Educação Física no Ensino de Jovens e Adultos: relato de experiência La Educación Física en la Enseñanza de Jóvenes y Adultos: relato de experiencia |
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Curso de Educação Física Universidade Federal de Santa Maria (Brasil) |
Cristian Leandro Lopes da Rosa Marília Valvassori Rodrigues Patrick Ydner Martelli Veronica Jocasta Casarotto |
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Resumo O presente estudo tem por objetivo divulgar as experiências vivenciadas por acadêmicos de educação física do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria, através de intervenções pedagógicas direcionadas ao Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Essas intervenções foram realizadas em uma Escola Estadual de Ensino Fundamental do município, durante o período de agosto a outubro de 2010. Oportunidades fundamentais para aquisição de conhecimentos a cerca deste trabalho diferenciado realizado com o EJA, possibilitando e proporcionando momentos de aprendizado para nosso crescimento enquanto futuros educadores. Unitermos: Educação Física. Ensino de Jovens e Adultos. Intervenções pedagógicas.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Este relato de experiência contém alguns resultados das experiências adquiridas através das aulas de educação física para o Ensino de Jovens e Adultos - EJA, com alunos do ensino fundamental. A oportunidade de vivenciar um estágio no EJA nos foi contemplado pela disciplina de Docência Orientada em Educação Física do curso de Educação Física - Licenciatura da Universidade Federal de Santa Maria. Assim sendo, este estudo possui informações de vivências tanto no meio acadêmico, quanto na escola referentes aos três meses de intervenções decorridas na mesma. Com certeza foram experiências ricas em aprendizado, pois obtivemos a oportunidade de trabalhar com turmas do EJA, através dos conteúdos: Voleibol, Handebol, Basquete.
A Educação Física confunde-se com vários conceitos como: A ginástica, a medicina, a cultura, o jogo, o esporte, a política e à ciência. Mas, na verdade a educação física é um pouco de cada, pois há uma interdisciplinaridade entre estes conteúdos, (OLIVEIRA, 1987). Neste sentido Soares e colaboradores (1992) ressaltam que é fundamental para a perspectiva da prática pedagógica da educação física o desenvolvimento da noção de historicidade da cultura corporal, pois ao nascer certas habilidades como correr, saltar, pular, trepar, etc., ainda não são desenvolvidas pelo corpo. Através das necessidades, é que atividades como estas são construídas e desenvolvidas. Logo, é de fundamental importância relacionar a prática com a realidade em que o aluno vive, levando em consideração seus interesses, suas necessidades e capacidades, para que a aprendizagem da educação física tenha significado e possibilite ao educando a reflexão.
De acordo com Correia (1996) um planejamento participativo aumenta a participação e motivação dos alunos nas atividades, proporcionando a valorização da educação física dentro da escola e possibilitando a expressão dos alunos, face ao caráter participativo da proposta.
A educação física precisa justificar sua presença no meio escolar através de um trabalho inovador que considere o individuo como um ser complexo, uno, que se expressa de maneira muito singular, permitindo a manifestação dessa diferença, (PAIANO, 1998). A característica básica da educação física é o movimento. E, este é o atributo que a diferencia das demais.
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394\96, inciso 3º: A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica.
Sendo assim, neste relato procurou-se abordar tudo o que ocorreu desde o primeiro contato com a escola, as intervenções pedagógicas, a característica dos alunos, os objetivos almejados, os erros e acertos durante as intervenções pedagógicas.
Principais objetivos implícitos nas aulas durante o processo
Nosso objetivo para atuação no EJA é o desenvolvimento de uma metodologia de trabalho pedagógico que valorize a participação do educando e do educador, de modo que haja uma ressignificação do conhecimento, na elaboração de propostas que visem à transformação do cidadão criando um contexto favorável para o desenvolvimento de atividades que levem a motivação e o envolvimento dos alunos a partir da comunicação oral, visual, casual aliada ao movimento corporal.
Possibilitar momentos de interação entre alunos e estagiários; criando situações de entrosamento dos alunos durante os jogos recreativos; construção atividades recreativas, objetivando a interação e integração entre alunos/estagiários; promover a construção de conhecimentos significativos a partir da realidade dos alunos; arquitetar junto aos alunos um ambiente agradável e prazeroso; promover atividades de reflexão sobre a importância das relações interpessoais como pressuposto de um trabalho de qualidade, utilizando-se de relações de cooperação, respeito ao adversário e vivência de inúmeros papéis dentro das atividades.
Nossa proposta de ensino enquanto estagiários
Durante esse período concluímos que o método mais apropriado para as intervenções seria o método misto. Pois, de acordo com Xavier (1986), esse método consiste na sincronia dos métodos global-parcial-global. Onde, primeiramente acontece a execução do gesto como um todo; em seguida, o gesto é parcializado com o objetivo de proceder a “correções” do movimento ou dos movimentos; finalmente, volta-se a prática completa dos movimentos. Desse modo, a segunda parte servirá baseado no que foi observado no primeiro momento, para que o professor faça a demonstração do exercício e, assim, a partir da terceira parte, acontece o gesto por completo. Trata-se de uma metodologia bastante rica, sob o ponto de vista didático, com mais fatores positivos do que negativos.
Partindo de uma metodologia crítica-social, os conteúdos devem ser permanentemente reavaliados para uma adaptação á realidade social, devendo ser bem ensinados para garantir a qualidade do ensino, ligando-os a sua atualidade e praticidade na vida social do aluno.
Através da utilização do estilo de ensino não diretivo, estimulando o aluno para que ele participasse da distribuição dos espaços e dos materiais, oferecendo ao aluno a oportunidade de executar a quantidade de atividades que fosse capaz, sem interferir no ritmo do aluno, apenas auxiliando quando fosse necessário. Proporcionar aulas diferenciadas, através de didática simples, metodologia de acordo com a realidade da escola e de acordo com o nível de aprendizado em que a turma se encontra; propiciar o conhecimento dos esportes desenvolvidos em aula, através de exercícios simples, buscando compreender e melhorar os fundamentos básicos; construir atividades que visem o trabalho em grupo, buscando aumentar os laços de amizade entre os alunos; valorizar a participação nas aulas, incentivando e auxiliando para o desenvolvimento do trabalho em equipe.
Breve conhecimento da realidade escolar em questão
A comunidade escolar é composta em sua maioria por alunos da classe média baixa e oriunda de famílias operárias, ferroviários, comerciantes e biscateiros, com raras exceções.
A escola tende a todo ensino fundamental em três turnos, no turno da manhã e tarde atende a educação infantil. Sendo que no período da noite funciona com ensino de jovens e adultos - EJA. O prédio possui quatorze salas de aulas, uma biblioteca, um laboratório de ciências, uma sala de vídeo, cozinha, secretaria, sala da direção e vice direção, sala do SOE e uma sala de professores.
Um das dificuldades que a escola convive é a falta de espaço para educação física. A área de lazer é pequena e irregular o que dificulta a prática de esportes e exercícios físicos. Por conta disto os professores e alunos do período diurno, precisam se deslocar para as quadras de esporte localizadas nos fundos da escola. Fator que influência na motivação e no interesse dos alunos durante as aulas. Este fato de precisar se deslocar da escola para as aulas tem preocupado a comunidade escolar que está tentando se mobilizar para achar uma solução viável para a solução do problema, num esforço comum entre direção, conselho escolar e círculo de pais e mestres.
Outro tema em constante debate é o currículo escolar, seus planos de estudo e trabalho. O grupo escolar tem dificuldades em assimilar a interdisciplinaridade, o que parece ser o grande entrava numa ação pedagógica com a mesma intenção.
O projeto político pedagógico ocorre através da prática educativa, buscando por meio da dialética a prática social, procurando conhecer a realidade onde o aluno se insere e desenvolvendo o conhecimento.
De acordo coma situação idealizada pela comunidade que prevê como finalidade maior do ato educativo, a construção da cidadania.
As oficinas de reforço escolar têm por objetivo proporcionar ao aluno com dificuldades na oportunidade de saná-las. Acontecendo no turno inverso ao da turma em data e horário pré-determinados pelo professor.
No final do ano letivo, são oferecidos estudos adicionais ao aluno com aproveitamento não satisfatório.
Objetivo da escola para a educação física
Conscientizar sobre a importância de uma boa saúde a partir da prática dos esportes. Higiene e alimentação saudável, valorizando a vivência corporal e cultural diversificando movimentos e praticando fundamentos técnicos de diferentes modalidades esportivas, reconhecendo o esporte como integração, participação, desenvolvimento de habilidades e superação.
Diagnóstico das turmas
As turmas na escola são identificadas como: 5° e 7° Séries do Ensino Fundamental. Ao entrarmos em contato com a professora regente das turmas, esta nos informou que alguns dos alunos no momento da aula são “dispensados”, por não gostarem da prática ficando dentro da sala de aula utilizando-se de jogos de tabuleiro. O restante dos alunos participa da aula desde que suas vontades sejam atendidas, ou seja, eles gostam muito de voleibol e participam prontamente durante toda a aula, porem quando lhes é oferecido outra atividade, esta não tem a mesma reciprocidade que o voleibol possui.
Sendo assim, durante as nossas reuniões acadêmicas para traçar estratégias decidimos que as primeiras intervenções pedagógicas seriam com o voleibol, para que aos poucos pudéssemos conquistar a confiança da turma e, quem sabe assim, convencê-los a conhecer e aceitar outros conteúdos que a educação física pode proporcionar. Então no decorrer das primeiras aulas identificamos quais atividades os alunos gostariam de praticar, para que aos poucos nós (acadêmicos) pudéssemos contemplá-los e assim desenvolver nossa metodologia.
No primeiro momento a turma demonstrou ser bem acessível, acreditamos que estes momentos foram uma experiência única e muito desafiadora, visto que até então não tivemos a oportunidade de trabalhar com a EJA.
Nesta ocasião aconteceu a observação das duas turmas, onde foi possível identificar que a maioria dos alunos são adolescentes, com faixa etária bem baixa. Outra característica é que possuem linguajar próprio com muitas gírias, característica desta fase da adolescência. As turmas também possuem alguns alunos mais velhos, outra característica marcante da turma é que nem todos trabalham durante o dia, apenas os mais velhos.
Principais dificuldades e possibilidades encontradas durante o estágio
Dentre as principais dificuldades encontradas, logo após o inicio das intervenções pedagógicas, estava relacionado ao fato dos alunos serem muito resistentes a mudanças, a dificuldade de relacionamento entre os adolescentes também se fez presente em alguns momentos, contudo, estava sendo trabalhada por nós constantemente. A desmotivação de alguns durante o decorrer das aulas, promoveu a não participação em certas atividades, contudo, com o passar do tempo mais alunos queriam participar das mesmas. Logo, nos deparamos com um novo problema a ser trabalhado a competitividade excessiva de alguns integrantes do grupo.
No decorrer do estágio observamos que é comum nos depararmos com algumas dificuldades, até mesmo certas limitações, como infraestrutura por exemplo. Segundo Bracht et. al. (2005),
estabelece uma distinção dos limites que denomina macro e micro. No primeiro o autor se refere a problemas governamentais, de relações públicas etc. Já no segundo, são os problemas específicos da escola como instituição. Ou seja, compreendemos com isso que no cotidiano escolar, no desenvolver da prática pedagógica, estão implícitos limites e dificuldades de vários tipos, das quais necessitaremos contornar, não somente de origem social e política (externos a escola), mas também no aspecto organizacional da escola, na relação professor/aluno, problemas de estrutura, (exemplos internos).
No inicio das intervenções frente à turma, procuramos desenvolver atividades que necessariamente precisavam do auxilio do colega para se obter o êxito da mesma, levando aos alunos constantes relações de interação e conseqüentemente reflexões a cerca de tudo o que acontecia. Ao final de cada aula percebemos que nossas intervenções estavam dando certo, os alunos mostravam-se cada vez mais conscientes sobre a importância da socialização nas atividades. Outra constatação adquirida ao final deste desafio que é dar aulas para o EJA, foi que, mesmo com falta de um espaço adequado para as aulas, é possível desenvolver atividades diversas com a educação física, utilizando da criatividade e adaptação constante. Ao final das aulas, podemos perceber que a maioria dos alunos, compreendeu o propósito das atividades, principalmente a socialização em grupo, fator muito importante, pois esta foi a melhor resposta dos alunos ao final deste trabalho desenvolvido.
Conclusão
Ao final dessas intervenções pedagógicas pode-se concluir que foram experiências significativas e, muitas vezes cansativas e exaustivas. No entanto, os resultados são animadores, satisfatórios e essenciais tanto para nós (acadêmicos) quanto para as pessoas com quem tivemos o privilégio de trabalhar durante o período do estágio.
Acreditamos que a maioria dos nossos objetivos pessoais e profissionais foram alcançados, pois tivemos a oportunidade de trabalhar em uma escola onde os profissionais que lá estão nos receberam muito bem. Durante este período obtivemos à oportunidade de conhecer e nos relacionar com pessoas novas de diferentes idades, que contribuíram muito para nossa formação.
Por fim, as vivências ocorridas durante este período através da disciplina, que incluíram reuniões semanais, discussões de textos em aula junto aos colegas e à professora da disciplina, aliada as constantes orientações da professora regente da escola, muito contribuíram para que compreendêssemos um pouco mais o cotidiano e a realidade do ambiente escolar no EJA.
Bibliografia
BRACHT, Valter et. al. Pesquisa em ação: Educação Física na Escola. 2 ed. Unijuí, 2005.
CORREIA, W. R. Planejamento Participativo e o Ensino de Educação Física no 2º grau. Revista Paulista Educação Física, São Paulo, supl.2, p.43-48, 1996.
LEI DE DIRETRIZES E BASES nº 9.394, de Dezembro de 1996.
OLIVEIRA, V, M. O que é Educação Física. São Paulo: Brasiliense, 1987.
PAIANO, R. Ser ou não fazer: o desfazer dos alunos de Educação Física e as perspectivas de reorientação da prática pedagógica do docente. Dissertação de Mestrado. 1998.
SOARES, Carmen L.; TAFFAREL, Celi. N.Z.; VARJAL, Elizabeth.; FILHO, Lino. C.; ESCOBAR, Micheli. O.; BRACHT, Valter,. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992.
XAVIER, T. P. Métodos de ensino em Educação Física. São Paulo: Manole, 1986.
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