A relevância e as carências da Educação Física na educação de jovens e adultos La importancia y las carencias de la Educación Física en la educación de los jóvenes y adultos The importance and deficiencies of Physical Education in education of young people and adults |
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*Acadêmico da Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da PUCRS **Professora orientadora da PUCRS (Brasil) |
Patrick da Silveira Gonçalves Profa. Dra. Vera Lúcia Pereira Brauner |
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Resumo O presente artigo busca refletir e analisar a importância e a necessidade de se ter a Educação Física como disciplina obrigatória para todas as modalidades de ensino, especialmente na Educação de Jovens e Adultos que, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, torna facultativa a prática para pessoas que tenham prole, com mais de trinta anos de idade ou que cumpra jornada superior a trinta horas semanais de trabalho. Trata-se de um estudo qualitativo que teve como instrumento de coleta de dados questionários aplicados em cinco turmas das totalidades quatro, cinco e seis, correspondentes às séries finais do Ensino Fundamental de uma escola e um projeto educacional do Município de Porto Alegre. Como resultado, pôde-se identificar que a Educação Física exerce um papel fundamental na educação para jovens e adultos, ajudando para a manutenção da saúde, o convívio social, o autoconhecimento e, ainda, contemplando o ser humano em toda a sua plenitude. Foi identificada, também, a necessidade de aumentar a carga horária destinada à disciplina de Educação Física no currículo escolar. Unitermos: Educação de Jovens e Adultos. Educação Física. Escola.
Abstract This article aims to reflect and justify the importance and necessity of taking physical education as a compulsory subject for all modes of teaching, especially in the Young People and Adults Education, in accordance with the Law of Directives and Bases of Education of Brazil, makes optional practice for people who have offspring with more than thirty years of age or satisfying journey of more than thirty hours a week. This is a qualitative study was to collect data from questionnaires in five classes of wholes four, five and six, corresponding to the upper grades of elementary school to two schools in the city of Porto Alegre. As a result, we could identify that physical education plays a fundamental role in education for youth and adults, helping to maintain the health, social interaction, self-knowledge, and also contemplating the human being in all its fullness. Was identified also the need to increase the workload for the discipline of Physical Education in school curriculum. Keywords: Education of Young People and Adults. Physical Education. School.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
Introdução1 / 1
A Educação Física tem seus benefícios cientificamente comprovados para todas as fases da vida, inclusive na vida adulta, onde o tempo que se tem para praticá-la é muito limitado, quase inexistente. Uma vida fisicamente ativa na fase adulta é fundamental para a manutenção da saúde, entretanto, também deve acontecer durante toda a fase infantil, onde o indivíduo adquire os fundamentos psicomotores.
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996), em seu artigo 26, "a educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias”. Entretanto, torna facultativa a prática para os alunos que tenham prole, maiores de trinta anos ou que cumpram jornada de trabalho maior de seis horas diárias. Casos, estes, que atingem a maioria dos alunos que freqüentam a modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Este fato deve-se, principalmente, por a Educação Física, em seu contexto histórico, ser erroneamente associada à simples prática de esportes para competição e jogos para recreação. Enraizando, ainda mais, o (pré) conceito de que a Educação Física, principalmente para adultos que estudam no turno inverso ao trabalho, é desnecessária. Sendo assim, desprezada toda sua importância no âmbito da melhoria da saúde, na integração social dos discentes e no conhecimento da sua maior ferramenta: o próprio corpo.
Dados indicam que, embora a taxa de matrículas no ensino fundamental de educação regular seja de mais de trinta milhões, o número de concluintes segue baixo, pouco mais de dois milhões. Esses dados indicam um possível aumento nas matrículas dos alunos da Educação de Jovens e Adultos, que hoje está em torno de onze milhões (aproximadamente 7,7% da população brasileira), em um futuro bem próximo.
O presente estudo teve como principal justificativa a relevância social de que se trata o assunto. De acordo com o que já foi tornado explícito, muitos jovens e adultos saem formados, na modalidade EJA, do Ensino Fundamental e Ensino Médio sem um mínimo de conhecimento sobre os benefícios que a prática da Educação Física pode proporcionar, privados, assim, de uma vida mais saudável e encontrando dificuldades quando necessitam a execução de fundamentos psicomotores mais complexos ou, também, não conhecendo hábitos que os tornem pessoas mais saudáveis e felizes consigo e com a sociedade que os permeiam.
Revisão de literatura
História e situação do EJA no Brasil
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) esteve presente durante toda a história do Sistema educacional brasileiro. Sua primeira aparição deu-se com a chegada dos jesuítas e suas incessantes tentativas de catequizar os índios a fim de padronizar uma só língua como forma de comunicação (neste caso, a Língua Portuguesa).
A autonomia dos jesuítas na colônia, todavia, fez com que a Coroa Portuguesa expulsasse os jesuítas, desorganizando o processo de educação implantado, resultando no retrocesso pedagógico. Durante o período colonial que o Brasil enfrentou, a educação popular era quase que inexistente (GENTIL, 2005). Entretanto, a partir da chegada da família real ao Brasil, o interesse em manter uma organização escolar se deu devido ao trabalho técnico e burocrático exigido à época.
Muitos anos mais tarde, ao final do século XIX, as Revoluções Industriais ocorridas na Inglaterra, França e Estados Unidos tornam o mundo adepto ao emergente modelo capitalista. Este novo sistema visava à produção, o bem de consumo e, por conseqüência, uma mão de obra mais qualificada para o trabalho.
A EJA ganhou força a partir da constituição de 1934, que instituiu em seu artigo 150 o “ensino primário gratuito e sua freqüência obrigatória, entendida aos adultos” (BRASIL, 1934). Após este momento, a oferta de gratuidade nunca mais deixou de fazer parte da constituição brasileira (PILETTI, 1988, apud GENTIL, 2005).
O crescimento da industrialização no Brasil, nos anos 50, caracterizou um maior interesse pela Educação de Jovens e Adultos. A sociedade necessitava urgentemente de mão de obra qualificada para operar as máquinas que surgiram.
Uma década mais tarde, aproximadamente, o segundo Congresso Nacional de Educação de Adultos – o qual Paulo Freire participou – criticou negativamente a inadequação dos ambientes escolares, da formação do docente e o material didático. Propôs, também, uma metodologia de educação baseada no diálogo, que levasse em conta as características sócio-culturais que englobavam cada indivíduo.
Em 2003 foi lançada pelo presidente Lula uma proposta audaciosa: a de erradicar o analfabetismo durante seu mandato. Não se pode avaliar ainda o sucesso ou fracasso desta proposta, pois o prazo ainda não expirou. Entretanto, apesar de existirem políticas públicas quanto à alfabetização de adultos, a alfabetização por si só não promove a integração social e pessoal, muito menos auxilia na geração de novos empregos. Para isto ocorrer, deve-se dar continuidade, com a EJA, por todo Ensino Básico, além de articular as políticas existentes a outras políticas (VIEIRA, 2004).
Portanto, para que haja o extermínio do analfabetismo no Brasil, ou ainda, para tornar a Educação em algo de acesso universal, para todos, independentemente de classe social ou cultural a que cada educando pertence, é necessário que haja uma continuidade governamental. É necessário, também, que esta mesma atitude aconteça com as políticas públicas.
Atualmente, o cenário encontrado na Educação de Jovens e Adultos, no que diz respeito à prática da Educação Física, é muito restrito. A lei que rege as diretrizes e bases da educação brasileira, ao mesmo tempo em que torna a oferta da Educação Física obrigatória durante toda Educação Básica (Ensino Fundamental e Ensino Médio), deixa claro que a prática é facultativa para os educandos que tenham prole, ou que tenham idade superior a trinta anos, ou que cumpram jornada de trabalho igual ou superior a seis horas diárias, ou que estejam obrigados à prática de educação física (BRASIL, 1996).
Estas possibilidades de não se participar das aulas vão ao encontro da visão distorcida de que a Educação Física é, meramente, a prática exaustiva de atividades físicas - tornando mais cansativa à rotina do indivíduo que trabalha em turno superior a seis horas ou da mãe que tem que dar atenção ao seu filho durante o dia inteiro - tendo um fim em si mesma, tornando relevantes as possíveis aprendizagens que poderia haver nas aulas de educação física, aquelas voltadas à adoção de hábitos saudáveis, como exemplo.
Uma abordagem holística da Educação Física
Embora a Educação Física esteja durante toda sua história, diretamente ligada ao corpo humano, assim como seus processos fisiológicos e anatômicos que o rodeiam, ela deve ser entendida como um processo mais amplo da Educação. Infelizmente, a sociedade tem negado a pessoa como um todo, como sendo o corpo humano e a mente agindo e interagindo de forma única. O corpo humano tem sido tratado, infelizmente, apenas como uma ferramenta que deve produzir trabalho e gerar renda.
Ainda, desde pequenos, somos condicionados a priorizar as ciências humanas, que supostamente desenvolvem o intelecto, como sendo as únicas essenciais para o desenvolvimento humano. Exemplo disto é a afirmação filosófica mais famosa da história, “Penso, logo, existo”, dita pelo filósofo René Descartes pela primeira vez em 1937 em seu livro O Discurso do Método (DAMÁSIO, 1998), descartando completamente o corpo como fator para a existência, deixando de lado os outros fatores que formam o ser humano (corpo, sentimentos, emoções, etc.).
Em contraponto à afirmativa de Descartes, a educação física vem, além de ser a ciência que estuda o corpo humano e seus movimentos, contemplar o ser humano em sua plenitude, não deixando de lado os sonhos e pensamentos de cada um, além da contribuição social que cada indivíduo pode trazer (MEDINA, 1983). Seguindo este conceito talvez a afirmativa do filósofo devesse ser “Penso, sinto e ajo, logo, existo”, aplicando uma conotação mais digna ao ato de existir. Deste modo, a Educação Física vai de encontro à visão dicotomizada do ser humano, passando a abordá-lo em uma visão holística, ou seja, sendo a soma, ou melhor, a interação do corpo, mente e tudo que cerca o próprio ser humano.
A Educação Física em uma proposta curricular para a Educação de Jovens de Adultos deve tratar o indivíduo em seu todo, não limitar-se somente às performances que o corpo pode desempenhar. Todavia, não é necessário excluir os jogos esportes e movimentos das aulas de Educação Física, com isso o próprio nome da profissão já não teria mais sentido (OLIVEIRA, 1999), o importante é perceber que, através destas atividades, podemos alcançar objetivos muito maiores, contemplando o ser humano em sua plenitude ou até mesmo os mais simples, como o conhecimento do próprio corpo e sua utilização como forma de expressar-se.
Na EJA e em todas as modalidades educacionais, a Educação Física tem um caráter relacional com o educando, trazendo atividades que são do interesse do aluno e que tenham por finalidade principal o seu pleno desenvolvimento no âmbito físico, cognitivo, profissional, social e/ou afetivo, tornando-o um ser humano melhor. Deve, ainda, ser uma ferramenta de luta contra a discriminação e exclusão social de qualquer tipo (SOLER, 2003), transformando e beneficiando, também, a sociedade.
A atividade física como fator de manutenção da saúde e qualidade de vida
Desde os primórdios da vida humana, os movimentos que possibilitam a locomoção dentro de um espaço e tempo são essenciais para a adaptação e sobrevivência, levando, assim, à perpetuação da espécie. Entretanto, com o passar dos anos, a mobilidade do ser humano vai ficando gradativamente limitada conforme não é praticada ou, ainda, quando são tomadas – ao longo dos anos - medidas que comprometem a manutenção destas ações.
Tendo em vista que os indivíduos que se matriculam na modalidade EJA têm, no mínimo, quinze anos de idade para os que não concluíram o Ensino Fundamental ou dezoito anos para os que não terminaram o Ensino Médio, é preciso levar em consideração, assim como em qualquer modalidade de ensino, que o aluno já traz consigo uma bagagem de conhecimentos adquiridos através de suas experiências em suas comunidades (FREIRE, 2004). Torna-se necessário salientar que o educando também traz sua própria visão do mundo e do corpo que possui, que devem ser aproveitadas na correlação com os conteúdos.
Além dos conhecimentos que traz para dentro da sala de aula, o ser humano, desde os mais jovens até os mais velhos, traz ainda os seus hábitos de vida já calcificados, como, por exemplo, hábitos posturais, alimentares, sedentarismo, influindo diretamente nas alterações dos sistemas biológicos. Todavia vale lembrar que a genética também é um fator primordial na manutenção de tais sistemas (FERREIRA, 2003).
O hábito de vida referido nem sempre é controlado, pois a maioria das pessoas não tem (ou desconhecem que exista) informações sobre como possuir e manter uma vida saudável e benéfica aos seus próprios corpos.
A Educação Física, inserida na EJA e em um conceito de educação, deve ir ao encontro da abordagem da saúde renovada (DARIDO, 2003), buscando se interar sobre o que o discente já conhece e o estimulando - a partir daí - à adoção de hábitos saudáveis não só dentro da instituição de ensino, mas por todo o seu cotidiano e se estendendo ao longo de toda a sua vida.
Contudo, há, também, os aspectos psicossociais que interferem na vida humana. Uma vida fisicamente ativa pode diminuir os níveis de ansiedade e evitar psicopatologias mais graves, como a depressão, por exemplo, principalmente em adolescentes, que estão atravessando uma fase de difíceis decisões, com muitas responsabilidades e desafios pela frente (ROSA, 1999).
Já nas idades mais avançadas, ao contrário do que ocorre em países orientais, como o Japão, por exemplo, onde as pessoas mais velhas são valorizadas e consideradas sábias por terem uma bagagem de conhecimento e experiências acumuladas, no Brasil, as pessoas mais velhas, principalmente os idosos, são considerados pelos jovens como alguém inútil ou prejudicial para a sociedade. Com isso, conforme os anos vão passando, o grupo social que cerca uma pessoa tende a diminuir (BARBOSA, 2000).
A prática de atividades físicas pode introduzir o indivíduo a um novo círculo social, unindo-o a outras pessoas que têm um interesse comum, a busca da saúde e de um corpo realmente saudável, contribuindo para a autoconfiança, a competência motora e da confiança. A atividade física como um agente socializador pode, ainda, ajudar o indivíduo a formar um bom caráter (GALLAHUE e OZMUN, 2005). A idade avançada não deve ser um fator para o impedimento de relações, caindo, por conseguinte, em um tabu social. Pelo contrário, deve continuar existindo e atuando como um contato sadio com o próprio corpo e com o corpo do companheiro.
Por último, ainda, o ser humano tem de encarar o fato que ocorre como todo organismo vivo: a morte. O ser humano, por ter desenvolvido mais seu lado cognitivo em comparação aos demais, acabou adquirindo uma questão filosófica em relação ao que vem depois da morte (KOVÁCS, 2008). Para encará-la - sem medo - são necessárias algumas atitudes. A morte pode – e deve – ser abordada em seus mínimos detalhes, pois todo ser vivo passa por esta etapa. É o fim de um ciclo único, que deve ser tratado como um momento de glória e ascensão (BARBOSA, 2000).
A Educação Física deve buscar encorajar e ensinar o ser humano a ser saudável em sua totalidade. Desfazendo o conceito de para se ter saúde basta apenas não ter doenças. Deve abordar a saúde em um conceito amplo, onde para se ter saúde é preciso alcançar uma situação de perfeito bem estar físico, saudável e também, social (SEGRE, 1997). Com isso, a Educação Física torna-se, de fato, a disciplina fundamental que deve abordar todos os temas que os jovens e adultos certamente, mais cedo ou mais tarde, terão de enfrentar, tornando-os pessoas mais dignas, felizes e contribuintes para uma sociedade mais justa e livre.
Metodologia
Esta foi uma pesquisa direta de campo onde se procurou buscar os resultados em suas fontes de origem, buscando aproximar-se mais dos dados e fatos verificados (MATTOS, ROSSETTO JR. e BLECHER, 2008). Tratou-se, ainda, de uma pesquisa de método descritivo exploratório, que teve como característica a descrição e correlação dos fatos ou fenômenos sem manipulá-los, procurando descobrir com precisão os dados requeridos e, ainda, proporcionar uma maior aproximação do problema (GIL, 2002).
A coleta de dados foi realizada durante as aulas de cinco turmas do Projeto Compartilhar e duas turmas do Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores (CMET) – Paulo Freire, desenvolvidos e executados pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Foi realizado um questionário para que os discentes respondessem durante as aulas.
A população em questão é referente a 23 alunos matriculados nas totalidades quatro, cinco e seis (séries finais do Ensino Fundamental) do Projeto Compartilhar, com idades entre 42 e 72 anos, que estejam freqüentando – de forma regular – a disciplina de Educação Física com, média de no mínimo, uma hora e trinta minutos de aula a cada quinze dias e 18 alunos matriculados nas totalidades quatro, cinco e seis do CMET – Paulo Freire, com idades entre 15 e 64 anos que estejam freqüentando – de forma regular – a disciplina de Educação Física com, no mínimo, uma hora e trinta minutos a cada semana. Totalizando em 41 alunos com idades entre 15 e 72 anos. Como requisito para a escolha destes indivíduos, foi levado em consideração o fato de as escolas oferecerem a educação física e a localização geográfica das salas de aula, recebendo alunos de diversas regiões da cidade de Porto Alegre.
Elaboramos e propomos um questionário contendo duas questões abertas e dezesseis questões fechadas para os alunos do Projeto Compartilhar e do CMET – Paulo Freire, pois é uma forma de avaliação na qual o indivíduo responde a perguntas estruturadas, diretamente relacionadas ao tema da pesquisa, facilitando assim a obtenção de dados em grandes grupos (MATTOS, ROSSETTO JR. e BLECHER, 2008; SILVA e MENEZES, 2001). Foram, contudo, perguntas que exigiram um mínimo de escrita por parte das pessoas que as responderam. Os voluntários foram esclarecidos quanto ao objetivo da pesquisa, da participação facultativa e foram garantidos quanto ao anonimato e fins exclusivamente científicos da coleta de dados, assinando um termo consentindo com a publicação das respostas.
Resultados e análise dos dados
Para a melhor apresentação e discussão dos resultados os educandos foram numerados aleatoriamente de 1 a 41. As respostas serão analisadas em duas categorias distintas onde a primeira, Importância da Educação Física na Educação de Jovens e Adultos, que envolve as questões 1, 2 e 3 serão transcritas as respostas mais significativas e algumas das respostas onde a maioria que contenham as mesmas idéias se repitam. Na segunda categoria, Contribuições da Educação Física na Educação de Jovens e Adultos, será apresentado o quadro envolvendo as questões 4 a 18, onde aparecerá o percentual de respostas aproximado para cada pergunta. As perguntas que obtiveram respostas em branco ou com mais de uma marcação não serão consideradas para o percentual.
Importância da Educação Física na educação de jovens e adultos
Esta categoria busca interpretar a educação física como forma de autoconhecimento e de busca e manutenção da saúde. Com relação à importância da educação física como disciplina na educação de jovens e adultos, pode-se observar que a resposta dada pelos educandos é unânime ao afirmar tal relevância.
Entre as justificativas que mais se destacaram, ficou evidente a percepção da educação física como fator de conhecimento do próprio corpo. A escola tornou-se o único lugar onde se pode discutir e analisar todas as possibilidades do corpo humano, mais especificamente nas aulas de educação física.
Entender o próprio corpo significa não somente identificar suas partes, mas reconhecê-lo como ferramenta fundamental para o ato de existir. Perguntando aos alunos sobre a importância da educação física ficou evidente que conhecimento sobre o corpo é muito bem abordado na proposta curricular da educação física para a educação de jovens e adultos, como vemos nas transcrições a seguir:
“[...] através desta disciplina aprendemos a conhecer o nosso corpo”
“Sim para conhecer seu próprio corpo”
“Sim, pois posso aprender a entender meu próprio corpo e limites”
Entretanto, o conhecimento do próprio corpo ainda não é o suficiente para a manutenção da saúde. É importante saber como manter este corpo saudável e pronto para o que dele necessitar. A educação física vai ao encontro desta proposta, para os alunos da educação de jovens e adultos.
Perguntados sobre qual seria o conteúdo mais importante a ser trabalhado nas aulas, constatou-se que a educação física exerce ainda o papel fundamental na educação e reeducação alimentar, tirando as dúvidas e o preconceito que os próprios alunos trazem consigo, o que deve sempre ser abordado pela EJA (FREIRE, 2004). Observou-se isto nas respostas que seguem:
“O mais importante para mim é em 1º lugar sobre a alimentação”
“hábitos saudáveis de alimentação”
“Para mim seria importante trabalha sobre a alimentação”
Além de dar ênfase na necessidade de uma boa alimentação para contribuir com a própria saúde, as aulas de educação física, voltada para um processo de ensino-aprendizagem adaptado à população da EJA, intercalando aulas ditas práticas com teóricas revelou algo surpreendente. As aulas teóricas, dentro de sala de aula, explicam à necessidade de se praticar a atividade física, justificando e incentivando sua prática, transformando em algo prazeroso e em um fator importante para a manutenção dos sistemas biológicos (FERREIRA, 2003).
Diferentemente do ensino regular, onde muitos educandos evitam a atividade física por julgarem desnecessária, no ensino para adultos, os alunos reconhecem sua importância para a manutenção da saúde e, ainda, colocam-na em posição de destaque quando perguntados sobre os conteúdos sobre o mais importante a ser trabalhado, conforme as respostas abaixo:
“Teria que ter mais aulas praticas, com exercícios físicos”
“sempre após os exercícios o corpo relaxa”
“atividades físicas fazem bem a saúde e a auto-estima da pessoa”
“Fazer alongamento, algumas caminhada, em fim, bastantes exercícios”
“Esportes e atividades físicas [...] são necessários para o no dia-a-dia para saúde”
“fazer atividades físicas faz bem à saúde”
As aulas de Educação física, como proposta curricular à EJA não pode ficar restrita aos exercícios físicos, devido às limitações encontradas em seu educandos. Por outro lado, não deve se restringir aos exercícios físicos, pois os alunos anseiam por este momento. Abordar a necessidade da atividade física em aulas teóricas, para facilitar a compreensão dos educandos e fazê-los entender que para se estar saudável, não é preciso apenas não estar doente, mas abordar uma série de hábitos e atitudes que possibilitam tal condição.
Contribuições da Educação Física na educação de jovens e adultos
A tabela a seguir demonstra as perguntas propostas e o percentual de respostas obtido durante a coleta de dados. As questões deixadas em branco ou com duas ou mais respostas foram desconsideradas por não poder se interpretar a idéia de quem as respondeu.
Perguntas |
Nunca |
Quase Nunca |
Às Vezes |
Quase Sempre |
Sempre |
1. As aulas de educação física são significativas para mim, pois posso aprender a entender meu próprio corpo. |
0% |
2% |
22% |
7% |
61% |
2. Aprendi durante as aulas a adotar hábitos saudáveis como os cuidados com a alimentação, por exemplo. |
5% |
7% |
22% |
20% |
39% |
3. Adoto hábitos saudáveis por causa das aulas de educação física. |
2% |
15% |
24% |
12% |
41% |
4. Graças às aulas aprendi a importância de praticar atividades físicas. |
7% |
5% |
10% |
15% |
51% |
5. Conheci diversas doenças e as formas de evitá-las durante as aulas. |
5% |
2% |
15% |
17% |
46% |
6. Sinto-me melhor durante as aulas de educação física do que em outras matérias devido à descontração com que elas ocorrem. |
12% |
2% |
17% |
12% |
46% |
7. Nas aulas de educação física posso realizar e discutir práticas saudáveis. |
0% |
2% |
12% |
22% |
54% |
8. Nas aulas de educação física eu me integro melhor aos colegas. |
2% |
7% |
17% |
20% |
39% |
9. Quando saio das aulas, penso em praticar alguma atividade mais saudável. |
0% |
7% |
29% |
17% |
41% |
10. Em casa, tento me alimentar adequadamente, conforme aprendi nas aulas de educação física. |
2% |
7% |
24% |
24% |
37% |
11. Tenho vontade de ter mais aulas de educação física. |
0% |
2% |
15% |
12% |
59% |
12. Acho que a educação física tem pouco tempo para abordar todos os assuntos que eu gostaria de aprender. |
0% |
2% |
22% |
20% |
49% |
13. Durante o meu cotidiano, comento com minha família e/ou amigos a importância de adotar hábitos saudáveis. |
7% |
12% |
20% |
17% |
39% |
14. As aulas me fazem pensar sobre todos os hábitos prejudiciais que tomei até agora. |
7% |
7% |
17% |
12% |
49% |
15. Sinto-me confiante quando falo sobre o corpo humano. |
2% |
7% |
22% |
15% |
41% |
Com base no quadro acima se observou que as aulas de educação física se tornam significativas aos educandos a partir do momento em que eles adquirem um conhecimento novo e que podem correlacionar com o seu cotidiano.
As aulas propiciam um maior entendimento ao que se refere à adoção de hábitos saudáveis, muitas vezes esquecidos em meio a tantas informações, que, às vezes, são erroneamente adquiridas, por se basearem na sabedoria popular. Este mesmo conhecimento não termina no educando, mas vai se expandindo a amigos e familiares, transformando, aos poucos, a comunidade onde este indivíduo se encontra.
Apesar das aulas na EJA já possuírem um caráter informal, baseando-se num aprendizado horizontal, as aulas de Educação Física se mostraram ainda mais prazerosas, possibilitando uma interação social maior. A carga horária ainda é relativamente pequena, na concepção dos alunos, para que possam abordar todos os assuntos em que se interessam.
O conhecimento adquirido não tem seu início e fim apenas na sala de aula. Muitas das dúvidas são frutos do cotidiano e suas respostas não se contem aos limites das salas de aula. Os educandos transmitem tais conhecimentos para seus amigos e familiares, contribuindo, talvez inconscientemente, para uma melhoria da qualidade de vida na comunidade onde vivem.
Em contraponto ao que foi apresentado, pôde-se identificar, também, certa fragilidade na EJA no que diz respeito à adoção de hábitos saudáveis e de alimentação pelos alunos como conseqüências às aulas de Educação Física. Este fato pode se justificar por a maioria dos educandos já se encontrar na fase adulta, com hábitos e costumes já formados, muitas vezes lapidados por fatores culturais do círculo social onde o indivíduo se encontra, tornando-se, contudo, em um fator inibidor para comentar com os amigos e familiares sobre os conhecimentos adquiridos.
Do mesmo modo, ficou evidente a insegurança dos alunos ao falar do próprio corpo. Ainda que muitos tenham reconhecido a importância da disciplina para o autoconhecimento corporal, o percentual de insegurança é bastante grande, o que nos levou a refletir se a Educação Física realmente aborda o assunto de forma significativa ou apenas superficialmente por possuir pouco tempo na grade curricular das escolas.
Considerações finais
Durante este trabalho, fica clara a importância da Educação Física nas diversas modalidades de ensino, inclusive a Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde a disciplina deve ser oferecida, entretanto sua prática é facultativa, segundo as Leis de Diretrizes e Bases da Educação.
Por se tratar de uma população, em sua maioria, com idade avançada e que não teve a oportunidade de adquirir o conhecimento na idade escolar regular, acabou por se criar pré-conceitos, baseados na sabedoria popular, acerca de hábitos corretos para a aquisição e manutenção de uma vida de plena saúde. Esta falta de ciência sobre os hábitos corretos acaba tornando cada aula de educação física, em uma nova descoberta, incentivando-os à reflexão sobre o porquê de ter uma vida fisicamente e mentalmente ativa.
Ao longo do artigo ficou evidente que a Educação Física não é tratada com relevância pelo sistema de ensino brasileiro, que a trata com desprezo ou, no mínimo, percebe, equivocadamente, como um método de melhora de aptidão física através de exercícios que exigem esforço do corpo humano.
Embora a Educação Física na EJA mostre-se significativamente positiva para a vida de cada educando que a pratica, ainda há o que explorar. Os conteúdos não devem apenas partir das experiências de vida de cada aluno, mas visar também, sua aplicação prática na vida diária de cada um.
A Educação Física, num conceito maior de educação, deve abordar o corpo humano como um todo, explorando todos seus limites e suas possibilidades. Não ater-se somente aos aspectos físicos, mas, também, cognitivos, afetivos e sociais, para que possa tornar todo ser humano melhor com ele mesmo, contribuindo, assim, para uma sociedade melhor.
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 157 | Buenos Aires,
Junio de 2011 |