A prática da musculação e a utilização de decanoato de nandrolona e decanoato de testosterona nas academias de Poços de Caldas, MG La práctica de musculación y el uso de decanoato de nandrolona y decanoato de testosterona en los gimnasios de Pozos de Caldas, MG |
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Mestrandos em Ciencias de la Salud UdelaR – UY |
Henrique Miguel Marcus Vinicius de Almeida Campos (Brasil) |
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Resumo A utilização de esteróides anabólicos androgênicos tem se tornado uma constante no contexto das academias. O presente estudo teve como objetivo observar o índice de consumo de duas substâncias principais, o Decanoato de Nandrolona e o Decanoato de Testosterona em seis estabelecimentos da cidade mineira de Poços de Caldas. Foram respondidos 100 questionários de forma sigilosa, sendo que através disto, mostrou-se que 42% dos indivíduos do grupo utilizavam ou já haviam utilizado algum EAA, enquanto 32% já haviam feito a utilização das substâncias em questão. A análise estatística foi realizada de forma descritiva, sendo que a freqüência percentual simples foi demonstrada. Após a análise dos dados, chegou-se à conclusão que os indivíduos entre 19 a 29 anos são os maiores consumidores de tais substâncias. Tal fato é marcado pelo apoio da mídia ao culto à forma e pela facilidade de adquirir determinado tipo de produto. Unitermos: Anabolizantes. Academias. Musculação.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Atualmente, diversos estudos têm mostrado o avanço do consumo de esteróides anabólicos androgênicos (EAA) nos vários âmbitos da sociedade. Estes recursos farmacológicos possuem sua derivação no hormônio Testosterona e podem ser adquiridos regularmente com a apresentação de receita médica, em uma farmácia. Nota-se claramente que a busca pelos novos padrões de estética e beleza, levaram a um aumento acentuado na utilização destas substâncias, tanto por praticantes regulares de atividade física (principalmente adeptos da musculação), quanto por desportistas profissionais na busca de um maior rendimento na sua modalidade específica (BUCKLEY et al, 1988; KINDLUNDH et al, 1999).
Pesquisas apontam que nos Estados Unidos, a utilização de EAA começa na adolescência, geralmente entre 14 e 15 anos, principalmente em indivíduos do sexo masculino, sendo um fator alarmante dentro das academias de ginástica e musculação do país. Também deve-se ressaltar que o maior índice de consumo por estes jovens, reflete-se nos esportes de força, relacionando-se diretamente com o aumento da massa muscular e da força do indivíduo (DURANT, RICKERT e ASHWORTH, 1993).
Importante tomarmos nota que, além dos relatos sobre o aumento da utilização de EAA entre adolescentes, alguns estudos na literatura atual têm demonstrado a gama enorme de efeitos nocivos causados por essas substâncias dentro de um processo gradativo de utilização (IRIART e ANDRADE, 2002). Os sintomas colaterais variam desde o aparecimento de espinhas (acne), passando por alterações de humor e estado emocional, podendo culminar com impotência sexual (relacionado diretamente com a diminuição gradativa da libido), tumores malignos hepáticos e contaminação pelo vírus HIV (adquirido pela utilização da mesma seringa por mais de um indivíduo).
Devemos também observar que a sociedade atual é um dos principais pilares desta questão tão contraditória. A mídia reforça um plano de repassar uma imagem da verdadeira identidade do indivíduo perfeito como um todo. Os comerciais, os anúncios, os programas, nada mais são que formadores de um modelo simbólico, que, visualizado de uma maneira positiva, tenta ser seguido. O consumismo, o individualismo, a veneração do corpo perfeito em todas suas proporções, são outras causas principais deste fenômeno que se alarma dentro das academias, principalmente entre os jovens do sexo masculino (IRIART, CHAVES e ORLEANS; 2009). É importante que medidas de prevenção sejam tomadas de maneira que não permitam que este determinado acontecimento seja deixado de lado pelas políticas públicas. Deve-se buscar um controle mais rígido na distribuição e venda de tais substâncias, a fim de minimizar a chegada dos EAA nas mãos de indivíduos totalmente despreparados para tal consumo, principalmente os adolescentes.
Os EAA são encontrados em farmácias e a facilidade de adquiri-los tem se tornado um fator fundamental de utilização atualmente. Juntamente com a mídia que reforça valores estéticos e denota a imagem de como deve ser o protótipo do individuo bem envolvido na sua sociedade, podemos notar a situação de envolvimento entre estes fatores, o que contribui de forma direta para a formação de um público determinado para estas drogas, principalmente entre os adolescentes (FERREIRA, CASTRO e GOMES, 2005).
Araújo (2003) cita que a administração de hormônios, principalmente os sintetizados da Testosterona, provoca mudanças significativas em relação à massa muscular e no peso corporal, sendo que dessa forma, pode-se adquirir um acréscimo observável em questões relacionadas aos fins estéticos e de rendimento desportivo.
Os relatos da manipulação destas drogas com atletas são datados dos anos 50, onde fisiculturistas e halterofilistas, para conseguirem maior desempenho em suas respectivas áreas de atuação (estética corporal e aumento da força muscular), utilizavam-se destes recursos ilícitos para tais ganhos. Nos anos 70, este fenômeno se espalhou entre os praticantes de outras modalidades desportivas e também aos indivíduos que utilizavam a musculação de forma recreacional, tomando patamares absurdos de utilização destas substâncias (MOTTRAM, GEORGE, 2000).
Na maioria das pesquisas realizadas sobre os EAA, podemos observar uma lista interminável de fatores de risco e efeitos adversos em relação à utilização destas substâncias. (SANTOS et al, 2006). Independente desta situação, cada dia mais indivíduos se mostram interessados nos EAA, o que demonstra, uma epidemiologia silenciosa surgindo como novo quadro dentro da sociedade (BAHRKE, YESALIS, 2004).
Com clareza, os esteróides anabólicos androgênicos, vêm ganhando espaço e sua busca aumenta gradativamente, assim como foi o fenômeno do tabagismo no início do século passado (SANTARÈM, 2001). É importante que um processo de conscientização seja pleiteado para que a população conheça os efeitos adversos causados por essas drogas, retirando o rótulo da modificação do corpo e da estética a qualquer preço (BAHRKE, YESALIS, 2004).
2. Materiais e métodos
2.1. Amostra
A presente pesquisa foi realizada em 6 academias da cidade de Poços de Caldas/MG. Dos cerca de 500 matriculados nestas academias, exatamente 100 questionários foram respondidos e contabilizados (20% dos matriculados). Todas as academias foram selecionadas por estarem na área central da cidade, num raio de aproximadamente seis km. Os participantes foram indivíduos do sexo masculino exclusivamente. A pesquisa foi previamente divulgada pelos professores das academias, e obteve boa aceitação entre os colaboradores.
Foram entregues nas 6 academias, 140 questionários, onde, destes 71,42% foram preenchidos e puderam ter seu conteúdo coletado como dados para a pesquisa.
2.2. Coleta de dados
O instrumento utilizado foi um questionário individual e anônimo, baseado em 12 questões a respeito da temática desta pesquisa. A maioria destas foi alicerçada em questionários de trabalhos anteriores como de Araújo (2003) e de Frizon, Macedo e Yonamine (2005). Entende-se através da idéia destes autores que, esse tipo de questionário confidencial, torna-se um instrumento aceitável pra tal pesquisa.
Os questionários foram entregues e respondidos nas seis academias, constituindo um espaço de tempo de quinze dias para que os indivíduos participassem.
Os responsáveis pelas academias assinaram um termo de autorização para que os questionários fossem entregues e respondidos pelos alunos matriculados em seu estabelecimento, sendo alertados que tanto o estabelecimento quanto os indivíduos, não seriam de maneira nenhuma identificados.
Alguns esclarecimentos foram feitos aos professores das academias pesquisadas antes do começo da coleta de dados: a participação era voluntária por parte dos matriculados; a participação era anônima, tanto em relação ao estabelecimento, quanto em relação aos seus matriculados, os dados coletados teriam apenas finalidades de pesquisa, e deveriam pedir para seus alunos responderem com a maior fidedignidade possível, pois, tratava-se de uma pesquisa com finalidades acadêmicas.
Os questionários então, ficaram a disposição de quem quisesse responder, em lugares estratégicos das academias, facilitando sua visualização. Ao término de suas respostas, o aluno dobrava o papel e o colocava na caixa lacrada sem que ninguém percebesse ou soubesse de suas respostas.
2.3. Tratamento estatístico
Todos os dados e as freqüências das respostas foram obtidos através de porcentagens simples num modelo descritivo simples. As prevalências entre os grupos, não foram comparadas, por isso, relacionou-se apenas em sistemas básicos de notação utilizando também as porcentagens absolutas simples. O “N” correspondeu ao valor absoluto de indivíduos e a “freqüência” correspondeu à porcentagem observada. Para a realização dos cálculos, foi utilizado o programa Excel 2003® para Windows XP®.
3. Resultados e discussão
Participaram desta pesquisa, 100 indivíduos do sexo masculino, praticantes de musculação, em 6 academias diferentes da cidade de Poços de Caldas/MG. Dos 140 questionários distribuídos, 71,42% foram respondidas, média de aceitação considerável pelo autor deste trabalho. Dos 100 indivíduos analisados, 58 coletados disseram que não fazem ou nunca fizeram o uso de EAA (58%), enquanto 42 coletados disseram que fazem ou já fizeram o uso de algum EAA (42%).
Tabela 1. Utilização de algum tipo de EAA
Dos 42 indivíduos que responderam positivamente à utilização dos esteróides anabólicos androgênicos, 32 disseram que já fizeram ou fazem o uso de Deca-Durabolin® (Decanoato de Nandrolona) ou Durateston® (Decanoato de Testosterona), mostrando que 76% dos consumidores de anabolizantes, utilizam-se ou utilizaram destas duas substâncias farmacológicas para algum fim.
No que diz respeito á utilização destas substâncias, 6 indivíduos disseram que fizeram a utilização apenas de Deca-Durabolin® (19%), 9 indivíduos relataram que fizeram a utilização apenas de Durateston® (27%), enquanto 17 indivíduos assinalaram que fizeram a utilização das duas substâncias (54%).
Tabela 2. Utilização de Deca-Durabolin® e Durateston® pelo grupo
Em relação à faixa etária do grupo pesquisado, a utilização destas substâncias se tornou notória entre os 23 e 35 anos. Tais relatos se enquadram em fatores abordados na literatura e permitem-nos observar que o nível de idade dos usuários preferenciais de EAA não varia muito pelas diferentes regiões pesquisadas anteriormente. Moreau e Silva (2003) afirmaram que a faixa de maior utilização de EAA em academias da Cidade de São Paulo está entre a faixa etária que permeia os 25 a 29 anos e Frizon, Macedo e Yanomine (2005) relataram uma maior incidência de utilização entre os indivíduos entre a idade de 21 a 25 anos. Os dados são expressos da forma que segue a tabela abaixo.
Tabela 3. Utilização de Deca-Durabolin® e Durateston® segundo a faixa etária
A utilização de Deca-Durabolin® e Durateston® pelo grupo pesquisado pode ser vista facilmente no âmbito das academias. Tal fato explica-se de forma simples pelo baixo custo de determinada substância e sua oferta ser elevada no mercado negro das academias (FRIZON, MACEDO e YONAMINE, 2005).
Também nota-se que o índice de consumo destas substâncias é elevado considerando com outras pesquisas realizadas com o mesmo intuito. Neste presente trabalho, a média percentual a cada 100 indivíduos é de 42 %, muito maior que pesquisas anteriores realizadas na cidade de São Paulo, onde a média foi de 8,61% (MOREAU e SILVA, 2003), em Goiânia, onde a média foi de 4,91% (ARAUJO, ANDREOLO e SILVA, 2002) e em Passo Fundo e Erechim, onde a média foi de 1,55% (FRIZON, MACEDO e YONAMINE, 2005)
4. Conclusão
Nota-se com o conteúdo deste trabalho que o consumo de anabolizantes no interior das academias se torna cada dia mais uma constante em nosso meio. A facilidade de se adquirir tais substâncias em estabelecimentos ou através de terceiros, juntamente com a busca do corpo perfeito a qualquer custo, leva muitos indivíduos à utilização destes. As drogas mais utilizadas, com certeza por sua facilidade e seu preço acessível, bem como sua fácil aplicação e manipulação são a Deca-Durabolin® (Decanoato de Nandrolona) e a Durateston® (Decanoato de Testosterona), encontradas em farmácias como repositores hormonais relacionados a determinadas doenças. Desta forma, é necessário que tenhamos a consciência de que projetos de esclarecimento contra estas substâncias devam ser mais difundidos pelos planos municipais, estaduais e federais. A utilização de EAA tem se tornado um modismo que aumenta em proporção aos seus riscos para a sociedade, sendo que o empirismo e a falta de informações permitem tal processo.
Referências
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Bahrke, M.S., Yesalis, C.E. Abuse of anabolic androgenic steroids and related substances in sport and exercise. Curr. Opin. Pharmacology.n.4, p. 614-620, 2004.
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DURANT, R.H.; RICKERT, V.I.; ASHWORTH, C.S. Use of multiple drugs among adolescent who use anabolic steroids. New England Journal of Medicine, London, n.328, p. 922-926, 1993.
FERREIRA M. E. C., CASTRO A. P. A. & GOMES G. A obsessão masculina pelo corpo: malhado, forte e sarado. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, n. 1, p. 167-182, 2005.
FRIZON, F., MACEDO, S.M.D.; YONAMINE, M. Uso de esteróides andrógenos anabólicos por praticantes de atividades físicas das principais academias de erechim e Passo Fundo/RS. Revista de Ciências farmacêuticas Básica e Aplicada. n.3, p. 227-232, 2005
IRIART, J.A.B.; ANDRADE, T.M. Musculação, uso de esteróides anabolizantes e percepção de risco entre jovens fisiculturistas de um bairro popular de Salvador, Bahia, Brasil. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, n.18, 1379-1387.
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MOREAU, R.L.M.; SILVA, L.S.M.F. Uso de anabólicos androgênicos por praticantes de musculação de grandes academias da cidade de São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. São Paulo, n.3, p. 327-333
MOTRAM, D.R., GEORGE, A.J. Anabolic steroids. Bailliere’s Clinical Endocrinology. London, n. 14, p. 55-69, 2000.
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SANTOS, A.F. et al. Anabolizantes: conceitos sobre os praticantes de musculação de Aracajú (SE). Psicologia em Estudo. Maringá, p. 371-380, 2006.
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