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Considerações sobre o processo de ensino-aprendizagem-treinamento

nos jogos esportes coletivos de invasão

Consideraciones sobre el proceso de enseñanza-aprendizaje-entrenamiento en los juegos y deportes colectivos de invasión

 

*Programa de pós-graduação em Educação Física

Universidade de Pernambuco

**Programa de pós-graduação em Educação Física

Universidade de Brasília

(Brasil)

Luis Eugênio Martiny*

luis_martiny@hotmail.com

Giano Luiz Copetti**

gianoedfunijui@hotmail.com

Leandro Corrêa Guimarães*

leandrocorreaufv@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo apresenta considerações acerca do processo de ensino-aprendizagem nos jogos esportivos coletivos de invasão (JECI). Tem como principal objetivo mostrar a classificação que esta categoria de jogos apresenta, as exigências cognitivas sobre a ação, por meio das demandas nos mecanismos de processamento de informação e os conteúdos táticos que devem ser abordados. Pretende-se apresentar elementos que possibilitem aos professores estabelecerem uma relação desses elementos com o processo de ensino-aprendizagem-treinamento (EAT).

          Unitermos: Esportes coletivos. Interação. Oposição. Tomada de decisão. Comportamento tático.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    As discussões relacionadas aos processos de EAT nos jogos esportivos coletivos (JEC) têm aumentado consideravelmente nos últimos anos. Muitos são os contrapontos existentes entre as diversas correntes pedagógicas. Alguns autores defendem o modelo tradicional, centrado nas técnicas (BORSARI, 1989; KÄSLER, 1978; PAULA, 1994). Outros (BAYER, 1994; GRAÇA E OLIVEIRA, 1998; GRIFFIN et.al., 1997) defendem uma pedagogia de ensino relacionada ao modelo situacional- ativo centrado nas formas jogadas.

    Giménez (1999) enfatiza que o modelo tradicional centra-se em progressões de exercícios, tanto de assimilação como de aplicação no desenvolvimento das técnicas esportivas fundamentais, antes de abordar os aspectos táticos e de praticar o jogo em situação real. Já o modelo situacional-ativo associa-se à pedagogia do descobrimento e está fundamentada na proposta de experiências lúdicas vinculada ao contexto real de jogo desde o primeiro momento.

    Os JEC ocupam um lugar importante no quadro da cultura desportiva contemporânea (GARGANTA, 1998b). O esporte, por meio dos JEC, se estabeleceu como um fenômeno cultural, sua presença é assídua em clubes, escolinhas e principalmente nas aulas de Educação Física (EF). Porém, a dimensão sob a qual ele é ensinado, tem deixado algumas lacunas a serem preenchidas no que diz respeito à sua dimensão tática.

    Read e Devis apud Graça (1998) apontam que:

    [...] O ensino dos jogos esportivos coletivos tem sido concebido predominantemente como um processo de transmissão das técnicas básicas do jogo, apresentadas normalmente de uma forma descontextualizada e privilegiando os aspectos da realização motora dos gestos em detrimento dos aspectos do seu uso em situação [...] (p. 27)

    Muitos professores de EF e treinadores baseiam seu ensino centrado nas técnicas, fragmentadas em partes, do simples ao complexo, não vivenciando situações reais de jogo. Para Griffin et. al.(1997) esta abordagem focaliza o ensino das habilidades como um meio para responder à pergunta “como é feito?”.

    De acordo com a natureza intrínseca dos JEC e a utilização, por parte dos praticantes, não apenas de certas habilidades (reprodução de gestos técnicos), torna-se necessário o esclarecimento das concepções de ensino. Constantemente o praticante necessita responder às incertezas produzidas no ambiente de jogo e para isto ele sempre deverá apresentar atitudes tático-estratégicas. Neste sentido este trabalho tem como objetivo esclarecer aspectos que promovam uma reflexão nas intervenções dos professores, capazes de auxiliar o processo de EAT destes esportes.

2.     O que se ensina?

    No intuito de identificar características comuns dentro das práticas motoras em geral e nos jogos esportivos em particular, diversos autores, dentre os quais Bayer (1994), Moreno (1998 e 2000), Oliva (1995), Parlebas (2001) e Riera (1989), estabeleceram critérios para classificar as tarefas esportivas. Com essas classificações havia a intenção de apontar quais os princípios operacionais, a estrutura funcional e a lógica interna que regulam todas estas atividades.

    Para estabelecer uma aproximação entre a metodologia de ensino a ser adotada e elaborada pelo professor de EF, assim como das características estrutural-funcionais do esporte, é que apresentamos a seguir um conjunto de critérios de classificações das práticas motoras. Para tanto, Gonzalez (2004) apresenta um sistema de classificação desenvolvido com base nos critérios de cooperação e relação de oposição com o adversário. Ao combinar estes dois critérios, o autor apresenta as seguintes categorias:

  • Esportes individuais em que não há interação com o oponente: são atividades motoras em que a atuação do sujeito não é condicionada diretamente pela necessidade de colaboração do colega nem pela ação direta do oponente.

  • Esportes coletivos em que não há interação com o oponente: são atividades que requerem a colaboração de dois ou mais atletas, mas que não implicam a interferência do adversário na atuação motora.

  • Esportes individuais em que há interação com o oponente: são aqueles em que os sujeitos se enfrentam diretamente, tentando em cada ato alcançar os objetivos do jogo evitando concomitantemente que o adversário o faça, porém sem a colaboração de um companheiro.

  • Esportes coletivos em que há interação com o oponente: são atividades nas quais os sujeitos, colaborando com seus companheiros de equipe de forma combinada, se enfrentam diretamente com a equipe adversária, tentando em cada ato atingir os objetivos do jogo, evitando ao mesmo tempo que os adversários o façam.

Quadro 1. Classificação em função da relação de cooperação e oposição

Esporte

Com interação com o adversário

Sem interação com o adversário

Coletivo

Basquetebol

Futebol

Softbol

Voleibol

Acrosport

Ginástica rítmica desportiva (grupo)

Nado sincronizado

Remo

Individual

Badminton

Judô

Paddle

Peteca

Tênis

Atletismo (provas de campo)

Ginástica olímpica

Natação

Fonte: Gonzalez (2004)

    Referindo-se exclusivamente aos esportes sociomotores é que Parlebas (1981) e Blasquez Sanchez (1983) apud Moreno (1998) apresentam uma classificação destes esportes relacionados ao uso do espaço (comum ou separado) e a forma de participação dos jogadores sobre o implemento do jogo (simultânea ou alternada).

    Polton (1956) e Gentil (1972) apud Magil (1998, p.9) apresentam outra classificação de acordo com as demandas sobre as habilidades motoras, na qual as características do contexto/ambiente influenciam na execução dessas:

  • Habilidades motoras predominantemente fechadas: o ambiente é estável, ou seja, não muda enquanto a pessoa estiver desempenhando a habilidade. O objeto sobre o qual se age não muda durante o desempenho.

  • Habilidades motoras predominantemente abertas: é uma habilidade desempenhada em um ambiente não-estável, onde o objeto ou o contexto varia durante o desempenho da habilidade.

    Dentre todas estas classificações apresentadas para os JEC, destaca-se a realizada por Almond (1986) apud Griffin, et.al. (1997). Nesta classificação estabelecem-se subcategorias para os JEC com interação que permitem agrupar as modalidades em função da semelhança dos princípios táticos básicos e da natureza dos problemas do jogo.

Quadro 2. Categorias dos JEC com interação

Invasão

Rede/Parede

Campo/Rebater

Basquetebol

Handebol

PóloAquático

Futebol

Hóquei

Rúgbi

Futebol Americano

Voleibol

Badminton

Tênis

Tênis de Mesa

Squash

Beisebol

Softball

Críquete

    As classificações apresentadas aqui têm duas grandes finalidades: a primeira delas está relacionada à compreensão de que os esportes possuem diferentes estruturas funcionais, o que desta forma, coloca exigências sobre os seus praticantes que não são comuns entre eles. Não se pode considerar que as exigências colocadas ao lançador de dardo são as mesmas impostas ao atleta que realiza um arremesso ao gol no handebol.

    Já a segunda finalidade está centrada na compreensão de que o esporte, não tendo estruturas funcionais e exigências similares sobre a ação dos praticantes, necessite de um processo de EAT apropriado às demandas (motoras, cognitivas, regras, lógica interna, processamento de informação) que o esporte solicita. Não obstante, não se pode incorporar a mesma metodologia de ensino ao praticante de atletismo e a outro praticante de basquete. Então, ao falarmos em processo de EAT nos JEC, faz-se pertinente desenvolver o significado do que representa, enquanto natureza intrínseca, um esporte coletivo com interação de invasão.

2.1.     Que esporte se está ensinando?

    As especificidades atribuídas aos JECI, pelas suas classificações, exigem de seus praticantes atitudes inteligentes, na tentativa de solucionar os problemas que surgem nas inúmeras situações no transcorrer do jogo. “A aleatoriedade, a imprevisibilidade e a variabilidade de comportamentos e ações são fatores que concorrem para conferir a esse grupo de esportes características únicas, alicerçadas na inteligência e na capacidade de tomada de decisão” (GARGANTA E OLIVEIRA, 1996).

    Muito mais do que a execução de habilidades motoras específicas, o aluno/praticante necessita, devido às características desses esportes (em particular os JECI), confrontarem os seus pensamentos com as situações problemas que surgem durante o jogo.

    Oliva (1995) expressa que:

    [...] em todos eles e desde o ponto de vista tático, são esportes onde o meio ambiente sempre é instável e isto possibilita uma necessária adaptação a esse meio, demandando uma atenção constante sobre o entorno e sobre si mesmo, além de ser necessário tomar decisões que afetam o tipo de execução e tendo que realizar em um curto período de tempo [...] (p. 86)

    Nos JECI desencadeiam–se a todo momento situações diferentes e imprevisíveis. O fator interação está constantemente presente, surgindo entre os jogadores que disputam a partida um sentido de cooperação/comunicação (jogadores com o mesmo objetivo/companheiro) e oposição/contra-comunicação (defrontamento de objetivos/adversário).

    São fatores fundamentais dentro desse grupo de esportes o apelo à cooperação entre os elementos da mesma equipe para vencer a oposição dos elementos da equipe adversária e o apelo à inteligência, entendida como a capacidade de adaptação a novas situações, isto é, enquanto capacidade de elaborar e operar respostas adequadas aos problemas colocados pelas situações aleatórias e diversificadas que ocorrem no jogo (noção de adaptabilidade) (GARGANTA, 1998a). Pelo fato de serem atividades coletivas situacionais de interação direta, ricas em acontecimentos imprevisíveis, elas exigem do praticante uma gama de variabilidades, não somente nas respostas motoras, como principalmente nas demandas cognitivas (leitura da situação, escolha e seleção da ação a ser realizada).

    Metzler (1987) apud Garganta (1998a) aborda que nos JEC, um dos problemas fundamentais que se coloca ao indivíduo que joga é primeiramente tático. Isso significa que o praticante precisa resolver sucessivamente e simultaneamente nas situações, cascatas de problemas não previstos a priori na sua ordem de ocorrência, freqüência e complexidade. Além disso, ele deve confrontar esses problemas em ambientes altamente subjetivos, em que a leitura e interpretação dos estímulos que demandam sobre cada jogador tornam a realização de uma ação aparentemente “simples”, como um passe, em algo complexo a ser realizado.

    Seqüencialmente os jogadores devem adaptar suas ações e comportamentos às situações apresentadas. Os sujeitos, por atuarem em um espaço de jogo comum, elevam o grau de incerteza nas situações apresentadas. Portanto, esses praticantes são levados a constantes ajustes em suas ações.

    Uma categoria de esportes de habilidades preponderantemente abertas exige dos participantes adaptações regulares aos fatores externos no ambiente de jogo. O contexto se mostra instável na realização da ação motora, sendo marcado pela ação dinâmica e não repetitiva, onde as habilidades perceptivas e cognitivas assumem um destaque especial (REZENDE e VALDÉS, 2004).

3.     Processando informações e tomando decisões

    Pelas classificações apresentadas e por sua natureza intrínseca podemos considerar que os JECI apresentam dentro do seu contexto interno, uma variabilidade de situações-problemas que estão recheadas de informações a serem filtradas e interpretadas. A riqueza de situações que surgem neste grupo de jogos requer dos seus praticantes a atenção a todo tipo de informação (motora, verbal, visual, sinestésicas), para conseguir tirar proveito sobre seus adversários na efetivação de uma ação motora. Pérez e Bañuelos (1997, p.47) apontam que “o ambiente esportivo está cheio de informações que devem ser captadas, selecionadas e interpretadas pelo atleta, para que possa aplicá-las na elaboração de seus projetos motores.”

    A conferência da elaboração destes projetos motores acontece desde a captação da informação até o resultado motor. Nesse sentido, uma série de processos internos são ativados (consciente ou inconscientemente), para que o atleta consiga concretizar uma ação motora.

    Na decorrência desses processos senso–motor, para uma regulação das condutas motoras, alguns autores (ABERNETHY, WANN e PARKS, 2000; MEINEL, 1987; SCHIMDT e WRISBERG, 2001) apresentam três mecanismos gerais que indicam o modo de funcionamento do planejamento mental, ou seja, como se manifestam estes processos internos na realização de uma ação motora. Estes mecanismos são: Mecanismo de Percepção que está relacionado à leitura ambiental da situação de jogo (posição dos companheiros, adversários, móvel, propriocepção), mecanismo de Tomada de Decisão, a escolha mental da ação a ser realizada (passo para este, me desmarco para receber, etc.) e Mecanismo de Execução, a realização motora propriamente dita.

Figura 1. Modelo de processamento de informação

Fonte: Adaptado de Pérez e Bañuleos (1997)

    Estas demandas sobre o comportamento motor não são exigidas da mesma forma em todas as atividades. De acordo com o ambiente e as características das tarefas, a utilização destes mecanismos difere. Ou seja, ao realizar um passe no handebol, ao sujeito executante é necessário não somente coordenar os movimentos para a execução deste passe, mas também antes da realização desta ação, ele irá passar por um processo de percepção para avaliar qual é a melhor opção para passar a bola e de decidir de que forma e em que momento fará isto.

    Diferentemente de um lançamento de dardo no atletismo, onde o mecanismo execução é o mais exigido, devido às características estrutural-funcionais dessa tarefa, a situação se apresenta estável, desde o início da preparação para o lançamento até o seu final, não precisando o sujeito tomar decisões, ou seja, alterar o seu planejamento inicial para realizar a ação.

    As informações captadas, selecionadas, interpretadas e armazenadas influenciam significativamente a regulação dos movimentos. A ação de cada jogador está condicionada pela forma como ele recolhe as informações do ambiente e as utiliza. Este processamento informativo é o que dotará o atleta da compreensão da situação e favorecerá que aplique os recursos técnicos mais adequados à mesma situação (PÉREZ e BAÑUELOS, 1997).

    A forma como a informação é tratada pelo jogador nos JECI irá influenciar a maneira como este atuará. Neste sentido é que o sistema senso–perceptivo ganha importância, ou seja, o jogador consegue decodificar mais rapidamente as informações presentes no ambiente, podendo acelerar os processos de tomada de decisão e execução sem que ocorra um déficit na escolha/ seleção e realização do ato tático.

    Sabendo que os diferentes esportes reclamam de maneira diferente a participação dos mecanismos comentados, isto já deveria ser mais do que suficiente para considerar a maneira em que são treinados os desportistas nas múltiplas modalidades desportivas que conhecemos (PÉREZ e BAÑUELOS, 1997). Evidenciando que os JECI constantemente requerem uma grande demanda sobre o mecanismo de Tomada de Decisão, devido ao planejamento do jogador em relação a ação a ser realizada. O trabalho com este grupo de esportes deve estimular a capacidade de agir inteligentemente, não ignorando o comportamento cognitivo do sujeito.

    Os JEC, por serem atividades ricas em situações imprevistas às quais o indivíduo que joga tem que responder (GARGANTA, 1998a), atribui um papel fundamental na capacidade decisional do atleta que, por conseguinte, precisa tomar constantemente inúmeras decisões, para solucionar os problemas que surgem devido a esta imprevisibilidade. As situações de jogo apresentadas não possuem uma previsibilidade, o que acaba exigindo do praticante que constantemente regule suas ações, pois, necessita ajustá-las as situações e fazendo-as de uma forma inteligente.

    “A tomada de decisão joga um papel importante nas ações do atleta, pois a realização de movimentos conscientes é sempre precedida de uma decisão” (TAVARES, 1996, p.34). O praticante dos JECI se depara a todo o momento com perguntas relativas a o que fazer? “Para quem passo a bola?” “Como vou fazer para receber um passe?” “Qual o comportamento que devo ter para tirar vantagem sobre a ação do meu adversário?” São algumas das questões que os praticantes se defrontam constantemente durante uma partida.

    Abernethy, Wann e Parks (2000) consideram que o processo de tomada de decisão é a seleção do modo correto de agir, de acordo com as atuais circunstâncias, com o atual contexto e com as experiências passadas. No decorrer da elaboração da ação o atleta seleciona, dentro das inúmeras soluções mentais, qual será o produto final a ser visualizado.

    Portanto, “a qualidade das decisões tomadas (em termos de velocidade e precisão) será obviamente influenciada pela qualidade da informação sensorial recebida e também pelo conhecimento do indivíduo acerca do contexto e das expectativas da experiência passada” (ABERNETHY, WANN e PARKS, 2000, p. 62). A maneira como o jogador capta e seleciona essas informações ambientais, reflete na qualidade da sua tomada de decisão e no tempo gasto para emitir uma resposta a tal situação.

    Ao tomar decisões nos JECI, muitos são os fatores que influenciam esta seleção de qual ação realizar. Schimidt e Wrisberg (2001) exemplificam o número de alternativas estímulo-resposta; compatibilidade estímulo-resposta e quantidade de prática como alguns dos fatores que influenciam a reação na tomada de decisão.

    Subjacente a pergunta sobre “como fazer”, o jogador necessita saber “o que fazer”, “quando fazer” e “porque fazer”. Na constatação que os JECI requerem uma grande demanda sobre o mecanismo de Tomada de decisão, o jogador precisa processar as informações ambientais que lhe são colocadas para então organizar, programar e controlar a sua ação motora.

4.     Conteúdos táticos

    Considerando as características atribuídas aos JECI, não obstante, se estabelece uma grande valorização sobre as demandas cognitivas (processamento de informação, tomada de decisão, tática individual, geral, grupal e coletiva). Nesse sentido, não se está atribuindo à centralidade no desenvolvimento das técnicas pertencentes a cada esporte, mas sim, com o desenvolvimento de um comportamento tático dos praticantes frente às situações-problema.

    Griffin et.al. (1997) afirmam que, embora a execução de habilidades motoras seja imprescindível para o desempenho no jogo, decisões apropriadas com relação ao “que fazer” nas situações de jogo são igualmente importantes. As habilidades motoras são específicas para cada esporte, contudo os problemas e princípios táticos podem ser transferíveis a todos os JECI.

    Neste processo de EAT para uma consciência tática dos praticantes, Bayer (1994) apresentou os princípios operacionais que são comuns e idênticos a todos os esportes coletivos. Para esse mesmo autor, esses princípios constituem o ponto de partida, a base, pois representam a origem da ação, e definem as propriedades invariáveis. É por meio destes princípios que os jogadores conseguem organizar as suas ações no momento do jogo (objetivos parciais).

Quadro 3. Princípios operacionais dos JEC

Fonte: Bayer (1994 p.47)

    Seguindo essa linha, Lopez Leon (1997) e Lassierra et. al. (1993), especificamente com relação ao esporte handebol, e Griffim et.al. (1997) para o futebol, apresentam comportamentos deliberados que cada jogador deveria ter para resolver os problemas táticos que surgem durante o jogo. Nessas intenções táticas se encontram os papéis e sub-papéis que os jogadores assumem aleatoriamente, de acordo com a situação de jogo: atacante com posse de bola (ACPB); atacante(s) sem posse de bola (ASPB); defensor direto do atacante com posse de bola (DACPB) e defensor(es) do(s) atacante(s) sem posse de bola (DASPB).

    Dentro de cada sub-papel encontram-se inúmeros comportamentos táticos que o jogador deve realizar quando se localizar, em virtude ao indeterminismo característico dos JECI, em cada um deles.

Quadro 4: Comportamentos táticos dos jogadores

    A categoria das combinações táticas é outra etapa importante no processo de ensino aprendizagem para uma consciência tática nos JECI. Dois ou três jogadores coordenam as suas ações (soma de ações), para conseguir os objetivos de ataque ou de defesa. Em situações específicas, conseguem reconhecer e sincronizar as suas ações com as dos companheiros, a fim de superar os adversários. Especificamente no basquetebol, têm-se no ataque os bloqueios diretos, indiretos, estáticos e dinâmicos, passe e vai ou passar e seguir e triangulação, entre outras. Na defesa teríamos a ajuda e a troca defensiva como as mais simples.

    Sobre a dimensão tática, ainda tem-se nos JECI, os sistemas de jogo que se constitui enquanto a organização/coordenação do comportamento de todos os jogadores de uma equipe dentro de um determinado tempo/espaço. Os JECI possuem três sistemas básicos de jogo: ataque, defesa e transição. O ataque pode ser posicional, de permuta ou livre. A defesa pode ser individual, zona ou mista e a de transição de defesa para o ataque pode ser direto ou indireto e do ataque para a defesa pode ser de pressão na 1ª linha ou na 2ª linha. São nos sistemas de jogo que surgem as especializações das funções onde cada praticante irá atuar.

    No que diz respeito à dimensão tática, esses conteúdos apresentados, em linhas gerais, são os conteúdos que necessitam serem ensinados. Dentro dessa dimensão, a tática individual, enquanto intenções táticas, as combinações táticas e os sistemas de jogo surgem como os conteúdos principais, visto que, contribuem diretamente no desempenho do jogador no momento em que atua dentro dos JECI.

    Dois pontos neste momento surgem como importantes na elaboração do processo de EAT. O primeiro deles centra-se no como ensinar esses conteúdos, enquanto metodologia de ensino a ser utilizada, e o segundo focaliza-se no âmbito do quando ensiná-los, ou seja, um programa marco de aproximação progressiva para o ensino desses conteúdos.

5.     Considerações finais

    Pode-se evidenciar que um dos maiores problemas enfrentados pelos jogadores de JECI está na produção de incerteza do adversário sobre as ações táticas no jogo. No instante em que o jogador consegue eleger os sinais subjetivos e interpretá-los, cria-se a possibilidade de “decifrar” as ações do adversário, ou prever uma situação, permitindo-lhe antecipar seu comportamento. Assim, pode-se anular uma ação contrária ou tirar proveito de uma situação. Ao processar corretamente as informações aleatórias, múltiplas e inconstantes, presentes nos JECI, possibilita-se um melhor rendimento por parte do atleta sobre o jogo, isto na tentativa de facilitar, perante a seleção das informações que chegam a tomada de decisão a ser executada.

    Para ensinar este grupo de esportes, em um processo no qual se estimule a capacidade de agir inteligentemente deve-se desenvolver no praticante uma consciência tática de pensar na ação a ser realizada. Que ele possa interpretar os estímulos que são apresentados e buscar a solução mental para então colocar em prática a ação motora. Jogar coletivamente de forma inteligente requer do praticante a capacidade de agir conscientemente.

    O que precisamos é encontrar um equilíbrio entre esta aprendizagem tática e a técnica. Lassierra et.al. (1993) concluem que a técnica deve estar subordinada a tática, porém, sendo necessário como suporte dela. Os autores exemplificam que para haver uma atuação tática permanente enquanto se quica a bola, é imprescindível ter um controle unicamente sinestésico sobre a execução do movimento, a fim de utilizar-se o campo visual para as funções superiores da ação tática.

    O equívoco que aqui a maioria dos professores faz é considerar somente a técnica como necessária para jogar estes esportes excluindo completamente a dimensão tática. Muitos professores acreditam que o resultado é mais eficiente se permanecerem trabalhando nos modelos tecnicistas.

    Por meio deste artigo, buscou-se apontar subsídios (sinais relevantes) que direta ou indiretamente influenciem o processo de ensino treinamento nos JECI. Algumas considerações que devem ser relevantes ao se programar os conteúdos didáticos que serão ensinados por professores e treinadores, sejam em escolas, clubes e escolinhas. Ao apresentar as classificações que podem ser atribuídas aos esportes, à natureza intrínseca, o processamento de informação e a influência da tomada de decisão nos JECI, evidencia-se alguns argumentos que podem predicar a prática de intervenção para o EAT nessa categoria de jogos.

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