ter uma preparação técnico-tática inadequada e machucar-se durante o jogo (Md= -2,0). O treinamento inadequado também foi visto como um agente estressante por atletas de basquetebol, handebol e voleibol nos estudos de De Rose Junior e Deschamps (1999) e De Rose Junior (2004). Além disso, estes atletas afirmaram a rotina, a falta ou excesso de treinamentos como outros fatores que podem causar estresse. Neste mesmo estudo os atletas também citam jogar contundido como situação estressante, semelhante ao achado do presente estudo em que os atletas de voleibol citam machucar-se durante o jogo como um agente estressor que afeta negativamente o desempenho.
Nota-se (Tabela 1) que situações em relação à competência técnica como errar jogadas no início e fim do jogo também aparecem como intervenientes, resultado semelhante com as situações de errar bolas decisivas e repetir erros (DE ROSE JUNIOR; DESCHAMPS, 1999). Situações de erro em momentos decisivos foi percebio entre os atletas de voleibol como o fator mais estressante quando comparados a jogadores de basquetebol e handebol (DE ROSE JUNIOR, 2004).
Neste sentido, as situações podem ter relação com o baixo rendimento nos treinamentos, fator este citado pelos atletas como sendo fator negativo para o desempenho. Este resultado é congruente ao de jogadores de voleibol infanto-juvenis (GOUVÊA et. al, 2007). Outra situação vista como estressante e que influencia negativamente o desempenho dos atletas é a de ser prejudicado arbitragem. O mesmo resultado foi encontrado em estudo sobre os aspectos psicossociais de atletas de voleibol, futsal, basquetebol, handebol e hóquei (FREITAS et. al, 2009) em que 81,4% destes vêem esta situação como estressante.
Desta forma, o ambiente se destaca fator estressor, e pode-se incluir as más condições das instalações para realização dos jogos. Esta situação foi observada nos atletas do estudo, e vem ao encontro com os resultados de estudos anteriores (DE ROSE JUNIOR; DESCHAMPS, 1999; DE ROSE JUNIOR, 2004; GOUVEA et. al, 2007).
Outro fator ambiental é quando existem conflitos entre os integrantes da equipe ou com o técnico, situações citadas como estressantes pelos atletas. Isto vai ao encontro dos resultados demonstrados por jogadores de basquetebol ((DE ROSE JUNIOR; DESCHAMPS, 1999). Assim, infere-se que a coesão de grupo pode ser um elemento controlador destes agentes estressantes.
Ao estratificar os fatores e condições estressantes em três grupos, e ao compará-los entre si (Tabelas 2, 3 e 4) nota-se que dentre os fatores físico-técnicos (Tabela 2) o que mais influenciou o desempenho de forma negativa foi ter preparação técnico-tática inadequada. Este fator apresentou diferença significativa com outros dois fatores, podendo pertencer um recurso pessoal e social que o sujeito busca mobilizar para enfrentar o estresse (LAZARUS, 1993). Neste contexto, quando o atleta estiver com problemas de condicionamento físico-técnico faltam recursos para combater o estresse, deixando a situação influenciar de forma negativa o desempenho.
Na comparação entre os fatores pessoais e interpessoais (Tabela 3) pode-se observar que houve diversas situações que apresentaram diferença significativa com o fator comportamento da torcida em casa e de repórteres e jornalistas, demonstrando que estes são os que menos influenciam de negativamente o desempenho. Em contrapartida, os fatores relacionados a conflitos com o treinador e companheiros parecem ter influência sobre o desempenho, indo ao encontro com a afirmação de (BARA, RIBEIRO, MIRANDA, TEIXEIRA, 2002) de que elevados níveis de estresse estão relacionados à insegurança e intranqüilidade, que podem ser desencadeados devido a conflitos internos.
Em relação aos fatores direcionados ao adversário, na comparação entre estes (Tabela 4) notou-se diferença significativa entre favoritismo da equipe e derrotas anteriores (p=0,025), entretanto estas duas situações apresentaram-se como não tendo nenhuma influência no desempenho. Dessa forma, os adversários parecem não exercer nenhuma influência sobre os atletas de voleibol do Paraná.
Por fim, indo de encontro com De Rose Junior e Deschamps (1999) Noce e Samulski (2002) e De Rose Junior (2004) observa-se algumas situações que ocasionam estresse nestes atletas, mas não foram vistas dessa forma pelos jogadores de voleibol do Paraná, como as relacionadas ao adversário, favoritismo, pressão externa, derrotas, críticas, torcida e jogar em desvantagem após o 25º ponto, sendo esta última uma situação exclusiva do voleibol.
Os atletas de voleibol do Paraná parecem não enxergar algumas situações vistas como estressantes por outros atletas de voleibol, basquetebol e handebol de outros estudos. Porém é importante lembrar que estes foram realizados com atletas de nível internacional, participantes de campeonatos mundiais e Jogos Olímpicos, enquanto que os atletas do presente estudo são de nível estadual. Isto vem a ser um limite da pesquisa, além da recusa de algumas equipes em responderem o instrumento.
Conclusão
Os resultados demonstraram que os atletas de voleibol são influenciados de forma negativa principalmente por fatores e condições físico-técnicos, destacando-se a preparação técnico-tática inadequada, fator que dificulta a resolução do agente estressor, já que os recursos de enfrentamento não são capazes de evitar que o estresse ocorra. Outros fatores que se apresentaram como intervenientes de forma negativa no desempenho foram os pessoais e interpessoais, entretanto pode-se destacar que não há nenhuma influência do comportamento da torcida, jornalistas e repórteres, o que pode estar relacionado ao fato de não disputarem as principais competições nacionais e não serem alvo da grande mídia.
É importante ressaltar que algumas das situações vistas como estressantes de forma negativa, foram circunstâncias de certa forma evitáveis, como más condições de treinamento e de jogo, treinamento inadequado, más condições físicas e falta de preparação psicológica. Desta forma, faz-se necessário que os técnicos e gestores do esporte do Estado observem mais a estes fatores que podem ser evitados para que o rendimento de suas equipes seja superior.
Finalizando, conclui-se que os atletas de voleibol do Paraná apresentaram níveis moderados de estresse pré-competitivo, já que mais da metade dos fatores e condições não demonstraram ser agentes estressores em potencial, e os que influenciam de forma negativa em sua grande maioria não foram com grande intensidade.
Referências
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