Comparação do desempenho motor entre meninos e meninas de 8 a 11 anos Comparación del rendimiento motor de niños y niñas de 8 a 11 años |
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* Mestre em Educação Física. Professor do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Barbacena, MG ** Graduado em Educação Física Universidade Presidente Antônio Carlos, Ubá, MG. *** Mestre em Ciências Sociais. Professora da Universidade Presidente Antônio Carlos, Ubá, MG. **** Doutoranda em Tecnologia de Alimentos Professora da Universidade Presidente Antônio Carlos, Ubá, MG |
Silvio Anderson Toledo Fernandes* Gabriel Vieira Moreira** Luciana Ferreira da Silva*** Ana Paula Muniz Guttierez**** silvio.fernandes@ifsudestemg.edu.br (Brasil) |
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Resumo Introdução: A criança estimulada de forma ampla, por meio da exploração do meio ambiente, tem mais chances de praticar as habilidades motoras e, conseqüentemente, de dominá-las com facilidade. Até algum tempo atrás, as experiências motoras vivenciadas espontaneamente pela criança e suas atividades diárias eram suficientes para que adquirisse as habilidades motoras e formasse uma base para o aprendizado de habilidades mais complexas. Objetivo: Comparar o desempenho motor entre meninos e meninas de 8 a 11 anos de idade de escolas públicas e privadas da cidade de Ubá, Minas Gerais, Brasil. Metodologia: Foram selecionadas, aleatoriamente, 64 crianças de ambos os sexos, com idade entre 8 a 11 anos de idade pertencentes à escolas da cidade de Ubá, Minas Gerais, Brasil. Foram divididas em dois grupos: 1º - meninas (32 crianças) e 2º - meninos (32 crianças). O desempenho motor foi realizado por teste de velocidade com corrida de 50 metros, força explosiva de membros inferiores com salto vertical e força explosiva de membros superiores com arremesso de bola medicinal (Johnson & Nelson, 1979); força abdominal (Aahper, 1976) e flexibilidade com sentar e alcançar (Mcardle et al., 2002). Utilizou-se test – t para a comparação das médias (Sigma Stat 3.0 - SPSS), ao nível de significância de 5%. Resultados: Foi observado uma diferença significativa (P < 0,05) no teste de corrida de 50 metros, onde as meninas apresentaram maior desempenho que os meninos. Em relação aos demais parâmetros analisados não foi verificado nenhuma diferença estatística entre os gêneros (P > 0,05). Conclusão: A diferença do desempenho no teste de corrida de 50 metros entre os gêneros pode ter sido pelo fato das meninas, na maioria das vezes, apresentarem maior altura do que os meninos antes da puberdade. Este fato pode ter ajudado, pois as passadas da corrida das meninas podem ter sido maiores do que as dos meninos. Em relação aos demais parâmetros a não diferença do desempenho pode estar relacionada a composição corporal, pois meninos e meninas de 8 a 10 anos possuem as mesmas características. Sendo assim, as diferenças nas capacidades físicas como força e flexibilidade são mínimas. Unitermos: Comportamento motor. Desenvolvimento infantil. Habilidades motoras.
Resumen Palabras clave: Rendimiento del motor. Desarrollo. Habilidad motora.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A prática regular de atividades físicas sistematizadas pode contribuir para a melhoria de diversos componentes da aptidão física relacionada à saúde, como força, resistência muscular, resistência cardiorrespiratória, flexibilidade e composição corporal. Essas modificações podem favorecer, sobretudo, o controle da adiposidade corporal, bem como a manutenção ou melhoria da capacidade funcional e neuromotora, facilitando o desempenho em diversas tarefas do cotidiano e, conseqüentemente, proporcionando melhores condições de saúde e qualidade de vida mais adequada aos praticantes (MORRIS 1994).
Em contrapartida, a redução dos níveis de atividade física habitual parece favorecer o desenvolvimento gradativo de inúmeras disfunções crônico-degenerativas, tais como obesidade, dislipidemias, diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão, dentre tantas outras, em idades cada vez mais precoces (BOREHAM 2001), assim inúmeras investigações têm sido conduzidas, em crianças, na tentativa de analisar o comportamento de indicadores da aptidão física relacionada à saúde, por meio de indicadores de adiposidade corporal e desempenho motor (GUEDES 1995). Acredita-se que estudos dessa natureza possam fornecer valiosas informações para análise do estilo de vida adotado em diferentes sociedades, tanto no passado quanto no presente, além de possibilitar previsões para o futuro, principalmente no que tange aos aspectos relacionados à promoção da saúde e ao controle de doenças. Verifica-se na literatura que os poucos estudos que têm adotado abordagem de análise referenciada em critérios relacionados à saúde passaram a ser desenvolvidos, em sua grande maioria, somente a partir da última década (GLANER 2002).
Esse fato parece plenamente justificável pela mudança brusca de paradigma que vem sendo observada mundialmente, sobretudo, na população jovem, devido ao interesse crescente por jogos, diversões e brincadeiras passivas que as fazem permanecer por diversas horas do dia diante de aparelhos de televisão e/ou microcomputadores (PEZZETTA 2002). Nesse sentido, as classes sociais que aparentemente vêm sendo mais atingidas por esse fenômeno, ou seja, as populações mais favorecidas economicamente são aquelas que têm recebido menor atenção da comunidade científica brasileira especificamente, uma vez que grande parte dos estudos com crianças e adolescentes no Brasil tem investigado populações menos favorecidas economicamente (GUEDES 1995), o que, indubitavelmente, apresenta grande relevância, partindo-se do pressuposto de que a maioria da população neste país, ainda, se enquadra nessa situação. Todavia, pesquisas sobre o comportamento de crianças, não somente de populações menos favorecidas economicamente, são fundamentais na perspectiva da promoção da saúde, uma vez que tais informações podem subsidiar ações de intervenção, em diferentes classes socioeconômicas, visando à melhoria da qualidade de vida das futuras gerações.
Metodologia
Coleta dos dados
Para a realização do trabalho foi solicitada autorização da 33ª Coordenadoria de Educação do Município de Ubá, Minas Gerais, e dos Diretores das escolas, bem como o consentimento dos pais ou responsáveis. Os procedimentos empregados no estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (processo nº. 13/2009) – da Universidade Presidente Antônio Carlos, Campus Barbacena.
Amostra
Foram selecionadas, aleatoriamente, 64 crianças, 32 crianças do sexo masculino e 32 crianças do sexo feminino, com idade entre 8 a 11 anos de idade pertencentes a escolas do ensino público e privado da cidade de Ubá, Minas Gerais, Brasil. As escolas serão selecionadas por motivos socioeconômicos que vão de encontro com os interesses da pesquisa.
Instrumentos
O instrumento utilizado para a coleta de dados do desempenho motor foram testes físicos e motores de acordo com Johnson & Nelson (1979), Aahper (1976) e Mcardle et al. (2002). A bateria de testes motores foi composta por cinco itens e foi aplicado individualmente, a saber:
Velocidade (corrida de 50 metros) (Johnson & Nelson, 1979)
Serão utilizados dois cronômetros e uma área de corrida com mais de 50 metros. Devem ser demarcados, no chão, tanto na linha de saída quanto na linha de chegada. A criança deverá iniciar a corrida na posição de pé. Os comandos “prontos” e vai devem ser dados. Ao comando vai o testador deve abaixar seu braço para que o testador posicionado na linha de chegada acione os cronômetros. O testando devem correr o mais rápido o possível até ultrapassarem a linha de chegada.
Força abdominal (Aahper, 1976)
Será utilizado colchão e um cronômetro. O testando devera assumir a posição de decúbito dorsal, joelhos fletidos, formando um ângulo de 90º graus. As plantas dos pés deverão estar afastadas em uma distancia inferior a de 30 cm. O testando deverá cruzar os braços à frente do tronco de forma que a mão direita toque o ombro esquerdo, e a mão esquerda toque o ombro direito. A cabeça do testando deve estar sempre em contato com o solo. Um testador deverá segurar os pés do testando, mantendo o ângulo de 90º graus, e assegurando que os pés fiquem em contato com o solo durante a movimentação. O testando deverá elevar o tronco até que este toque os cotovelos nos joelhos e voltar a posição inicial. Cada toque constitui uma flexão. Serão contabilizados o número de toque do cotovelo no joelho em 30 segundos. Serão dados três comandos ao testando, o primeiro preparatório, “pronto”, o segundo para o inicio do teste, “vai”, e o terceiro para o termino, “pare”.
Força explosiva dos membros inferiores (Salto vertical - vertical jump) (Johnson & Nelson, 1979)
Foi utilizada uma superfície lisa, de três metros de altura graduada de dois em dois centímetros e pó de giz. O testando deverá assumir a posição em pé, de lado pra superfície graduada, e com o braço estendido acima da cabeça, o mais alto possível, mantendo as plantas dos pés em contato com o solo, sem flexioná-los. Deverá fazer uma marca com os dedos, na posição mais alta que possa atingir. Para facilitar a leitura, os dedos do testando deverão ser sujos com pó de giz. O teste consiste em saltar o mais alto possível, sendo facultado ao testando, o flexionamento das pernas e o balanço dos braços para a execução do salto. O resultado será dado em centímetros, subtraindo-se a marca mais alta do salto pela mais baixa, feita pelo testando sem o salto. São feitas três tentativas, computando-se melhor dos três resultados alcançados. Não é permitido um saltito ou um deslocamento dos pés antes da realização do salto.
Força explosiva de membros superiores e cintura escapular (Arremesso da bola medicinal) (Johnson & Nelson, 1979)
Será utilizada uma bola medicinal de três quilos, uma cadeira, fita adesiva, corda e trena. O testando inicia o teste assentado em uma cadeira, ele segura a bola medicinal com as duas mãos contra o peito e logo abaixo do queixa, com os cotovelos o mais próximo do tronco. A corda é colocada na altura do peito do testando para mantê-lo mais próximo e seguro à cadeira e, eliminar a ação de embalo durante o arremesso. O esforço deve ser realizado pelos braços e cintura escapular, evitando-se a participação de qualquer outra parte do corpo. O resultado será a distancia, em centímetro, da melhor das três tentativas executadas pelo testando, e é dada a ele a oportunidade de realizar uma tentativa para familiarização com o teste.
Flexibilidade (Sentar e alcançar modificado) (MCARDLE et al, 2002)
Sentar sobre o assoalho com a cabeça e as costas apoiadas contra uma parede, as pernas plenamente estendidas com a região plantar contra a caixa para sentar e alcançar. Colocar as mãos sobre a outra, projetando os braços para frente enquanto se mantém a cabeça e as costas apoiadas contra a parede. Medir a distância das pontas dos dedos até a borda da caixa da barra. Este passa ser o ponto zero ou inicial. Iniciar-se lentamente e projetar-se para a frente até onde for possível (cabeça e costas afastando-se da parede), deslizando os dedos ao longo da barra, manter a posição final por 2 segundos. Será computado a melhor das três tentativas executadas pelo testando.
Procedimentos estatísticos
A análise dos dados foi realizada utilizando o software Sigma Statistic® for Windows, versão 3.0, sendo utilizado o teste-t para comparação entre grupos. O nível de rejeição da hipótese de nulidade foi de P<0,05 ou 5%.
Resultados
Foi observado uma diferença significativa (P < 0,05) no teste de corrida de 50 metros, onde as meninas apresentaram maior desempenho que as meninos. Em relação aos demais parâmetros analisados, não foi verificado nenhuma diferença estatística entre os gêneros (P > 0,05, Tabela 1).
Tabela 1. Resultados do desempenho motor de crianças de 8 a 11 anos de idade
Discussão
Estudos na literatura têm investigado o comportamento motor de homens e mulheres em relação as diferenças existentes nas capacidades físicas desses indivíduos. O presente estudo analisou o desempenho motor de meninos e meninas de 8 a 11 anos de idade através de testes de velocidade, força e flexibilidade.
No que diz respeito às diferenças sexuais no desempenho motor, tem-se observado pequena vantagem a favor das crianças do sexo masculino no início da infância (THOMAS & FRENCH, 1985). A partir da segunda infância (6 a 10-12 anos), os meninos apresentam um melhor desempenho nas tarefas motoras que exigem potência muscular ao passo que naquelas que envolvem equilíbrio e flexibilidade, as meninas sobressaem (MALINA & BOUCHARD, 1991). Embora exista o fator biológico em relação ao dimorfismo sexual nas tarefas motoras, não há como desconsiderar as influências de fatores ambientais, e socioeconômicos e, principalmente, a possível interação entre genótipo e fenótipo sobre o desempenho motor (THOMAS & FRENCH, 1985).
Diferença na velocidade, de acordo com o teste de corrida de 50 metros, entre os sexos, foi identificada nesta investigação, com as meninas apresentando valores superiores aos dos meninos. Embora nossos achados não fortalerem as informações disponíveis na literatura, a magnitude da diferença encontrada entre os sexos pelos diferentes estudos tem sido bastante diferenciada, o que pode ser explicado, pelo menos em parte, por inúmeros fatores, tais como: tipo de brincadeiras e jogos, atividade realizadas no dia-a-dia, amadurecimento psicológico, permanência de horas nas ruas, cujo todos esses fatores se diferenciam entre os gêneros.
Nos demais parâmetros analisados (flexibilidade, força de membros superiores e inferiores e, força abdominal), não foram encontrados nenhuma diferença significativa. Em relação a flexibilidade e força abdominal, este estudo assemelha-se com os achados de Okano et al. (2001), em um trabalho realizado com crianças entre 8 a 11 anos que buscou identificar diferenças nestas capacidades físicas.
Conclusão
A diferença do desempenho no teste de corrida de 50 metros entre os gêneros pode ter sido pelo fato das meninas, na maioria das vezes, apresentarem maior altura do que os meninos antes da puberdade. Este fato pode ter ajudado, pois as passadas da corrida das meninas podem ter sido maiores do que as dos meninos. Em relação aos demais parâmetros a não diferença do desempenho pode estar relacionada à composição corporal, pois meninos e meninas de 8 a 11 anos possuem as mesmas características. Sendo assim, as diferenças nas capacidades físicas como força e flexibilidade são mínimas.
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